Onde Está?



A noite já havia caindo e todos estavam se dirigindo aos seus quartos. Harrycliffe, Hemmaione e Runpert estavam sentados em suas poltronas preferidas, perto da lareira.
– O que o Gambondore queria com você, Harrycliffe? – perguntou Hemmaione, que tinha passado o dia no salão de beleza de Newyorksmead, e não teve tempo de conversar com o amigo.
– Acho que ele está preocupado comigo, mas não me disse o porquê – respondeu Harrycliffe.
Runpert emitiu um gemido ininteligível, fazendo uma careta.
– Deve estar acontecendo algo muito ruim ou... – Hemmaione foi interrompida por um barulho surdo na janela do salão comunal, como se alguém tivesse atirado contra ela um saco de batatas.
– É a Edwiges – disse Runpert enquanto se apressava para abrir passagem e deixar a ave entrar.
Ela trazia no bico um exemplar do Profeta Noturno.
Na primeira página do jornal, podia-se ver claramente o título “Revendedora de cosméticos desaparece misteriosamente”.
– Nossa! Mas que decadência! Como é que um jornal pode noticiar uma coisa tão estúpida? – indignou-se Runpert.
– Parece que não é tão simples assim, Runpert – disse Hemmaione – continue lendo, Harrycliffe.
– "Nesta tarde, a bruxa de nome Hilary Hilton Lindsay Watson, revendedora de cosméticos da linha Avon de idade desconhecida, ex-professora de feitiços de Xuxa, bruxa famosa por ter encontrado a fórmula da vida eterna, desapareceu de sua residência no West Side Londrino. Fontes informam que da última vez que foi vista, Hillary estava indo ao St. Mungus para fazer um retoque no botox. Há graves suspeitas de que o seqüestro foi feito por pufosos que sofreram metamorfose. Os leitores devem ficar atentos: se por acaso virem uma criatura que parece um dementador, mas com rabo, nos escrevam, informando.”
Harrycliffe concluiu a leitura e Hemmaione parecia prestes a ter um ataque cardíaco.
– Harrycliffe, isso é grave! – as sobrancelhas da garota novamente ganharam vida.
– Eu não entendo por que é tão grave – disse Runpert despreocupado – Quero dizer, quem sabe uma das clientes dessa velha gorda tenha se revoltado por não ter ficado como queria depois da maquiagem, e resolvido atacá-la?
– Só que ela não é a primeira a sumir desse jeito! – disse Harrycliffe – Aquela estilista que fazia meus ternos de veludo também sumiu. E depois foram aqueles cavalos brancos, lindos e super interessantes, que desapareceram do estábulo do castelo... – Harrycliffe parecia triste ao falar dos cavalos, embora, naturalmente, seu rosto não demonstrasse isso – E agora a Hillary! Ela era a minha revendedora Avon!
– E daí...? – perguntou Runpert que ainda não tinha sido convencido.
– Você não percebe? – perguntou Hemmaione eufórica – Todas essas pessoas e... ah... cavalos que sumiram tinham alguma ligação com o Harrycliffe!
– Você acha que tem alguém usando esse pufosos pra tentar chegar a mim?

Harrycliffe foi dormir com esses pensamentos, teve uma noite estranha, repleta de sonhos de estojos de pó que se transformavam em pufosos e depois em dementadores rabudos. Ele quase perdeu a primeira aula do dia, poções, com o Professor Snape.

