Capitulo 4



CAPÍTULO IV

Hermione jamais se sentira tão ameaçada. Ao sair do apartamento na manhã seguinte, deparou com o odiado carro azul em frente ao prédio. O que a decidiu à ação foi o cinismo estampado no rosto de Eriksno.

Incapaz de controlar-se, Hermione abaixou e apanhou no canteiro de cactos uma pedra de bom tamanho, atirando-a com toda a força na direção de Erikson. Ele demonstrou surpresa e abaixou-se, porém não teria sido necessário. Hermione nunca treinara arremessos de beisebol, e esse fato ficou claro pela pontaria demonstrada. A pedra caiu um pouco antes do alvo. Para o lado direito.

Prometeu a si mesma que o próximo projétil atingiria em cheio aquele sorriso irritante, e abaixou-se para escolher mais duas pedras avantajadas e arredondadas. Começou a correr para aproximar-se, preparando o primeiro arremesso de uma distância mais curta.

Talvez o brilho que ela apresentava no olhar, talvez o medo de ser atingido; o fato é que Erikson acelerou e partiu, cantando pneus.

Hermione parou de correr, e ficou ali na calçada, um dos braços no alto, com a pedra na mão, o corpo tremendo, os olhos postos no sedan azul que dobrava a esquina. Não sabia se era raiva ou medo, mas o sentimento de ter afugentado o inimigo a inebriou. O sujeito era mesmo desequilibrado. Maluco! E o pior é que não podia fazer coisa alguma para detê-lo.

Deixou as pedras no lugar onde as apanhara, voltou para o carro e foi para o trabalho. Sabia que o maldito carro azul a estaria esperando por lá. Dito e feito. Lá estava Erikson, com o mesmo sorriso cínico de sempre. Quando saiu do carro, Hermione tremia outra vez. Depois de trancar o carro, lamentou não haver nas imediações nada que pudesse atirar sobre ele. Ele alargou o sorriso enquanto observava o andar de Hermione com olhos obscenos.

- Não pode fazer nada, gostosa. Desta vez não tem nenhuma pedra aqui por perto – provocou Erikson.

Ela parou, os joelhos fraquejando, de raiva e de medo. Aproveitou a força dos sentimentos para encerá-lo bem nos olhos.

- Se você não parar agora, vai se arrepender depois – afirmou ela.

- É mesmo? E o que é que a mocinha zangada vai fazer?

- Espere, e vai ver, sr. Erikson – disse Hermione, com um sorriso encantador, como se já o enxergasse no uniforme da prisão.

Voltou-se e entrou na portaria. Os olhos do segurança estreitavam-se, olhando diretamente para o carro azul.

- Eu o vi quando cheguei. Telefonei para o chefe, que estava em reunião com o senhor Lancaster – informou ele. – Estão pensando em alguma forma de lidar com o problema.

- Só se for com uma bomba! - afirmou Hermione, ainda alterada. – Acho que é o único jeito de parar esse sujeito. Parece que ele não dorme, não come, não paga aluguel, e consegue gasolina de graça, porque a única coisa que faz o dia inteiro é ficar atrás de mim. E não vai parar. A lei não pode fazer nada, e ele sabe muito bem disso.

- Sua mãe não é casada com um ricaço em algum lugar da Europa? – indagou o rapaz.

- Ela é esposa de um nobre inglês, que também é milionário – corrigiu Hermione.

- Não poderia contratar um profissional para acertar o cara? – sugeriu o porteiro, baixando a voz.

Ela não conseguiu conter a gargalhada.

- Acho que não vale a pena... E para de ficar assistindo esses policiais na televisão.

Ainda sorrindo, Hermione voltou-se, dirigindo-se para os elevadores.

- Vale a pena pensar nisso – disse a voz dele, de longe.

Depois que se fechou no escritório, descobriu que tinha pela frente um dos dias mais agitados do ano. Não saiu nem para almoçar, pedindo para que uma das secretárias fosse buscar um sanduíche, e comendo-o em frente ao monitor do computador. Se Erikson pretendia cozinhar os miolos em seu carro o dia inteiro, melhor pra ela. Simplesmente fingiria que ele era invisível. Harry tinha razão: o homem pretendia apenas mexer com seus nervos, desequilibrá-la. Se quisesse machucá-la, tinha tido várias oportunidades para fazer isso. Bastava manter a sanidade mental, e se possível, ignorar o homem. Um belo dia ele encontraria coisa melhor para fazer do que ficar dentro do carro, embaixo do sol.

