Cinco



Seu sorriso murchou quando ele começou a refletir em sua parte na história. Ele não começara tudo aquilo com a intenção de ser mais um passo no plano. De fato não! E não era para ele estar feliz por ter conseguido ver aquele olhar de total transe da parte de Hermione. Ele sacudiu a cabeça e tentou pensar o pior da história, porém, por mais que tentasse um sorriso apareceu após um momento de distrações e logo ele fechou a cara para si próprio pelo reflexo e focou a marca negra em seu punho. Não tornaria a sorrir daquela forma da próxima vez que aquilo tornasse a acontecer.

Hermione sentada em sua cadeira focava totalmente em transe suas redações. Céus... Eu sou um pessoa horrível, muito horrível. Como por um segundo eu cheguei a imaginar que Harry, meu melhor amigo, iria me beijar... na boca. Hermione, você, de fato, é uma pessoa muito horrível por imaginar isso!

_****_

Sophie não aparecera aquela noite. Hermione ficara até tarde em sua redações obrigando Harry a ter que acordá-la no dia seguinte. Ela se levantara relutante e ele fez o café e ajudou Sophie a se arrumar enquanto Hermione tomava um banho relaxante.

Hermione apresentou-se arrastando até o carro. Harry sorriu logo ao vê-la passar pela porta, ajeitou o cinto de Sophie e logo fechou a porta indo em direção a Hermione ajudando-a com a bolsa pesada de pergaminhos.

- Eu tenho duas peças de lego muito preguiçosas. – brincou ele.

- Pelo que eu saiba foi eu quem dormiu tarde trabalhando. – frisou ela. Harry somente riu sabendo que não adiantaria levar adiante uma brincadeira de bate ou rebate. – Ela comeu, não comeu? – perguntou Hermione sonolenta olhando através do vidro do carro Sophie que cochilava com a cabeçinha recostada no banco.

- Eu quase tive que dar comida na boca dela! – resmungou Harry. – Só com isso você deve imaginar o quão difícil foi tirá-la da cama.

Hermione sorriu fracamente e eles caminharam até o carro. Ela colocou o cinto enquanto Harry colocava sua pesada bolsa no porta-malas no carro.

O caminho de casa para a creche foi percorrido em total silêncio. Sophie dormia e Hermione parecia pegar no sono com a cabeça recostada no vidro da janela.

Harry parou na porta da creche e tentou acordar Sophie, mas foi inútil. Então a considerando um caso perdido, pegou-a no colo e a entregou a uma gentil professora a porta de uma bela residência colorida. Tornou a entrar no carro e por um instante seu olhar recaiu sobre Hermione adormecida.

Seu rosto era iluminado por um leve filete da luz do sol que logo sumiria devido a grande nuvem cinza que se aproximava. Aponta de seus cachos castanhos esvoaçavam vagarosamente com o vento que entrava da janela aberta de Harry e ele teve certeza de que ela simplesmente não poderia ser Hermione com toda aquela beleza angelical que repentinamente havia caído sobre ela.

Ele tornou a ligar o carro afastando Hermione da linha de sua visão e então ele imergiu novamente em mais uma viajem da creche ao trabalho de Hermione em completo silêncio.

O caminho parecia bem maior quando não se estava conversando com ela. Das diversas vezes que lhe levara ao trabalho era essa, certamente, a que mais lhe fora incomodo. Ele simplesmente não suportava o silêncios sem motivos. Era totalmente não confortante e sempre lhe fazia refletir sobre a vida e isso era, de fato, o que mais odiava fazer: refletir sobre a vida.

Ele não conseguia ficar sem desviar o olhar para ela algumas vezes durante o caminho da subida para um campo aberto onde o mato simplesmente crescia. Ao longe um enorme prédio se erguia, bem no meio do nada. Ele se lembrou da primeira vez quando Hermione lhe levara para conhecer seu local de trabalho. Ela estava tão empolgada.

Ele desviou para uma estrada menor onde haviam várias placas informando sobre aquele local ser protegido por feitiços anti-visão trouxa até, finalmente, passar por uma grande que flutuava e girava acima da entrada de um estacionamento que dizia: Sede do Profeta Diário.

Entrou no estacionamento e deu a volta parando de frente para um caminho de pedras que levava a entrada principal. Puxou o freio de mão e finalmente desligou o carro. Apreciou alguns que chegavam de vassouras e viu outros que aparatavam em um campo aberto próprio para a aparatação. O estacionamento estava de certa forma, vazio, afinal, carros nunca foram realmente um transporte bruxo, mas como o mundo trouxa, um bruxo que se prezasse sempre possuía um carro.

Suspirou e olhou Hermione. Ela continuava a dormir. Com sua respiração devagar e ritmada. O que estava havendo, afinal? Ele já a vira dormir diversas vezes, ela já até dormira com a cabeça repousada em seu colo, mas, ele nunca a apreciara. Não daquela forma, porque ela simplesmente resolvera ficar tão linda aquele dia?

Ele levou uma mão ao seu rosto e o contornou com os dedos. Sua pele era lisa e alva. Era fria e precisava ser esquentada. Brincou com uma mecha de seu cabelo e lhe chamou baixo pelo nome. Ela não se moveu. Ele tornou a chamá-la, dessa vez mais alto e ela se mexeu vagarosamente abrindo os olhos.

