Informações relutantes

Informações relutantes



N/A: postei dois caps de uma vez. Se veio direto, volte uma casa. =)


Com o passar dos dias, pedaços de um céu azul podiam ser entrevistos através das janelas do castelo, sinal da aproximação do verão. No entanto, isto não ajudou a melhorar o humor de Harry, que andava bastante irritadiço devido às suas tentativas frustradas, tanto em descobrir o que Malfoy andava fazendo, quanto em conseguir iniciar uma conversa com Slughorn durante a qual pudesse tentar persuadir o professor a entregar a lembrança que Dumbledore lhe pedira para obter.


- Harry, esquece o Malfoy! – disse Hermione, impaciente – Você precisa se focar no Slughorn.


Ela, Rony, Harry e Sophie estavam sentados no jardim, perto da faia, aproveitando o solzinho que resolvera dar o ar da graça depois do almoço. Rony e Hermione tinham nas mãos um folheto do Ministério da Magia, com dicas sobre Aparatação, pois eles, e Sophie, iam fazer o teste naquela tarde. De repente, Rony deu um salto, e se escondeu atrás de Hermione.


- Não é a Lilá. – disse a garota, revirando os olhos, enquanto uma garota saía do castelo, seguindo rumo ao lago.


- Ah, bom. – respondeu Rony, voltando à sua posição original.


- Hermione tem razão, Harry. – disse Sophie – Você devia aproveitar hoje, a aula de Poções vai estar quase vazia, já que todo mundo vai estar fazendo os testes...


- Isso, tenta dar uma amaciada nele. – disse Rony – Talvez depois de deixar ele bem feliz com outra das suas poções perfeitas, você tenha mais sorte.


- Sorte! – exclamou Sophie, de repente – É isso! Harry, você precisa de sorte!


- Com certeza preciso. – disse Harry, amuado – De muita.


- Mas você tem!


- O quê? Eu tenho sorte, Soph? – perguntou o garoto, crispando os lábios em descrença – Venho tentando conseguir essa lembrança há semanas, e...


- Você não me entendeu. – interrompeu Sophie – Você tem sorte. A sua poção da sorte!


- Claro! – exclamou Hermione – Por que não pensamos nisso antes?


Harry olhou de uma para a outra com uma expressão de dúvida.


- Eu... não sei... – disse ele, hesitante – Tava meio que... guardando ela.


- Pra quê? – perguntou Rony, surpreso.


- É, Harry! – concordou Hermione – O que pode ser mais importante do que conseguir aquela lembrança?


Harry não respondeu. Ele não podia. Já há algum tempo, em sua cabeça, vinham se desenvolvendo alguns planos e idéias vagas envolvendo o frasquinho de conteúdo dourado, Gina rompendo com Dino Thomas e Rony ficando bastante satisfeito com o novo namorado da irmã caçula.


- Harry? Harry?! – chamava Hermione, sem ser ouvida.


- Hã? – fez o garoto, fitando-a, confuso por um instante.


- E então, vai ou não usar a poção? – perguntou ela, e Harry hesitou novamente.


“Sabe que não vai realmente precisar dela para isso que está pensando... até porque, não adiantaria...”


Harry fitou Sophie com ar de espanto, enquanto a garota mantinha uma expressão absolutamente inocente ao encará-lo de volta.


- Bom... tá. – rendeu-se ele – Eu vou tentar pela última vez hoje à tarde, e se não der certo, tomo um pouco da Felix e procuro ele de novo.


- Ótimo. – aprovou Hermione, ficando de pé, e começando a recitar: Destinação... Determinação... Deliberação...


- Ah, não, Mione, pára! – pediu Rony – Eu tô ficando enjoado... ah, droga, me esconde!


- Não é a Lilá! – disse Hermione, impaciente, quando, ao ver duas garotas saindo para os jardins, Rony mergulhou novamente atrás dela.


- Ah... bom. – disse Rony, espiando por sobre o ombro dela, antes de sair de seu esconderijo.


