Rejeição



8. REJEIÇÃO

Quando Gina acordou, viu que já estava atrasada para a aula. Já havia faltado dois dias seguidos, não podia faltar mais um. Certo, quem ficaria mal com os professores seria a Parkinson, mas e daí? Ela ainda era uma grifinória. Deu uma olhada no horário da sonserina para ver quais seriam as aulas do dia e jogou os materiais necessários na bolsa, logo depois de tomar um banho rápido. Colocou o uniforme e saiu, apressada, quando sentiu uma mão fria lhe tocar o ombro, e uma voz arrastada falar ao pé do seu ouvido:

-Onde esteve ontem Pansy?

-Lugar algum, Draco – respondeu Gina, se desvencilhando da mão do loiro e seguindo seu caminho.

-Pra quê tanta pressa?

-Tenho que ir para a aula, se não se importa.

-Antes, um beijo.

Quando Gina pensou em dizer que não tinha tempo para isso, Draco já a estava beijando, o que a fez esquecer momentaneamente de que deveria ir para a aula.

-Draco... Eu preciso ir...

-Certo – respondeu ele, limpando os lábios e se afastando.

-Espera Draco! – disse Gina, antes que pudesse impedir.

O loiro se virou, com seus olhos cinza-azulados lhe encarando, à espera de uma desculpa da morena. Mas, para piorar a sua situação, Gina não tinha nada em mente, e nem ao menos soubera o motivo de tê-lo chamado de volta.

-O que foi? – perguntou ele, com a voz mais arrastada do que o normal.

-Não, nada. Pode ir em frente.

Draco deu de ombros e saiu, mesmo ainda estando em dúvida se a namorada estava fumando algo. Gina não conseguia se mexer, e nem ao menos lembrou que deveria ir para a aula, apenas olhando os cabelos loiros mexerem de um lado para o outro, num movimento gracioso.

“Ginevra Weasley no que é que você está pensando?! Ele é um Malfoy, e um Malfoy não tem movimentos graciosos... Creio eu... Gina! Ele é Draco Malfoy! Pare de pensar essas coisas!”

***

Pansy acordou com o rosto inchado por ter chorado tanto no dia anterior, mas ainda assim acordou feliz. Nem ela mesma sabia o motivo de tanta felicidade, já que apenas dera um simples beijo no Potter, mas sabia que estava feliz, e era isso que bastava, mesmo que não tivesse motivo algum para tanto. Fez um feitiço básico para dar um jeitinho em seu rosto antes das colegas de quarto acordarem, e foi tomar seu banho, calmamente.

-Gina! Rápido com esse banho! Eu também quero entrar! – gritava Any, batendo na porta impacientemente.

Mas ela nem ouvia, já que estava ocupada demais cantando debaixo do chuveiro, tentando negar para si mesma que estava assim pelo Potter. Saiu de lá, enrolada na toalha, ainda cantarolando uma cançãozinha romântica, fazendo as suas colegas de dormitório a encararem, incrédulas. Para quem passou a tarde toda do dia anterior chorando desesperadamente, trancada no banheiro, “Gina” aparentava estar muito feliz, se não mais que isso. Colocou suas coisas (ou melhor, as coisas de Gina) dentro da bolsa e saiu, sorrindo para quem encontrasse no caminho.

Por mais que ela não soubesse, Harry estava do mesmo jeito. Notara uma grande diferença entre a Gina que namorou ano passado e a Gina que namorava no momento. Essa Gina parecia mais sensível, mais nervosa, até mesmo mais estranha, mas fora por essa nova Gina que se apaixonara. Não que não fosse apaixonado pela antiga Gina, mas essa era mais misteriosa, lhe transmitia menos confiança... Mas isso não deveria ser um ponto negativo?! Para Harry, não. Todos os adjetivos ligados à Gina eram bons, nem que um deles fosse “Comensal da Morte”.

Mas, vamos aos fatos. Pansy vinha sorridente de um lado, enquanto que Harry vinha todo sorriso também, do lado oposto. Os dois não viam por onde andavam, e acabaram se chocando, um contra o outro.

-Olha por onde anda! – disse Pansy, irritada, estragando sua felicidade.

-Gina? – disse Harry, erguendo os olhos de suas coisas para olhar os de Gina.

-Ah, é você Harry – disse ela, tentando disfarçar o quão alegre ficara pelo choque.

-Ainda precisamos conversar – comentou ele, voltando a sorrir e recolhendo suas coisas que caíram no chão.

-Acho o mesmo – respondeu Pansy, também sorrindo, pegando seus livros.

