A verdade revelada



Capítulo 25: A identidade da Comensal (ou A verdade revelada)


 


Foram quase duas semanas de espera, quase duas semanas vigiando a Mansão Malfoy, esperando que Narcissa ainda fosse previsível o suficiente para ser apanhada. E ela fora. Sirius ansiara por aquele momento como poucas vezes desejara qualquer outra coisa em sua vida, e agora, finalmente, ele estava acontecendo.


Ele havia visto a prima, esgueirando-se como uma ladra em sua própria casa, e se agarrara àquela chance, entrando na mansão logo atrás dela, pelo mesmo lugar usado por ele e Tonks na outra vez em que estivera lá. Surpreendera Narcissa enquanto ela recolhia alguns pertences, desarmando-a imediatamente, e agora a tinha sob a mira da varinha, de onde ela apenas sairia depois de responder às perguntas que ele tinha a fazer.


- Eu sei que você sabe, Narcissa...


- Me deixe em paz, Sirius! – gritou Narcissa – Eu não sei de nada, não sei do que está falando.


- Sabe! – acusou Sirius, em resposta – É claro que você sabe! Ela estava vivendo em sua casa! Quem é ela?


- Eu não sei!


- Como ela pode se parecer tanto com Isabelle? – perguntou o homem – Não pode estar transfigurada, um feitiço não duraria tanto, e o mesmo vale para poção Polissuco. Eu vi a tatuagem no pulso dela, era idêntica a de Isabelle. Ela não a teria se fosse uma metamorfa. Fale, Narcissa!


- Eu não... – balbuciou Narcissa.


- Isabelle morreu há quinze anos. – disse Sirius – Como ela pode se parecer tanto com minha mulher, Narcissa?


E então ele viu a expressão no rosto da mulher se alterar, e pareceu que ela havia tomado uma decisão, seu rosto estava sério, mais sério do que jamais o havia visto.


- Ela não se parece com Isabelle, Sirius... – começou Narcissa.


- O quê...? Eu a vi!


- Você não entendeu o que eu quis dizer. – disse a mulher – Ela não se parece com Isabelle. Ela é a sua mulher.


- O quê? O que está dizendo?


- Isabelle não morreu, Sirius – disse Narcissa, sem rodeios –, ela está viva.


- O que... o que você está dizendo? – perguntou Sirius, atordoado – Você não pode... não pode dizer...


- A mulher que você conheceu como Annabella é na verdade Isabelle Charmant. – disse Narcissa, encarando-o – Ela apenas não consegue se lembrar disto.


- O que você está me dizendo... isso não faz o menor sentido... – gaguejava Sirius – Eu a vi... eu a segurei nos braços... não pode ser verdade...


- Mas é a verdade! – disse Narcissa, exasperada – Eu não sei os detalhes da história, mas... quando ela foi trazida para cá, Rabastan me contou parte dela.


- Contou... contou o quê?


- O que aconteceu no dia em que Isabelle Charmant supostamente morreu.


Sirius a encarou, a expressão aturdida e profundamente perturbada. Narcissa respirou fundo. Agora que havia começado, iria até o final. Não apenas por Sirius... por Annabella também. Ele precisava saber.


- O que eu sei é que naquele dia, quando chegaram à sua casa, sabiam exatamente o que iriam encontrar lá, porque foi tudo planejado. – contou ela – Foi espalhada uma informação de que Bella estaria, com outros Comensais, realizando algo para o Lorde, e, obviamente, você foi escolhido para ir, por conhecê-la melhor do que ninguém.


- Eu lembro... quando estávamos observando, vimos Rodolpho, Nott, Avery, mas Bella não estava lá. – disse Sirius, de cenho franzido.


- Não. Ela fazia questão de estar no ataque à sua casa. Então eles chegaram lá, e pegaram Isabelle de surpresa. – continuou Narcissa – De alguma forma, ela conseguiu impedir que eles chegassem a Zoe, mas não conseguiu salvar a si mesma. Foi interrogada, lá mesmo, mas não disse nada. Rabastan disse que ela foi torturada por Bella, mas nem assim conseguiram obter qualquer informação dela. Então, Bellatrix decidiu que iria matá-la, mas foi impedida por Nott.


