Capítulo Sete



Já haviam se passado dois dias desde que o comandante Harry Potter despertara e que estava sob os cuidados de sua noiva, sem que ele soubesse.


As dores continuaram, mas Ginny sempre arrumava um jeito de aliviar sua dor. Ela passava uma pasta verde musgo em seus ferimentos, e apesar do cheiro horrível, funcionava muito bem; ele não sentia dor alguma.


Entretanto, o pensamento que tivera dela no primeiro dia que a vira não havia se dissipado. Na verdade, Harry se surpreendia de como podia estar tão fascinado pela figura da enfermeira encarregada de sua saúde.


Ela era uma moça encantadora, com um rosto angelical... e a língua mais afiada do que uma espada de dois gumes. Talvez fosse isso que o deixava aturdido e encantado na jovem. Sempre fora obrigado a passar o tempo ao lado de moças nobres, superficiais, tolas e obedientes. E que obviamente se encolhiam toda vez que ele franzia o cenho ou expressava qualquer gesto comprovando seu aborrecimento.


E depois que fora enviado para a guerra... Apenas as mulheres da noite quando ia ele e os outros homens para a diversão.


No entanto, a jovem enfermeira era totalmente diferente de todas as mulheres que já conhecera. Sua fisionomia de uma inocente e doce mulher escondia a alma endiabrada e matreira de uma menina rebelde.


Ginny terminou de passar a pasta sobre o ultimo ferimento em seu peito e colocou a tigela que estava a mesma sobre uma mesinha ao lado.


- Não vai demorar muito até fazer o efeito. – Ela anunciou.


- E já fede.


As íris castanhas brilharam para ele, daquele modo que ele adorava, mesmo que não admitisse.


- Acredito que prefira feder a sentir dor, comandante.


Harry encolheu um pouco os ombros e retrucou:


- Na verdade, acredito que esse cheiro de podre vai impregnar em mim e nunca mais sair.


Pela primeira vez desde que a conhecera, ela não fora grossa ou malcriada com ele, como uma criança peralta. A bela enfermeira claramente sentiu vontade de rir, na verdade. Harry sentiu-se satisfeito com isso.


- Você é o homem mais birrento que já conheci, se me permite dizer. – ela zombou, mas havia um largo sorriso em seus lábios. Ele não pôde deixar de notar o belo sorriso que ela tinha. Havia algo intocado e indomado naquele sorriso.


- Não sou birrento. Não quando estou bem. Agora, se estou sob cuidados e se preciso sair daqui o mais rápido possível, é claro que vou reclamar. Quero o melhor trabalho. – fora a vez de ele sorrir. – Mesmo que o trabalho seja feito por uma moça inexperiente que me cause ainda mais dor.


Ginny estava pronta para responder, com a resposta na ponta de sua língua, quando o olhar de Harry a desarmou. Os olhos dele brilhavam como duas esmeraldas expostas ao sol. Ela se sentiu como um animal fascinado pela luz brilhante.


Balançou a cabeça, tentando recobrar a postura. Ela conseguira uma posição de enfermeira respeitável ali e assumira também sua personalidade, de jamais se abalar com resposta alguma... Aprendendo a ser rápida em jogos de palavras. Não iria deixar que ninguém ganhasse. Principalmente seu noivo boboca.


- Se sou inexperiente – ela encolheu um dos ombros com graciosidade e expressou um ar inocente e angelical em seu semblante. – é bom que o comandante tome cuidado.


Harry ergueu uma sobrancelha.


- Cuidado?


- Sim, milorde. – Ginny aproximou-se dele e abriu um sorriso maldoso. – Posso assassiná-lo graças a minha inexperiência.


Ginny arrastou o biombo rindo internamente enquanto ele esbravejava alguma coisa. Ela não quis escutá-lo e Harry se sentiu irritado consigo mesmo ao perceber que apreciara a atitude dela de não submeter-se às ordens dele.




Charles Weasley melhorava com facilidade. Há dois dias podia caminhar entre os leitos, sempre amparado por Mary. A doce enfermeira conversava com ele em um tom de voz amigável e apaziguador enquanto o ajudava a passear.


 


Ambos sorriam quando Mary o ajudou a se sentar em uma cadeira ao lado do comandante Potter. Harry percebeu o olhar de Charles para a enfermeira, quando esta se retirou.


- Charles, você não sabe esconder suas emoções.


Pelo tom da voz que ele usara, Charles não soube definir se Harry estava ralhando com ele ou se estava apenas zombando. Então, limitou-se a mudar de assunto:


- Como se sente?