Harry esperava por ela quando chegou ao apartamento. Desta vez, estranhamente, Erikson não a seguira do trabalho para casa. Contudo, ela tinha certeza que ele se encontrava em algum lugar, espionando cada movimento.

- Pegue suas coisas e vamos embora – convidou ele animado. – Vamos jantar antes de ir para a academia.

- Você não precisa se...

- Vamos só comer um hambúrguer, Hermione. Não é nenhum jantar a luz de velas. Eu queria conversar um pouco com você. Pegue suas coisas, sim?

- Está certo – ou ela, cansada demais para protestar.

Ao entrar em casa, notou que Harry transmitia uma agradável sensação de proteção. Apanhou a sacola com o uniforme no armário, e dirigiu-se ao banheiro. Depois de retocar a maquiagem, ligou a secretária eletrônica. Trancou a porta e desceu, sentindo-se leve como uma adolescente.

Harry parecia preocupado, e apesar de haver anunciado a conversa, mal trocou uma palavra com ela enquanto percorriam o trajeto até uma lanchonete próxima. Pediram sanduíches, batatas fritas e café.

- Você está preocupado, não está? – quis saber ela, dando um gole no café.

Os olhos verdes estudaram-na, enquanto a cabeça fazia um breve sinal afirmativo.

- Mandei um amigo fazer um levantamento da ficha de Erikson, Hermione. Ele foi preso por matar um homem, quando estava na polícia Militar. Acabou se livrando da acusação, mas permaneceram dúvidas, porque havia um certo envolvimento racial no caso. A vítima foi um negro.

- Ufa!

- Calma, ainda não acabei. A coisa piorou depois. Ele cobriu seus passos com perfeição, ou jamais teria trabalhado em nenhuma firma de segurança. Esteve na cadeia três vezes pelo mesmo motivo, sob acusação de assalto, e as três vítimas acabaram retirando as acusações. Três mulheres. Jovens. Duas delas alegaram inicialmente estupro, só que ficaram amedrontadas demais para levar o caso a julgamento.

Hermione percebeu que o sangue lhe fugia do rosto. Estava com medo. Não se considerava uma pessoa medrosa, mas aquele ponto do estupro era assustador. Apavorante. Desistiu das batatas, e terminou seu café de um só gole.

- Sua mãe mora na Europa – começou Harry, sabendo que abordava um ponto sensível. – Por que não vai passar uma temporada com ela? Sei que vocês duas não se dão muito bem, mas se isto não é uma situação especial, então não sei o que é. Em pouco tempo posso cuidar de Erikson. Basta uma visita curta.

Hermione espantou-se, ao ver a mãe mencionada pela segunda vez naquele dia, relacionada à solução do problema. Será que imaginavam que ela não era capaz de se cuidar sem a mamãe?

- O que está me propondo, eu chamo de fugir – declarou ela, os olhos brilhando. – Engraçado... você é a segunda pessoa que fala sobre, minha mãe hoje. A primeira foi o segurança da portaria. Só que ele sugeriu que ela emprestasse dinheiro para contratar um assassino profissional. Para acabar com o problema.

- Mas que sugestão interessante. – comentou Harry, com os olhos brilhando.

- Pare com isso, Harry! Afinal, você trabalhou para o governo.

- Eu só estava brincando, Hermione. Já tive minha cota de sujeira... Você não vai mesmo para a Europa, vai?

- De jeito nenhum. Não pretendo fugir. Ele não vai me transformar em covarde, nem fazer com que eu me afaste da minha casa e do meu trabalho, não importa o que tenha feito antes.

- Você sempre foi corajosa, Hermione – observou ele, sorrindo.

- Um pouco demais para o seu gosto, certo?

- Já que não pretende viajar, que tal assumir um compromisso?

- O que está imaginando?

- Um lugar mais seguro...

- Não vou morar em nenhum hotel, nem pensionato para moças.

- Não era bem isso que eu tinha em mente.

Ela hesitou, a cabeça trabalhando com rapidez. Era como se pudesse ler a mente de Harry.

- Quer que eu fique na sua casa? É isso? Você é um amor, Harry, mas eu não poderia...

- Não quero morar junto com você – interrompeu ele. – Eu expliquei a situação ao seu zelador, e ele vai me alugar o apartamento ao lado do seu.

- Ah... – fez Hermione, sem graça.

A verdade é que ele fora claro ao declarar não desejar morar com ela. Talvez não fosse uma boa idéia, mesmo. Ainda assim, a firmeza com que Harry respondera a pegara de surpresa.

- Se você se mudasse para o meu apartamento, ninguém iria reparar – disse ela, surpreendendo a si mesma. – As pessoas não ficam mais fazendo julgamentos da moral alheia.

