A Transformação



Faye e os pais se dirigiram para o conselho. No caminho até lá, Faye foi observando aquele mundo em que vivia. Tudo era tão maravilhoso, tão limpo, tão lindo... Ela sabia que não ia mais voltar. Infelizmente. Nunca mais. Ela amava tudo aquilo. Havia um local que Faye praticamente era apaixonada. Afastada de sua casa, havia uma grande e frondosa árvore que dava flores vermelhas e amarelas. Debaixo dela havia um bonito gramado, cheio de florzinhas brancas, margaridas e tulipas vermelhas. No tronco mais forte da árvore, havia um grande balanço branco. Faye passava muito tempo se balançando ali, lembrando-se do pequeno espaço de tempo em que passara na Terra. De repente Faye saiu de seus devaneios, pois trombou com uma mulher de cabelos castanhos quase ruivos, alta, magra e bonita. Esta se virou. Faye logo reconheceu quem era. As asas eram muito grandes e brancas. Ela trajava um vestido muito longo, de mangas largas, num tom esverdeado. Um homem de cabelos arrepiados e olhos muito verdes a acompanhava. As asas deste eram maiores ainda, mas tinha uma coloração bege em alguns pontos.
- Olá Faye.
- Olá, Lílian.
- Como vão as coisas com você?
- Está tudo bem.
- Onde você está indo?
- Estou indo para o Conselho. E você?
- Eu estava indo para o Espelho com Tiago. Íamos ver como andam as coisas com nosso querido filho, Harry. Você não está muito bem, me parece.
- Não... Nada bem.
- Há algo que podemos fazer pra ajudar?
- Não... Obrigada, Tiago... – disse Faye, esboçando um sorriso.
- Disponha sempre. – Disse Tiago.
- Bom... Até a próxima... – Acenou Lílian, se afastando com o marido.
Faye e os pais se aproximaram do conselho. Duas portas muito altas e estreitas se abriram. Os três entraram. No fundo da sala comprida e branca havia uma cadeira muito alta. Nela estava sentado um anjo muito alto e esguio, de cabelos loiros e lisos e iam até a altura dos pés, preso numa complicada trança meio solta. Ele vestia uma túnica branca e dourada. Era Zion, que depois de muita discussão, havia sido readmitido e elevado no conselho.
- Olá, Srta. Hinton.
- Olá, Zion. – Disse Faye, fazendo uma ligeira reverência.
- Então, a que se deve sua visita?
- Eu quero voltar à Terra.
- Você sabe que isso não é permitido. Você já cumpriu sua função. Não pode voltar para lá até que tenha alguma outra missão.
- Mas eu quero voltar. Seguindo aquela espécie de... “Castigo”.
- Você tem certeza disso?
- Tenho.
- Lembre-se das conseqüências. Virar mortal. E nunca mis voltar para cá.
- Eu tenho consciência de todas elas. Mas não agüentaria passar toda minha vida imortal aqui, vendo todos morrerem, sem saber para onde vão, além de esperar muito e muitos anos. Eu preciso toca-los, senti-los, rir com eles.
- Por favor, Sr. e Sra. Hinton. Se despeçam de sua filha agora. Nunca mais voltarão a vê-la. – Disse Zion sério, cheio de convicção.
Os pais de Faye a abraçaram, chorando. A garota soluçava. Muitos minutos depois os dois se retiraram.
- Você já sabe as regras?
- Não, Zion, você pode me dizer quais são?
- Eu vou transformá-la em humana, mortal. Você perderá seus poderes de Anjo, logicamente. Você será devolvida a Terra com sua aparência de Anjo, mas em outra localidade.
- Eu não vou voltar à Inglaterra?
- Não.
- E como vou achar Harry de novo?
- Isso só depende de você. Você terá todo o curto tempo da sua vida mortal para achá-lo. Você irá para Alemanha como órfã. Você surgirá no meio do metrô, vestindo trapos. A sua busca ficará por sua conta. Não posso lhe ajudar. Você sabe disso. Além de achar que nada disso vale a pena.
- Vale sim. Por mais que eu esperasse e Harry virasse um anjo, eu não sentiria mais nada por ele. Anjos não amam.
- É sim. Só existe mor entre pais e filhos aqui.
- Sim, eu sei. – Disse Faye, cabisbaixa.
- Mas há um consolo. Seu amigo Derek Hunter está a passeio na Alemanha. No momento em que você chegar na Terra encontrará ele. Você terá sua memória intacta. Você será você mesma só que você não vai ser mais um anjo, só vai ter a aparência de um. Essa é a única ajuda que posso lhe oferecer.
- Muito obrigada, Zion.
- De nada, Faye.
- Só uma coisa antes de eu sair. Como você veio parar aqui, como chefe do conselho?
- Os superiores levaram em consideração que eu só morri na minha missão porque dei minha vida a Harry Potter, que era minha missão. Portanto cumpri minha missão, de maneira drástica, mas cumpri. Por isso não levaram em consideração a regra de quem dá o abraço da vida morre para sempre. Com isso, tornei-me anjo novamente, e com posto de Juiz. Mas você sabe que isso não acontecerá com você. A não ser que algo extraordinário aconteça ,que faço os mais poderosos anjos, muito acima de você ou de mim, revogarem sua sentença de morte eterna.
- Sim, Senhor
- Está pronta?
- Sim.
Faye postou-se de frete para Zion. Da ponta dos dedos compridos de Zion saíram chamas azuladas brilhantes. As asas de Faye sumiram, como se tivesse sido cortadas. Ela sentiu uma dor latejante, quase mortal, mas não gritou. Ela se sentiu muito fraca e debilitada. Seus poderes estavam abandonando seu corpo, se esvaindo por cada poro de sua pele. Sua bela túnica foi trocada por farrapos. Logo ela caiu no duro chão de mármore de um branco puríssimo, inconsciente.

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