Harry tirou a mão do caminho e ela tirou sua cabeça do vidro passando-a para o encosto do banco do carro tornado a fechar os olhos e soltar um enorme suspiro.

O silêncio voltou a reinar e Harry receou que ela dormisse novamente, no entanto ela logo virou a cabeça preguiçosamente e fitou Harry abrindo um sorriso distante.

- Eu estou horrível, não estou? – resmungou ela.

Harry abriu um sorriso radiante, não soube exatamente, mas aquela imagem o fez pensar que havia ganhado o dia sem ele ao menos ter começado direito.

- Nunca esteve tão linda como hoje. – ele a elogiou.

Ela riu.

- Obrigada, sabe, eu precisava mesmo ouvir isso. Vou entrar naquele prédio e receber olhares e comentários como, “Nossa, você está com uma cara terrível hoje, o que houve?” ou então, “Puxa, acho que alguém está precisando de uma cama nova.” Ouvir isso simplesmente me faz pensar que alguém finalmente conseguiu entender minha situação e eu de fato não me surpreenderia por ser nada mais nada menos que Harry Potter.

Harry riu. Virou-se e abriu a porta do carro saindo enquanto fazia um sinal com a varinha para o porta malas abrir. Tirou a pesada bolsa de Hermione de lá e caminhou-se até ela que saía lentamente do carro.

- Lembre-me, por favor, de não deixar que você escreva durante a madrugada novamente. – comentou ele divertidamente. Seus pensamentos vagaram a um lugar longe quando ela sorriu para ele ajeitando o vestido e ele pensou que não seria nada ruim dar mais um passo. – Sua bolsa.

Hermione a pegou quando ele a estendeu. Passou a alça sobre seu ombro e fez em feitiço para que ela pesasse menos. Ele estava simplesmente diferente hoje, mas ela estava gostando de sua animação, talvez aquilo pudesse a despertar e, de fato a despertou quando ela o tornou a olhá-lo e viu novamente aquele olhar que não reconhecia.

Ele se aproximou num simples passo, pousou uma mão em sua cintura e outra ele segurou carinhosamente seu rosto. Aproximou-se dando menção de que ia beijá-la, mas ela logo pensou, Certo, Hermione. Você já viu isso, é somente um beijo na testa.

No entanto, ela arregalou os olhos quando sentiu os lábios úmidos dele contra os seus. Estavam simplesmente ali, não estavam pressionando com força, nem ao menos triscavam, só estavam ali. E, céus, os lábios dele eram tão macios que ela sentiu vontade de mordê-los levemente, mas não teve essa oportunidade quando eles se distanciaram lentamente.

- Vejo você e Sophie no almoço. – ele sussurrou ainda próximo ao seu rosto e ela pode sentir sua respiração quente.

Então ele acariciou sua bochecha deu um passo para trás distanciando-se totalmente dela que o olhava completamente confuso esperando que ele explicasse.

Mas, por que ele a olhava daquela forma como se estivesse tudo normal? Ele deveria se explicar, aquilo não deveria simplesmente ter acontecido e... Mas e se realmente não aconteceu? Afinal, ela não dormira nada. Céus, o que estava havendo com ela? Pareceu tão real. Ela ainda podia sentir a respiração dele contra seu rosto e os seus lábios macios sobre os dela. Podia rever e ver a citação se repetir milhões de vezes em sua cabeça. Teria ela imaginado?

- Eu... – ela começou confusa, porém logo parou ao vê-lo erguer as sobrancelhas da mesma forma como ela, como se não entendesse a situação. – Ah, Céus. – sussurrou para si mesma e Harry pode ouvir. – Bom trabalho. – disse numa voz baixo virando-se imediatamente.

Andou, correu graciosamente, e tornou a andar novamente fazendo a saia de seu vestido balançar enquanto se dirigia perdida pelo caminho de pedras ate as grandes portas abertas do enorme prédio. Harry jurou que a viu levantar a mão durante seu trajeto e deduziu que ela estivesse levando os dedos para tocar os lábios. Certo, ele tinha plena certeza de que ela estava confusa entre o real e o somente uma imaginação absurda.

Enfiou as mãos no bolso e mordeu os lábios enquanto via seus cachos castanhos balançando de um lado para o outro até sumirem por aquela entrada junto com um emaranhado de outros bruxos e bruxas.

Aquilo estava sendo bom, estava realmente sendo bom. Ele quase se desesperara sabendo que não poderia se aprofundar naquele beijo quando sentiu aqueles lábios tremerem sobre os seus. Cada passo ao seu tempo e ele queria logo chegar na parte onde ela seria somente sua, mas aqueles pensamentos estavam o preocupando ao ponto de chegar a tirar-lhe o sono. Não deveria estar bom, ele não deveria estar gostando. Certamente que não!

Deus as costas e tornou a entrar no carro seguindo, assim, para o seu trabalho, tendo seu caminho todo percorrido com a simples cena se repetindo milhões de vezes em sua mente. Quero sentir seu gosto, Mione... Mas por quê?

_****_

Hermione afundou-se na confortável poltrona no canto de sua sala. Abriu seu livro e passou a lê-lo, aliás, ela podia dizer que ela ao menos entendia cada linha.

As risadas de Harry e Sophie brincando sentados no tapete da sala ecoavam e Hermione podia jurar que as de Harry ecoavam em sua cabeça e não na sala.

