Talento Poderoso



-Mas não é perigoso?
-Está com medo, Sr. Leão?
Estava? Pelo sim e pelo não, preferia não ter que ir sozinho.
-Mas eu nunca fiz nada parecido antes... pode não dar certo.
Norma lhe olhou imperativa. Ele odiava aquele olhar, era como se os olhos dela pudessem lhe atravessar o corpo e enxergar a alma.
-Você já fez coisas muito piores que esta missão.
-E para todas as coisas que fiz eu tive ajuda, posso lhe contar como foi se quiser.
Ela suspirou.
-Ok, irei mandar Ryan e Kate com você.
Ele ainda não conhecia todas as pessoas que ali viviam, embora estivesse ali há duas semanas. Muitas das pessoas passavam o tempo todo em seus quartos, saíam apenas para as refeições, e os horários dele de se alimentar coincidia com de somente duas pessoas: Marrie e Norma. Pelo menos sabia que ao todo havia 13 pessoas ali dentro, contando com ele.
-Ótimo.
Ela saiu e meia hora depois entrou acompanhada de uma mulher de aparência comum, estatura média, cabelos do tamanho padrão e castanhos, olhos castanhos. Nada de especial. Não era nem triste, nem séria, nem alegre, nem indiferente ou cansada... absolutamente normal. Pouco depois entrou Ryan.
-Onde iremos? -perguntou Ryan, assim que entrou.
-Para o Norte, pegar o talismã da Cobra.
-Isso realmente existe?-perguntou Kate.
-O que é o talismã da Cobra? -perguntou Harry, meio constrangido.
Todos os outros três olharam para ele de forma pasma, como se fosse um verdadeiro absurdo ele não saber o que era. Ryan abriu a boca para responder, mas Norma o olhou de cara feia e ele se calou.
-O talismã da Cobra foi originado de um pingente de um colar em forma de Cobra, e que a mulher que ganhou o colar com esse pingente era uma trouxa, que, sem saber, estava se casando com um sangue-puro. A mulher não amava seu marido, e quando por acaso descobriu ser ele um bruxo, passou a odiá-lo verdadeiramente. Pouco depois do casamento ela armou uma armadilha trouxa e o matou, nas suas últimas palavras, quando agonizava preso na armadilha, ele disse: Libertus Cobrae. Sem que a mulher percebesse, toda a cor verde do colar foi se esvaindo e quando desapareceu de todo do colar, a alma dela entrou dentro do pingente.
Harry riu.
-E você acha que isso existe?
Norma pegou sua varinha.
-Accio quadro.
Um quadro veio voando e parou nas mãos de Norma. Ela tirou o pano que o cobria e mostrou a foto. Era o retrato de um casal de noivos. O noivo parecia contente, vestia um traje ä rigor trouxa e algumas jóias. Mas o mais notável era a mulher, com seu olhar desgosto ela usava o tradicional vestido branco, e tinha no pescoço um colar com um enorme pingente verde. O noivo acariciava o pingente no pescoço dela.
-O nome do quadro é Cobra. Foi pintado em 1817 por Laurence R.
Esse Harry sabia quem era, um famoso pintor bruxo do século XIX.
-Mesmo se for verdade. Como sabe onde está?
-Sabendo.
-Mas...
-Sr. Leão. Isto não é algo que eu pensei hoje e estou mandando vocês verificarem. Há muitos anos de pesquisa por trás disso, muitos anos de pesquisa -ela parou, e, como se lembrasse de algo- Inclusive você conhece uma das pessoas que está por trás dessa pesquisa.
Ele sentiu uma sensação desagradável no estômago quando percebeu que ela falava de Hermione.
-E o que esse talismã pode fazer?
Ela sorriu, uma pessoa comum interpretaria aquele sorriso como um singelo sorriso de uma senhora, ele interpretou como um diabólico sorriso de uma líder.