- Bom, está na hora. – disse Sophie, e logo em seguida a sineta tocou no castelo – Temos que ir, gente.


Eles então deixaram, relutantes, o jardim, rumo à entrada do castelo. Harry acompanhou os amigos até o saguão de entrada, onde os alunos que iam a Hogsmeade para o teste de Aparatação começavam a se agrupar.


- Vocês vão se sair bem. – disse ele, quando chegou a hora dos amigos partirem – Boa sorte.


- Pra você também. – disse Sophie, e os demais concordaram com a cabeça, acenando em despedida quando Harry tomou o rumo das masmorras.


Só havia três alunos na aula de Poções naquela tarde: Harry, Ernesto McMillan e Draco Malfoy.


- Todos jovens demais para aparatar? – perguntou Slughorn, e os três concordaram – Bem, como são tão poucos, hoje vamos apenas nos divertir. Quero que façam alguma coisa engraçada.


- Engraçada? – perguntou Malfoy, mal humorado – Como assim?


- Não sei. – respondeu Slughorn, com um sorrisinho – Me surpreendam.


Ao contrário do que Slughorn planejara, a aula não foi nem um pouco divertida. Cada aluno ficou quieto no seu canto, trabalhando em sua poção. Ernesto tentou inventar uma poção, que deu totalmente errado, e que ficou reduzida a uma gosma verde e com cheiro esquisito, grudada no fundo do caldeirão; Malfoy acabou ficando ainda mais mal-humorado quando Slughorn declarou sua poção apenas passável, e Harry ficou extremamente frustrado ao ver que seu perfeito Elixir para Induzir Euforia – mais uma receita criada pelo ex-dono do livro de Poções –, que ele tencionava tentar convencer o professor a experimentar, e talvez assim ficar tão bem-humorado a ponto de lhe entregar a lembrança, não impediu que o Slughorn escapasse dele tão logo soou o fim da aula. Desapontado, ele terminou de recolher seu material e deixou a masmorra rumo ao salão comunal, onde ficou até a chegada dos amigos, no fim da tarde.


- Harry! – gritou Hermione, ao passar pelo buraco do retrato – Passei, Harry! Eu passei!


- Parabéns! – disse Harry – Você também passou, né, Soph? – perguntou ele, ao ver a garota se aproximar.


- Aham. – fez ela, com um sorriso satisfeito, e Harry sorriu-lhe de volta.


- E Rony? – perguntou ele.


- Ele não passou. – respondeu Sophie, em voz baixa.


- Mas foi por pouco. – disse Hermione – Uma coisinha de nada. Ele deixou meia sobrancelha pra trás.


- Acho que vou fazer o teste com você, cara. – disse Rony, ao alcançá-los – Meia sobrancelha! – disse ele, indignado – Que droga!


- Mas e você, Harry, como foi com o Slughorn? – perguntou Sophie.


- Nada feito. – disse Harry, amuado.


- Então vai tomar a Felix Felicis? – perguntou Hermione, em tom de quem não dá realmente outra opção.


- É, acho que não vai ter outro jeito. – concordou Harry, não muito satisfeito – Mas não vou tomar a dose toda, só um gole. Acho que umas duas ou três horas serão suficientes.


Os quatro foram então para o jantar, durante o qual xingaram sem meias palavras o examinador do Ministério, devido à reprovação de Rony, que, quando terminaram de comer, já parecia bem mais animado. Sophie, por outro lado, estava calada e pensativa.


Depois de certificarem-se de que Dino, Simas e Neville, que dividiam o quarto com Rony e Harry, estavam no salão comunal, discutindo o teste de Aparatação, eles se esgueiraram discretamente escada acima, até o dormitório masculino. Harry tirou do fundo do malão o minúsculo frasco cintilante, e tomou um gole cuidadosamente medido da poção da sorte.


- E então? – perguntou Rony, ansioso – Como se sente?


Harry não respondeu de imediato. Lentamente, foi tomando conta dele uma sensação de leve euforia, de que poderia fazer tudo o que desejasse, bastava querer. Obter a lembrança de Slughorn pareceu-lhe não apenas possível, mas decididamente fácil.