– Aconteceu algo com o seu rosto Potter?
– Não... senhor – acrescentou rapidamente – Por quê?
– Pode parecer estranho, mas eu diria que hoje você até está conseguindo fazer expressões quase humanas. Mas é claro que isso deve significar apenas que preciso de óculos urgentemente.
Draco Malfoy soltou uma estridente gargalhada no fundo da sala, na qual foi acompanhado por Crabbe e Goyle e por mais alguns alunas da Sonserina e da Corvinal.
Harrycliffe ficou pensando no que poderia haver de errado e assim que a aula acabou correu para o espelho mais próximo para examinar o rosto. Percebeu que não havia colocado a quinta camada de base no rosto, mas não teve tempo de desfazer o erro, tinha aula de transfiguração em cinco minutos. Saiu correndo pra sala da Professora McGonagall.
– Espero que não tenha esquecido de trazer o material da aula hoje, Potter! – disse rispidamente a professora.
– Não, professora está tudo aqui – disse Jerrycliffe mostrando uma grande gaiola a McGonagall. Dentro dela havia uma galinha preta, uma garrafa de cachaça e um saco de pipocas.
– Certo, pode sentar.
Harrycliffe foi sentar no lugar entre Runpert e Hemmaione.
– Bom, se estão todos aqui, vamos começar – disse a professora pegando a sua própria galinha e amarrando-a no pé da mesa – Hoje nós vamos conhecer uma magia originalmente africana, mas que foi mais estudada e aperfeiçoada no Brasil. Seu nome é Macumbe Bozónins, e consiste em transfigurar diversas coisas como, por exemplo, milho branco, champanhe, lentilha, rosas, farofa de dendê e acarás em alimentos nutritivos e saudáveis para pessoas de baixa renda. Os bruxos brasileiros chamam isso de oferenda. Eles despacham a oferenda nas encruzilhadas das cidades para que os mais pobre possam se alimentar.
Todos na turma pareciam bastante interessados, e não perdiam uma palavra sequer do que a professora dizia.
– Hoje – continuou – nós vamos utilizar apenas estes matérias que eu pedi que vocês trouxessem. Uma galinha preta, um saco de pipocas e uma garrafa de cachaça. Agora, observem.
– Macumbe Bozónins! – ordenou a professora apontando a varinha para os seus três itens, que se transformaram em enorme banquete que flutuava a alguns centímetros do chão.
Vários alunos deixaram escapar exclamações de espanto e admiração, alguns batiam palminhas.
– Professora! – Hemmaione ergueu a mão – Qualquer trouxa pode ver essa comida?
– Não, Srtª. Granger, apenas os necessitados conseguem ver.
– E como eles não saem por aí falando?
– Os bruxos mais experientes, que já despacham oferendas há muito tempo, lançam sobre a comida um feitiço muito conhecido entre os bruxos brasileiros. É uma espécie de feitiço da memória cujo objetivo é fazer a pessoa esquecer que comeu minutos após o consumo da comida. Ele se chama Fomezérium.
Harrycliffe achou aquela aula particularmente interessante. Ele se lembrou da cobra brasileira que libertara há alguns anos.
Ao que parecia, ele não era o único. Os alunos comentavam animados sobre a incrível criatividade dos brasileiros, embora estivessem ainda mais animados com a idéia da professora de eles poderem comer o que conseguissem transfigurar. Hemmaione foi a única que conseguiu criar uma mesa completa, e dividiu a enorme galinha assada com Harrycliffe e Runpert.
Ao final da aula já era hora do almoço, e como todos os três já haviam se empanturrado com a galinha da Hemmaione, os amigos resolveram subir para a Sala Comunal.
Passando pelas portas do Grande Salão, Hemmaione foi golpeada na cabeça por um exemplar do Profeta Diário, trazido por uma gigantesca coruja marrom, que ela nunca vira antes.
Recuperando-se do susto, a garota desenrolou o jornal e passou os olhos pela primeira página.
– E aí? Sumiu mas alguém, ou mais algum cavalo? – perguntou Runpert com uma voz pastosa de quem está satisfeito.
– Não, não... – disse Hemmaione vagamente – Mas está dizendo aqui que roubaram as lojas de roupas do Beco Diagonal, e... – Hemmaione parou abruptamente de falar. Ela parecia aterrorizada.
Depois de alguns segundos de silêncio, como se ela tivesse tomado consciência de que o que lera era real, soltou um berro bastante agudo que encheu o corredor, e pode ser ouvido de dentro do Grande Salão.
– Eu não acredito! – gritou Hemmaione – Eu simplesmente não posso acreditar nisso!
– O que foi? – perguntaram assustados Runpert e Harrycliffe quase ao mesmo tempo.
– Cancelaram a Liquidação Anual da Talhe Justo!
– Mas por que será que fizeram uma coisa dessas? – perguntou Harrycliffe, Runpert fazendo força para não rir.
– Parece que o produtor do evento foi ameaçado por um dos pufosos mutantes! – as sobrancelhas da garota voltavam a dançar, agora com espetacular velocidade – Harrycliffe, eu acho melhor você falar com o Gambondore! Você nos contou que ele falou que está muito preocupado com sua segurança, talvez esses ataques tenham alguma relação com você, mesmo que indiretamente!
– Você acha mesmo? – Hemmaione concordou com a cabeça – Runpert?
– Eu concordo com a Hemmaione.

