Sorte no jogo...



O dia do jogo amanheceu claro, com um céu azul e sem nuvens, condições perfeitas para uma partida de Quadribol. Harry e Rony chegaram à mesa da Grifinória, já repleta de alunos totalmente vestidos de vermelho e ouro, sob as palmas e incentivos dos colegas e as vaias vindas da mesa da Sonserina. As provocações vindas dos sonserinos concentravam-se em Rony, sabidamente o elo mais fraco do time, deixando-o ainda mais nervoso e Harry preocupado. - Não ligue pra eles, Rony. – disse Harry ao amigo. - É, Rony, não liga pra eles. – disse Lilá Brown – Você vai ser ótimo! Rony esboçou um sorriso para a garota, mas logo voltou a fechar a cara, fitando o prato vazio à sua frente. Harry ficou observando enquanto o amigo despedaçava um pãozinho, sem, no entanto, comê-lo. Sabia que o humor de Rony andava meio instável desde o dia da discussão com Gina; Às vezes extremamente irritável, outras, devastadoramente deprimido. O desempenho dele nos treinos havia caído consideravelmente, e ele havia comprado briga com mais da metade dos jogadores do time. Além disso, a provocação vinda da torcida adversária não estava colaborando em nada para melhorar seu ânimo. A observação de Harry foi interrompida pela chegada de Sophie e Hermione, que se acomodaram ao seu lado. - Bom dia! – cumprimentou Sophie, com um largo sorriso. Harry encarou-a, de cenho franzido. Rony não deu sinal de ter percebido a chegada das duas. - Bom dia. – respondeu ele – Bom dia, Mione. - Bom dia. – respondeu Hermione, em voz baixa. - Dia perfeito pra um jogo, hein? – comentou Sophie. - É. – concordou Harry. - Como está se sentindo? – perguntou Hermione. - Nervoso, como sempre. – respondeu Harry, dando de ombros. Sophie riu. - E... – começou Hermione, e então indicou Rony com a cabeça. Harry olhou para o amigo, que mantinha o olhar fixo na mesa dos professores, propositalmente, ele sabia. - Na mesma. – respondeu. Rony e Hermione não se falavam já há alguns dias, mais precisamente, desde o dia seguinte à discussão do ruivo com Gina, quando a ruivinha mencionara o breve envolvimento da amiga com Viktor Krum, por ocasião do Torneio Tribruxo. Desde então, Rony havia passado a tratar Hermione com uma indiferença desdenhosa, atitude que só abandonava eventualmente, para destratar a garota, tratando-a com antipatia, e até mesmo rudeza. Sophie e Hermione tomaram seu café, e Sophie obrigou Harry a tomar um copo de suco de abóbora antes de se dirigirem ao campo de Quadribol. Sophie e Harry iam conversando sobre o jogo, enquanto Rony, ao lado de Harry, e Hermione, ao lado de Sophie, apenas caminhavam em silêncio. - Bem, bom jogo, meninos. – desejou Sophie, quando eles chegaram ao campo. - Bom jogo. – disse Hermione também. Rony virou-lhe o rosto, e a garota olhou para o chão, amuada. - Valeu, meninas. – disse Harry. - Rony! – chamou Sophie, e o ruivo virou-se para encará-la – Você vai se sair bem. – disse ela, com uma entonação diferente na voz. Rony continuou encarando-a por um instante, e então piscou, assentindo com a cabeça. Harry fitou Sophie com uma expressão desconfiada, mas a garota apenas sorriu. Ele então foi com Rony, que parecia não estar tão nervoso quanto há dois minutos antes, rumo ao vestiário, enquanto as duas garotas seguiam em direção às arquibancadas. Gina e Demelza já estavam no vestiário, com seus uniformes, e as duas exibiam largos sorrisos. Harry ficou hipnotizado pelo sorriso de Gina por um instante, voltando de seu devaneio ao ouvi-la contar o motivo de tanta alegria. - Boas notícias! – disse ela – Aquele artilheiro grandão da Sonserina, o Vaisey, levou um balaço na cabeça no treino deles ontem, e Madame Pomfrey não o liberou pra jogar. E tem mais. – acrescentou – Malfoy também está fora. Está doente. - Quê? – perguntou Harry – Malfoy, doente? O que ele tem? - Não sei, mas espero que seja algo que doa bastante. – respondeu Gina, dando de ombros – Mas o que importa mesmo é que eles estão sem o melhor artilheiro e sem o apanhador titular. – disse ela, ainda