- Excelente. – disse ele, e os outros três se entreolharam – Realmente excelente. Bem, hora de ir.


- Me leva com você? – pediu Sophie a Harry, e Hermione a fitou, de cenho franzido – Só até parte do caminho.


- Tá. – concordou Harry, meio distraído – Vem.


Ele passou a capa de invisibilidade sobre si e sobre a garota, e depois de verificar se ambos estavam totalmente cobertos, os dois desceram as escadas, seguidos de perto por Rony e Hermione.


- O que você estava fazendo lá em cima com ela? – perguntou Lilá Brown, ao ver Hermione e Rony, aparentemente sozinhos, descendo as escadas do dormitório masculino. Harry sufocou uma risada ao ouvir Rony gaguejando para a garota, enquanto Hermione passava à sua frente para abrir o retrato.


- Boa sorte. – murmurou ela, quando os dois amigos passaram, invisíveis, saindo para o corredor. O retrato girou, fechando a entrada do salão comunal, mas não antes que Harry e Sophie ouvissem a voz de Dino Thomas, que eles haviam visto conversando com Gina, suplicando que a ruivinha o escutasse. Sentindo a euforia aumentar, Harry tomou, junto com Sophie, o caminho das escadas para deixarem a torre. Não encontraram ninguém em seu caminho, o que não os surpreendeu em nada; naquela noite, Harry era a pessoa mais sortuda do castelo.


- Eu fico aqui, Harry. – anunciou Sophie, quando os dois alcançaram o pé da escadaria principal – Boa sorte com... Harry, aonde você vai? – perguntou ela, quando Harry passou por ela, seguindo em direção a uma saída lateral para os jardins – A sala do Slughorn é pro outro lado.


- Eu sei. – respondeu Harry – Mas eu realmente tenho que ir lá fora.


- Por quê?


- Não sei. – disse Harry, dando um beijo na testa dela – Mas acho que a Felix sabe.


E ainda sob o olhar confuso da garota, Harry deu as costas a ela, cobrindo-se novamente com a capa, rumo à saída lateral que, como já era de se esperar, estava destrancada. Sorrindo, ele abriu a porta, inspirando um grande sorvo de ar puro e frio, antes de passar pelo umbral, fechando a porta atrás de si.


Dentro do castelo, mais precisamente em um corredor perto da biblioteca, um dos monitores escalados para a ronda daquela noite havia deixado de lado sua tarefa de patrulhar os corredores, e estava agora sentado no caixilho de uma das altas janelas de vidro, olhando para o lado de fora, pensativo.


Draco estava muito concentrado em seus pensamentos para perceber a aproximação da garota de olhos negros, que ia em sua direção, embora não soubesse exatamente porquê o fazia. Foi só quando Sophie estava a poucos passos de distância que Draco parou de encarar os jardins, e seu olhar encontrou o dela. Por um instante ele ficou sem reação, sem conseguir desviar o olhar, comparando o rosto dela com o da misteriosa mulher de olhos azuis, hospedada em sua casa. Não sabia por que, mas algo nele dizia que Sophie devia saber sobre ela. Ele afastou estes pensamentos, assumindo logo sua atitude normal, fria e desdenhosa.


- O que está fazendo aqui? – perguntou – Não é hora de boas menininhas grifinórias estarem quietinhas no seu salão comunal?


Sophie não respondeu. Apenas continuou encarando-o, e Draco se sentiu desconfortável e exposto ante o olhar dela.


- Sabe, poderia entregá-la para McGonagall. – disse ele, tentando disfarçar o que estava sentindo – Ela iria adorar saber que uma de suas alunas...


- Mas você não vai me entregar, vai? – interrompeu Sophie, sem deixar de encará-lo por um instante sequer.


- O quê? – perguntou Draco, pego de surpresa – O que você pensa... mas você é mesmo muito...


- O que você sabe? – interrompeu Sophie, novamente – O que você sabe, que eu devo saber também?