- Por quê? – perguntou Sirius, sem entender.


- O Lorde não a desejava morta. – explicou a mulher – Ela tinha informações valiosas. Então, ele ordenou que ela fosse levada até ele.


- Mas a mulher morta... – começou Sirius.


- Era uma Comensal. – respondeu Narcissa – Você sabe como Voldemort descarta facilmente quem não lhe é tão útil... Depois de morta ela foi transfigurada, e deixada no lugar de Isabelle, que então foi levada até o Lorde, para que ele próprio tentasse obter dela as informações que desejava. Mas ele também não conseguiu nada. – contou ela – Isabelle amava Lilian como a uma irmã, ela jamais revelaria onde os Potter estavam. Mas, depois de tantos feitiços e das tentativas de invadir a mente dela, as lembranças acabaram se perdendo, e ela se esqueceu de tudo, inclusive de quem era.


- Merlin...


- Voldemort ordenou que ela fosse mantida viva, Isabelle era e é uma bruxa muito talentosa, e uma excelente preparadora de poções... seria muito útil para ele, desde que fosse mantida sob controle e vigilância. – continuou Narcissa – E foi o que foi feito. Ela foi mantida fora da Inglaterra, sob vigilância constante, e trazia informações valiosas de Ministérios de outros países. Isso é tudo o que eu sei.


- Narcissa... – começou Sirius.


- E agora, ela está se lembrando. – disse a mulher, interrompendo-o.


- O quê?


- Aos poucos, ela está se lembrando de algumas coisas... mas ninguém percebeu ainda. – respondeu Narcissa – Você viu os desenhos que ela fez. Sirius... estou lhe contando tudo isso porque aprendi a gostar de Annabella durante este tempo que ela passou em minha casa, e também porque... ela ainda está ali, Sirius. – ela parecia sincera – Isabelle ainda está ali, em algum lugar. Inúmeras vezes ela agiu de forma que não me permite ter dúvidas sobre sua índole verdadeira.


- Eu não sei o que pensar... isso não pode ser...


- Você precisa fazer algo, e logo. – interrompeu Narcissa, mais uma vez – A memória dela está voltando rapidamente, e com muita intensidade, e será difícil esconder isso do Lorde. Ela corre perigo, Sirius.


- Você precisa me ajudar, Narcissa.


- Eu não posso! Já fiz o que podia fazer, muito mais do que deveria, para minha própria segurança. Não posso mais ajudar, Sirius. Você vai ter que encontrar um jeito de fazer isso sozinho.


Longe dali, Annabella andava pelos cômodos de uma casa vazia. Ao longo daquelas quase duas semanas, os sonhos e os flashes de imagens envolvendo Sirius e a criança haviam se tornado mais freqüentes e intensos. Além disso, ela agora sonhava com o corredor de Hogwarts, onde duelara com Sirius, e o grito preocupado que ouvira naquela noite, o grito que fizera seu coração disparar. Em seu sonho, ela corria e corria, mas o corredor parecia não ter fim, e ela jamais conseguia alcançar o lugar de onde o grito vinha. Foi através de Draco que ela conseguiu fazer algumas descobertas importantes a respeito de Black e da dona daquele nome, Zoe. Soube que ela era uma das amigas mais próximas do garoto Potter, e que ela era filha de ninguém mais ninguém menos que Sirius Black. Isso explicava a reação imediata dele ao ouvir o nome da menina ser gritado daquela forma na noite da invasão. Mas não o fato de que ela também sentira algo naquele momento. Seria essa menina o bebê que ela havia desenhado tantas vezes? E se era, por quê? Por que ela sonharia com Sirius Black e sua filha? Tentou descobrir mais sobre ambos, mas não conseguiu nada que lhe ajudasse. Da mãe da menina soube apenas que havia morrido anos antes, quando ela era ainda um bebê, além de seu nome: Isabelle. Isabelle. Bell. Annabella. Quanto mais pensava, menos tudo parecia fazer sentido, e, no enanto, de alguma forma ela sabia que estava no caminho certo.