sorrindo – Quem vai substituir o Malfoy é um garoto do meu ano, um grande idiota, se quer saber. Harry retribuiu com um sorriso distraído. Na última vez em que não pudera jogar, Malfoy dera um jeito de adiar a partida para uma data que lhe fosse conveniente. Por que agora simplesmente mandava um substituto? Suas especulações foram interrompidas pela voz de Rony, falando baixo perto de seu ouvido, aparentemente tendo pensado o mesmo que ele. - Estranho isso, não? – perguntou o ruivo – Malfoy deixando de jogar contra você? Mas Harry não teve tempo de responder, pois Gina já estava à porta do vestiário, chamando-os para entrarem em campo. Eles saíram do vestiário, e entraram no campo sob um barulho ensurdecedor vindo das arquibancadas, de palmas e gritos do mar vermelho e ouro que era a arquibancada da torcida da Grifinória, e vaias vindas da arquibancada da Sonserina, tomada pelas cores verde e prata. - Muito bem, capitães, apertem as mãos. – disse Madame Hooch, e Harry teve sua mão esmagada pela do novo capitão sonserino, o batedor Urquart – Quando eu apitar... A professora apitou e eles deixaram o chão. Harry subiu bem para o alto, buscando o minúsculo pomo de ouro, mas também de olho em Harper, o apanhador sonserino. O jogo estava bem equilibrado, mas a Grifinória conseguiu abrir certa vantagem sobre a Sonserina, marcando sessenta pontos contra apenas dez do time adversário. Os artilheiros pareciam estar particularmente inspirados, acertando todos os arremessos, e Rony estava defendendo tudo. Harry agora observava o apanhador da Sonserina, que tentava recuperar o fôlego, depois de levar um balaço bem na altura do estômago. O placar aumentou para noventa a dez em poucos minutos, e a bola parecia ser atraída para as mãos dos jogadores da Grifinória, que não paravam de fazer gols. No outro extremo do campo, nas poucas vezes em que os artilheiros sonserinos conseguiram chegar, Rony fazia defesas incríveis, e já não tinha mais a expressão apreensiva no rosto, e sim um largo sorriso. Então Harry foi tirado de suas observações por uma gritaria vinda das arquibancadas. Observou todo o campo, em busca do motivo dos gritos e horrorizou-se ao encontrá-lo: Harper voava em alta velocidade, uma das mãos estendida para frente, a aproximadamente um braço de distância do pomo, que batia freneticamente as asinhas, tentando escapar. Harry impulsionou a vassoura, acelerando-a o máximo que podia na direção do apanhador sonserino. A Grifinória estava a cento e dez pontos de vantagem, se Harper apanhasse o pomo, a Sonserina venceria a partida. O vento assobiava em seus ouvidos enquanto ele se inclinava para frente sobre a Firebolt, tentando fazê-la ir mais rápido ao encalço do apanhador sonserino, que já quase tocava a bolinha, e então, sem nem saber por que o fizera, Harry gritou para o garoto. - Ei, Harper! Quanto Malfoy pagou a você pra jogar no lugar dele? Para sua enorme surpresa, Harper deu uma leve parada, como se houvesse levado um choque, e na velocidade em que estava, não conseguiu evitar passar pelo pomo. Harry, que vinha logo atrás, estendeu o braço, fechando os dedos ao redor da bolinha dourada. A arquibancada da Grifinória explodiu em uma gritaria que abafou o apito de Madame Hooch, encerrando o jogo. Assim que pôs os pés no chão, Harry se viu preso em um abraço coletivo dos jogadores da equipe, que pulavam e gritavam comemorando a vitória. Ele sentiu-se esquentar ao perceber que era o braço de Gina que envolvia seu pescoço em um abraço apertado. A equipe se dirigiu, ainda comemorando, até o vestiário, enquanto a torcida começava a deixar a arquibancada, rumo ao castelo, cantando gritos de guerra. Harry foi o último a deixar o vestiário. Rony havia saído pouco antes, com o restante dos companheiros de time, animado como há muito tempo não era visto. Quando saiu do vestiário, Harry encontrou Sophie e Hermione, esperando por ele, à porta. - Ótimo jogo. – disse Sophie, sorrindo. - Parabéns, Harry. – cumprimentou Hermione. - Valeu. – agradeceu Harry – Mas suponho que tenha que agradecer a você também, né, Soph? Sophie fitou o chão, um leve sorriso travesso no rosto. - Eu não fiz nada. – disse ela – Só o convenci de que podia fazer aquilo, e ele realmente podia. Harry apenas sorriu. - Bom, vamos pra torre? – sugeriu Sophie – Deve estar rolando a maior festa lá no salão comunal. - Com certeza. – concordou Harry – Vamos nessa. De fato, a festa estava no auge quando eles chegaram ao salão comunal. Havia música, e comida e bebida aos montes, e Harry, como capitão do time, foi recebido com palmas e gritos. Logo ele estava cercado de colegas que queriam cumprimentá-lo, ou discutir lances do jogo, e no meio da confusão, acabou “se perdendo” das meninas. Depois de finalmente conseguir se desvencilhar de um grupinho de meninas que o rodeavam, piscando afetadamente e rindo de tudo o que ele dizia, Harry se esgueirou até a mesa das bebidas, onde encontrou Gina, que observava a comemoração com Arnaldo, o mini-pufe, empoleirado em seu ombro. - Que bagunça, hein? – comentou Harry. - É. – concordou a ruivinha – Lembra as festas que o Fred e o Jorge faziam. Suponho que tenha o dedo da Soph nisso aqui. - É. – concordou Harry, distraído – Eu não vi o Rony... - Ele está ali, o grande hipócrita. – disse Gina, apontando na direção dos sofás. Harry olhou na direção em que ela apontara. Rony estava enroscado com Lilá Brown em uma das poltronas, de tal forma que era absolutamente impossível dizer quais mãos eram de quem. - Alguém devia mandá-los procurar um quarto. – disse Gina, sem emoção – Tem crianças assistindo isso. Ela saiu andando em direção à lareira, onde estava Dino, conversando com Simas e Neville, e Harry voltou a olhar na direção da poltrona, onde Rony continuava atracado com Lilá. Sua mente vagou, sem querer, pela breve conversa que acabara de ter com Gina, mas antes que ele se perdesse em seus devaneios – proibidos – sobre a ruivinha, uma das coisas que ela dissera voltou à sua mente com a força de um raio. Não havia apenas crianças assistindo às cenas tórridas de Rony e Lilá. Seu olhar passou pelo buraco do retrato no momento em que ele se fechava às costas de alguém com volumosos cabelos castanhos. Enquanto tentava passar pela confusão de gente que lotava o salão comunal, Harry viu o retrato voltar a se abrir e fechar novamente. Depois de falar rapidamente com alguns colegas que o pararam no caminho até a saída, ele finalmente conseguiu sair ao corredor, mas não encontrou ninguém. Andou até a primeira porta, à direita, parando ao ouvir a voz de Sophie, vindo de dentro da sala. - Não fica assim, Mione... Harry entrou na sala, e Hermione virou o rosto para a janela, de forma que ele não a visse. Sophie olhou para o garoto com uma expressão triste e preocupada. - Mione... – chamou Harry. - Vai embora, Harry. – pediu a garota. - Mas... – começou Harry, mas foi interrompido por um ruído de risadas abafadas. A porta da sala se abriu, e Rony e Lilá entraram, de mãos dadas e rindo. - Oops! – fez a garota, ao ver que havia gente na sala, saindo logo em seguida. - Ahn... e aí, Harry, você sumiu da festa... – disse Rony, tentando aliviar a situação. - Se foi por nossa causa que a Lilá foi embora, pode dizer pra ela voltar, Rony. – disse Hermione, encarando o ruivo – Já estamos de saída. – completou, com voz firme, levantando-se da cadeira e saindo da sala, seguida de perto por Sophie. No entanto, Harry podia jurar ter ouvido um soluço antes da porta bater. No dia seguinte, nem Hermione nem Sophie apareceram na hora do café da manhã, e Harry sentiu bastante a ausência das duas, pois, praticamente, tomou seu café sozinho, já que Rony estava muito ocupado, recebendo na boca pedaços do bolo de chocolate do prato de Lilá. Ele viu Gina, que o cumprimentou de longe, enquanto se acomodava à mesa, lançando olhares furiosos na direção do irmão. Durante toda a manhã, Sophie e Hermione estiveram ausentes, primeiro, na aula de Runas Antigas, na qual os garotos não lhes faziam companhia, e depois, simplesmente