- Fedendo.


Charles soltou uma risada longa e alta. Estava acostumado com o cenho franzido do amigo, do tom endurecido e, evidentemente, das reclamações. Harry sempre fora uma perfeccionista, embora preferisse fazer as tarefas à sua maneira, ainda que fosse a mais complicada e exaustiva. Ou talvez, ainda que a dele não fosse tão perfeita quanto à sugerida. Mas sempre exigia a perfeição nas tarefas dos outros, obviamente.


- Não deve ser tão ruim, huh? – comentou com bom humor.


- Claro que não. – respondeu azedo. – E suponho que você deva saber quem é a enfermeira encarregada de cuidar de sua saúde.


Ambos entenderam o que Harry estava querendo dizer e o ruivo não tentou mascarar a verdade.


- Claro que sei. – Charles retrucou como se tivesse sido insultado. – Mary irá se casar com John.


- E mesmo assim olha para ela como se quisesse tomá-la nos braços e beijá-la? Escute homem, não estou a fim de ficar nessa situação de novo por salvar alguém em perigo.


- Não quero beijar Mary. – Charles mentiu. Mas logo depois se contradisse – Ela é uma mulher apaixonante, não acha?


Harry riu com sarcasmo, mas arrependeu-se ao sentir o abdômen fisgar em dor.


- Como acha que sua mãe reagiria ao ver que está apaixonado por uma camponesa?


Ambos ficaram terrivelmente sérios a menção do nome de Molly Weasley.


- Armaria um inferno, provavelmente. – Charles comentou friamente. – E choraria amargamente dizendo que criara um filho não muito inteligente por querer uma camponesa.


- A - há! – o pano na testa de Harry caiu para o lado do leito quando este tentou se sentar, sem sucesso. – Então você admite que queira Mary?


Charles girou os olhos, mas sabia por que o amigo estava fazendo aquilo; desde que descobrira a verdade, que infelizmente não poderia ser provada, Charles evitava ao máximo mencionar o nome da mãe.


- Deveria estar morto, Harry Potter.


Ambos controlaram um riso. Charles para não atrair a atenção de ninguém, Harry por simplesmente não querer sentir dor alguma. Achava que teria que valer a pena usar aquela pasta fedorenta no corpo, afinal.


- Levaria seu segredo até o tumulo, amigo. John jamais mataria você, se dependesse de mim.


- Cale-se, Potter. – replicou Charles azedo. – E vamos falar sobre seu comportamento.


Harry franziu o cenho.


- O que diabos têm meu comportamento?


- Devo lembrar ao senhor que está de casamento marcado?


Harry franziu ainda mais o cenho. Já estava ruim o suficiente feder e estar de cama para que Charles lhe lembrasse que se casaria com uma mulher exatamente igual à Molly Weasley. Estremeceu só de imaginar a noiva que sua imaginação havia criado.


- Com certeza não deve lembrar-me, Charles.


- Pois acho que deveria. – o amigo contestou. – Não quero que desrespeite minha irmã.


O comandante soltou um bufo pela boca.


- Por que acha que faria isso com sua irmã?


- Pelo modo como percebi que está olhando para a enfermeira encarregada de cuidar de ti. – Charles respondeu com simplicidade. – Como se ela o houvesse enfeitiçado.


Harry ergueu uma sobrancelha e respondeu sem acanhamento:


- Ora! Eu não estou casado ainda. E você sabe muito bem que já estive com outras mulheres que não seja sua irmã querida.


- Sim, eu sei disso. Mas dói-me saber que ela está se guardando para um infiel. – balançou a cabeça com pesar. – Maldito seja! Não merece a doce criatura que está para receber quando ganharmos esta guerra.


Doce criatura? Com certeza não, Harry pensou. Talvez manipuladora como a mãe. Exatamente como Molly. Capaz de qualquer coisa para ter o que quer.


De qualquer modo, mesmo quando estivesse casado com Ginny, ele jamais pensara em ser fiel. Tinha um acordo de casamento sim, que não pensaria em anular porque era um Potter, mas com certeza não seria fiel.


Para ele, casamento era um acordo. Sua parte do acordo era se casar, e a parte de Ginny era lhe dar um herdeiro. Depois disso não precisaria se deitar com ela todas as noites. Ela se afundaria em riqueza e jóias enquanto ele mentiria dizendo que iria viajar a negócios. Passariam as festas juntos e passariam a imagem de uma família sem problema algum.


Uma família feliz e sem problemas, pensou azedo.


- Potter? – Charles o chamou de seu devaneio.


- O quê?