Sim, ela considerava tudo imaginação sua. Isso era fato! Harry jamais a beijaria, jamais a tocaria daquela forma e jamais a olharia daquela maneira. Só queria uma simples explicação. Por que diabos ela estaria, repentinamente, imaginando essas coisas agora, depois de tanto tempo.

Ela ergueu o olhar acima de seu livro e visualizou Sophie deitada sobre de bruços apoiando o queixo sobre os braçinhos empolgada com o jogo. Harry tinha as costas apoiadas na mesinha central. Uma perna dobrada e outra estirada com camisa mal abotoada e amarrotada, os cabelos bagunçados como sempre e Hermione suspirou. Não negava que Harry se tornara uma beldade no mundo bruxo. Mas ela nunca o olhara como homem, ele era somente seu melhor amigo, o adolescente teimoso que conhecera. Por que sua visão de repente mudara sobre ele? Era um homem, e que homem!

- Vai! Sua vez. – Sophie disse animada dando os dados a ele.

Harry os pegou, sacudiu e os jogou.

- Oito! – exclamou ele. – Boa!

O pequeno homenzinho que estava sentado em cima de uma casinha no tabuleiro do jogo se levantou e caminhou oito casas a frente.

- Verde. – exclamou Sophie.

- História da magia. – Harry disse fazendo uma careta.

Sophie riu.

- Você é péssimo! – disse ela divertida com uma cara de quem já tinha o jogo ganho.

- Não me subestime moçinha! – murmurou Harry com um sorriso maroto quando um cartão de um monte de cartas verdes flutuou e parou no meio to tabuleiro projetando a pergunta no ar. – Certo. – ele disse. – Vamos lá. – e passou a ler em voz alta. - Em meados do século dezoito o Banco de Gringotes sofreu um declínio fazendo com que a moeda bruxa se tornasse insignificante diante da trouxa. Que revolta esse fato causou?

Sophie animou-se.

- Essa é fácil! – ela exclamou.

- Você sabe? – exclamou Harry numa cara teatralmente incrédula.

- Não. – ela riu.

- Certo, porque eu também não. – mentiu Harry.

Ambos olharam para Hermione que ergueu a sobrancelha pelo ato repentino dos dois.

- O que foi? – indagou ela.

- A resposta. – Harry disse.

- Francamente Harry! – Hermione exclamou. – E claro que você sabe a resposta.

- É claro que não sei! – retrucou. – Sophie está ganhando, não acha que se eu soubesse eu responderia?

Hermione riu. Claro, ele estava deixando que ela ganhasse. Revirou os olhos e disse:

- A Revolta dos Duendes. Céus! Isso nem se aprende na escola. Não acredito que não sabia essa!

Harry agradeceu apenas com um olhar sabendo que ela havia entendido que ele estava fazendo a garotinha vencer.

- Certo. – Harry disse voltando ao jogo. – Sua vez. – e entregou-lhe os dados.

Sophie os jogou e sua bela Princesa juntou seu vestido na palma da mão e o levantou para poder andar as casas correspondente ao numero dos dados mais facilmente.

- Ah! – ela soltou um grito de vitória. – Azul! Defesa contra a arte das trevas. Essa mamãe me dizia todas as respostas.

- Certo. – Harry disse e pegou o cartão. – Qual o feitiço mais comumente usado para desarmar seu oponente? Eu até me surpreendo com o fato dessas perguntas serem extremamente difíceis.

Sophie gargalhou animada e Hermione viu que Harry também se divertia com a cena apesar de estar perdendo.

- Expelliarmus! – Sophie disse convicta de sua resposta.

- Eu não preciso necessariamente dizer que a resposta esta certa, não é? – indagou.

Sophie balançou as perninhas para cima animadamente e olhou para sua princesinha no tabuleiro.

- Vamos bonitinha. – disse a ela que tornou a catar o vestido no mesmo ar animado de Sophie. – Avance cinco casas.

A princesinha avançou as cinco exatas casas quase saltitando pelo tabuleiro.

- Esses pinos deviam ser banidos do mundo bruxo, sabia? – comentou Harry antes de jogar seu dado. – Eles conseguem ser realmente desdém. Veja só essa princesinha. Que atrevida, só falta dar lingüinha para o coitado do meu reisinho.

Hermione escondeu o riso por detrás de seu livro.

- Ela só está feliz. – disse Sophie num ar aborrecido. – Ninguém mandou não estudar.

Harry abriu uma expressão incrédula.

- É claro que eu estudava! Agradeça a obsessão de Hermione pelos estudos porque se não teria reprovado cada ano umas três vezes.

- Você é tão exagerado, Harry. – Hermione comentou por trás de seu livro.

- Tudo bem. – disse Harry a Sophie quando seu rei avançou as casas ditas pelos dados. – Ela quase nunca agradece os elogios.

Sophie sorriu e logo gargalhou quando seu rei parou exatamente no amarelo. Adivinhação.

- Harry. – Hermione falou casualmente por detrás de seu livro. – Levar a responsabilidade de por Sophie na cama não significa necessariamente que vai deixá-la acordada noite á dentro.

- Mas eu ainda não cheguei na chegada! – protestou Sophie.

Hermione espiou o jogo por cima de seu livro.

- Nem que Harry responda todos esses cartões corretamente ele vai conseguir te alcançar.

O rei de Harry bufou diante do que Hermione disse.

