Horcruxes



Enquanto voltava para a torre, Harry sentiu que, aos poucos, o efeito da Felix Felicis começava a passar. Ao alcançar o terceiro andar, encontrou Pirraça espalhando alguma coisa pelo chão, cantarolando uma música de letra bastante ofensiva, e teve que se enfiar em um dos seus atalhos, descobertos através do Mapa do Maroto. Quando chegou à torre, precisou acordar a Mulher Gorda, que ficou muito zangada e quase não o deixou entrar, e ao finalmente conseguir entrar no salão comunal, e dirigir-se às poltronas, perto da lareira, encontrou Sophie jogada em uma delas, de olhos fechados.


- Soph?!


- Hã? – fez Sophie, abrindo os olhos – Ah, oi, Harry.


- Tudo bem aí? – perguntou o garoto, sentando-se também.


- Tá, tudo bem. – disse a garota, mas não parecia ser bem verdade – E então, como foi com o Slughorn?


- Consegui. – disse Harry, mostrando a ela o frasquinho de cristal com a lembrança.


- Que ótimo. – disse Sophie, mas sem ânimo.


- Soph, tem certeza que tá tudo bem? – perguntou Harry, curioso com a atitude dela.


- Tá, tá sim. – mentiu Sophie – Bom, eu vou subir, tô cansada. A gente se fala amanhã, ok?


- Tá. – concordou Harry – Boa noite.


- Boa noite.


Sophie então dirigiu-se à escada do dormitório feminino, mas parou de repente, quando ainda estava no primeiro degrau.


- Dumbledore chegou. – disse ela, sem se virar.


- Quê?


- Dumbledore está no castelo. – respondeu a garota, girando nos calcanhares para fitá-lo – Acabou de chegar.


Harry a fitou por um instante, o coração aos saltos.


- Eu tenho... tenho que ir até lá. – disse ele – Mostrar a lembrança a ele.


Sophie assentiu com a cabeça.


- Vai. – disse ela.


- Valeu, Soph. – agradeceu Harry, e a garota apenas voltou a assentir.


Ele então levantou-se da poltrona, jogando novamente a capa de invisibilidade sobre o corpo, e sob o olhar meio perdido de Sophie, passou pelo retrato e disparou corredor afora, rumo ao gabinete de Dumbledore. Minutos depois ele já estava diante da gárgula que guardava o gabinete, dizendo, ofegante, a senha – gotas de chocolate – e subindo de dois em dois degraus a escada que se revelou. Ao subir o último degrau, parou para tomar fôlego, olhando para o frasquinho que segurava com força na mão esquerda, e então bateu à porta.


- Entre. – disse Dumbledore, do lado de dentro, e pela voz, parecia exausto.


Harry empurrou a porta e entrou no aposento já tão familiar, o coração não batendo, mas esmurrando seu peito. Dumbledore o fitava, parecendo curioso e surpreso, e, tal como sua voz, seu rosto demonstrava extremo cansaço.


- Harry! – disse ele – A que devo a honra desta visita tão tardia?


- Eu consegui, Professor! A lembrança do professor Slughorn, eu consegui! – disse Harry, exibindo o frasquinho de conteúdo perolado ao diretor. Dumbledore abriu um enorme sorriso de satisfação.


- Esplêndido! – exclamou ele – Excelente! Eu sabia que você conseguiria!


Aparentemente esquecido da hora e do cansaço, Dumbledore contornou a escrivaninha, indo até o armário ao lado da porta e apanhando a Penseira, que depositou sobre a mesa. Harry passou-lhe o frasquinho, que ele destampou, despejando o conteúdo na bacia de pedra, os olhos brilhantes de excitação.


- Agora nós veremos... – dizia ele – Finalmente veremos, Harry. Vamos, primeiro você.


E Harry, levantando de sua cadeira, inclinou-se sobre a Penseira, tocando seu conteúdo com a ponta do nariz, e mergulhando então na tão desejada lembrança.


Mais uma vez, ele se sentiu caindo no vazio, e então aterrissou na antiga sala do professor Slughorn, muitos anos atrás. O professor, bem mais jovem, estava sentado em uma confortável poltrona, os pés apoiados em um pufe e tendo nas mãos uma tacinha de vinho e uma caixa de abacaxi cristalizado, seu doce favorito, rodeado por um grupinho de adolescentes, entre eles, Tom Riddle.


