Interação




A menina pousou o livro sobre o colo e o abriu em uma página cuidadosamente marcada, decidida a ler. Tudo bem, Alvo não ia se incomodar, ele preferia muito mais ficar em silêncio a ouvindo a prima tagarelar. Mas ele imaginou quanto tempo ela agüentaria sem falar. E não deu outra.
- Eu já li todos os livros que eles pediram para comprar. – ela falou muito presunçosa. – Minha mãe disse que era bom, se eu quisesse ir bem em Hogwarts.
- Você é doida. – Scorpio comentou, e Alvo não podia discordar dele, mesmo que quisesse só por ele ser um metido. Preferiu ficar calado então.
Rose inflou com dignidade.
- Tudo bem, se vocês quiserem ir mal nos exames...
- Rosie, nós nem começamos o primeiro dia de aulas! – Alvo exclamou indignado.
- Mas é preciso estudar, e muito, para se dar bem em Hogwarts!
- Você definitivamente é maluca! – Scorpio contestou e, mais uma vez, Alvo não podia discordar.
- Eu aprendi vários feitiços, simples, é claro. Minha mãe me ensinou, outros eu aprendi com os livros. Alvo eu sei que é um preguiçoso e não faz mais nada a não ser jogar quadribol com o tio Harry. Mas você aprendeu também? – ela se dirigiu a Scorpio.
- Eu queria aprender um feitiço para fazer calar essa sua boca grande.
Alvo riu. Scorpio pareceu surpreso. Rose estava simplesmente furiosa.
- Alvo Severo! – ela exclamou.
O menino parou de rir na mesma hora.
Rose respirou fundo, tentando reunir novamente sua dignidade perdida. Ela abriu o livro de novo, mas fechou-o rapidamente.
- Aqui nesse livro, “Hogwarts uma História”, fala tudo sobre a escola. Sobre as Casas também. Que Casa vocês acham que vão ficar?
Pronto, aquele assunto novamente. Logo agora que Alvo estava tão ocupado detestando Scorpio Malfoy para pensar se acabaria na Sonserina ou não. O menino se empertigou, ajeitando os cabelos loiros, com um sorriso presunçoso.
- Sonserina, claro. Como meu pai.
Alvo sentiu sua apreciação pela Sonserina diminuir ainda mais.
- Meu pai gostaria que eu fosse para a Grifinória... – Rose comentou e, pela primeira vez, parecia um pouco desanimada. – Bem, a maioria dos Weasleys vai para lá, e meus pais eram de lá também. Tio Harry e tia Gina também, não é, Alvo? – o menino apenas assentiu, sentia que poderia vomitar se abrisse à boca para dizer qualquer coisa. Não queria nem pensar no que diria quando a conversa se voltasse para ele. – Mas a minha mãe disse que a Corvinal é legal também, e que ela e meu pai não ligam de verdade para isso das Casas. Bem, acho que ela não liga, mas papai sim...
Alvo sentiu o estômago afundar. Provavelmente, Rose agora perguntaria para ele...
- Você deve ir pra Grifinória, não é? – Scorpio praticamente cuspiu a frase para ele. – Quer dizer, meu pai disse que o seu pai era de lá. Seu pai é Harry Potter, não?
- É sim. – Alvo disse orgulhoso. – Seu pai conhece o meu?
- Estudaram juntos. – Scorpio disse indiferente. – Mesmo ano, meu pai me contou.
- Hum. Meu pai não fala muito do seu. – Alvo falou mais para provocar do que qualquer outra coisa. Ta certo que já tinha ouvido seu pai uma vez ou outra comentar o nome “Malfoy”, mas nada demais também. Tio Rony é que falava muito mal do tal Malfoy. Deveria ser aquele homem loiro meio careca da estação, que estava com Scorpio.
O menino não pareceu gostar muito do fato do seu pai ser pouco comentado entre os Potter, pois emburrou ainda mais a cara.
Depois disso, eles pararam de falar. Até mesmo Rose parecia ter desistido de iniciar uma conversa, pois enfiou a cara no seu livro e de lá não mais saiu. Alvo estava entediado; desejou ter companheiros de cabine mais interessantes que sua prima obcecada por estudos e um Malfoy metido a besta. Não gostava de ficar assim sem fazer nada; fazia-o voltar a pensar em qual Casa de Hogwarts iria ficar...