- Você ofendeu o meu rei. – resmungou Harry.

Hermione riu.

- Certo. – Harry se levantou e estendeu a mão para Sophie. – Ela tem razão.

- Quanto ao jogo ou quanto a ir para a cama cedo? – indagou Sophie dando impulso para que Harry a pegasse no colo.

- Quanto aos dois. Hermione sempre tem razão em tudo. Lembre-se bem disso. – disse Harry e sua voz foi sumindo quando entrou corredor a dentro.

Hermione suspirou e fechou o livro. Certo, ela não estava mesmo afim de ler aquele livro, e isso era realmente assustador para ela. Céus, quando a voz de Harry passara a ser profunda daquela maneira? Era tão... Grossa e parecia ecoar quando soava.

Por que estaria reparando nisso agora?

Levantou-se e seguiu para a cozinha deixando a leitura do livro para depois. Escutou uma gargalhada de Harry chegar abafada até a sala antes de deixá-la e somente sorriu quando a imagem do que estaria se passando naquele quarto agora lhe veio a mente.

A louça do jantar estava na pia e ela não sentia a mínima vontade de dormir já que fizera isso durante a tarde logo quando chegara do trabalho.

Abriu a torneira e pôs-se a lavar lentamente cada prato, talher e copo. Da janela a sua frente ela via a frente da casa junto com o seu jardim bem cuidado que já estava ficando um tanto jogado desde que Harry e Sophie chegara na casa e também, desde que as chuvas passaram a se tornar verdadeiras tempestades.

Sua mente vagou enquanto observava o vento varrer a rua e as folhas jogadas de seu jardim e lavava a caneca de Sophie. Ela sabia exatamente onde ficar com a mente livre iria parar. Céus! Como seus lábios eram macios.

A respiração dele contra seu rosto foi quase um toque final em toda aquela imaginação e ela nunca chegara a pensar que um dia olharia para Harry e o desejaria. Mas ela não estava realmente o desejando, estava? Ela nunca questionara o fato dele ter saído na capa de todas, sem exceção alguma, revistas bruxas femininas, mas ela nunca chegara a gritar pelo sorriso de Harry que elas costumavam dizer que era tão charmoso. Ela sempre o vira como um sorriso confortante.

Mas ela literalmente não fazia mais questão de olhá-lo agora somente como um sorriso confortante, afinal, ela teria realmente que admitir que aquele fora muita perda de tempo não ter enxergado aquele belo sorriso antes.

E ela estava dormindo ao lado dele todos os dias, isso parecia quase surreal. Podia sentir o seu cheiro ao dormir e ao acordar. Era um cheiro tão... Másculo. Era natural e era inconfundivelmente dele. E era tão bom... Dera ela aquele beijo ter sido real...

- Oi! – sobressaltou-se bravamente soltando uma exclamação de susto ao escutar esse sussurro como um trovão próximo ao seu ouvido.

Ouviu-o rir e sentiu seus braços a envolverem pela cintura enquanto recebia um beijo estalado na têmpora.

- Harry! – ela exclamou num ar aborrecido. – Foi um susto e tanto!

- Não foi. – ele defendeu-se. – Você parecia tão distante que ao menos percebeu quando eu entrei quase esbravejando na cozinha. Céus, Mione! Onde estava essa sua cabeça? Aqui certamente não era.

Ela enrubesceu levemente, entretanto, deu graças a Deus por estar de costas para ele, afinal, Harry nunca a fez corar. Nunca! E olhe que foram muitos elogios!

- Você está bastante animado hoje. – comentou ela começando a sentir suas pernas fraquejarem novamente somente pelo fato daqueles braços estarem a envolvendo e estarem a aquecendo.

Porque ele não a soltava? Ele sempre lhe dava um abraço por trás, um beijo estalado na bochecha ou na têmpora, e logo após a soltava, no entanto, por que ele não estava a soltando.

- Você, certamente, não está, ou pelo menos não parece. – retrucou ele.

Hermione riu pelo tom que ele usara, era inconfundível!

- Diga logo o que quer e vá se deitar, Harry.

Harry sorriu pelo fato dela ter captado a mensagem tão rápido como sempre fizera.

Ambos se fitaram pelo reflexo que a janela exibia e Hermione esquecer simplesmente que estava lavando a louça. Harry a abraçou mais firmemente e Hermione se sentiu bem daquela forma como ele a ajeitava em seus braços.

- Quero saber por que esteve tão distante hoje. – ele disse.

- Distante? – ela indagou franzindo ligeiramente o cenho.

- Não sei. Você parecia estar querendo se auto-isolar. Não falou mais que o necessário. Sua mente parecia viajar a lugares ao quais nem você mesmo sabia quando seus olhos se fixavam em um ponto distante ao seu. – ele explicou.

Hermione suspirou e deixou a caneca de lado puxando um prato e passando a bucha vagarosamente sobre a parte de dentro.

- As vezes odeio o fato de me conhecer tão bem. – comentou ela.

Harry a soltou lentamente postou-se ao seu lado e desligou a torneira fazendo com que ela o olhasse.

- Se não quiser falar diga pelo menos que está bem. – insistiu ele.

Ela o encarou por uns longos segundos. Abriu a boca uma duas ou três vezes e logo após soltou um muxoxo relaxando os ombros num ar derrotada. Respirou fundo e perguntou:

- Harry, acaso se lembra de hoje de manhã? Quando foi me deixar na sede do profeta.