desaparecidas pelo castelo. As duas garotas só foram aparecer na hora do almoço, tendo, no entanto, sentado bem distantes de Harry e Rony, e junto com Gina. Sophie olhou para Harry, com uma expressão séria no rosto. O garoto acenou com a cabeça, em direção a Hermione, recebendo um aceno negativo em resposta. Durante as aulas da tarde, as duas sentaram-se bem à frente da sala, e Hermione não olhou sequer uma vez na direção de onde Harry e Rony estavam. Assim que o sinal para o fim das aulas soava, ela e Sophie recolhiam seu material e deixavam a sala rapidamente. Ao final da última aula do dia, Harry nem teve tempo de tentar se aproximar. Quando terminou de guardar seu material e olhou para frente da sala, as duas já haviam saído. Logo, flocos de neve começaram a cair, branqueando os jardins de Hogwarts e acumulando-se nos peitoris das janelas; o Natal estava chegando. As tradicionais doze árvores de Natal já haviam sido montadas, e por todo o castelo havia guirlandas de azevinho, pingentes de gelo, que não derretiam, e grandes ramos de visgo que pendiam do teto dos corredores. Harry evitava todos os caminhos onde sabia que tinham ramos de visgo, pois a cada vez que ele se aproximava de um deles, grupos de garotas disputavam lugares debaixo das plantas, esperando encurralá-lo. Sophie rolava de rir a cada vez que o via estancar na entrada de um corredor e dar meia volta, para fugir dos superlotados ramos de visgo, deixando para trás várias garotas frustradas. Assim como Sophie, Rony achava muita graça na situação em que o amigo estava metido. Harry estava feliz com o retorno do bom humor do amigo, embora tivesse um preço alto a pagar por ele. Tinha agora que suportar a presença constante de Lilá Brown, que parecia considerar um desperdício qualquer minuto sem beijar Rony, e a ausência de Hermione, e, por conseqüência, de Sophie, que agora raramente ficavam no salão comunal junto com eles. - Não sei por que Hermione está tão incomodada com isso. – disse Rony a Harry, em um momento em que Lilá os havia deixado sozinhos para ir até o dormitório. Eles haviam chegado ao salão comunal poucos minutos antes, e Hermione, que estava sentada em uma das poltronas, estudando para sua aula de Aritmancia, havia se retirado do salão, tendo apenas cumprimentado Harry em voz baixa, sem erguer os olhos para olhar para eles. Como Harry nada respondeu, Rony continuou com sua declaração. - Não devo nenhuma explicação a ela, afinal, ela também não andou aos beijos com o Krum, no ano retrasado? Harry, decidido a não tomar parte na contenda entre os dois amigos, se manteve calado. Aliás, vinha fazendo muito isto nos últimos tempos, e se perguntava se Sophie passava pelo mesmo problema. Quando Lilá voltou, Harry decidiu deixar o salão comunal, pois já havia presenciado agarramentos o suficiente por aquele dia. Ele pegou seu livro de Poções, e rumou para a biblioteca, onde sabia que encontraria Sophie e Hermione, estudando qualquer coisa. - Duvido que a Sra. Weasley deixe Gina ir. – dizia Hermione a Sophie. - Deixa isso comigo. – respondeu a morena – Eu convenço ela. - Soph... – começou Hermione. - Não, Mione, não desse jeito. – disse Sophie, percebendo o que se passara pela cabeça da amiga – Acho que consigo convencê-la do jeito tradicional. - Vai ser legal se pudermos ir, as três juntas. - disse Hermione, animada. - Nós vamos. – disse Sophie – As Diamantes vão amar rever vocês. - Oi, meninas. – cumprimentou Harry, ao chegar à mesa delas. - Oi! – responderam as duas, ao mesmo tempo. - Você veio sozinho, ou o casalzinho vem também? – perguntou Hermione, em tom levemente agressivo. - Eu vim sozinho. – respondeu Harry – O que estão fazendo? - Estávamos terminando o dever de Runas. – respondeu Hermione. - E planejando os feriados. – acrescentou Sophie – E você? - Nada. Só ia dar uma lida no livro de Poções. – respondeu Harry, dando de ombros. - Nas anotações do antigo dono, você quer dizer. – retrucou Hermione. - Ah, Mione, nem começa. – disse Harry. - Eu não vou começar