O carrinho de doces o salvou de ficar pensando mais no assunto. Rose comprou apenas umas tortinhas de abóbora, alegando que teriam muito que comer no banquete mais tarde – “Ela sabe tudo?”, Scorpio perguntou, obviamente tão indignado com o fato que nem se importou que tivesse que comentar isso com Alvo – mas Alvo e Scorpio fizeram a festa e compraram vários doces diferentes. O bom era que comer os ocupava e eles não precisavam conversar.
Mas, uma hora, a comida finalmente terminou, e novamente eles estavam sem fazer ou dizer nada. Uma ou duas vezes os dois meninos se encararam, mas desviaram rápido o olhar. Scorpio fitou Rose com as sobrancelhas franzidas:
- Você não pára de ler?
- Não. – ela respondeu seca, sem tirar os olhos do livro.
- Hunf.
- É melhor ela lendo do que falando, acredite em mim. – Alvo comentou por comentar. Scorpio deu um sorrisinho involuntário e murmurou algo como “Já notei isso”.
Rose fechou o livro com um estrondo, olhando feio para Alvo. – Eu vou me trocar, vocês deviam fazer o mesmo, já estamos chegando. – pegou suas vestes de Hogwarts e saiu, deixando os meninos sozinhos.
Scorpio olhou pela janela.
- Você acha que precisamos nos trocar já?
- Não, Rosie é exagerada. – ele afastou o assunto, mais preocupado em ver quantas figurinhas de bruxo tinha conseguido dessa vez. Nenhuma nova tinha pegado mais dois Dumbledores (ele guardava todas, mesmo iguais, afinal, era do nome dele que vinha o seu) e uma da Agripa. Scorpio espichou os olhos nas figurinhas de Alvo, mas comentou que já as possuía também. Ele olhou a sua e as sobrancelhas finas dele se ergueram.
- Peguei a figurinha do seu pai. – comentou num tom estranho, meio indiferente, meio tentando disfarçar excitação.
- Meu pai. – Alvo sorriu de orelha a orelha. – Deixa-me ver!
Scorpio entregou a figurinha ainda indiferente, mas seus olhos vigiavam o que Alvo fazia com ela.
Alvo apanhou a figurinha excitado. Sabia que seu pai era famoso, todos sabiam, mas seu pai não gostava muito de comentar o assunto. Dizia que aquilo tudo era passado. Tio Rony brincava que ele dizia isso porque, na verdade, o famoso era ele, mas seu pai não queria admitir. Mas sua mãe, Gina, já tinha contado aos filhos tudo o que o pai tinha feito. Ele ficava bravo, envergonhado na verdade, e dizia que tudo aquilo era bobagem, legal mesmo era a azararão para rebater Bicho-Papão da mamãe. O que importava de verdade era que Alvo era muito orgulhoso do seu pai.
Tinha uma foto de seu pai na figurinha, só que ele era bem mais novo, devia ter uns dezenove anos mais ou menos. Mas tinha os mesmos cabelos pretos despenteados e os olhos verdes, tudo igual a Alvo, exceto que seu pai usava óculos e Alvo não. E seu pai tinha uma cicatriz em forma de raio na testa. Na foto da figurinha, seu pai parecia meio encabulado e ficava toda hora saindo do retrato. Atrás, havia uma pequena descrição:
Harry Potter
Nascido em 1980, chefe da seção de Aurores do Ministério da Magia, atualmente com 37 anos. No passado, era mais conhecido como “O Menino que Sobreviveu” por ter sobrevivido à maldição da morte lançada por Aquele Que Não Deve Ser Nomeado. Aos dezessete anos, derrotou-o definitivamente, terminando com a Segunda Grande Guerra da Magia.

Alvo ficou por muito tempo sorrindo para a figurinha. Era estranho ver seu pai desse jeito. Apesar de saber que ele era famoso, para ele, Alvo, seu pai era apenas... Seu pai. O pai que ele amava muito. Mas somente seu pai. E era assim que ele gostava que seus filhos o vissem, ele mesmo já tinha dito isso.
- Hey, você vai me devolver ou vai ficar olhando para a figurinha o dia todo? Acho que você deve ter um modelo vivo em casa, não? – Scorpio perguntou aborrecido.
- Hum, eu pensei que você não quisesse...
- É claro que eu quero! – Scorpio arrancou a figurinha das mãos de Alvo. – É uma figurinha muito rara, e eu estou quase completando minha coleção!