Harry assentiu.

- Perfeitamente. – acrescentou e Hermione sentiu um buraco abrir em seu estomago por ouvir essa simplesmente palavra enquanto a imagem se repetia em sua mente.

Ela hesitou, tornou a respirar e continuou.

- Poderia me dizer o que aconteceu?

Harry enrugou a testa e riu.

- Não se lembra?

Ela mexeu-se desconfortavelmente engolindo à seco sentindo-se extremamente apreensiva pelo fato de não saber se queria ouvir que o beijo fora imaginação sua ou se ele chegara realmente a acontecer.

- Somente me diga, Harry. É simples. – optou por dizer.

- Bem. – Harry começou e ela percebeu o fato dele ter desviado o olhar dela para um outro ponto na cozinha. Ela sentia vontade de tomar seu rosto entre as mãos e fazer com que ele dissesse a olhando nos olhos. – Eu parei o carro em frente a entrada do prédio. Acordei você que dormia no banco ao lado. Disse que estava linda e você agradeceu. Sai do caro, peguei sua bolsa pesada, lhe entreguei e... – Harry parou.

Hermione sentiu raiva pela pausa e viu que ele mantinha os olhos fixos em um ponto da cozinha atrás de si. Hermione sentiu-se extremamente apreensiva.

- E...? – indagou erguendo as sobrancelhas esperando mais do que tudo que ele continuasse.

Ela o viu franzir a testa olhando para aquele ponto fixo.

- Hermione. – ele finalmente disse. – Aquilo não seria uma coruja?

Ela voltou-se para trás e murchou os ombros ao ver uma parda e imponente coruja ao lado de fora. Estivera tão nervosa ao ouvir Harry que mal notara o som que o bico da coruja fazia ao encontrar-se com o vidro da janela tentando chamar atenção dos residentes.

Abriu a janela e Hermione esperou que a coruja entrasse, porém ela não o fez. Então, ela estendeu a mão pegou o envelope que a coruja tinha entre os dedos das patas. Era um bonito envelope dourado que mantinha-se fechado por uma cera prateada com um emblema que fez Hermione sentir as pontas dos dedos gelarem e o coração disparar. Com uma bonita e enfeitada letra da mesma cor da cera estava escrito seu nome: Srta. Hermione Granger. De fato era para ela e pelo emblema na cera ela só podia sentir que seus olhos começavam a brilhar.

Com os dedos trêmulos ela abriu o envelope e tirou um pergaminho roxo que destacavam a letra verde esmeralda.

Harry viu o rosto da mulher iluminar-se enquanto seus olhos deslizavam rapidamente pelas linhas do pergaminho em suas mãos. Do lado de fora a coruja já havia ido embora e a lufada do vento frio da noite entrava pela janela que Hermione deixara aberta.

Ela finalmente chegou ao fim. Harry acreditou que ela levantaria o olhar e explicaria a ele o que era aquilo, mas ao contrário do que esperava ela manteve os olhos fixos no pergaminho.

- Céus! – ele a escutou sussurras.

- O que houve? – indagou Harry apreensivo e receoso.

Ela ergueu, finalmente, o olhar e o focou. Harry viu em seus olhos a alegria misturada com a adrenalina do momento.

- Fui convidada para o encontro anual dos melhores escritores e editores da Europa! – ela exclamou num ar quase incrédulo.

Ele ergueu a sobrancelha surpreso.

- Esperava por isso? – perguntou ele.

- Não. – respondeu – Digo, -acrescento rapidamente – Sim. – bufou e sacudiu a cabeça negativamente – Eu não sei. Minhas dissertações no Profeta Diário sempre foram muito bem recebidas pelos editores. Elogios não faltavam em nenhuma, mas eu também recebia criticas. Eu queria sim receber esse convite, mas eu não esperava que fosse tão cedo. Harry! As pessoas mais importantes do mundo bruxo costumam estar nessa festa.

- Eles costumavam me mandar convites todos os anos desde que matei Voldemort. Recebi duas visitas deles. Chegaram a me oferecer dinheiro para que eu comparecesse. – deu de ombros – Mas eu não via graça em beber champanhe, conversar e ver pessoas que não conheço recebendo troféus num imponente palco. Não vão mandar convite esse ano, tenho certeza.

- Você é Harry Potter. Tê-lo presente nesse encontro anual é torná-lo mais importante do que já é. Seu nome é o mais pronunciado no mundo bruxo desde o dia em que sobreviveu quando tinha um ano de idade. Isso não mudou até hoje, até mesmo com Voldemort morto. – ela dissera.

Harry não respondeu nada instantaneamente. Somente concordou com a cabeça, como sempre fazia quando a conversa pendia para esse lado, mas, Hermione podia perceber o quanto ele se incomodava e tentava, o máximo possível, não tocar no assunto. Era como bater num muro. Talvez um mistério para ela.

- Você vai sozinha? – perguntou ele tentando mudar de assunto.

Ela deu de ombros percebendo a manobra do amigo na conversa, porém não o impedindo.

- Quem me acompanharia? – ela indagou.

- Se está precisando de um homem tem um a sua frente. – ele murmurou.

Hermione ergueu o olhar intrigado a ele.

- Me acompanharia? – ela indagou, em seus olhos havia um certo ar de esperança.

- Não sei. – disse ele dando de ombros.