- Está me escutando?


- Certamente que não.


O ruivo bufou.


- Homem, pare de sonhar com sua enfermeira. Aliás, era justamente sobre ela que eu estava dizendo. Acha que vou ficar em silêncio enquanto você corteja a moça?


- Não estou cortejando ninguém. – defendeu-se.


- Mas sente clara vontade. – repreendeu.


Ele girou os olhos.


- Maldição, é claro que sinto! Mas ela simplesmente não permite – exasperou-se Harry. – Não consigo explicar como esta mulher me atrai... Simplesmente...


- Simplesmente?


- Ao mesmo tempo em que quero estrangulá-la e fazer com que pare de me irritar, quero tomá-la em meus braços e beijá-la!


Charles notou que Harry estava aborrecido com aquilo. Ah! Claro que estava, Charles pensou divertido. Harry já se deitara com outras mulheres, mas jamais estivera apaixonado. Na verdade, o noivo de sua irmã repudiava até a palavra, dizendo que não podia se apaixonar por um ser inferior. Então, ele não estava conseguindo lidar com um sentimento que nascera de um modo tão rápido.


Claro que tudo ficaria ainda mais divertido – para Charles – quando seu amigo descobrisse quem era a enfermeira.


- Está apaixonado por uma camponesa? – perguntou maldoso.


- Não sou você, Weasley.


- E quem disse que estou apaixonado?


- Sua cara de idiota. Tão idiota que estou começando a pensar que talvez seus pais sejam primos-irmãos.


O ruivo riu alto.


- E o que diz de seu olhar aparvalhado toda vez que a mulher lhe responde com grosseria?


- Está me espionando, homem?


- Não. Só analisando momentos para que você não seja mais uma vez infiel com minha doce irmã.


Na verdade, Mary era quem lhe contava tudo.


Harry ignorou mais uma menção ao nome de Ginny.


- A mulher é tão grosseira que me faz pensar que talvez ela suponha que está a minha altura para responder de tal forma.


Pela forma que fora comentada, Charles não soube definir se o que ele dissera fora um elogio ou uma critica. Mas entendeu que, mesmo que Harry depois negasse, sua irmã caçula era feita sob medida para ele. Apenas alguém tão rebelde quanto ele para poder agüentá-lo em quatro paredes, como parceiros. Mesmo que Harry não admitisse, ele não gostava de mulher tolamente submissa, e estaria em breve – pelo menos assim esperava o ruivo – prestes a descobrir que sua noiva não era nem um pouco. Apenas, talvez, um pouco lerda demais para fugir. Mas tola, inocente e pura trancada em uma casa? Não mesmo.


Mary arrastou o biombo e sorriu para Charles.


- Está na hora de voltar para seu leito, lorde Weasley.


Charles assentiu.


- Estarei vigiando você, Potter.


Harry mais uma fez franziu o cenho.


- Morra, Charles Weasley.


Ele riu bem humorado, saindo com a ajuda de Mary.




A maioria das enfermeiras estavam se recolhendo, à exceção apenas das que teriam que passar a noite acordadas procurando visar o bem-estar dos pacientes.


 


Mary estava ao lado de fora da tenda aos beijos apaixonados com John, às escondidas de Amélia. Elizabeth estava como sempre fofocando sobre as outras enfermeiras com Ann.


Ginny estava ainda ao lado do leito de Harry, certificando-se que ele estaria bem àquela noite.


- Não vou precisar dormir com aquela pasta fedorenta de novo?


Ela desviou os olhos de seu trabalho para fascinar-se mais uma vez pelo brilho que os olhos verdes dele tinham.


- Não, acho que não vai sentir dor esta noite. – ela sorriu. – Mas, se sentir dor, chame Elizabeth que ela passará a pasta para que possa descansar.


Observando seu noivo agora, Ginny não conseguiu repreender-se ao perceber que ele era um homem terrivelmente bonito. Harry também tinha o físico de gigante de John e de Malfoy, mas ele não conseguia de jeito nenhum deixa-la intimidada com seu tamanho. Mas ele ainda era um rapaz, ela pensou. Havia traços disso em sua face, como o ar de garotão que ele tinha com aquela franja negra caindo em seus olhos.


O som de sua voz também era maravilhoso, ela pensou sem acanhamento. Rouca, grossa...


- O que está pensando?


Ginny quase deixou cair a bandeja com ataduras.


- Não estou pensando em nada. Estou cansada. – Muito cansada, ela corrigiu-se mentalmente ao perceber que estava elogiando o físico do homem que era o culpado de fazê-la ficar trancada por dois anos em sua própria casa. – Preciso de descanso.