Foi com a cabeça doendo, irritada e atormentada, que ela deixara a mansão, aproveitando que Narcissa também havia saído, para caminhar um pouco, enquanto tentava colocar seus pensamentos em ordem. Por mais que tentasse, não conseguia pensar em outra coisa enquanto caminhava a esmo pelas ruas de Londres. Os trouxas não a viam, graças a um feitiço de ilusão, e ela andava sem ver o caminho, sem saber aonde ia. Então, de súbito, um lugar apareceu em sua mente, uma imagem nítida, uma casa, e, embora não soubesse como, ela teve certeza de que conhecia aquela fachada, e se deixou ser guiada pelo instinto que lhe dizia que precisava chegar até aquele lugar, andando rápido por caminhos que sequer sabia conhecer, até parar diante do local que estivera diante de seus olhos durante todo o caminho.


Chegou a sacar a varinha, ao passar pelo portão de ferro, mas não a usou. Ao alcançar a porta, encarou-a por um instante, sentindo ao mesmo tempo a vontade irresistível de entrar, e um medo irracional do que poderia lhe esperar lá dentro, que lhe fazia desejar dar meia-volta e fugir. Mas ela ficou, e embora não compreendesse o porquê, colocou a mão espalmada na porta, seguindo o mesmo insinto que a guiara até ali, e esperou. Ouvui o barulho das trancas se abrindo, e quando tudo silenciou novamente, levou a mão à maçaneta da porta e a abriu.


Sophie estava no jardim da Mansão D’Argento, com Jael. Ela estava sentada no balanço, de olhos fechados; havia torcido as cordas e agora deixava o balanço girar e girar até as cordas voltarem a ficar paralelas.


- Pensei que Cristal fosse vir junto com você... – comentou ela, fitando Jael, quando o balanço parou.


- Ela preferiu ficar. – respondeu o centauro – Acha que não nos sentiríamos a vontade com ela aqui.


- Ela poderia ter vindo. – disse Sophie, sorrindo – Eu...


Ela então parou de falar, o olhar perdendo-se ao longe. Teve uma sensação estranha, um impulso estranho e irresistível. Diante de seus olhos não havia Jael, ou a mansão, mas uma casa cuja fachada ela conhecia muito bem, embora jamais tivesse de fato ido até lá desde que soubera de toda a verdade sobre sua origem, e aquele impulso lhe dizia que ela precisava ir até lá, de alguma forma, ela precisava ir até lá naquele momento.


- Sophie...


Sophie levantou do balanço. A respiração da garota estava ofegante, como se tivesse acabado de parar de correr, e ela encarava Jael sem dizer palavra, porque sabia que não era necessário, ele já sabia de tudo no instante em que aquela imagem surgiu em sua cabeça.


- Você sentiu? – perguntou ela ao centauro – Da mesma forma que eu, tão forte?


- Vá, se precisa ir. – disse ele.


- Você avisa a vovó?


Jael assentiu com a cabeça.


- Eu vou estar com você. – disse ele, e foi a vez de Sophie assentir – Cuide-se, minha estrela. – pediu. Sophie assentiu mais uma vez, e então aparatou.