- O quê? – perguntou Draco, mais uma vez – Do que você está falando? – perguntou o garoto, alarmado. Ele era um oclumente, já conseguira bloqueá-la uma vez. Será que ela podia ver o que estava pensando agora? Mas Sophie não respondeu outra vez. Ela não sabia exatamente do que estava falando, mas tinha certeza de que havia algo que Draco sabia e que ela precisava saber também. E quando Draco se lançou na desconfiança de sua própria capacidade de bloqueá-la, abriu uma brecha em suas defesas, permitindo que ela visse apenas uma coisa em sua mente. “Annabella”


- Annabella. – repetiu ela, como se ele houvesse dito aquilo em voz alta. Draco se sentiu gelar por dentro.


- É melhor ir embora, D’Argento. – disse ele, pondo-se de pé – Você está com sorte hoje, estou com muita pressa para ir procurar a McGonagall. – ele começou a se virar para ir embora, mas Sophie estendeu o braço para detê-lo.


- Espera, Malfoy! – disse ela, segurando-o pelo pulso – Ah! – fez ela. Sem querer, ela tocara um trecho de pele nua do pulso dele, e um turbilhão de sentimentos e imagens inundou sua mente.


Uma palavra... um feitiço... dor... Lucio Malfoy orgulhoso; Narcissa temerosa. A Marca estava no braço de Draco. Ele era um deles. Era um Comensal. Ela viu o próprio rosto, e um par de olhos muito azuis; uma mulher loura e uma morena, frente a frente. Sentiu medo. Sophie largou o braço de Draco como se ele a queimasse, os olhos cheios de lágrimas, andando para trás, cambaleante.


- D’Argento?!


Com a cabeça rodando, Sophie deu meia-volta, e saiu correndo pelo mesmo caminho por onde viera, deixando Draco para trás, sem reação. Foi só depois de algum tempo olhando para o corredor por onde ela desaparecera, que Draco, ainda atordoado com o que acontecera, deu por encerrada sua ronda, seguindo direto para as masmorras, rumo ao salão comunal da Sonserina.


Sophie correu para a torre, sem de fato ver o caminho que seguia. Entrou em várias das passagens secretas que havia aprendido com Harry e os gêmeos, e chegou diante da Mulher Gorda em poucos minutos, ofegante, o rosto ainda manchado de lágrimas, e a cabeça fervilhando. Disse a senha sem nem pensar, e entrou no salão, jogando-se de qualquer jeito em uma das poltronas. Malfoy havia mesmo recebido a Marca Negra, ele era um Comensal, e por isso recebera a tarefa que vinha executando na Sala Precisa. Mas não o fazia por simples vontade. Narcissa e a mulher de olhos azuis... Ele a conhecia. E temia. E ele sabia que ela tinha algo a ver com Sophie.


Sophie segurou a cabeça com as duas mãos. Era muita coisa para pensar ao mesmo tempo. Ela precisava se focar em algo. A mulher. Ela finalmente sabia onde encontrá-la. Restava descobrir quem ela era.


No lado de fora do castelo, Harry esperava. Ele observava os jardins calmamente, porque sabia que isso era tudo o que devia fazer no momento. E então, enquanto esperava, ouviu um barulho, e um xingamento. Era sua deixa. Despiu a capa de invisibilidade e seguiu na direção de onde viera o barulho.


O professor Slughorn estava abaixado, os botões do seu casaco prestes a arrebentar, juntando do chão, com dificuldade, alguns frascos e outros objetos.


- Precisa de ajuda, Professor?


Slughorn deu um salto, derrubando no chão tudo o que já havia conseguido apanhar. Virou-se na direção de Harry, de varinha em punho, e o garoto percebeu que ele não estava totalmente sóbrio.


- Harry? – perguntou Slughorn, apertando os olhos para tentar ver melhor – Por Merlin, rapaz, você me assustou!


- Desculpe, Professor. – disse Harry, falsamente contrito.


- Como saiu do castelo? – perguntou o professor.