nada. – disse Hermione – Foi bom você falar em poções. É melhor tomar cuidado com o que come ou bebe, Harry. - Por quê? – perguntou o garoto, sem entender. - Soph e eu ouvimos umas garotas hoje, no banheiro, discutindo formas de dar a você uma poção de amor. – contou Hermione – Pra fazer com que você as leve à festa de Natal de Slughorn. Harry parou para pensar por um instante, lembrando do convite que o professor Slughorn fizera questão de lhe entregar pessoalmente, e que ele abrira apenas por polidez, mal lendo o que estava escrito no pergaminho contido no envelope. - E pelo que ouvimos, elas compraram as poções da loja de Fred e Jorge, – disse Sophie – o que quer dizer que, infelizmente pra você, provavelmente funcionam. - Antes que você pergunte, – disse Hermione – eu não pude confiscar as poções, porque elas não estavam com elas lá. Mas estavam pensando nos planos mais mirabolantes possíveis pra fazê-las chegarem a você. - Mas Filch proibiu os produtos das Gemialidades Weasley no castelo. – argumentou Harry – Como elas estão trazendo isso pra cá? - Ah, Harry, desde quando alguém liga pras proibições do Filch? – perguntou Hermione. - Quanto a como as poções entram, – continuou Sophie – Fred e Jorge as mandam disfarçadas de perfumes ou xaropes pra tosse. Segundo o Fred, Filch não consegue reconhecer poções direito. - Bom, Harry, a questão é que, a não ser que o seu livro maravilhoso de Poções tenha algum antídoto que funcione para uns dez tipos de poções de amor diferentes, – disse Hermione – é melhor chamar logo alguém pra ir a essa festa. - Mas não tem ninguém com quem eu queira ir. – disse Harry, embora seu pensamento tenha vagado imediatamente para imagens dele com Gina, embaixo dos ramos de visgo. Mais do que depressa, ele olhou para Sophie, temendo que ela pudesse ter captado aqueles pensamentos, mas a garota não esboçou qualquer reação que o fizesse acreditar que ela tivesse visto alguma coisa. - Bom, o aviso está dado. – disse Hermione, dando de ombros. Harry logo percebeu que os avisos de Sophie e Hermione não eram infundados. Ao longo dos dias que se seguiram, metade das garotas da Grifinória tentou lhe empurrar todo o tipo de guloseimas, que ele, com dó, queimava na lareira do dormitório masculino todas as noites. - Soph, por favor... - Ah, não, Harry... – respondeu Sophie. - Eu não agüento mais esse bando de garotas no meu pé! – disse o garoto, fazendo uma cara pidona. - Eu não pretendia ir a essa festa, Harry! – disse Sophie – Você sabe que eu não gosto muito do Slughorn. - Soph, você é filha do meu padrinho, – disse Harry – é quase minha prima! Se você não me ajudar, quem vai? - Como você faz drama! – respondeu Sophie, meio rindo – Ah, Merlin, eu vou me arrepender tanto disso... – disse ela, revirando os olhos – Tá bom, Harry, eu vou com você. - Sério? – perguntou Harry e ela assentiu, revirando os olhos novamente – Soph, você é a maior! – disse o garoto, beijando-a no rosto. - Tá bom... – disse Sophie, fingindo estar entediada – Você vai ficar me devendo essa. Pela primeira vez, Harry ficou genuinamente contente em ver Lilá Brown atirando-se nos braços de Rony. Ele deixou escapar, por acaso, que iria à festa de Slughorn com Sophie, e, menos de uma hora depois, parecia que todo o castelo já sabia que ele não estava mais disponível na noite da festa de Natal. - Sou a garota mais odiada da escola por sua causa, Harry. – acusou Sophie, rindo, enquanto eles iam para o Grande Salão para o jantar. Ela recebia olhares furiosos de inúmeras garotas ao longo de todo o caminho, o que vinha acontecendo desde o dia em que Harry a convencera a ir à festa do professor de Poções. Eles chegaram ao Grande Salão e acomodaram-se à mesa da Grifinória, Harry ao lado de Rony, depois dele, Sophie, e ao lado dela, Hermione. Logo em seguida, no entanto, chegou Lilá junto Parvati Patil, que se acomodou à frente de Sophie, enquanto a amiga se espremia entre Rony e Harry. - Soube que você vai à festa com Harry, Sophie? – comentou Parvati, como