Dumbledore aterrissou ao lado de Harry, no mesmo momento em que Riddle fazia uma pergunta a Slughorn.


- Senhor, é verdade que a professora Merrythought está se aposentando?


- Era a professora de Defesa Contra as Artes das Trevas na época. – explicou Dumbledore a Harry.


- Tom, Tom... eu gostaria de saber como é que você consegue este tipo de informações... – disse Slughorn – sabe mais do que muitos professores.


Riddle sorriu; seus colegas riram e lhe lançaram olhares cheios de admiração.


O relógio de ouro sobre a escrivaninha soou as onze horas, e Slughorn virou-se para olha-lo.


- Por Merlin, é tarde! – disse ele – É melhor irem andando, senhores, ou estaremos todos encrencados, principalmente você, Tom, como monitor deve dar o exemplo.


Os jovens todos se ergueram de seus lugares, exceto Tom. Os demais ficaram parados, perrto da porta, esperando por ele.


- Podem ir. – ele dispensou-os – Eu tenho uma última coisa pra falar com o professor Slughorn.


O grupo todo concordou com a cabeça, e então deixaram a sala, devagar. Riddle ainda esperou por um momento, para certificar-se de que eles haviam realmente ido embora, e não ouviriam o que ele conversaria com Slughorn.


- Mais perguntas, eh? – disse Slughorn, meio divertido, e Riddle deu um meio sorriso – Vamos, meu rapaz, o que quer saber?


- Bem, eu... – começou Riddle, hesitante – estive pensando se... se o senhor saberia algo sobre... sobre Horcruxes.


Slughorn o encarou por um instante, e o rapaz apressou-se em dar uma explicação.


- Eu encontrei o termo em um livro, mas não o compreendi muito bem. – disse ele – E não encontrei nada na biblioteca da escola...


Slughorn continuou encarando-o. Harry notou que ele percebera que Riddle não estava sendo totalmente sincero.


- Bem, não é de surpreender que não tenha encontrado. – respondeu ele por fim – Isto é Magia das Trevas, Tom, realmente das Trevas.


- Mas... o senhor conhece todas elas, não? – perguntou Riddle, e mais uma vez correu a explicar-se – Quero dizer, um bruxo como o senhor... tudo bem se não puder me dizer, eu só pensei que se havia alguém que saberia, esse alguém seria o senhor...


Harry não pôde deixar de admirar o modo como Riddle conduziu tudo, a hesitação, a leve adulação, a aparente falta de interesse real... Olhando de fora, era possível ver que ele queria, e muito, aquela informação, e que cada movimento havia sido planejado com muito cuidado.


- Bem... – disse Slughorn – creio que não haja mal algum em lhe dar uma idéia geral, apenas para que entenda o termo. Horcrux é a palavra usada para designar um objeto em que um bruxo ocultou parte de sua alma.


- Mas... ocultar parte da alma? Como isso seria possível, senhor? – perguntou Riddle, a voz cuidadosamente contida, mas traído pelos olhos, que faiscavam de excitação.


- Bem, a pessoa divide a alma – explicou Slughorn, que não encarava o jovem –, e esconde uma metade dela em um objeto externo ao corpo. Assim, ainda que seu corpo seja atacado, ou até mesmo destruído, essa pessoa não irá morrer, pois parte de sua alma estará intacta, presa ao objeto, à Horcrux.


- E como é que se divide a alma? – perguntou Riddle, já não conseguindo esconder seu interesse.


- Bem, você precisa entender que isso é uma violação à natureza da alma, que deve ser intocada e única... – disse o professor, devagar.


- Mas como se faz? – insistiu o rapaz.


- Por meio de uma ação maligna, a maior de todas. – respondeu Slughorn – Matando alguém. Matar rompe a alma. O bruxo que desejasse criar uma Horcrux aproveitaria essa ruptura em seu proveito, encerrando a parte que se rompeu...


- Encerrando? – interrompeu Riddle – Como...?


- Eu não sei, Tom! – disse Slughorn, nervoso – Existe um feitiço, mas eu não o conheço.


- Sim, senhor, desculpe-me. – disse Riddle, em tom supostamente arrependido – Mas o que... só por curiosidade... pode-se dividir a alma mais de uma vez? – perguntou ele – Não seria melhor, não faria do bruxo mais forte, se dividisse a alma em várias partes, por exemplo, sete, que é o número mágico mais poderoso...