Annabella entrou no hall silencioso, fechando a porta atrás de si. Os móveis da casa estavam todos cobertos por panos brancos, para serem protegidos da poeira. Deixando o hall, ela passou por uma sala, e depois pela cozinha. Abriu uma porta dupla, que dava para uma espécie de estúdio, no qual não entrou. Andando pela casa, percebeu que conhecia todos os caminhos, sabia exatamente o que ficava onde, e poderia dizer o que havia em cada cômodo antes mesmo de entrar nele. Subiu então as escadas para o segundo andar, onde ficavam os quartos. Havia um amplo quarto de casal, e uma porta o interligava ao quarto ao lado, um pouco menor. Um quarto de criança. As paredes eram azuis, e havia nelas pinturas de centauros, hipogrifos e cavalos alados. Ela tocava os móveis cobertos, e pequenos flashes lhe vinham à cabeça: Sirius, mais jovem, na poltrona, com o bebê sobre o peito; depois rindo, sentado no chão com a menina, que agora ela sabia ser a filha dele, Zoe, e então ela própria estava na cena, também mais jovem, deitada com ele na cama de casal, a menina entre os dois, brincando com um hipogrifo de pelúcia. Ela recuou pela porta aberta, para o quarto do casal, cambaleando. Olhou para as formas da cama, também escondida por um pano banco. Em sua cabeça, imagens de si mesma com Sirius, beijando-o, fazendo amor com ele, depois grávida, a barriga já bastante crescida, ao seu lado outra grávida, uma ruiva que lhe sorria. “Lily”, o nome saltou-lhe à mente, e depois um jovem de cabelos arrepiados e óculos, “Tiago”, ela lembrou, e depois “Remo”, e então ela viu a si mesma, com a pequena Zoe no colo, embalando-a, e de repente ela estava sozinha, Bellatrix com a varinha apontada para ela... Caiu de joelhos no chão, as mãos cobrindo os ouvidos, tentando não ouvir a cacofonia de vozes, mas elas não vinham de fora, vinham de dentro, e chamavam “Bell”, “Isa”, “Charmant” e “mamam”, e ela sabia que todas aquelas eram ela, as lágrimas escorrendo-lhe do rosto como em uma torrente. A mulher levantou-se do chão, correndo porta afora e descendo as escadas, arrancando os panos brancos que cobriam os móveis e reconhecendo-os todos. O sofá onde comia brigadeiro com Sirius, a mesa da cozinha onde tantas vezes conversara com Lilian, e a poltrona onde havia amamentado Zoe, e o piano, seu amado piano, que havia sido de sua mãe, antes dela, e então ela lembrou, ela soube de tudo, aquela era sua casa, e Sirius era seu marido, e Zoe era sua filha, e aquilo tudo era a sua vida, a vida que lhe fora roubada quando ela deixou de ser Isabelle e passou a ser Annabella.


Sophie parou no hall da casa onde vivera apenas seus primeiros anos de vida, e a qual jamais havia retornado desde que Sirius a deixou na Mansão D’Argento, sob os cuidados da mãe e da avó adotivas. Sirius não conseguia entrar na casa, e ela sequer cogitou pedir ao pai que enfrentasse toda a perturbação e a dor que uma visita à antiga casa lhe traria, mas também não se atreveu ir até lá sozinha, pois não sabia a intensidade com que tal visita a afetaria. Por um momento ficou parada, o olhar percorrendo o cômodo, ao mesmo tempo emocionada e alerta. A porta por onde entrara estava destrancada, o que só podia significar que havia alguém lá dentro, mas não havia a menor possibilidade de que fosse Sirius, então... quem teria conseguido entrar? Ela seguiu andando pelo corredor, devagar e em silêncio, tentando ouvir qualquer ruído que pudesse existir na casa. Não havia nada, apenas o silêncio de uma casa vazia, mas ela sabia, ela sentia que havia sim alguém lá dentro. Passou por uma sala, estarrecendo-se com o que viu: os móveis haviam sido descobertos, os panos brancos que antes estavam sobre eles estavam espalhados pelo chão, como se por ali houvesse passado um vendaval. Sophie então sacou a varinha e continuou a andar. Viu uma porta dupla, aberta o suficiente para a passagem de uma pessoa, e então, devagar, dirigiu-se para lá.


Annabella não viu a garota entrando no estúdio, de varinha em punho. Ela estava sentada em uma das poltronas perto da janela, os olhos fixos em um porta-retratos retirado de um móvel da sala. Ela acariciava com as pontas dos dedos os rostos de Sirius e de Zoe, as lágrimas escorrendo uma a uma pelo rosto. Ao lado do porta-retratos, a caixinha de vidro que ela ganhara de Sirius tantos anos antes, com a rosa cor de marfim em seu interior, encontrada no quarto do casal.


