Fragmentos de Memória

Fragmentos de Memória



Eram tempos difíceis. O maior medo de todo o mundo tinha se consolidado. Voldemort voltara a seu poder, a seu reinado de terror. Eu estava ali, muito mais assustado que qualquer um. Eu estava sozinho. Pessoas que eu tinha aprendido a amar e a confiar cegamente não estavam mais ao meu lado. E o perigo estava por todos os lados.

Você sabe o que é saudade? Não, com certeza você não sabe. Eu mesmo não sabia até entrar naquela loucura. Os melhores amigos que tive eu nem sabia se estavam vivos ou mortos. Comunicação era quase uma lenda. Os olhares agora transmitiam muito mais que quaisquer palavras ou frases. Eu era o conforto de muita gente, mas eu precisava de alguém para me confortar.

Eu disse que comunicação era uma lenda? Pois é, eu também o era. Muitos dos bruxos com quem a população contava para acabar com Voldemort e seus Comensais viraram lendas, cheguei a ver algumas pessoas que sequer achavam que um dia tenhamos existido. Eu não era mais Harry Potter, era somente o-menino-que-sobreviveu, pelo menos para quem não me conhecia. Quem me conhecia simplesmente me chama de Leão.

Leão... esse foi um apelido que Draco Malfoy me deu, mas não pense que ele fez isso porque achou bonitinho, ou porque fosse meu amigo. Porque como era de se imaginar, Draco virou um Comensal tão ordinário quanto o pai. Não, ele me deu esta alcunha sem querer, num dos jogos de quadribol da Grifinória contra a Sonserina. Quer saber a verdade? Eu gosto desse apelido. Ele me lembra os melhores anos da minha vida.

Sim, os melhores anos. Porque até mesmo nos meus últimos anos, aqueles tumultuados em que eu estava sempre esperando pelo pior, até mesmo nesses anos eu tive minhas pontas de felicidade.

Não que eu não tenha um único momento feliz em toda aquela infeliz guerra. Mas eu estava sempre alerta, e não havia muitos momentos de descontração, quando eles aconteciam eram espontâneos, não premeditados. Para algumas pessoas a guerra não foi tão pesada, afinal elas mal se envolviam... mas eu estava no centro.

Talvez vocês estejam se perguntando como Rony, Mione e eu nos separamos. Bom, a verdade é que nem mesmo eu sei. Lembro vagamente de uma noite que estava caindo uma tempestade horrível, e nós três entramos no Caldeirão Furado... sei que houve uma briga, mas o porquê dela, quem começou e onde nós entramos no meio dela, bom, isso eu não sei. O que realmente me dói saber é que eu acordei dias depois, numa enfermaria, totalmente nu, com meia dúzia de remédio do meu lado, coberto com um lençol fino e ouvindo pessoas rindo do lado de fora. Acreditem se quiser, eu estava num dos esconderijos dos Comensais.

Como não tinham me matado na mesma hora em que me pegaram? É engraçado responder isso, mas alguém havia me transfigurado totalmente, e eu não mais tinha aparência a qual vocês devem estar acostumados a ouvir, mas sim de um homem negro, alto, bem musculoso e cheio de hematomas. Nunca soube se os hematomas eram reais.

Eu levei mais algum tempo até perceber o risco que eu estava correndo, mesmo estando transfigurado daquela maneira. Há muitas lacunas na minha memória, e essa história é uma delas. Não faço a mínima idéia de como escapei. Sei que me levantei, ou pelo menos tentei fazer isso, mas o resto não me vem à cabeça de modo algum.

Se eu soubesse tudo que me aconteceria na vida quando ainda tinha onze anos e Hagrid estava me levando para Hogwarts, creio que eu não aceitaria. Eu sinceramente me pergunto como até hoje não enlouqueci, ou mesmo como sobrevivi. Talvez você aí saiba, afinal, tudo em minha vida eu sempre fui o último a saber, isso quando eu cheguei a saber.

A fama é ruim. Muito mais que você possa imaginar. As pessoas falam sobre você como se você não tivesse sentimentos ou não se ofendesse com palavras, e ainda se assustam quando você explode. Se eu pudesse, não teria nascido quem eu sou...

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