-Mas antes – começou ele, empurrando-a um pouco bruscamente para o chão e se deitando em cima dela – temos coisas melhores para fazer.

E, assim dizendo, lhe deu um beijo “daqueles”, que a fez esquecer toda e qualquer bronca que fosse aplicar no namorado, se entregando completamente ao beijo. Harry tentou não colocar todo o seu peso sobre ela, já que tinha consciência do quão pesado era, mas não teve jeito. Quando o beijo começou a se aprofundar, ele esqueceu do que deveria fazer, soltando-se, de forma que sentisse o corpo da ruiva contra o seu.

A mão direita do moreno segurava firmemente sua cintura, o que a fez lembrar momentaneamente de Draco, que deveria prender Gina da mesma forma. Já a mão esquerda dele, passeava pelas suas costas, em uma atitude não ousada, mas reconfortante. Pansy mantinha suas duas mãos no pescoço de Harry, não deixando que ele quebrasse o beijo ou se afastasse dela, numa ânsia de ter o corpo do “namorado” colado ao seu.

-Tenho que ir para a aula – disse Harry, ofegante, no curto espaço que ela lhe dera para que pudessem respirar.

-Não vá – respondeu ela, voltando a beijar o moreno.

-O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?!

***

Gina não tirou os olhos de certo loirinho durante toda a aula, o que lhe rendeu algumas cotoveladas de Blaise, que resolvera se sentar ao seu lado nas aulas para lhe ajudar.

-Gina! – chamava o moreno, baixinho, para não atrair a atenção do professor Snape, vendo que a nova amiga não tirava os olhos de Draco – Gina! – chamou de novo, dessa vez passando a mão na frente de seus olhos, a fazendo acordar do transe.

-O que foi Blaise? – perguntou a garota, fazendo cara de perdida, e fazendo Blaise revirar os olhos.

-Quer um pratinho?

-Pratinho?! – perguntou ela, confusa.

-Sim, um pratinho – disse Blaise, passando a mão esquerda no queixo de Gina, que continuava sem entender nada.

-E por que eu iria querer um pratinho?! E pare já de passar essa mão pelo meu queixo!

-Então limpa, porque está bem sujo.

-Blaise Zabine, faça já o favor de me explicar isso!

-Você precisa mesmo de um pratinho... Ou limpe logo esse rosto, porque isso está nojento!

-Poderia me explicar as propriedades dessa poção, Srta. Parkinson? – disse Snape, parando ao lado da carteira onde os dois sentavam – Ou então o Sr. Zabine, talvez o Sr. possa me explicar, e eu não descontarei pontos da Sonserina.

-Não Sr. – respondeu Gina, abaixando a cabeça.

-Então, menos cinco pontos para a Sonserina. Agora, continuando...

“Ah, sim! Eu esqueci que agora eu sou da Sonserina... E o Snape não me desconta pontos...”

-Me explica já essa história do pratinho Blaise! – pediu Gina novamente, vendo que o amigo sorria.

-É que você está babando.

-Eu?!

-Sim, você está babando pelo Draco.

-Eu não estou babando pelo Malfoy!

-Ah não?

-Não!

-Você não estava olhando para ele?

-Não!

-Tem certeza?

-Tenho!

-Absoluta?

-Bem... Quase absoluta.

-Quase absoluta, ou certeza absoluta?

-Ah, Blaise! Vá às favas!

-Você estava olhando pra ele. E não adianta fazer essa cara – advertiu ele, vendo que a amiga logo iria retrucar – Eu vi você secando ele, o.k.?!

-O.k., eu estava olhando o Malfoy, mas não a ponto de babar! Só estava reparando o quanto ele é... Só estava vendo se há motivo por todas as meninas caírem aos pés dele, só isso.

“Ela iria dizer ‘reparando o quanto ele é bonito’, que eu sei! Não adianta me mentir, Gina!”

“Ah, droga! Até o Blaise, o desligado dos desligados, já reparou que eu estou olhando pro Malfoy! Mas eu não estava! Por que eu estaria olhando pro Malfoy?! Porque ele é bonito, é claro... Não, ele não é bonito! Ele é lindo, gostoso, sexy... Mas é um Malfoy, e isso anula toda e qualquer qualidade que ele tenha... E quem disse que o Malfoy tem alguma qualidade?! Além de ser lindo, gostoso e sexy, ele não tem nenhuma! Ah não, meu Merlin! Me ajude!”

***

Harry se levantou de um pulo, estendendo a mão para que a namorada se levantasse também. Os dois estavam vermelhos, mas Rony superava todas as expectativas de “vermelho”. Sua respiração estava pesada, sinal de que ele estava com raiva.