se ninguém soubesse que ela fora a primeira a saber da novidade por Lilá. - Ah, é. – disse Sophie, tentando não fazer uma careta, e falhando – Alguém tem que ir tomar conta do meu quase priminho. – disse ela, olhando para Harry, e os dois riram. - E você, Hermione? – perguntou Parvati – Vai à festa? - Ah, sim! – respondeu Hermione, com uma animação que não parecia natural – Vou encontrar com Córmaco às oito. Você vai? - Não. – respondeu a outra, desanimada – Nenhum convite. Mas... você disse Córmaco? – perguntou ela, pressentindo uma nova fofoca – Córmaco McLaggen? Harry viu a cabeça de Rony voltar-se na velocidade de um raio na direção das meninas. - É. – confirmou Hermione, com um sorriso afetado – Aquele que quase foi goleiro da Grifinória. - Eu lembro. – disse Parvati – Ele perdeu a última cobrança, não foi? “Com uma ajudinha das duas pestinhas que estão na sua frente...” – pensou Harry, reprimindo uma risada. - É, uma pena. – disse Hermione, suspirando – Ele é um ótimo jogador, sabe? Só deu azar naquele dia, talvez fosse o dia de sorte de outras pessoas... – disse ela, encarando Rony ostensivamente. As orelhas do garoto ficaram vermelhas, e ele voltou seu olhar para o seu prato. - Nossa, mas você gosta de jogadores de Quadribol, hein? – perguntou Parvati – Primeiro Krum, agora McLaggen... - É, mas não qualquer jogador. – corrigiu-a Hermione – Só os realmente bons. Harry olhou para Sophie, que nada disse; ela também parecia estar contendo uma risada. Depois, ele fitou Rony, que voltara a encarar Hermione com uma expressão furiosa no rosto, enquanto a garota continuava a tagarelar, sorridente, com Parvati sobre a festa. - É uma pena que você não vá, Parvati. – disse ela – Acho que a festa vai estar realmente interessante. Bom, acho que vou indo, ainda tenho que achar uma roupa. – disse, levantando-se – Soph, vem comigo? - Ahn... tá. – concordou Sophie, levantando-se também – Vejo você depois, Harry. – disse ela, fazendo uma careta. - Tá. – respondeu Harry, fitando a expressão no rosto dela – Você não vai desistir, vai? - Não. – disse Sophie, revirando os olhos – Mas você vai realmente ficar me devendo essa. – lembrou ela, antes de sair, junto com Hermione. De fato, Sophie não desistiu, embora estivesse com a cara de alguém que estava indo em direção à guilhotina quando encontrou com Harry no salão comunal, mais tarde. Os dois então se dirigiram à sala do professor Slughorn. Ao pararem diante da porta, trocaram olhares igualmente desanimados. - Pronta? – perguntou Harry. - Pronta. – respondeu Sophie, fazendo uma careta – Você? - Pronto. – disse Harry, com uma careta também. Os dois riram, e então entraram na sala. O ambiente era bem maior do que um escritório normal, provavelmente aumentado por magia. A sala estava cheia e abafada, banhada por uma luz avermelhada, vinda de um enorme lampião preso ao teto, o som de bandolins vinha de algum lugar, e elfos domésticos perambulavam carregando bandejas cheias de taças de bebidas e petiscos. - Ora, vejam só! Harry Potter e a nossa recém descoberta herdeira Black! – disse Slughorn, ao vê-los chegar – Não esperava que viessem juntos. – disse ele, fitando ostensivamente as mãos dadas de Harry e Sophie – Bem, venham, venham, há muita gente que quero apresentar a você, Harry. E a você também, Srta. Black. - Sophie, por favor. – pediu Sophie. - Ah, sim, claro. – disse Slughorn – Suponho que deseje manter o nome de sua família adotiva, afinal, viveu sem conhecer seu pai por tanto tempo... Sophie não respondeu. Levemente desconcertado, Slughorn desviou o assunto. - Bem, venham, meus caros, há muita gente a quem quero apresentá-los. Ele puxou Harry, que por sua vez, puxou Sophie, até onde um grupo de bruxos conversava, interrompendo-os para apresentar-lhes a Harry. - Aqui está, senhores, como eu lhes havia dito. – disse teatralmente – Harry Potter, e sua amiga, – Sophie percebeu a mudança na entonação de voz de Slughorn – a Srta. Zoe Niniane Black. Harry sentiu a amiga respirar fundo ao seu lado, e