O Poder da Escolha



O Poder da Escolha


Eles seguiram o monitor da Sonserina no meio dos alunos. O grupo de Rose subiu as escadas deveriam ir para uma das torres, sua mãe tinha contado que a Grifinória ficava naquela direção. O grupo de Alvo, porém, seguiu na direção das masmorras.
Era bem escuro lá embaixo. Eles caminharam até um trecho de parede de pedra, liso e úmido. O monitor disse a senha “Caveira de Prata” e uma porta de pedra escondida na parede deslizou. Eles entraram, então, em um aposento comprido e subterrâneo com paredes de pedra rústica, e havia correntes com luzes redondas e esverdeadas. Um fogo quente ardia na lareira encimada por um console de madeira esculpida. Havia várias cadeiras de espaldar reto e um sofá preto, que parecia ser muito confortável. O monitor indicou duas portas.
- A porta da esquerda leva ao dormitório das meninas, a da direita, dos meninos. E essa é a sala comunal. Os pertences de vocês já devem estar nos dormitórios, há uma placa indicando o dormitório dos alunos do primeiro ano.
O monitor era alto e aparentava ser muito forte.Tinha a pele clara e os cabelos negros como o carvão.Seus olhos eram cinzas como se houvessem nuvens cobrindo-os.Olhava para todos com um sorriso de superioridade.Mesmo quando os alunos subiram para os quartos, olhava Alvo com certo desdém.
-Qual é a desse sujeito?- Alvo perguntou a Scorpio - Parece que não gosta de mim.
-Aquele é Randy Carver.-Disse Scorpio-Ele é o apanhador da Sonserina.Foi tetracampeão da Taça das Casas.Era o maior campeão de todos até a chegada do seu irmão.Ouvi dizer que Randy perdeu pra ele nos últimos dois anos.
Alvo se lembrou.Era verdade.Lembrava de Tiago nos dois últimos anos se vangloriando de ter derrotado o melhor da Sonserina com a maior destreza.Claro que Tiago exagerava na narração, sempre enfeitando mais a historia para impressionar os primos, principalmente Victoire.
Alvo e Scorpio subiram atrás dos meninos da sua idade, e encontraram, no alto, várias portas, e uma delas tinha um letreiro escrito “Alunos do primeiro ano”.Ao entrarem, Alvo viu que Edwiges estava encarrapitada sobre seu malão; ela levantou vôo e pousou em seu ombro assim que o viu. Isso o fez se sentir, finalmente, em casa. O dormitório era meio escuro também, mas aconchegante. Era quadrado, com cinco camas. No entanto, mesmo sendo subterrâneo, havia janelas. Percebendo que Alvo olhava-a com curiosidade, Scorpio comentou:
- São encantados, meu pai disse. Mostram um lugar diferente a cada dia. – os dois se aproximaram da janela e espiaram. A vista aquele dia era do alto dos jardins, e se podia ver o lago que eles atravessaram há pouco. Scorpio se afastou um pouco da janela, tenso. – Hum, você pode ficar com a cama da janela, vou ficar bem na outra. Eu tenho medo de altura!
- Medo de altura? Mas você não disse que jogava quadribol? – Alvo perguntou intrigado.
- É, bem, é que um dia eu caí de uns dez metros da vassoura, veja bem. – Scorpio falou envergonhado. – Meu pai chegou no último minuto, mas eu me machuquei mesmo assim. Não foi nada agradável. Quando eu jogo, não subo muito, sabe? É só no quintal e tudo mais...
Ele pareceu muito mais interessado em retirar seu pijama do malão e tinha falado tudo aquilo tão baixo para os outros companheiros de quarto não o ouvirem, que Alvo quase não entendeu tudo.
-Deve ter sido horrível.-Disse Alvo, tentando ser solidário.
-E foi.Minha mãe ficou furiosa.Foi divertido vê-la tentando estuporar meu pai, mas prefiro voar baixo de hoje em diante.