- Filch esqueceu de trancar uma das portas. – mentiu Harry – Quer ajuda? – perguntou, apontando os objetos no chão. Slughorn hesitou por um momento, mas por fim decidiu aceitar a ajuda, pois não conseguiria mesmo ir a lugar algum sem ajuda para recolher e carregar tudo aquilo.


- Ahn... bem... seria bom. – disse ele, por fim.


Harry então ajudou-o a recolher do chão o que caíra dos abarrotados braços do professor. Harry percebeu que ele tinha hálito de bebida, e sorriu para si mesmo.


- Desculpe a pergunta, Professor, mas de onde está vindo com tudo isso? – perguntou ele, erguendo uma mecha de pelos longos e brancos, que ele poderia jurar ter visto igual na cabana de Hagrid algum tempo atrás.


- Ahn... eu... estive com Hagrid... – disse Slughorn, meio hesitante – Conversamos um pouco, bebemos algumas canecas de hidromel, e ele insistiu que eu trouxesse isso... e algumas outras coisas. Por motivos acadêmicos, é claro. – ele apressou-se em acrescentar.


- Claro. – disse Harry, fingindo acreditar, enquanto os dois começavam a andar em direção ao castelo. Slughorn então pareceu ter um lampejo de pensamento, pois parou de andar subitamente e olhou para Harry, sério.


- Mas o que você está fazendo aqui fora, tão tarde?


- Eu ia falar com o Hagrid... mas então eu o ouvi. – mentiu Harry – Não irá me denunciar, não é, Professor? – perguntou ele, levemente suplicante. Após um segundo de análise, Slughorn pareceu ter decidido acreditar nas palavras dele.


- Tudo bem, Harry. – disse ele – Vocês são bastante amigos, não?


- Sim, nós somos. – confirmou Harry.


Eles seguiram seu caminho até a escola, entrando no castelo pela mesma porta pela qual Harry saíra, e seguindo rumo à sala de Slughorn.


Harry ajudou o levemente trôpego professor a deixar todas as suas aquisições sobre uma mesa, no canto da sala, e então Slughorn se jogou em uma das poltronas com um longo suspiro. Olhou em volta, e mesmo levemente embriagado, percebeu estar a sós com Harry, a pessoa que mais vinha tentando evitar nas últimas semanas.


- Já é tarde, Harry, agradeço a sua ajuda, mas seria melhor se... – começou ele.


- Sei que talvez não seja a hora mais apropriada, Professor, mas eu realmente precisava falar com o senhor. – interrompeu Harry, assumindo o controle da conversa – Não tenho tido muitas oportunidades ultimamente.


- É, eu não tenho tido muito tempo livre ultimamente... – mentiu Slughorn – Mas realmente creio que não seja...


- Na verdade – interrompeu Harry, mais uma vez –, eu queria apenas me desculpar com o senhor, por tê-lo perturbado com aquelas perguntas.


Ao ouvir aquilo, Slughorn pareceu relaxar um pouco.


- Oh, bem, que bom que se apercebeu disto, meu jovem.


- Ah, sim, Professor. – continuou Harry – Espero que aceite minhas desculpas.


- Bem, creio que eu possa...


- Ótimo! – cortou Harry, mais uma vez – Que tal se comemorássemos nosso acerto com um gole de hidromel? – sugeriu ele – Confesso que sempre tive vontade de provar.


- Ahn... bem... acho que um golinho não fará mal. – disse Slughorn, levantando-se da cadeira e indo em direção a um armarinho cheio de garrafas. Ele serviu uma taça para si mesmo, bem cheia, e outra nem tanto para Harry.


- Ao retorno de nossas boas relações! – disse Harry, e os dois brindaram. Slughorn tomou um grande gole de sua taça.


- Espero que seja capaz de me compreender, Harry – disse Slughorn –, não são coisas fáceis de se lembrar...


- Claro, claro. – disse Harry – E eu espero que me entenda também, Professor, afinal, Voldemort matou meus pais.


Slughorn tomou de um só gole todo o resto do conteúdo de sua taça. Harry apenas fingiu beber da sua.