No final do dia, Harrycliffe se encaminhava para o escritório do diretor.
– Freddy versus Jason – disse ele à porta do elevador que se abriu no mesmo instante.
Enquanto esperava o elevador chegar à sala mais alta da torre mais alta de Hogwarner, Harrycliffe ouvia um reggae, se curvando para uma minúscula caixa de som que ficava ao lado dos botões do elevador.
Ao chegar à sala do professor, encontrou a porta escancarada e o aposento completamente deserto.
– Senhor? – não houve resposta.
Harrycliffe percebeu que uma densa fumaça saia por baixo da porta do banheiro do diretor. Com medo de algo ruim haver acontecido, Harrycliffe pôs-se a bater na porta.
– Senhor! Senhor!
Gambondore saiu apressado do banheiro. Ele estava ofegante, pálido, seus olhos muito vermelhos e parecia lutar para esconder alguma coisa nas vestes.
– Quê?! O que foi?! Quem...? Ah! Mas é você?! – Gambondore tremia de raiva – Exijo uma explicação para essa invasão! Imediatamente!
O diretor se curvou rapidamente sobre o garoto, que assustado deu um passo para trás, derrubando uma mesinha de madeira e os objetos que estavam sobre ela. Gambondore, com mais ódio do que nunca, acabou deixando cair o que ele mantinha seguro debaixo das vestes.
– Pode deixar que eu pego, senhor.
Harrycliffe se abaixou para pegar o que Gambondore havia derrubado. Eram algumas revistinhas de capas muito coloridas e pequenos embrulhinhos pretos que lembravam folhas de mandrágoras, um deles parecia estar soltando fumaça. Harrycliffe conseguiu ler a capa de uma das revistas, “As Bruxinhas Fogosas e Ninfetas parte 5”.
Tudo isso aconteceu muito rápido. Mal Harrycliffe havia se abaixado e ele sentiu uma mão agarrar a sua nuca.
– Eu perguntei o que você faz aqui, seu moleque intrometido! – rosnou Gambondore no auge da sua cólera, os cabelos de Harrycliffe bem seguros na sua mão que forçava a cabeça do garoto para cima – Hein?!
– Eu queria falar com o senh...
– Quantas vezes eu já lhe disse que odeio ser interrompido quando eu estou meditando?! – Gambondore cuspia no rosto de Harrycliffe enquanto falava – Saia! – ordenou o diretor largando os cabelos do garoto.
– Mas senhor eu...
– Agora! – berrou Gambondore empurrando Harrycliffe com as duas mãos, fazendo-o cair sentado sobre a mesa que ele mesmo derrubara.
O peito do diretor se estufou ainda mais. Harrycliffe nunca o vira tão enfurecido como agora.
– Que diabos você está esperando?! Ponha-se daqui pra fora! Vá logo!
Harrycliffe correu o mais rápido que pode, mas não consegui fugir da azaração lançada por Gambondore que atingiu o seu rosto, partindo no meio a sua máscara de maquiagem.
Aliviado, Harrycliffe conseguiu chegar ao elevador. Decidiu não contar nada do que acontecera para Hemmaione nem para Runpert. Ele tinha a leve impressão de que tinha descoberto um pouco mais da intimidade do diretor do que realmente deveria.

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