- Sim, posso perceber. Sua face está como a de um doente, enfermeira.


Era mentira, Harry pensou. Mesmo com ar cansado, sua enfermeira estava linda. Mas gostou de ver o cenho da jovem franzir, sem medo, para ele.


- Talvez porque eu não reclame do tempo que trabalho, diferentemente de milorde, que mesmo deitado confortavelmente em seu leito insiste em reclamar.


Harry sorriu tentando abrandar aquela situação.


- Não quero discutir com você.


Ginny ergueu o queixo, desconfiada.


- Bom, nem eu. – disse, por fim. – Boa noite, comandante.


Ela já estava com a mão no biombo quando ele a chamou.


- Sim?


Ele a encarou como um menino desolado.


- Não sinto sono.


Ginny sorriu divertida.


- Quer que eu faça o comandante ficar desacordado?


Ele entendeu o que ela queria dizer e riu.


- Na verdade, eu estava me perguntando se a enfermeira não gostaria de conversar um pouco comigo, até que me sinta cansado.


Ginny ergueu uma sobrancelha.


- Por acaso está me cortejando, comandante?


- Quero apenas conversar.


Ela o fitou desconfiada por um tempo, os dois jaspes brilhando de um jeito que ele não sabia decifrar. Aquela mulher era tão misteriosa! Às vezes expressava o que sentia, e outras, se fechava em copas. Ela era formidável.


- Muito bem. – disse por fim, colocando uma cadeira ao lado do leito dele. – Conversaremos por um tempo. Sobre o que quer conversar, comandante?


- Harry. Meu nome é Harry.


Ela sorriu.


- Sim, eu sei que seu nome é Harry, senhor.


- Já que está encarregada da minha saúde, quero que me chame pelo meu nome, enfermeira.


Ginny assentiu, mesmo que por dentro não estivesse gostando do fato de chama-lo pelo nome. Ora, era um conquistador descarado!, pensou enfurecida pelo simples fato de que sabia que Harry desconhecia sua verdadeira identidade. Isso significava para ela que, enquanto ele estivesse na guerra, ela estaria sendo traída todas as vezes que eles, os soldados, iriam se divertir.


E depois ela teria que ser toda pura e inocente para sua volta? Por favor! Ele estava até mesmo cortejando sua enfermeira, e sabendo que ele não tinha noção de seu nome, isso a deixava aborrecida, pelo simples fato de que se importava com o que ele pensava sobre ela.


- Se assim deseja... Harry.


- Muito melhor. – ele sorriu. – Agora poderia me presentear com o seu nome.


- Boa tentativa. – ela ergueu uma sobrancelha. – Não é necessário saber meu nome, senhor.


- Harry.


- Tudo bem, Harry. – ela corrigiu-se.


A doce enfermeira estava na defensiva, e isso apenas o deixou curioso. A jovem estava aborrecida com alguma coisa, e ele não conseguia entender por quê.


- Por que não posso saber seu nome? Charles sabe qual é o nome da enfermeira encarregada dele.


- Sou apenas sua enfermeira. Isso é o necessário para saber.


- Por quê?


Ela grunhiu. Ele pareceu gostar da reação dela, porque sorriu.


Por que, o que?


- Por que é o necessário?


- Se continuar me pressionando, senhor, irei me retirar.


Harry.


- Ora, aos diabos com seu nome!


Harry gargalhou com sua resposta. Isso a fez ficar ainda mais aborrecida.


- Por que o senhor ri todas as vezes que lhe respondo com má criação? Isso não é educado nem engraçado.


- Por que não me obedece quando ordeno alguma coisa?


- Porque quem manda aqui sou eu. – ela respondeu ferozmente. – E não sou sua esposa para lhe obedecer.


Então ele franziu o cenho, exatamente do jeito que ele fazia toda vez que a encontrava, quando criança. Ela se sentiu chateada, mas não sabia por quê. Nem expressou o fato.


- Algum problema, milorde?


- Nenhum.


- Então por que ficou sério quando mencionei a palavra esposa? Por acaso não gosta dela?


Ela não era nem um pouco sutil. Mas ela muito perspicaz, ele pensou.


- Não tenho esposa.


Nenhuma informação a mais para que Ginny pudesse descobrir o que ele pensava dela. Sentiu-se aborrecida porque ele não estava colaborando.


- Então repudias o casamento?


- De certo modo.


- Por quê?


Harry estava aborrecido pelo fato que falar de casamento implicaria falar de sua noiva, mas não conseguiu ficar mal humorado por muito tempo ao analisar a face curiosa, como de uma menina, em sua enfermeira. Sorriu.


