A Véspera de Todos os Santos



Harrycliffe e Hemmaione acordaram cedo para organizar os últimos detalhes para a festa do Dia das Bruxas. Hemmaione foi levar a sua roupa nova na costureira para deixá-la mais justa, enquanto Harrycliffe trabalhava com os elfos domésticos da Doce Magia que haviam trazido a comida.
Eles armaram uma gigantesca tenda de bambus no gramado, perto do lago. Debaixo dela, os elfos arrumaram a comida sobre mesas decoradas com enfeites do mesmo tom de dourado que era a cobertura da tenda.
– Ei, você! – gritou Harrycliffe para um elfo – É! Você mesmo! Tire essas rosas daí de cima, troque elas pelas margaridas gigantes que piscam quando alguém passa por elas!
O elfo obedeceu imediatamente, embora seu olhar fosse de mais profundo desprezo pelo ornamento de gosto duvidoso.
E assim foi a manhã daquele dia. Os elfos carregavam coisas para todos os lados, conforme as ordens de Harrycliffe, interrompidas de vez em quando por Runpert que passava pela tenda para roubar alguma coisa para comer.
– Desculpe, Harrycliffe – disse Runpert na sua oitava visita à tenda – É que achar comida no Grande Salão está sendo praticamente uma guerra. É bem mais fácil vir aqui.
– Tudo bem, pode comer o que quiser.
Harrycliffe se perguntava onde Hemmaione poderia estar agora. Já era quase meio-dia e ela não voltara para o castelo ainda.
– Ai! Ai! Pára com isso! Ai!
– Saia daqui! Recebi ordens para não deixar gente como você passar para a tenda!
Harrycliffe correu em direção às vozes e viu um elfo muito gordo batendo em Hemmaione com um bambu que havia sobrado da montagem da tenda.
– O que está acontecendo aqui? – perguntou ele autoritariamente.
O elfo parou de bater em Hemmaione e fez uma profunda reverência a Harrycliffe.
– Meu senhor, eu só estava cumprindo a sua ordem! Essa mendiga estava tentando entrar a força e eu tive que impedi-la! Olhe só para as roupas dela!
– Espere aí! O que é que tem de errado com a minha roupa? – Hemmaione estava muito irritada.
– A senhora esta vestida de um jeito muito ridículo! Como se atreve a usar gorro e havaianas? Não se decidiu se está com frio ou calor? E essa calça desgastada com essa blusa colada e transparente? E a senhora ainda está com o farol aceso!
– Olha aqui, seu elfo estúpido, saiba que a Britney usa muito esse estilo e...
– Deixa pra lá, Hemmaione! – disse Harrycliffe para acalmá-la – Pode ir embora, elfo. Vá conferir se as lantejoulas douradas que cairão sobre mim quando eu aparecer estão bem posicionadas na entrada da tenda.
O elfo doméstico fez mais uma reverência ante de sair correndo.
– E você, Hemmaione, por que demorou tanto para voltar?
– Ah! A prova da roupa foi até rápida, o problema foi quando eu saí da costureira. Adivinha o que eu vi do outro lado da rua?
– O quê?
– O novo modelo de sapatos da Louis Vuitton.
– Nossa! Que máximo. Mas e daí?
– Eu entrei na loja para comprar, mas meu cartão estava estourado. Então eu corri para a biblioteca pública, peguei um livro que ensinava a aparatar, e fui parar na casa de meus pais. Eu pedi dinheiro emprestado a eles, mas eles não quiseram me dar. Então eu desaparatei de volta para a biblioteca, aprendi tudo sobre a maldição Imperius, aparatei de novo na casa de meus pais, amaldiçoei os dois e fiz eles me darem o dinheiro. Então eu voltei para a loja e comprei meus sapatos, e agora eles estão bem aqui!
– Só isso?
– Só! Cadê o Runpert?
– Ah, ele está treinando quadribol. Disse que quando acabar volta pra cá.
– Certo. Ah! Tenho uma ótima notícia. Hoje é o dia do eclipse total da lua, vi a notícia na televisão quando estava na casa de meus pais. Isso vai acrescentar um clima à festa das Bruxas.
A tarde passou e Runpert não apareceu. Os três só se encontraram no começo da noite, quando foram se arrumar.
– Runpert, eu quero que você preste bastante atenção. Você é meu acompanhante, isso significa que você deve ir aonde eu for. Eu vou me vestir. Vá se arrumar você também, e quando estiver pronto me espere aqui.
– E o Harrycliffe?
– Ele só vai aparecer na festa. Disse que quer fazer uma entrada triunfal – disse Hemmaione orgulhosa.
Runpert se arrumou e voltou à Sala Comunal para esperar Hemmaione. Ele estava usando uma calça jeans, uma camiseta branca, uma jaqueta de couro preta e um All Star.
Duas horas mais tarde, Hemmaione descia as escadas de pedra para se encontrar com Runpert.
– Como estou? – perguntou sorrindo.
Hemmaione estava usando uma blusa verde-cana bem folgada, uma calça dourada justíssima, uma bota que imitava couro de cobra e um echarpe brilhante, também dourado.
– Você está linda! – disse Runpert com um sorrisinho amarelo – Então, vamos?
– Vamos, deixa só eu retocar o batom!
Cinco minutos depois, eles saiam pelo buraco da Pamela Anderson, que quando viu os dois bateu palminhas pulando sentada no sofá.
– Hum! Hoje tem, né?
Eles ignoraram Pamela e desceram de braços dados para o saguão, atravessaram as enormes portas que davam para fora do castelo, e andaram em direção à tenda.
Ao se aproximarem mais, tiveram que fechar um pouco os olhos para se acostumarem com o ambiente. Tudo na decoração era dourado. Os enfeites das mesas do buffet e das mesinhas onde os convidados estavam sentados brilhavam, piscavam e às vezes soltavam algumas faíscas. As margaridas de Harrycliffe haviam sido ampliadas várias vezes e estavam presas na entrada da tenda. Havia também velas douradas de quase um metro de altura, encaixadas em enormes castiçais de cristal.
– Quem foi que armou esse carna... quer dizer, quem montou a decoração?
– Eu e o Harrycliffe! – desse Hemmaione orgulhosa – Não está linda?
– Para uma boate gay está perfeita.
Hemmaione amarrou a cara e não falou mais com ele.
Os dois acharam uma mesa perto do lago, que ficava de frente para a entrada da tenda. Todas as outras pessoas presentes pareciam muito animadas para a festa do Dia das Bruxas. Cerca de vinte minutos depois, a voz de um aluno da Grifinória, magicamente ampliada, anunciava para os convidados:
– E agora, o motivo da nossa presença aqui hoje. Com vocês, o menino que sobreviveu! Harrycliffe!
Todos os convidados se levantaram e começaram a aplaudir bem alto. Alguns soltavam gritinhos ou assobiavam.