- Como você entrou aqui?


A mulher voltou-se para a porta na velocidade de um raio, e, por um instante, as duas se encararam. No momento em que olhou para a menina parada à porta, Annabella soube quem era ela, e se pudesse ter ainda alguma dúvida sobre a ligação entre as duas, essa dúvida desapareceu de imediato. Ela podia ver muito de seus traços no rosto delicado, mas forte, da menina, cujos olhos eram negros como a noite, exatamente iguais aos de Sirius. Sophie, por sua vez, via finalmente diante de si o rosto que estivera em seus sonhos durante todos aqueles meses. Ela reconheceria aqueles olhos azuis em qualquer lugar.


- Annabella?


A mulher levantou-se da poltrona, deixando a varinha sobre a mesinha, sem jamais desviar seu olhar do de Sophie, seu coração martelando ruidosamente dentro do peito. Sophie a encarava de volta sentindo o coração apertado, e tentando não permitir que a mulher percebesse o quanto a mão que segurava a varinha estava tremendo. Vendo finalmente Annabella de perto, ela percebeu o quanto a mulher se parecia com ela, e também se sentiu estranha ante o olhar fixo da Comensal que a encarava, como se a estivesse reconhecendo naquele momento, como se estivesse a reencontrando, depois de um longo tempo. Ela então desviou seu olhar do de Annabella para apreender a cena inteira, a fotografia para a qual ela estivera olhando, a caixinha com a rosa, igual à que Sirius havia lhe dado em seu aniversário, e então voltou ao rosto da mulher, onde as lágrimas silenciosas haviam voltado a escorrer. Sentiu o turbilhão de emoções que emanavam dela, tão intensas quanto as suas próprias, e a mão da varinha abaixou-se, devagar. E, de repente, tudo fez sentido, a semelhança, a ligação que sentia existir entre aquela mulher, Sirius e ela própria, ela finalmente pôde compreender o que todos aqueles sonhos angustiantes que tivera queriam dizer. Ali, na casa que já fora sua, e de seus pais, todas as peças do quebra-cabeça finalmente se encaixaram.


- Mãe.


Depois de deixar Narcissa, Sirius seguiu para a Mansão D’Argento, em busca de Sophie. Ele entrou na casa feito um vendaval, sem sequer bater à porta, gritando o nome da filha no meio do hall, e depois ao pé da escada.


- Zoe! Zoe!


Ele começou a andar, em direção ao caminho que sabia levar à sala de jantar, mas então Violet surgiu, vinda da biblioteca, em uma das várias portas que saíam no hall. Ela parecia ao mesmo tempo preocupada, mas já resignada, e, embora seu rosto demonstrasse calma, seus olhos a traíam.


- Onde está Zoe? – perguntou Sirius, sem preâmbulos.


- Ela não está aqui, Sirius. – respondeu a bruxa – Saiu, já há algum tempo.


- Onde ela foi?


- Foi Jael quem veio me avisar, ele estava com ela no jardim, quando aconteceu.


- Aconteceu o quê? – perguntou Sirius, alarmando-se.


- Ele disse que ela teve um... pressentimento, algo muito forte – contou Violet –,  e que foi atrás do que viu.


- E o que ela viu?


- Uma casa. A casa que era de vocês. – respondeu a mulher – Ela está lá agora, por algum motivo que eu desconheço, e talvez você também devesse estar.


- Violet... Isabelle está viva. – revelou Sirius, sem rodeios.


- O quê? A sua Isabelle... viva? – perguntou Violet, surpresa – Como...? – começou ela, mas então se interrompeu; uma expressão de compreensão se espalhou por seu rosto, mas Sirius não percebeu.


- Eu vou atrás de Zoe. – disse ele – Explico tudo a você depois, preciso falar com ela primeiro, eu... – Sirius se interrompeu, finalmente compreendendo – Ela já sabe. Por isso foi até lá.