-ALGUÉM QUER ME EXPLICAR O QUE O MEU MELHOR AMIGO ESTÁ FAZENDO EM CIMA DA MINHA IRMÃ?!

-O SEU MELHOR AMIGO ESTÁ EM CIMA DE NAMORADA DELE E ISSO NÃO TE DIZ RESPEITO! – gritou Pansy de volta, mais para defender Harry do que por raiva de Rony.

-DESDE QUE A NAMORADA DELE É A MINHA IRMÃ MAIS NOVA ME DIZ RESPEITO SIM!

-NÃO DIZ!

-DIZ SIM!

-NÃO DIZ!

-DIZ SIM!

-NÃO DIZ!

-DIZ SIM!

-PAREM JÁ COM ISSO! – gritou Harry, fazendo Pansy lembrar-se de Blaise, quando ele presenciava alguma discussão entre ela e Gina – Rony, eu não estava fazendo nada demais com a Gina...

-NADA DEMAIS?! HARRY VOCÊ ESTAVA QUASE COMENDO A GINA NO MEIO DA SALA COMUNAL!

-O HARRY NÃO ESTAVA QUASE ME COMENDO!

-EU NÃO ESTAVA QUASE COMENDO ELA! – até mesmo Harry, o mais calmo dos três, perdeu a linha ao ouvir tamanha bobagem.

-HARRY VOCÊ ESTAVA BEIJANDO A GINA EM CIMA DELA!

-COM O MEU CONSENTIMENTO! E AGORA SE MA DÁ LICENÇA EU TENHO AULA! VAMOS HARRY!

-Mas eu ia com o Rony... – murmurou ele, em vão, vendo Gina ir para um lado e Rony ir para o outro, sem nem ao menos lhe esperar.

***

O restante da tarde passou sem graça, sem que nem Draco e Gina, nem Harry e Pansy voltassem a se falar. Para ajudar, chovia como se o céu fosse cair a qualquer momento, não deixando que nenhum dos quatro fizesse algo mais que ficar em suas respectivas Salas Comunais, estudando ou lendo alguma coisa, sendo que Blaise (que está fora do quarteto) passou a tarde toda dormindo.

Já estava anoitecendo quando parou de chover, e Gina resolver dar um passeio no jardim. Saiu de seu quarto cuidadosamente, procurando não fazer barulho para que não fosse interrompida em sua tarefa, e conseguiu sair sem chamar a atenção de nenhum sonserino.

Caminhando pelos corredores, ela se dirigiu até a beira do lago, sentando-se e ficando ali, a observar as águas, que se mexiam com o vento. Pensava em tudo o que estava acontecendo, mas sempre acabava chegando em Draco. Se pensava no rolo em que estava metida com Pansy, logo lembrava que o loiro deveria ser namorado da outra, e não dela. Se pensava que arrumara dois novos amigos com essa confusão, logo lembrava que Pansy e Blaise eram amigos de Draco. Se pensava que Pansy deveria estar aproveitando ficar com Harry (porque até ela e Blaise, os mais desligados, já haviam percebido que o casal tinha química, mais do que ela teria com Harry), lembrava-se de que ela também estava aproveitando ficar com Draco. Se lembrava que...

-Vai se molhar – disse uma conhecida voz atrás de Gina, fazendo-a pular de susto.

-Quase me mata do coração, Draco – exclamou Gina, só notando agora que começava a garoar.

-Vamos voltar pro castelo – disse ele, estendendo a mão para que a morena a segurasse.

-Acho que vou ficar aqui mais um pouco – determinou ela, sem desviar o olhar para o lago, com medo de precisar novamente de um pratinho.

-Não, vamos voltar – determinou ele, num tom de quem não aceitava um “não” como resposta.

Gina deu um longo suspiro e aceitou a mão que o namorado lhe oferecia, caminhando juntos de volta para o castelo. Os dois andavam de mãos dadas, em um silêncio que chegava a ser constrangedor até mesmo para Draco, que sempre tinha as palavras certas na ponta da língua. Parecia que ele simplesmente não sabia o que falar perto da garota, o que o deixava irritado. Gina sempre fora meio nervosinha quando o assunto eram garotos, portanto, não se sentiu diferente dessa vez. Ambos entraram no castelo, já totalmente molhados, sendo que a chuva começava a aumentar, deixando o céu negro e sem estrelas. Ainda juntos, os dois chegaram até o quarto de Pansy.