- Por Merlin, Tom! – exclamou Slughorn – Sete! Já não é ruim o suficiente pensar em matar uma pessoa? Além disso, romper a alma dessa maneira, várias vezes...


Slughorn parecia estar bastante perturbado, e fitava o jovem à sua frente com um olhar diferente, como se pela primeira vez o estivesse vendo realmente. Pareceu a Harry que ele estava começando a se arrepender de ter entrado naquela conversa.


- Claro, senhor, o senhor tem razão. – concordou Tom, embora não parecesse sequer prestar atenção ao que dizia.


- Bem, chega desta conversa. – disse Slughorn – Já é tarde, e você precisa ir. – Riddle concordou com a cabeça e fez menção de se virar para sair – E, Tom? – chamou Slughorn, e o rapaz voltou-se para ele – Não repita a ninguém o que eu disse... o que conversamos. Horcruxes são um assunto proibido em Hogwarts, e Dumbledore é bastante rigoroso quanto a isso...


- Claro, não direi uma palavra, senhor. – prometeu Riddle, se retirando da sala logo em seguida, mas não antes de Harry ver, de relance, o que Slughorn não teve chance de ver naquele dia, o brilho delirante de felicidade nos olhos do jovem Riddle, o mesmo brilho que ele vira na lembrança de Dumbledore, de quando ele descobrira ser um bruxo.


- Muito bem, Harry. – disse Dumbledore, pondo a mão em seu ombro – Vamos.


Os dois retornaram ao escritório do diretor, e acomodaram-se, em silêncio, em suas cadeiras. Com a cabeça trabalhando intensamente, Harry esperou que o bruxo começasse a falar.


- Há muito tempo esperava obter esta prova. – disse Dumbledore, por fim – Ela confirma a teoria em que venho trabalhando, e mostra quanto ainda temos que percorrer.


Harry percebeu que pela primeira vez, os diretores dos quadros nas paredes não se incomodavam em sequer fingir que estavam dormindo; estavam todos bem acordados e atentos à conversa.


- Bem, Harry, estou certo de que você entendeu o significado do que acabou de presenciar. – continuou Dumbledore – Mais ou menos à mesma idade que você tem hoje, Tom Riddle já estava tentando de todas as formas encontrar um meio de se tornar imortal.


- O senhor acha que ele conseguiu? – perguntou Harry, incapaz de se conter – Ele fez uma Horcrux? Por isso não morreu quando me atacou, porque tinha uma Horcrux escondida em algum lugar?


- Uma... ou várias. – respondeu o diretor – Você o ouviu, ele queria saber se era possível dividir a alma em mais partes, chegou a mencionar um número, sete.


Ele fez uma pausa, como que para ordenar os pensamentos, e Harry continuou em silêncio, aguardando que o diretor continuasse.


- Há quatro anos, eu recebi o que considero uma prova incontestável de que Voldemort dividira sua alma, e não apenas uma vez.


- Uma prova? – ecoou Harry – Como? De quem?


- De você, Harry. – respondeu Dumbledore, calmamente, para a surpresa do garoto – O diário, que dava instruções de como abrir a Câmara Secreta. Embora eu não tenha visto o Riddle que saiu do diário, eu tinha o que você havia me contado. Uma lembrança agindo por conta própria? Uma simples lembrança exaurindo a vida da menina em cujas mãos o diário fora parar? – perguntou ele, em tom de dúvida – Não, não era apenas uma lembrança, havia algo ali, algo muito mais sinistro. Um fragmento de alma. Mas o que mais me surpreendeu, não foi o fato de ter descoberto a Horcrux, pois sempre achei que Voldemort fosse absolutamente capaz de fazer algo deste tipo, mas sim o aparente descaso com que o objeto, com parte da alma dele, foi tratado, deixado solto por aí, para cair nas mãos de algum estudante. – continuou Dumbledore – Uma Horcrux é uma salvaguarda, serve para manter segura a parte da alma que encerra. Esse descaso foi o que me levou a suspeitar que ele devia, ou ao menos pretendia, ter mais Horcruxes, e que por isso a perda da primeira não causaria grande dano.


- Ele disse... no cemitério... – relembrou Harry – naquela vez do Torneio Tribruxo... “eu que cheguei mais longe do que qualquer outro no caminho da imortalidade...”