Violet assentiu.


- Provavelmente. – disse ela – Vá, Sirius. Eu esperarei por vocês aqui.


Foi a vez de Sirius concordar com a cabeça. Ele então deu meia volta, saindo pela porta que sequer havia fechado ao entrar. Uma vez do lado de fora, aparatou para o lugar onde imaginou que jamais teria forças para voltar.


Não havia ninguém na rua no momento em que Sirius apareceu, saído do nada, diante da casa onde vivera aqueles quase três anos com Isabelle. Ele encarou a fachada que não via há mais de quinze anos, o coração martelando dentro do peito. Isabelle estava viva, e Zoe estava lá dentro e precisava saber. Ele passou pelo portão aberto, e rumou para a porta da frente. Hesitou por um momento, com a mão na maçaneta, e então girou-a, abrindo a porta.


No estúdio, Isabelle e Sophie se encaravam, imóveis e em silêncio, presas naquele momento de reconhecimento súbito.


- Nini... – murmurou Isabelle, com voz trêmula. As lágrimas que enchiam os olhos de Sophie transbordaram ao ouvir seu apelido sair dos lábios da mulher, e ela então correu para os braços de sua mãe.


- Mãe... é você... é você... – murmurava Sophie, abraçando a mulher com força.


- Minha menina... minha Nini... – repetia Isabelle, sem parar, beijando os cabelos da garota, o rosto banhado em lágrimas. Elas ficaram abraçadas por um longo tempo, e quando se afastaram, Isabelle segurou o rosto de Sophie com as duas mãos, rindo e chorando ao mesmo tempo.


- Por isso eu via você... mãe... por isso...


- Minha menina... já é quase uma mulher... – disse ela, fitando o rosto da filha, reconhecendo os próprios traços nela, mas também as semelhanças com Sirius, os olhos negros, profundos – Tão linda... você era só um bebê... e eu não pude ver você crescer...


- Como... como...? – gaguejava Sophie, sem conseguir falar – O que aconteceu... mãe? O que fizeram com você?


- Eu tinha esquecido... eu não sabia quem eu era... – disse Isabelle, profundamente abalada – Mas agora eu sei... eu lembro, ah, Zoe... eu lembro de tudo... seu pai, essa casa, nós...


- Nini?


A voz de Sirius veio de fora do estúdio, da entrada da casa, e a mulher e a jovem olharam para a porta, e depois uma para a outra. Isabelle respirava rápido, o coração acelerado, nervosa com a proximidade do encontro com Sirius. Como ele teria descoberto que Zoe estava ali? Como reagiria ao vê-la? Como ela reagiria ao vê-lo, agora que sabia quem ele era? Sophie segurou a mão dela, apertando-a de leve, e Isabelle não conteve um leve sorriso, ao reconhecer o gesto; era algo herdado de Sirius. Ela assentiu com a cabeça, e então Sophie olhou para a porta.


- Eu estou aqui, pai! – disse ela, e, de mãos dadas, as duas esperaram que ele chegasse até ali.


Sirius ainda estava parado no hall quando chamou por Sophie, tão logo entrou na casa. Ele correu o olhar pela entrada, os móveis tão conhecidos, cada pequeno detalhe lhe oprimindo o coração, trazendo lembranças de tudo o que vivera naquele lugar. Então ouviu a resposta da filha, e obrigou suas pernas a andar, seguindo pelo corredor em direção ao estúdio, de onde parecera ter vindo a voz da garota. Ao passar pela sala, viu os móveis descobertos, os panos brancos atirados ao chão. Seu coração acelerou ainda mais; ele não conseguia imaginar sua filha fazendo aquilo. Sacou a varinha, e continuou andando, devagar, tentando discernir algum ruído, mas só ouvindo as batidas do próprio coração.