Alvo também apanhou seu pijama e viu um pequeno espelho entre seus pertences. Ignorou-o e começou a se trocar. Quando estavam todos deitados, e os outros meninos pareciam estar dormindo, Alvo ouviu a voz de Scorpio.
- Hey.
- O que foi? – Alvo perguntou.
- Parece que vamos ser companheiros, não?
Ele parecia mais amigável do que antes.
- É, parece que sim. – Alvo murmurou. Só agora, realmente, parecia lhe bater no peito aquela verdade inevitável. Ele era um sonserino. Diferente de todos os outros em sua família, ele era um sonserino. O.K., Victoire era da Corvinal, mas ela era muito mais parecida com tia Fleur. Teddy tinha sido Lufa-lufa, mas a mãe dele, diziam que ela também era da mesma casa. Mas todos os outros tinham sido Grifinórios até agora. O primo Fred, filho do tio Jorge, também; provavelmente ele e Tiago estavam fazendo piada bem naquele momento, lá na Grifinória...
- Mas pode ser legal, não? – a voz de Scorpio soou na cama ao lado da sua, um pouco mais confiante. – Quer dizer, você não é um tagarela como sua prima, não me incomodo de sentar ao seu lado nas aulas, no almoço e tudo mais.
Alvo riu.
- Eu também não, Scorpio.
Houve um momento de silêncio, então eles desejaram boa noite um ao outro. Mas Alvo não dormiu. Ele continuou fitando o teto da cama de dossel, pensativo. No dia seguinte escreveria uma carta para seus pais, contando sobre como fora à seleção. Tinha que escrever logo, antes que Tiago contasse de um jeito torto a eles. Será que Lílian ficaria triste que ele foi pra Sonserina? E sua mãe? E seu...
Ele se sentou e olhou para o malão. Ainda estava meio aberto. Alvo suspirou e tirou aquele espelhinho que estava dentro dele. Esfregou-o com a manga do pijama. Tudo o que viu foi seu rosto assustado e seus olhos muito verdes. Silenciosamente, ele deixou o dormitório e desceu até a sala comunal.
A lareira estava quase apagando e não havia mais ninguém ali. Alvo sentiu uma sensação boa ao saber que a sala era toda sua. Sentou-se no sofá, próximo às chamas fracas e novamente encarou o espelho. Só havia uma pessoa no mundo com quem ele gostaria de falar agora.
- Pai? Pai! – ele continuou vendo apenas o seu próprio rosto. – Harry Potter? Pai sou eu, Al...
Então o seu rosto foi substituído por outro, que não era muito diferente do seu, mas bem mais velho. Estavam ali os mesmos olhos verdes e os cabelos muito negros e despenteados, mas havia também óculos redondos e uma cicatriz fina em forma de raio na testa. Harry Potter sorriu para o filho, mas parecia um tanto cansado.
- Pai, você tava dormindo? – Alvo perguntou meio preocupado.
- Não, filho, eu estava acordado, tudo bem. – ele mexeu nos cabelos. – Hum... Eu estava tomando um leite quente, meio sem sono, sabe.
Alguma coisa dizia a Alvo que seu pai não queria admitir que estava preocupado. Com ele.
- E mamãe, tudo bem com ela?
Seu pai riu.
- Nem parece que a gente se viu há apenas... – ele consultou o relógio. – Um pouco mais de doze horas, né? Ela está bem sim, apenas com saudade dos filhinhos queridos dela. E Lílian ficou meio triste por estar sozinha, ela queria ir para Hogwarts, você sabe, mas logo passa. Logo ela volta às aulas no colégio trouxa também.
Alvo apenas assentiu. Não conseguia falar o que queria. Seu pai não o pressionou; Alvo tinha certeza que ele já tinha percebido que o cenário à volta do filho não era o salão comunal da Grifinória, mas não tinha comentado. Apenas continuou olhando-o com aquela ternura que ele sempre tinha.
- Pai... Eu fui selecionado.
Seu pai riu novamente.
- E foi muito assustador?
- Um pouco. – Alvo disse envergonhado de dizer que teve vontade de fugir de Hogwarts. – O chapéu disse... – ele esperou, mas seu pai não disse nada. –...Bem, ele deixou que eu escolhesse... Mas eu não sabia o que escolher, então... Eu estou na Sonserina, pai.