Ela abriu um sorriso incrédulo e exclamou:

- Mas você acabou de se convidar!

Ele levantou o indicador erguendo a sobrancelha.

- Negativo! – exclamou – Eu apenas disse que se você precisasse de um homem eu sou um. Não disse, “Hermione, por favor, me convide”.

Ela riu.

- Foi... – pensou. – Uma indireta!

- Indiretas são para serem recebidas como indiretas. Geralmente você lança a indireta e recebe uma direta.

Ela se levantou e cruzou os braços o olhando com os olhos estreitos.

- Pensei que não gostasse de beber champanhe, conversar e ver pessoas que não conhece recebendo troféus num imponente palco. – disse.

- Não perderia a chance de ver a pessoa que mais amo receber um troféu ao qual tanto almeja. – ele disse.

Ela suspirou.

- Acredito que é melhor tirar a idéia que eu possa receber um troféu da cabeça. – ela murmurou.

Ele a olhou incrédulo.

- Você recebeu o convite, é possível que receba um troféu. E se não receber eu aprontarei um escândalo. – ele disse confiante.

Hermione riu e depois fez uma careta.

- Tomara que eu receba mesmo um troféu! – exclamou divertida fazendo Harry rir.

Ele estendeu os braços e aproximou-se o abraçando.

- Eu estou realmente feliz por você. – ele disse próximo ao seu ouvido e Hermione fechou os olhos sentindo a o hálito dele fazer os pelos de sua nuca se arrepiarem. – Gostaria de te acompanhar.

- Se importaria se eu não quisesse? – ela indagou repentinamente.

Harry riu percebendo a brincadeira da amiga.

- Muito! – exclamou.

- Isso significa que quer mesmo me acompanhar? – ela disse deitando a cabeça no ombro do amigo que passara a lhe afagar os enormes cachos castanhos.

- Me importar por você não querer é o suficiente? – indagou.

Ela riu.

- É claro que eu quero que vá comigo, Harry! – ela exclamou e Harry sentiu que era bom ficar com ela em seus braços.

- Que bom. – ele disse apoiando o queixo no topo de sua cabeça. Suspirou e fechou os olhos sentindo que a marca negra em seu pulso começara a arder e o ambiente começar a ficar extremamente gelado com o sereno da noite que entrava pela janela ainda aberta.

_****_

Hermione parou o carro em frente a creche de Sophie e deu duas buzinadas, abaixou o vidro e pos a cabeça para o lado de fora.

- Sophie! – gritou.

Os escorridos cabelos loiros de garotinha esvoaçaram quando ela se virou num solavanco e encarou Hermione. Uma bela mulher de cabelos ondulados castanhos claro com alguns fios loiros sorriu e fez algum comentário a Sophie abaixando-se do seu lado, logo depois ambas sorriram e ela a menininha correu até o carro despedindo-se da professora.

Sophie entrou no carro e acomodou-se no banco da frente tirando sua mochilinha das costas e jogando no banco de trás. Hermione arrumou o cinto na menina e afagou-lhe os cabelos tornando a ligar o carro.

- Como foi hoje na creche? – perguntou enquanto esperava um pai a sua frente acomodar seu filho na vassoura e decolar.

- Paul me pediu em namoro cinco vezes. – disse a menininha com um amplo sorriso.

Hermione riu.

- E o que você respondeu? – tornou a perguntar.

- Que agora eu tinha mãe nova e pai novo e tinha que ver se eles deixariam. Por que o papai antigo não gostava do Paul, mas a mamãe dizia que ele era legal. – explicou Sophie.

- Como Paul te trata? – perguntou Hermione num ar distraída, porém preocupada. O homem a sua frente partiu para vôo alto e ela finalmente pode sair.

- Ele me ajuda com os deveres que a tia passa. Diz todo dia que meu cabelo e bonito e que não posso cortar. Ele sempre me empresta seus lápis de cor e fala sempre que meus olhos se parecem com os da mãe dele. – disse ela. – Ele tenta me beijar, mas o papai antigo disse que era pra mim socar a cara dele sempre que ele tentasse. A última vez que Paul escutou isso saindo da boca do papai ele nunca mais tentou me beijar.

Hermione sorriu amigavelmente sentindo uma pontada no coração ao lembrar-se de como seria as expressões de Rony ciumento.

- Querida, creio que é muito nova para se aventurar num namoro. – explicou Hermione tentando ser criteriosa em suas palavras. – É algo muito sério.

- Papai dizia o mesmo. – disse a garotinha.

- E ele está cheio da razão! – exclamou Hermione.

- Mamãe dizia que as pessoas namoram porque se gostam e papai dizia que as pessoas namoram para se casarem. – comentou Sophie.

- Eu acredito que as pessoas namorem porque se gostam e porque querem se casar um dia. Mas muitos namoros terminam sem um casamento, ou às vezes o casal começa sabendo que um dia vai acabar, mas mesmo assim persistem. – disse Hermione causalmente entrando numa avenida movimentada depois de tantas voltas.

- Você e o tio Harry namoram pensando em se casar? – perguntou Sophie.

Hermione riu.

- Harry e eu somos somente grandes amigos. – explicou lembrando-se de que a muito tempo atrás dizia essas palavras sentindo a voz embargada e a garganta queimando por nunca poder ser compreendida por quem realmente amava. – Somente amigos. – disse numa voz baixa enquanto as imagens em sua cabeça se repetiam milhares e milhares de vezes.