- Porque estou sendo obrigado a me casar.


- Então está noivo?


- Sim.


- E não gosta de sua noiva?


A pergunta chave. Ginny não conseguia acreditar que estava se sentindo ansiosa com a resposta dele. Era como se existisse algum fio de esperança que ele gostasse dela... Mesmo que ela dissesse a si mesma que não gostava dele.


- A última vez que vi minha noiva já faz muito tempo.


- Mas... Mas o senhor não me respondeu a minha pergunta.


A resposta dele foi como o inverno mais gelado em todo seu corpo.


- Não. Não gosto de minha noiva.


Ela arregalou os olhos, mas escondeu qualquer emoção comprometedora.


- Mas o senhor disse que não a vê há muitos anos.


- Sim. – ele respondeu. – A ultima vez que vi minha noiva, ela era uma criança.


- Ela pode ter mudado.


- Ah, com certeza. – ele sorriu maldoso. – Imagino que esteja...


Mas ele não respondeu. Controlou-se a tempo.


- Que esteja o quê?


Enorme, mimada, falsa e insuportável!, Ele pensou.


- E você?


- O que tenho eu?


- É casada?


- Não senhor, mas sou noiva. – ela não sabia por que dissera a verdade.


- E gosta de seu noivo?


- Não. O detesto. – Ela disse aquilo numa tentativa absurda de que ele sentisse dor, mas lembrou-se que Harry não sabia quem era ela realmente.


- Huh. – ele sorriu ao imaginar como aquela garota armaria um inferno para o homem, se o detestasse tanto do jeito que estava falando. – E por que o detesta tanto, enfermeira?


- Porque ele arruinou a minha infância.


Aquilo não era uma total mentira. Mas teve a absoluta certeza de que Harry encarara aquela resposta de uma outra maneira. Ela percebeu isso ao vê-lo fechar o semblante e perguntar em um tom de voz frio:


- E é por isso que está obrigada a se casar com ele?


Ginny entendeu o que ele estava achando. Ela sentiu clara vontade de gargalhar na cara dele, mas controlou-se e resolveu continuar com a mentira deslavada. Afinal... quanto mais longe de sua realidade ela fosse, melhor para sua mentira fazer sentido.


- Sim, é exatamente por isso. – ela achou que estava atuando muito bem. Podia sentir até os olhos rasos de lágrimas. – É um homem realmente odioso.


Harry inclinou-se em sua cama e a estudou. Ginny se sentiu mergulhar em seus olhos por um longo momento.


- Posso detestar minha noiva, mas não admitiria que isso acontecesse nem ao menos com ela. Eu assassinaria um desgraçado desses a sangue frio.


Então ela estaria segura se casasse com ele? Humm...


- Então sabe de uma coisa? – ele perguntou.


- O quê?


- Quando esta guerra acabar, eu irei atrás de seu noivo.


Ginny sobressaltou-se.


- Você o quê?


- Eu a livrarei das mãos dele.


- Você não pode fazer isso.


- Doçura, está gritando.


- Oh. – ela controlou-se. – Desculpe-me. Mas... Mas o senhor não pode fazer isso!


- Claro que posso. – ele enfatizou. – E quer saber de uma coisa? Eu não estou disposto a fugir do acordo que fiz sobre meu casamento... Mas eu o faria se pedisse.


Ginny sentiu as pernas ficarem mole e o sangue se esvair de seu corpo. Mas de pura fúria.


- E sua noiva?


Ele deu de ombros.


- Não me importo com Ginny.


Ginny pensou em golpeá-lo com toda sua força, mas pensou que isto arruinaria seu plano. E que depois seria obrigada a cuidar dele por mais tempo, também.


- Não se faz isso com nenhuma dama, comandante!


Ele se aproximou mais um pouco dela.


- Mas que posso fazer se ela é totalmente diferente de você?


- O quê?


- Doçura, pare de gritar.


- Pare de me chamar de doçura!


Ele sorriu.


- Você é encantadora, enfermeira. E totalmente diferente de minha noiva.


- Como pode saber? Não vê sua noiva há anos!


- Ginny foi criada para ser uma dama. E para ser exatamente como a mãe dela.


Aquilo foi o auge para Ginny. Ela estava pronta para se levantar quando ele a impediu.


- E você foi criada para ser você mesma.


- Você é desprezível e vil, comandante Harry P-.


Ginny foi calada de surpresa quando sentiu a pressão dos lábios de seu noivo contra os dela.

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