“Go now go, walk out the door
Just turn around now
Cause you're not welcome anymore
Weren't you the one who tried to hurt me with goodbye
Think I'd crumble?
Think I'd lay down and die?
Oh no, not I. I'll survive
Oh as long as I know how to love I know I'll be alive
I've got all my life to live
I've got all my love to give and I'll survive
I will survive
Hey, hey!”

A música ecoou pelos gramados de Hogwarner. Os convidados observavam as garotas da torcida da Grifinória saindo de dentro da tenda. Elas carregavam enormes leques feitos de penas de pavão e andavam bastante juntas. Quando chegaram à porta da tenda, uma chuva de lantejoulas douradas caiu sobre elas, e elas ergueram os seus leques. Harrycliffe apareceu por trás delas, os braços erguidos, e começou a andar lentamente em direção às mesinhas dos convidados que vibravam cada vez mais.
Harrycliffe usava um terno de veludo preto que parecia ser bastante pesado, e que trazia presa à lapela uma das margaridas gigantes.
Quando a música parou, todos aplaudiram emocionados, com exceção de Runpert, que parecia prestes a vomitar. Harrycliffe fez o seu discurso para os convidados, parando de minuto em minuto para ser aplaudido mais uma vez. O momento mais esperado da festa era o eclipse. Para esta hora, Harrycliffe e Hemmaione haviam preparado uma surpresa para todos.
Às onze e meia, uma aluna da Corvinal levantou-se animada a gritou para todos olhando para o céu:
– Olhem! Está começando!
Era verdade, a lua estava começando a desaparecer sob a sombra da Terra, e todos agora olhavam para cima. Hemmaione também se levantou, e foi correndo para onde Harrycliffe estava, deixando Runpert sozinho, para que os dois pudessem estar prontos para o grande momento.
Metade da lua já estava invisível agora, e todos estavam mais ansiosos do que nunca. Estava quase acabando, só faltava mais um pouco. Mais um pouco...
Um grito forte e gutural encheu o local, assustando os convidados que agora procuravam a origem do som.
– Nós avisamos!
Harrycliffe sentiu o sangue gelar. Os pensamentos passavam muito rápido pela sua cabeça, mas ele não conseguia se concentrar em nenhum. Então ele se lembrou do que ouvira no dia da festa de abertura do verão, era como se agora ele ouvisse de novo com mais clareza. Na véspera de todos os santos, quando a luz da lua não mais o protegeria e as trevas tomassem conta de Hogwarner.
– Harrycliffe, olhe! – gritou Hemmaione horrorizada apontando para cima.
Uma enorme carruagem puxada por dez unicórnios prateados descia violentamente dos céus de Hogwarner em direção à tenda. Os convidados entraram em pânico e começaram a correr em todas as direções, gritando o mais alto que podiam.
A carruagem pousou ao lado da tenda, e Harrycliffe teve o horror de ver que quem a guiava era um pufoso mutante.
O pufoso saiu arrastando a sua longa cauda pelo gramado. A criatura abriu a porta da carruagem, e de dentro dela saíram treze vultos negros e encapuzados.

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