Ele disse aquilo quase como se estivesse pedindo desculpas.
Seu pai o encarou e abriu um sorriso enorme, sinceramente feliz. Alvo sabia quando o sorriso do pai era sincero, pois criava rugas ao redor dos seus olhos.
- Eu estou muito, muito orgulhoso, filho. – ele disse e realmente havia orgulho em sua voz. – Você vai ser muito feliz aí, tenho certeza. Vai adorar Hogwarts! Passei anos maravilhosos aí, Al, eu sei que você também vai gostar muito.
Alvo começou a se sentir melhor do que jamais estivera naquela noite.
- Então... Então você não se importa? Mesmo?
Seu pai suspirou, ainda sorrindo.
- Claro que não, filho, eu e sua mãe apenas nos importamos que você seja feliz. Você é um ótimo menino, e se lembra muito bem de tudo que eu te disse na estação, não é?
- Eu lembro, pai. – Alvo disse contente. – Claro que eu lembro.
– As coisas em Hogwarts não são mais como eram na minha época, Al. As Casas estão unidas agora, não é porque você é sonserino que não vai ter amizades com os alunos das outras casas. E você vai ter amigos na Sonserina também. Eles seriam loucos se não fossem seus amigos!
Alvo riu.
- Estou falando sério, filho... O que importa são nossas escolhas. O que importa de verdade é o que você quer ser, e eu sei que você quer ser um homem bom.
- O chapéu disse que eu poderia ser da Grifinória, pai. Mas eu...
- No final, você escolheu Sonserina. Eu imaginei. – ele parecia ainda mais orgulhoso.-Você vai se dar bem por que está na casa que escolheu,Al.Esse é o poder da escolha.E ninguém pode tirá-lo de você
Parecia que um peso enorme tinha saído dos ombros de Alvo. Mas ele ainda tinha uma dúvida.
- Posso perguntar uma coisa, pai?
- Até duas, Al.
- Hum... Você sempre fala que Severo, o bruxo que você me deu o nome do meio, era muito corajoso... Pai,por que ele era tão corajoso?
Seu pai respirou fundo, pensativo.
- Ele abriu mão da vida dele para proteger a minha. – ele parou por um instante, parecendo lembrar algo. – Ele morreu nos meus braços, e mesmo quando estava morrendo, fez a última coisa que poderia por mim, ele me fez entender toda a história dele e porque eu tinha que fazer tudo o que eu tinha que fazer... O último pedido dele foi olhar... Nos meus olhos. – ele encarou o filho. – Os olhos iguais aos seus, Al. Eram os olhos da sua avó, Lílian. Eles... Eram muito amigos. Ele a amava muito. Acho que eu nunca disse isso para ninguém, Al. Que Severo Snape amava muito a minha mãe. Foi por ela que ele teve os gestos mais nobres que um homem pode ter. E ele era da Sonserina. – ele completou, sorrindo. – Nobreza não é só para grifinórios, não é?
- Por isso você me deu o nome dele, pai?
- Sim. Ele merece, onde quer que esteja. – e, num tom mais maroto, o pai continuou. – Olha, Al... Tem um gárgula de pedra, no segundo andar. Ele esconde uma passagem para a sala do diretor de Hogwarts. Hum... Por acaso... Eu sei que a senha é “sorvete de creme”. Qualquer dia, entre lá com a capa que eu te passei, e converse com o retrato de Dumbledore. Ele irá adorar falar sobre o seu mais leal seguidor
- Eu vou fazer isso, pai. – Alvo prometeu.
- Mas não conte para sua mãe, o.k.?Ela seria capaz de me matar se soubesse que te encorajei a fazer isso.
- Pode deixar... Obrigado, pai.
Seu pai sorriu novamente.
- Eu te amo, filho.
Quando Alvo voltou ao dormitório masculino da Sonserina àquela noite, finalmente se sentiu plenamente feliz por estar em Hogwarts.


Continua...

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