- Sim, você me contou isto. – confirmou Dumbledore – “... mais longe do que qualquer outro...” – repetiu ele – Nenhum bruxo jamais havia dividido a alma em mais de duas partes. E fazia sentido que ele o tivesse feito, pois, com o tempo, as transformações sofridas por ele só me pareciam explicáveis se sua alma estivesse mutilada além dos limites da maldade “normal”.


- Então ele se tornou imortal... matando outras pessoas? – perguntou Harry, e Dumbledore assentiu.


- Mas agora, Harry, com esta informação, a lembrança que você conseguiu obter, estamos mais perto do segredo para liquidar Voldemort do que ninguém jamais esteve. – disse o diretor – Você ouviu o que ele disse: “Não seria melhor, não faria do bruxo mais forte, se dividisse a alma em várias partes, por exemplo, sete, que é o número mágico mais poderoso...”


- Ele fez sete Horcruxes? – perguntou Harry, horrorizado – Mas elas podem estar em qualquer lugar... escondidas, invisíveis...


- Fico satisfeito que consiga perceber a amplitude do problema. – disse Dumbledore em tom calmo – Mas, primeiro, deixe-me corrigi-lo. Não são sete Horcruxes, são seis. A sétima parte da alma, por mais desfigurada que esteja, habita seu corpo, e é a última que deve ser atacada por quem quiser destruí-lo.


- Mas ainda existem mais seis! – disse Harry, meio desesperado.


- Está esquecendo que você destruiu uma. – lembrou Dumbledore – E eu destruí outra.


- Foi?


- Sim. – disse Dumbledore, estendendo para Harry um anel pesado, com uma pedra negra rachada bem no meio – Foi como eu fiz isto. – ele ergueu a mão direita, murcha e escura – Havia uma terrível maldição no anel, e se não fosse, desculpe a aparente falta de modéstia, minha grande habilidade, e a intervenção oportuna do professor Snape, eu não teria sobrevivido para lhe contar isto. Mas o anel deixou de ser uma Horcrux.


- Mas ainda restam quatro. – disse Harry – E elas podem estar em qualquer lugar, podem ser qualquer coisa...


- Lembre-se de que estamos falando de Voldemort, Harry. – disse Dumbledore – Seu orgulho, sua crença inabalável na própria superioridade... acha que ele escolheria um objeto qualquer para esconder um fragmento de sua alma?


- Mas o diário não tinha nada de especial... – ponderou Harry.


- O diário provava que ele era o herdeiro de Salazar Sonserina. – lembrou Dumbledore, e Harry aquiesceu.


- E o senhor tem alguma idéia do que podem ser as outras Horcruxes? – perguntou Harry, devolvendo o anel a Dumbledore.


- Acredito que Voldemort daria preferência a objetos que possuíssem certo esplendor próprio – respondeu o diretor –, pois, como se lembra, ele gostava de colecionar troféus.


- Espere... o medalhão! – exclamou Harry – E a taça! Aqueles que vimos na lembrança de Hóquei, que Hepzibá mostrou a ele e que desapareceram quando ela morreu!


- Muito bem, Harry. – disse Dumbledore, satisfeito com a rapidez de dedução do garoto – E acredito que, tendo obtido estes dois artigos, e os transformado em Horcruxes, ele tenha partido em busca de objetos que houvessem pertencido a Corvinal e Grifinória, e que este foi o real motivo de seu retorno a Hogwarts. – disse ele – Não sei se ele conseguiu algo de Corvinal, mas posso afirmar que a única relíquia conhecida de Grifinória continua a salvo.


Harry fitou a espada incrustada de rubis que tirara do Chapéu Seletor, no segundo ano.


- Ok, supondo que ele tenha encontrado algo de Corvinal, ainda falta a sexta Horcrux. – lembrou Harry.


- Acho que sei qual é a sexta Horcrux. – disse Dumbledore – Me pergunto, Harry, se você não acha curioso o comportamento da cobra Nagini.


- A cobra? – perguntou Harry, absolutamente surpreso – Isso é possível?


- Creio que sim, embora seja bastante arriscado confiar parte de sua alma a algo que pode pensar e se locomover. – respondeu o diretor – No entanto, a cobra enfatiza sua ligação com Sonserina, e acredito que ele goste tanto dela quanto é capaz de gostar de alguma coisa, além do que, exerce sobre ela um controle incomum, mesmo para um ofidioglota.