Alvo achou muito engraçado e inchou de orgulho, mas não comentou mais nada. Passou-se mais algum tempo e quando finalmente escureceu, e Rose apareceu resmungando e censurando-os por ainda não terem trocado de roupa, eles decidiram que era melhor colocar as vestes negras de Hogwarts.
Quando o trem parou, os três desceram juntos para a estação fria de Hogsmeade. Rose perguntou a Scorpio por que ele não ia embora agora que não estavam na mesma cabine, mas o menino resmungou que iam ter que ficar juntos para a seleção de qualquer maneira. Havia uma falação de estudantes mais velhos, que se apressavam para sair da estação. Alvo sentiu um tapa na parte de trás de sua cabeça, e quando conseguiu ver no meio daquela agitação, Tiago já estava longe, rindo de sua cara, para variar.
- Alunos do primeiro ano! Alunos do primeiro ano, aqui! – ouviram uma voz ressonante por cima das cabeças e lá estava Rúbeo Hagrid, enorme e sorridente como sempre, sua enorme barba e cabeleira grisalhos. Alvo e Rose o cumprimentaram alegremente, já estavam acostumados com Hagrid, pois ele sempre os visitava, mas Scorpio o encarou num misto de surpresa, susto e desgosto. Porém, não repetiu o que disse no trem. – O pequeno Alvo e a menina Rose, não? – ele sorriu por cima da barba, erguendo bem alto seu lampião. – Parece que foi ontem que seus pais desceram pela primeira vez nessa mesma estação. – ele disse com carinho; então, os olhos dele encontraram Scorpio, mas o sorriso dele foi menos entusiasmado. – Eu lembro do seu pai também.
Ele conduziu os alunos do primeiro ano por um caminho de aparência íngreme e estreita, iluminado apenas pela tocha do lampião de Hagrid. Todos pareciam muito assustados com a perspectiva de chegar a Hogwarts ou muito impressionados com Hagrid para falar alguma coisa; já outros discutiam em voz baixa, excitados, em quais Casas poderiam ficar. Outros, porém, divagavam sobre qual seria o método de seleção e se teriam que fazer uma prova. Havia histórias absurdas de que teriam que vencer um dragão. Alvo se sentiu intimamente feliz por seus pais terem lhe explicado o que era o Chapéu Seletor. Se dependesse de Tiago, ele nunca saberia.
Os garotos fizeram uma curva logo após Hagrid e todos, sem exceção, fizeram “oh”.
- E essa é Hogwarts! – Hagrid disse contente, apontando um enorme castelo todo iluminado, cheio de torres e torrinhas.
O caminho se abriu na margem de um lago, e eles embarcaram em barquinhos nos quais cabiam quatro pessoas. O lago era escuro e enorme. Quando estavam entrando no barco, Alvo Rose e Scorpio ouviram uma voz estridente.
-Al!Que bom te ver!-Disse uma voz carregada de um forte sotaque Francês.-Dominique Weasley correu na direção do primo e o abraçou com força.Como se não o visse há anos.
-O que está fazendo aqui, Nick?-Disse Rose como expressão aborrecida no rosto.Era como se tivesse visto uma mosca muito irritante.Dominique simplesmente riu.
-O que parece, priminha?Eu também entro em hogwarts esse ano!Você é tão lesada às vezes.
Alvo fez esforço pra não rir.Scorpio, entretanto não foi capaz de se conter e disse:- Pois é!Eu já tinha reparado!
Rose olhou furiosa para o garoto.Se houvesse alguma forma deles se tornarem amigos ela tinha acabado de ir por água abaixo.Rose detestava que tomassem partido de Dominique.As duas eram antigas rivais.Disputavam tudo desde os cinco anos.O quatro entrou no barco em silencio.Mas Rose não fica calada por muito tempo.
- Tem uma lula gigante nesse lago! – Rose comentou. – Li em...
- Sim, sim, “Hogwarts uma História”. – Scorpio recitou entediado. – Como você é chata, a gente já sabe, aliás, meu pai já tinha me falado da lula há séculos, não preciso de um livro idiota para descobrir!
- Idiota é você!
- Tagarela!
- Metido!
- Sabe-tudo!
- Aracnídeo!
- Mas que raio de xingamento é esse?!
- Hey, olhem! – Alvo apontou, e eles pararam de brigar.

CONTINUA...

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