Sophie pareceu desapontada.

- Por que não namoram? – indagou ela. – Ele te trata como se você fosse um tesouro, te trata melhor que o Paul quando me empresta seus lápis de cor. E ele vive dizendo que gosta muito de você.

- Porque em geral, para as pessoas serem verdadeiros amigos, é necessário que um goste muito do outro. – tornou a explicar Hermione.

- Mas o tio Harry é bonito. – disse como se fosse um crime Hermione não estar o namorando. – Todas as meninas querem um homem bonito. E ele sabe mesmo ser bonitão.

Hermione sorriu inconscientemente quando sua mente vagou pelas lembranças ao qual Harry deixara em sua vida. Céus, ele era, de fato, um sugador de fôlego e um provocador de suspiros.

- Não nego... – foi o que disse.

Sophie riu da expressão de Hermione ao volante.

- Você já beijou o tio Harry? – indagou Sophie.

A mente de Hermione, imediatamente, quase repentinamente, mudou-se para a lembrança do dia anterior. A respiração de Harry contra seu rosto. Seus lábios tão macios a seduzindo a querem mais do que aquele simples toque de lábios. Ela abriu a boca sabendo que de lá sairia um “sim”, entretanto ela voltou a realidade e lembrou-se de que certamente estava lutando em acreditar que aquilo, obviamente, não chegara a acontecer.

A fechou e engoliu a seco imaginando no que daria se tivesse dito sim. Lutou-se para manter um ar de que não estava realmente se importando com a pergunta, sorriu, um ao qual tivera certeza de que saíra amarelo, e respondeu:

- Não. – pausou. – Amigos que se querem somente como amigos não costumam se beijar. – concluiu.

- Mas e se ele não te querer só como amiga?

Hermione tornou a abrir a boca, porem logo ela se fechou. Hermione pensou, pensou e somente depois de muito pensar e não chegar a algo que pudesse retrucar, suspirou e sorriu voltando-se para Sophie alegremente.

- Eu e Harry vamos a uma festa no próximo fim de semana, o que pensa sobre ficar com uma babá? – perguntou ela.

Sophie franziu a testa e olhou Hermione incerta.

- Mas e se o tio Harry gostar de você como uma namora...

- Sophie! – exclamou Hermione a cortando. – A babá!

A garotinha percebeu a de Hermione e soltou um suspiro tornando a recostar as costas no banco.

- Papai e mamãe me deixavam na vovó ou no vovô Nopi quando iam sair. – disse Sophie com os ombros pendendo para a frente num ar preguiçoso.

- Eles nunca te deixaram com uma babá? – indagou Hermione.

- Vovó nunca deixou. – explicou Sophie. – Eles costumavam sair na sexta, daí eu dormia na casa da vovó. Tia Gina dizia que eles dois precisava sempre de uma noite só pra eles. – disse inocentemente. - Você e o tio Harry vão ter uma noite só para vocês?

Hermione riu e depois arrependeu-se entendendo a maldade na fala inocente da menina.

- Na verdade, só vamos a festa juntos. Seria indelicado chegar desacompanhada a uma festa como a que fui convidada. Vai ficar com a babá só enquanto estivermos na festa. – disse Hermione.

- Por que não posso ficar com a vovó? Fred e Jeorge vão estar lá. Eles são legais e me levam para ver a loja de Zonkos deles no sábado de manhã. Depois, de noite, eles me deixavam em casa.

Hermione suspirou.

- Querida, há coisas que se eu lhe explicasse agora não entenderia. – disse.

Sophie a encarou com o cenho franzido num ar intrigado.

- O que está acontecendo? – indagou.

- É algo complexo para sua cabeçinha. Não irá entender como deve ser entendido. Somente deve entender que não poderá ver nem o vovô nem a vovó por um bom tempo. – disse Hermione num ar cauteloso, como se pensasse cinco vezes antes de dizer cada palavra.

- Eles também morreram? – indagou Sophie. – A vovó Molly e o vovô Nopi?

- Não! – exclamou Hermione quase instantaneamente. – Eles estão bem. Mas o que você acha de ficar com uma babá?

Sophie fez uma careta de quem não gostara nem um pouco da idéia e resmungou:

- O que as babás fazem?

- Bem. – começou Hermione. – Ela vai ficar cuidando de você. Vai jogar, ou ver televisão com você até dar a hora de dormir. Vai te ajudar no banho e vai te por na cama. Talvez cantará uma música ou lerá um livro e depois vai velar seu sono até que eu e Harry retornemos da festa. Então ela vai embora.

- Hum... – pronunciou Sophie comprimindo os lábios e empurrando-os para o lado. – Podemos tentar. – disse dando de ombros.

Hermione sorriu grata por ela não ter feito mais perguntas sobre seus avós.

- Vamos encontrar uma babá legal. – Hermione disse divertida. – Bem. Eu estava pensando de comprar roupas novas para você. Essas já estão ficando curtas. O que acha? – sugeriu a menina perguntando logo após sua opinião.

Sophie abriu um sorriso radiante e se sentou corretamente no banco.

- Mamãe gostava da moda trouxa. Ela sempre comprava roupas no sho... – ela pausou pensando. – Shop... – e pensou mais um pouco.

- Shopping? – indagou Hermione.

Sophie sorriu.