-Boa noite, Draco – desejou Gina, se virando para entrar no quarto.

Mas Draco não respondeu, o que a deixava irritada. Odiava ser ignorada, ainda mais se fosse por Draco Malfoy. Se virou, para dizer que era feio não responder aos outros, mas se deparou com aqueles olhos cinzas, que a deixava embriagada.

Por mais que Gina não admitisse, os olhos de Malfoy a hipnotizavam de tal modo, que preferia não olhar. Desviou então os olhos dos dele, olhando para cima, vendo os cabelos dele, totalmente bagunçados, pingando. Sua expressão era neutra, e não demonstrava sentimento algum. Não, era pior olhar para os cabelos de Draco, assim, tão diferentemente encantadores, o que a fez desviar o olhar novamente, parando em seus lábios.

-Eu preciso de um pratinho... – murmurou Gina pra si mesma, enquanto olhava para a boca de Draco como imã em metal.

-Precisa do quê? – perguntou Draco, sedutor, se aproximando mais e colando o seu corpo no da morena.

-Preciso...

Parecia que Draco gostava de interrompê-la, já que sempre que ela estava para falar alguma coisa, ele a beijava. As línguas se exploravam, deixando o beijo mais quente, aumentando o desejo de ambos.

“Preciso de você” completou Gina em pensamento.

As mãos de Draco apertavam a cintura de Gina, enquanto que as de Gina bagunçavam mais o seu cabelo, deixando seus dedos molhados. Draco a prensou contra a parede, mas ela não tinha forças (física e psicologicamente) para afastá-lo, deixando que uma das mãos do loiro subissem sua saia.

-Vamos entrar – disse Draco, ofegante.

Gina apenas assentiu, ao ver que o loiro afastava seu corpo do seu para que ela passasse. Disse a senha e entrou, sem saber ao certo se deveria fazer o que estava prestes a fazer. Lembrou-se de Blaise, e lembrou-se de que não estava em seu próprio corpo.

“Ah, que se dane! Quem mandou o Blaise fazer essa aposta?! E, vamos ser sinceros, a Pansy não dever ser virgem, não é?!”

Ao ver que a garota fechou a porta, Draco a segurou pela cintura e a jogou na cama, caindo por cima dela e a beijando logo em seguida. A sensação que os lábios de Draco causavam na pele de Gina era incomparável, e ela soube no momento em que o loiro tocou seu pescoço que era aquilo que ela queria, e tinha certeza de que não se arrependeria depois (talvez porque a primeira vez dela não fosse em seu próprio corpo, sei lá) se dormisse com Malfoy. Queria aquela noite, mais do que poderia imaginar.

-Você tem certeza? – perguntou Draco, enquanto subia uma mão pela sua blusa.

-Tenho.

Ele sorriu, e voltou a beijar o pescoço da namorada, fazendo-a se arrepiar toda. Uma de suas mãos desabotoavam a blusa de Gina, enquanto ela fazia o mesmo. Com um pouco de dificuldade (devido aos lábios não quererem se desgrudar), a garota conseguiu tirar a blusa dele, mas não esperava a reação que Draco teve ao ver sua roupa no chão do quarto. Pelo jeito, nem ele esperava. O loiro ficou olhando de Gina para a camisa no chão por algum tempo, deixando a namorada confusa. Por mais estranho que isso possa parecer, Draco se abaixou e pagou sua camisa do chão, a recolocando no lugar certo e caminhando em direção à porta, deixando Gina mais confusa do que já estava.

-Draco...

-Desculpa, Pansy. Eu... Eu não posso. Me desculpe... – murmurou ele, antes de sair do quarto, batendo a porta atrás de si.

“Draco Malfoy negou fogo?! Essa é nova!” pensou Gina, abotoando novamente sua blusa, lutando contra as lágrimas que teimavam em vir até seus olhos.

***

“Draco Thomas Malfoy o que foi aquilo?! Você simplesmente tem que cumprir essa aposta! Volte até lá a durma com a Pansy!”

Draco caminhava devagar, totalmente disperso do mundo ao seu redor, perdido em pensamentos. Não conseguia acreditar que havia deixado uma garota sozinha e sua cama, depois de muito insistir para que ela dormisse com ele. E o pior: estava prestes a perder os vinte e cinco galeões que havia conseguido. Mas simplesmente, não conseguia. Ela queria dormir com ela, e sabia que não era apenas pela aposta com Blaise, já que Pansy era muito atraente. Mas não conseguiu.

“Draco Malfoy, você é um broxa” concluiu ele, rumando para seu dormitório de monitor-chefe.

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