apertou de leve a mão dela. Ele cumprimentou os bruxos, que ficaram encantados em conhecê-lo, enquanto Slughorn tentava posar como o seu querido professor de Poções. - ... e nós nos damos realmente muito bem, não Harry? – dizia ele, embora não esperasse de fato a resposta – Harry tem talento para poções... - Mesmo? Todos olharam para o lado de onde viera o comentário. Snape vinha se aproximando do grupo, com a típica expressão desdenhosa que sempre usava ao se referir a Harry. - Ora, mas por certo que sim, Severo! – disse Slughorn – Ele tem realizado prodígios nas minhas aulas. - Bem, isto é uma surpresa para mim. – disse Snape, encarando Harry. Ele evitava o olhar de Sophie com determinação. - Ah, bem, eu... vi uma amiga passando ali. – disse Harry, ansioso, por motivos diferentes, em sair da presença de Snape e de Slughorn – Com licença. – pediu ele, e rapidamente se afastou dali com Sophie. - Mais um pouco e ele ia dizer que você era como um filho pra ele. – comentou Sophie. - Tenho certeza que já estava na ponta da língua dele. – disse Harry, e os dois riram – Por que Snape não olhava pra você? - Não sei. – mentiu Sophie, dando de ombros. Enquanto tentavam se afastar o máximo que podiam de onde estavam Slughorn e Snape, os dois esbarraram em Hermione, que se esgueirava por entre os convidados da festa, olhando ao redor como se estivesse se escondendo de alguém. - Mione! – disse Harry. - Hã? – fez Hermione, assustando-se – Ah, são vocês. - De quem está se escondendo? – perguntou Harry. - McLaggen. – respondeu Hermione – Deixei ele lá atrás. Debaixo do visgo. – esclareceu ela, ao ver a expressão confusa no rosto de Harry. - Ah... – fez o garoto. - Vocês não estão vendo ele, estão? – perguntou ela, voltando a olhar ao redor. - Não. - Ótimo. – disse Hermione, satisfeita – Venham mais pra cá, aqui tá mais escuro, ele não vai me ver. - Afinal, se não gosta do McLaggen, por que veio com ele? – perguntou Harry. - Achei que era quem mais ia deixar Rony zangado. – confessou a garota – Ah, não, aí vem ele! E então Hermione já tinha desaparecido. Quando McLaggen os alcançou, não havia sinal dela em lugar algum por perto deles. - Viram Hermione? – perguntou o garoto. - Não. – mentiu Sophie – Ela não estava com você? Harry olhou para o lado, tentando segurar o riso, enquanto Sophie encarava McLaggen, impassível. - É. – respondeu o garoto, contrafeito – Acho que nos perdemos. - Ah... – fez Sophie. Harry engasgou com a risada que tentou prender, mas disfarçou, com uma tosse. McLaggen olhou para ele, e então voltou a fitar Sophie. - Bom, eu vou ver se a encontro. – disse ele – Se a virem, digam que eu a estou procurando, sim? - Aham. – fez Sophie, e quando o garoto deu-lhe as costas, aproveitando que o barulho ao redor o impediria de ouvi-la, caiu na risada, junto com Harry. - Soph, você é a melhor mentirosa que eu já vi. – comentou Harry, e Sophie mostrou-lhe a língua. Ela então ficou séria. - Harry, olha. – disse, apontando a porta com a cabeça. Filch vinha entrando na sala, arrastando Draco Malfoy pela orelha até onde estavam os professores Snape e Slughorn. Os dois então, disfarçadamente, se aproximaram para ouvir a conversa do grupo. - Aaaai... - Professor Slughorn. – chamou Filch – Eu encontrei esse rapazinho se esgueirando por um corredor lá em cima. Ele disse que foi convidado para sua festa, mas que se atrasou e se perdeu quando tentou pegar um atalho. – contou ele – É verdade que o convidou? - Ah, tá bom! Eu não fui convidado! – disse Malfoy, com raiva, desvencilhando-se de Filch – Tava tentando entrar de penetra, satisfeito? - Você está muito encrencado, rapazinho, ah, se está. – disse Filch, os olhos brilhando com a perspectiva de punir Malfoy – O diretor não disse que não queria ninguém andando pelos corredores sem autorização, não disse? - Tudo bem, Argo. – disse Slughorn, sorrindo – Não é nenhum crime querer ir a uma festa, ele é só um jovem, afinal. – ele voltou-se para Draco – Tudo bem, Sr. Malfoy, o senhor pode ficar. A expressão de