- Então... é isso o que o senhor faz quando se ausenta da escola. – disse Harry. Não era uma pergunta, era uma constatação – Está procurando as Horcruxes.


- Correto. – confirmou Dumbledore – E talvez... talvez eu esteja próximo de encontrar mais uma.


- Senhor, se a encontrar... se a encontrar mesmo... – começou Harry – eu posso ir junto com o senhor, para destruí-la?


Dumbledore estudou Harry por um momento antes de responder.


- Sim, acho que sim.


- Eu posso? – perguntou Harry, surpreso.


- Pode. – confirmou Dumbledore – Acho que conquistou esse direito.


Harry criou novo ânimo. Era bom não ouvir palavras de desestímulo, nem ser superprotegido, só pra variar.


- Então... se todas as Horcruxes forem destruídas... Voldemort pode ser morto? – perguntou ele.


- Acho que sim. – confirmou o diretor – Sem as Horcruxes, ele será um homem mortal, com a alma mutilada e enfraquecida. Mas não esqueça nunca, Harry, que, embora sua alma esteja danificada de forma irreparável, sua inteligência e poderes mágicos continuam intactos.


- Mas então... como eu poderei destruí-lo? – perguntou Harry – Não sou mais forte do que ele...


- Você tem um poder que ele jamais teve, Harry. – disse Dumbledore, em tom bondoso.


- Eu sei. Sou capaz de amar. – disse Harry, em tom levemente aborrecido – Mas é a isso que a profecia se refere? Quando diz que eu terei um poder que ele desconhece, quer dizer apenas... amor?


- Exatamente. – confirmou Dumbledore – Apenas amor. Mas não esqueça, Harry, que os dizeres da profecia só têm significado porque Voldemort fez com que tivessem. Voldemort escolheu você como a pessoa que oferecia maior perigo a ele, e fazendo isso transformou-o na pessoa que mais oferece perigo a ele.


- Mas... – começou Harry, mas foi interrompido.


- Você, assim como ele, valoriza demais a profecia. – disse o diretor – Se Voldemort nunca tivesse sabido da profecia, ela teria se cumprido?


- Não, mas...


- E se ele não tivesse matado seu pai, teria despertado em você o desejo de vingança que sente hoje? – continuou Dumbledore, ignorando a tentativa do garoto de falar – Não! Se não tivesse forçado sua mãe a morrer por você, teria lhe conferido a proteção que o impediu de matá-lo? Não! O próprio Voldemort criou seu pior inimigo. – afirmou ele, categoricamente – Por causa dele você é ofidioglota, por causa dele você pode ler seus pensamentos, contudo, apesar da visão privilegiada que tem do mundo dele, você nunca se deixou seduzir pelas Artes das Trevas, ou pensou em se tornar um seguidor dele.


- Claro que não! – confirmou Harry – Ele matou meus pais!


- Vê? Sua capacidade de amar o protege da fascinação pelo poder que ele representa. Apesar de tudo o que já sofreu, as tentações a que foi submetido, seu coração e sua alma continuam puros...


- Mas, senhor, no final das contas, dá tudo no mesmo, não é? – perguntou Harry, ainda sem realmente entender aonde Dumbledore tentava chegar com aquela explicação – Eu tenho que mata-lo, ou...


- Tem? – perguntou o bruxo, como se duvidasse – Claro que tem! Mas não por causa da profecia, é isso que eu preciso que compreenda! Se nunca a tivesse ouvido, imagine só por um momento, quais seriam seus sentimentos em relação a Lorde Voldemort?


Harry continuou encarando os olhos azuis de Dumbledore por um momento. Pensou em seus pais, e em Cedrico Diggory. Pensou em Sirius, preso em Azkaban por todos aqueles anos, e na mãe de Sophie, a madrinha que sequer chegou a conhecer. Pensou em todos os atos terríveis de Voldemort de que tinha conhecimento. A resposta veio sem que ele realmente precisasse pensar nela.


- Eu ia querer que ele fosse destruído. – respondeu por fim – E ia querer fazer isso eu mesmo.


Então Harry finalmente entendeu o que Dumbledore estava tentando lhe dizer. Havia uma diferença entre ser arrastado para a arena para um combate mortal, e entrar nela de cabeça erguida. E Harry sabia de que forma entraria na arena de seu combate com Voldemort.

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