Harry terminara de resmungar pela milésima vez algo sobre "água demais" quando Kate parou de andar.
-Sr. Leão, não se percebeu, mas cada um na 11ª tem uma especialidade. Norma não mandaria eu e Ryan vir com você se não tivéssemos habilidade para encontrar esse maldito talismã!
-É mesmo? Diga isso aos quatro dias que já se passaram conosco procurando essa porcaria de talismã!
Ryan tirou sua gaita do bolso, sentou-se numa pedra próxima e começou a tocar. Era uma música agitada.
-Você deve se achar muito bom para afirmar com toda certeza que o talismã não existe. Que você está certo e todo o resto está errado!
Ele teve ganas de despejar toda a verdade sobre si em cima de Kate. Ele realmente era bom. Ok, talvez não tão bom... já tinha cometido alguns erros, alguns bem feios.
-Ótimo, se não vai retrucar dessa vez é porque se rende. Ryan, pare de tocar essa música.
-Quer uma mais lenta?
-Quero que guarde essa gaita!
Ryan riu e guardou a gaita. Enquanto Kate andava mais à frente ele comentou com Harry.
-Estressadinha ela, não?
Harry riu. Sim, ela era estressada.
-Droga!
Kate suspirou e olhou para trás.
-O que foi dessa vez, Leão?
-Pisei em algo pontiagudo.
Seu pé estava embaixo da água, e ele estava calçado, por isso estranhou mais do que sentiu dor algo pisar... em pedras?
-Ah sim... essas pedrinhas são típicas da região. Foi bom você ter pisado nelas, já tinha me esquecido de tomar cuidado com elas... -disse Kate calmamente.
Harry teria ficado irritado com a ultima frase de Kate se ele não estivesse olhando hipnotizado para as pedrinhas. Eram muitas, nenhuma realmente pontiaguda, eram círculos perfeitos, não conseguia entender como elas atravessaram a sola de seu sapato. Cada uma tinha uma cor mais vibrante que a outra.
Ryan lhe cutucou.
-Elas dão sorte, sabe? Essas pedras...
-Sorte?
-Conta-se que elas eram as lágrimas da jovem que teve alma aprisionada no talismã. Dizem que ela chora porque não consegue se libertar.
-E como isso dá sorte?
-Não sei, mas é o que contam...
Kate suspirou novamente, estava notavelmente irritada.
-Pare com estas besteiras, Ryan...
-HEI! Isso é verdade.
Ela fez um muxoxo com a mão. Harry olhava distraidamente para o céu quando ouviu...
Era um lamento meio choroso. De uma mulher. Ele parou de andar e tentou ouvir de onde vinha.
-Por que parou, Leão? -perguntou Ryan.
-Vocês não a ouvem?
-Ouvir quem?-perguntou Kate, já duvidando da sanidade mental dele.
... como me envolver com raça tão maldita?...
-Agora vocês ouviram! Deu até pra entender um pouco do que ela está falando!
Harry olhou para os rostos de total desconforto dos dois e percebeu que eles não ouviam nada. "Não é bom ouvir coisas que os outros não ouvem, nem mesmo no mundo mágico" dissera-lhe Rony certa vez. Daquela vez ele escutara o basilisco, e o basilisco era... uma cobra.
Ele prestou toda atenção na voz, se estivesse certo, estava ouvindo a alma do talismã cantando. Ainda seguindo a voz começou a tatear o chão, coberto por água que batiam nos seus joelhos. Bateu em algo duro, com as mãos tentou reconhecer o que era.
-Há uma alça aqui. Parece que há um alçapão.
Abriu o alçapão e, para sua surpresa, a água não escorria pelo buraco, continuava do mesmo jeito. Harry olhou para Kate e Ryan e os três com um aceno de cabeça resolveram descer. Embaixo do alçapão a voz da mulher parecia estar num amplificador, estava deixando-o tonto.
... nunca pude imaginar que o casamento pudesse ser um infortúnio tão grande! Um bruxo! Endemoniado! Por que eu, meu Deus?...
As pedras coloridas círculo-perfeito-que-perfura estavam aos montes no chão. Mas enquanto Harry olhava para as pedras coloridas Kate e Ryan olhavam para um colar, com um pingente extremamente verde.
-Leão, olhe.
Era como se não houvesse mais nada, só um grande pingente verde, como se fosse um enorme olho verde a observar tudo em volta. Ele sentiu calafrios. Deu alguns passos para frente como se fosse pegá-lo, mas Kate o impediu.
-Há encantamentos o protegendo.
-Tem certeza? -perguntou Ryan apontando para uma cobra que descansava preguiçosamente enrolada no colar- A cobra não me parece estar sendo atingida por encantamentos.
-O Talismã é de cobra, não as afetarão -ela pegou uma das pedras do chão e tacou na direção do colar, a poucos centímetros do objeto a pedra se desfez completamente- Viu?
Harry pensou um pouco, e com muita ousadia andou até o colar e o pegou sem sofrer um arranhão, somente se sentiu meio estranho ao encostar no colar. Sua característica ofidiglota lhe permitiu isso.
-Pronto. É melhor ficar comigo caso os encantamentos não tenha sido desfeitos, ao chegar na 11ª divisão eu entrego para Norma que saberá o que fazer.
E enquanto Ryan e Kate trocavam um olhar de surpresa, admiração e medo, ele via todas as pedrinhas coloridas sumirem do chão.
-Eu disse que as pedrinhas traziam sorte! -disse Ryan, tentando tornar o clima mais ameno.
-Talvez, Ryan... Talvez...

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