indignação e desapontamento no rosto de Filch enquanto ele saía da sala, arrastando os pés, já era previsível, no entanto, Harry não conseguiu compreender a expressão de infelicidade no rosto de Malfoy, nem porque Snape olhava para seu aluno favorito como se estivesse ao mesmo tempo com raiva e... talvez receio? Malfoy logo compôs sua expressão, produzindo, não sem esforço, um quase-sorriso e agradecendo a Slughorn por sua generosidade, e o rosto de Snape, lentamente, voltou à sua impenetrabilidade habitual. - Ora, de nada, meu caro. – disse Slughorn, em resposta aos agradecimentos – Afinal, eu conheci seu avô, e seu pai... - Papai sempre fala muito bem do senhor. – disse Malfoy, aproveitando a deixa – Diz que é o melhor preparador de poções que ele já conheceu. Sem prestar atenção aos protestos de falsa modéstia de Slughorn, Harry observou Malfoy por um instante. Era a primeira vez em um bom tempo em que o garoto de perto, e o que percebeu intrigou-o bastante. Malfoy parecia cansado, ou doente, estava mais pálido do que nunca, e tinha escuras olheiras sob os olhos. - Gostaria de dar uma palavrinha com você, Draco. – disse Snape, subitamente. - Por favor, Severo, é Natal. – disse Slughorn – Não seja tão duro com o garoto. - O Natal não dá a ele o direito de quebrar as regras, Horácio. – respondeu Snape, ríspido –Venha comigo, Draco. Os dois se retiraram. Snape ia na frente, Draco, mais atrás, parecia furioso. Harry olhou para Sophie, que o encarou de volta, séria. - Vai. – disse ela – Eu cubro você. Escondendo-se atrás dela, Harry vestiu a capa de invisibilidade, que carregava, como Dumbledore havia pedido, e saiu da sala, agradecendo pelo ruído da festa abafar o som de seus passos apressados pelo corredor de pedra. Ele foi passando pelas portas do corredor, encostando o ouvido em cada uma até que ouviu o som das vozes do professor e de Malfoy vindo de dentro de uma das salas. - Não me olhe desse jeito. – disse Malfoy – Sei o que está fazendo, e eu posso impedi-lo. - Ah... – fez Snape – Titia Bellatrix tem ensinado Oclumencia a você, Draco? – perguntou ele. Harry lembrou do dia em que Sophie tentara ler os pensamentos de Draco, sem sucesso. Então ele realmente a estava bloqueando. - Não é da sua conta! – disse Draco – Fique longe da minha mente! Harry surpreendeu-se ao ouvir o garoto falando daquele jeito com Snape, o único professor por quem parecia ter algum respeito, e até mesmo gostar. - Por isso tem me evitado? – perguntou Snape – Tem medo da minha interferência? - Não tenho medo de nada! – disse Malfoy – Mas a tarefa é minha! Eu a recebi dele, e eu irei cumpri-la. - Ouça, Draco, eu prometi a sua mãe que o protegeria. – disse Snape, suavizando a voz – Eu fiz um Voto Perpétuo com ela. - Não é problema meu. – rebateu Malfoy – Não pedi nada a você. Eu tenho um plano, e ele vai dar certo. Só está demorando um pouco mais do que eu previa. - Me diga o que está fazendo, eu posso ajudá-lo. – disse Snape. - Eu não preciso de sua ajuda. – disse Draco – Tenho toda a ajuda de que preciso, não estou sozinho. - Estava hoje à noite. – retrucou Snape – Uma atitude tola, se deseja minha opinião. - Não, não a desejo. – disse Malfoy – Sei o que está querendo, quer roubar a minha glória, tem medo de perder seu lugar de favorito. - Está sendo infantil e tolo. – disse Snape, friamente – Entendo que a prisão de seu pai o tenha perturbado, mas... Ele não teve a chance de terminar a frase. Harry mal teve tempo de se afastar da porta, antes que ela fosse violentamente por Malfoy, que saiu da sala de aula seguindo a passos largos rumo ao fim do corredor, onde dobrou, desaparecendo de vista. dentro da sala, Snape respirava fundo, o rosto contraído de raiva. Ele então compôs sua expressão, o rosto voltando a ficar impassível, como sempre, e voltou para a festa, enquanto Harry o observava, encolhido ao lado da porta, atordoado demais para sair do lugar.




N/A: correndo, gente. Eapero que gostem do cap. =*

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