- Sim, terrível... – disse Slughorn, tornando a encher sua taça – Acredito que não se lembre, não, é, Harry?


- Não. Eu era muito pequeno quando aconteceu. – disse Harry – Mas eu descobri com bastante exatidão tudo o que aconteceu naquela noite, sabe? – continuou ele – Ele mesmo me contou, Voldemort. Meu pai morreu primeiro, o senhor sabia?


- Não, não sabia. – disse Slughorn, com voz fraca.


- Voldemort o matou, depois passou por cima do cadáver dele, em direção à minha mãe. – prosseguiu Harry – Eu estava no colo dela.


Slughorn estremeceu e tomou mais um gole de sua taça. Apesar de horrorizado, ele não conseguia despregar seus olhos dos de Harry.


- Ela suplicou, implorou que ele não me matasse, mas não adiantou. – continuou o garoto, sem piedade – Ele a mandou sair do caminho, ele me contou,sabe? Contou que minha mãe não precisava ter morrido, ele só queria a mim, ela poderia ter fugido... poderia estar viva...


- Que horror! – disse Slughorn, parecendo meio atordoado, efeito da bebida, junto com o choque pelo que estava ouvindo – Ela poderia... ela teve a chance...


- Sim, mas ela não se mexeu. Papai já estava morto, ela não queria que acontecesse o mesmo comigo – Harry sequer parava para respirar, uma vez que começara a falar, não dava trégua ao homem à sua frente –, e então ela implorou, e implorou, mas ele apenas riu...


- Chega! – pediu então Slughorn – Por favor, já chega, eu não quero ouvir...


- Eu esqueci. – mentiu Harry – O senhor gostava dela, não?


- Não havia quem a conhecesse e não gostasse dela... – disse Slughorn, parecendo perdido em suas próprias lembranças – Corajosa, engraçada, inteligente... o que aconteceu... foi horrível...


- Ela deu a vida dela por mim – disse Harry –, e o senhor me nega uma simples lembrança...


- Não diga isto. – pediu Slughorn – Não é... se fosse ajudá-lo, mas não vai...


- Vai. – disse Harry, com firmeza – Eu tenho que destruí-lo, e aquela lembrança irá me ajudar nisso. Eu sou o Eleito. Eu vou matá-lo.


- Você... você é o Eleito? – perguntou Slughorn, infantilmente.


- Claro que eu sou. – respondeu Harry, sem hesitar – Me dando aquela lembrança, o senhor vai estar me ajudando a liquidar Voldemort. Estará me ajudando a destruir o assassino de Lílian Evans.


- Eu... não sei se posso...


- Tem medo que ele descubra que me ajudou? – perguntou Harry. Slughorn não respondeu, estava aterrorizado – Seja corajoso como a minha mãe, Professor...


- Me envergonho... do que... do que aquela lembrança mostra... – balbuciou Slughorn – Acho... acho que posso ter causado um grande dano naquela noite...


- Compensaria o que fez se me entregasse a lembrança. – disse Harry, agora em tom mais suave – Seria uma ato de grande nobreza e coragem.


Slughorn o encarou por um momento; então, lentamente, levou a mão ao bolso do paletó apertado e puxou a varinha. Conjurou um frasquinho de cristal, semelhante aos que Harry vira no escritório de Dumbledore, e, sempre encarando Harry, tocou a têmpora com a ponta da varinha, extraindo a lembrança e colocando-a dentro do frasco, que lacrou logo em seguida.


- Muito obrigado, Professor. – agradeceu Harry, suavemente.


- Você é um bom rapaz, Harry. – disse Slughorn – E seus olhos... são iguais aos dela. Por favor, não pense muito mal de mim... depois que vir... – ele apontou a lembrança.


- Não irei. – assegurou Harry, pensando em como o professor provavelmente não lembraria de nada pela manhã – Não se preocupe.


Slughorn assentiu, com um sorriso fraco no rosto, e então fechou os olhos, reclinando a cabeça para trás, enquanto Harry deixava a sala, fechando a porta atrás de si.

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