- Sim! Nós íamos a esse lugar comprar roupas.

- Estamos a caminho. O que acha de passarmos lá agora e almoçarmos por lá? – perguntou Hermione.

Sophie arregalou os olhos como se o que ela havia dito fosse abominável.

- Mas e o tio Harry? – indagou.

Hermione mudou sua expressão para uma de desanimo.

- Tio Harry não vai poder almoçar conosco. Ele tem plantão na hora do almoço para cobrir a sexta à noite. A sexta da festa. – explicou a menininha.

- Então podemos ir visitá-lo no hospital.

Hermione mordeu os lábios.

- Acredito que ele esteja atarefado, meu bem. – disse cautelosamente.

Sophie murchou os ombros, tornou a sentar-se relaxadamente no banco e Hermione parou no sinal que exibia o vermelho.

- Mas ele poderia ficar feliz em ver a gente lá! – disse a loira cabisbaixa. – Tadinho. Trabalhar na hora de almoçar deve ser muito ruim.

Hermione virou-se e viu a menina tristonha fitando as mãozinhas repousadas sobre a saia do uniforme da creche. Pensou, relutou contra seus pensamentos e finalmente disse:

- Certo. – dando-se por vencida, apesar de saber, que em alguma parte de si ela estava realmente com vontade de ver Harry. – Podemos ir ao hospital. – viu a menininha sorrir. – Mas, - acrescentou rapidamente e Sophie apurou os ouvidos. – não posso garantir que vamos chegar a vê-lo. O trabalho de Harry exige que ele esteja presente em qualquer situação. É um tanto complicado, Sophie. Ele é curandeiro e as pessoas doentes precisam dele, e você concorda comigo que as pessoas não escolhem dias nem horário para ficarem doente?

Sophie balançou a cabeça concordando.

- Deve ser mesmo complicado. – acrescentou a menina.

Hermione tornou a dirigir quando sinal abriu exibindo seu verde.

- Mas não importa. Se ele estiver mesmo ocupados, nós vamos a ao shopping. Sabe, minha mãe costumava me levar lá quando era menor para passear, ir no cinema, comprar roupas. Se quiser podemos ver um filme. O que acha? – indagou. – Os trouxas sabem realmente fazer filmes.

Sophie ergueu os olhos. A excitação perpassou por eles e ela sorriu com a curiosidade de entrar no cinema trouxa pela primeira vez.

- Legal! – ela exclamou, apesar de querer dizer mais que isso, agradecer por Hermione estar cuidando dela, por ajudá-la nas lições da creche, por lhe oferecer comida, por ela ter lhe dado uma cama realmente quente e por ser tão carinhosa.

Hermione virou em uma esquina deserta que daria aos arredores do centro de Londres onde haviam poucos trouxas, a rua que dava ao St. Mungos.

- Tia Mione... – Sophie disse num ar casual como quem não estava realmente interessado em nada além de uma conversa. Hermione murmurou algo informando a ela que estava de ouvidos apurados e Sophie indagou – Gosta de cachorros?

Hermione ergueu as sobrancelhas surpresa pela pergunta ter vindo repentinamente num ar tão casual que ela chegava a pensar que ali havia interesses.

- Bem... – pensou. – Tive um gato uma vez. – falou não querendo logo lhe dar uma resposta direta antes de saber o que Sophie queria.

Sophie franziu o cenho com a resposta de Hermione, porém, continuou.

- Queria um cachorro. – disse e olhou esperançosa para Hermione que simplesmente continuava a dirigir. – Pode ser um cachorrinho. Pequenininho.

Hermione não disse nada. Somente pensou, pensou, pensou e não chegou a uma conclusão.

- Nesse caso eu poderia conversar com Harry. – finalmente disse sabendo que a garotinha tocaria no assunto mais tarde.

Sophie sorriu e focou o horizonte ela janela. O sol quente do meio dia já não aparecia desde o finzinho de novembro e as nuvens só ficavam mais escuras dias após dia. Ela perguntou sobre o gato de Hermione e ambas conversaram sobre bichento até chegarem ao hospital.

Tiveram sorte de pegá-lo no corredor. Ele sorriu ao vê-las, mas sua expressão tinha um ar de completo cansaço. Ele fez um comentário rápido sobre um caso de urgência que havia aparecido e Hermione

Hermione disse que estava levando Sophie ao Shopping para comprar roupas novas e ver filme, então Harry desejou-lhes bom passeio apesar de estar com pressa olhando por cima dos ombros e passando informações aos que passavam. Disse que talvez dormiria em seu apartamento, mas que de manhã passaria lá para buscá-las.

Um bruxo chegou discretamente próximo a Harry e cochichou algo com ele. Harry voltou-se para as duas e lamentou por existirem armas no mundo e a deixou novamente ali no corredor branco e agitado do primeiro andar dizendo que surgira outra emergência.

Hermione pegou Sophie no colo e tornou a seguir para o carro. As duas lamentaram juntas por Harry ter que ir dormir em seu apartamento hoje e Hermione explicou minuciosamente o porque Harry estava tão ocupado. Explicou sobre a carreira médica bruxa e depois que as duas chegaram ao shopping aproveitaram o dia fazendo comprar, rindo e vendo filmes trouxas.

Hermione nunca sentiu tanta vontade de ouvir um “mãe” sair da boca de alguém para ela como naquela tarde.

_****_

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.