- Nini... – começou ele, ao chegar à porta do estúdio, mas ao ver quem estava lá dentro, as palavras morreram em seus lábios. De mãos dadas com a sua filha, dentro do estúdio, estava a mulher com quem ele duelara, semanas atrás. Os olhos azuis da Comensal estavam cheios de lágrimas, e Sophie também chorava, e, naquele momento, parado à porta, ele sentiu os próprios olhos marejarem, ao ver diante de si as duas pessoas que mais amara em toda a sua vida, a sua família, que fora desfeita, tantos anos atrás.


Ele abriu a boca para falar, mas nenhuma palavra saiu de seus lábios. Por um momento, os três ficaram parados, em silêncio, presos pela força daquele momento.


- Sirius...


- Você... vocês...


- Eu não lembrava de quem eu era... – disse Isabelle, encarando-o – Eu não lembrava de você... mas agora eu lembro. Eu lembro de tudo.


Ainda no umbral da porta, Sirius ofegou, precisando se apoiar no batente, as lágrimas caindo uma após a outra. Isabelle soltou a mão de Sophie e foi até ele, erguendo seu rosto para que ele a encarasse.


- Sou eu, Sirius... meu amor... sou eu...


- Bell... – murmurou Sirius, tocando o rosto dela. Isabelle fechou os olhos, sentindo o toque dele em seu rosto, o cheiro de canela de que se lembrava tão bem; Sirius a olhava, com a intenção de voltar a decorar cada mínimo traço do rosto dela – Minha Bell...


Ele soltou os cabelos da muher, e então sentiu mais forte aquele cheiro que conhecia tão bem, e que amava tanto. Isabelle abriu os olhos, e os dois se encararam, olhos azuis e negros, e Sirius então viu, agora era ela, era Isabelle. Ele podia ver nos olhos dela o que procurara e não encontrara semanas atrás.


- Eu continuei amando você... todos esses anos... você esteve no meu coração... não houve um dia sequer em que eu não lembrasse de você...


- Sirius...


Ele então a beijou, longamente, sôfregamente, como que para compensar todos aqueles anos, e sentiu exatamente o que sentia antes, o mesmo amor, o mesmo sentimento, tudo estivera guardado intacto em seu coração, como se estivesse esperando todos aqueles anos pelo retorno dela. Isabelle se permitiu esquecer de tudo nos braços de Sirius, sentindo o cheiro de canela que amava tanto, os braços fortes dele a prendendo em um abraço do qual ela não queria mais sair, sentindo tudo voltar, todo aquele amor, que ela não conseguia entender como pudera esquecer. Ele era o meu marido, seu amor, e agora nada mais importava além do fato de estarem juntos, ali, e ele ainda a amar tanto quanto ela o amava. Somente quando o fôlego acabou é que o beijo foi interrompido, e os dois ficaram ainda um instante abraçados, as testas coladas uma na outra, um acompanhando a respiração do outro, os corações batendo alucinadamente rápido. Foi então que lembraram de Sophie, e então se afastaram, mas apenas o suficiente para poderem olhar para ela, e ambos estenderam o braço que estava livre, convidando-a para participar daquele abraço que estava atrasado em mais de quinze anos.


- Merlin... o que eu perdi, esses anos todos? – disse Isabelle, beijando os cabelos de Sophie, enquanto Sirius fazia o mesmo em seus cabelos – Como eu pude esquecer... como?


- Não foi sua culpa, Bell... não foi.


- Eu quero saber de tudo, tudo o que eu perdi... da sua vida, filha, e da sua... Sirius – ela fitava o rosto dele, notando as pequenas diferenças, trazidas pelo tempo, em relação ao rosto que se lembrava, as precoces mechas grisalhas nos cabelos antes tão negros –, como vocês ficaram, o que aconteceu... Lily e Tiago... Merlin, a minha amiga... quando tudo aconteceu eu não lembrava... não dei importância... e Harry...


- Teremos tempo para isso, meu amor. Teremos todo o tempo do mundo, agora, para que você nos conte sua história, e nós contemos a nossa, porque nada mais neste mundo irá nos separar.

N/A: geente, esse é o último capítulo da fiic. ^^ Só vai ficar faltando o epílogo, que eu espero postar logo. Espero que tenham gostado até aqui.

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