- Quer fazer uma aposta?

- Tudo bem, então mude para o apartamento vizinho – respondeu Hermione, dando de ombros. – Não quero você lá em casa, mesmo. Provavelmente iria me seduzir.

- Pode ficar tranqüila – garantiu Harry. – Sou muito cuidadoso com meu corpo. Deve ter notado que eu o mantenho em boas condições, e para dizer as coisas sem rodeios, as mulheres sempre me procuram. Mas não durmo com todas as que me procuram.

- Não? – indagou Hermione, arregalando os olhos.

- Não. Nos dias de hoje, isso se tornou uma prática perigosa, mesmo com o uso de preservativos.

- É verdade. Por isso mesmo eu não tenho parceiro nenhum – admitiu ela, baixando os olhos.

Quando olhou outra vez, reparou num brilho diferente nos olhos verdes.

- Já chegou perto? – quis saber Harry, com voz suave.

- Só com você, naquela noite – respondeu Hermione, em tom carinhoso.

Os olhos de ambos denunciaram a saudade que sentiam daquela ocasião marcante. Harry colocou as mãos nos bolsos, pois cada detalhe ficara impresso em sua memória, embora tivesse sido uma experiência inocente. A verdade é que, não estava pronto para o casamento, não teve coragem de deflorar uma menina ingênua como Hermione. Embora a intimidade deles fosse total e devastadora. No dia seguinte, Rony intrometera sua colher torta e estragara tudo. A relação terminara para sempre.

- Sabe que às vezes tenho altas crises de consciência por sua causa? – confessou ele, de repente.

- Isso me surpreende muito. Sempre imaginei que eu fosse apenas um número a mais...

- Nem por sombra – afirmou ele, fitando-a com intensidade. – Eu mesmo sugeri que ficássemos noivos, mas a verdade é que você queria casar, e eu, não. Esse foi o verdadeiro problema. Acho que foi o motivo pelo qual acreditei em Rony, e não em você.

- Foi exatamente o que minha mãe disse.

- Acho que de vez em quando ela é bem esperta, sua mãe.

- Foi a primeira vez na minha vida que eu me lembro dela agindo como mãe de verdade – recordou Hermione. – Precisei muito dela, e ela estava lá para me apoiar. Mesmo que tenha sido pouco, foi bem na hora que eu estava precisando. Ainda assim foi difícil pra mim.

- Posso garantir que para mim também não foi nada fácil.

Ela deu de ombros.

- Você queria terminar e conseguiu.

- Eu só não queria casar. Isso não significa que eu quisesse terminar o relacionamento. Continuei envolvido da mesma forma. Sofri muito.

- Pois isso é uma coisa difícil de imaginar, Harry. Você não levava nada a sério, quanto mais nosso noivado – comentou ela.

- Acho que você ficaria surpresa se soubesse... – disse ele, enigmaticamente. – O apartamento que o zelador arranjou não é muito grande, mas gostei da vista. E fica bem ao lado do seu, para o caso de Erikson tentar alguma coisa.

Ela não gostou nem um pouco das novidades sobre o perseguidor. Saber as coisas que o sujeito fizera não contribuiu nem um pouco para refrear a morbidez de sua imaginação.

- A gente poderia se arranjar melhor se você mudasse para o meu apartamento. Tenho dois quartos separados, e sei cozinhar.

- Também sei cozinhar – ofereceu Harry, ignorando o convite. – E não tenho medo de aspiradores de pó. O último que comprei durou o mês inteiro.

- Um mês inteiro?

- É, as malditas coisas parecem elefantes descartáveis. Não se pode puxar pela tromba, nem se pode empurrar os móveis. Quando empaca, se a gente puxar com um pouco de força eles desmontam na hora.

Ela riu esquecendo Erikson por alguns instantes.

- Será que pode me ajudar com a mudança esta noite? – pediu Harry.

- Se tivermos tempo para isso, terei o maior prazer em ajudar – garantiu Hermione, imaginando o elevador lotado de mobília. – Existe alguém que se importaria se você ficasse em meu apartamento?

- Está querendo saber se existe uma mulher?

- É.

- Não. Não existe nenhuma outra mulher.

- Entendo...

- Provavelmente não entende – sorriu Harry. – Mas mesmo assim, temos um encontro marcado na academia. Vamos cair no chão durante um par de horas.

- Ainda estou dolorida da última vez – protestou ela, levantando-se.

- E olhe que nem começamos com o saco de areia – suspirou ele.- Acho que precisa tomar umas vitaminas.

- Tem toda razão – concordou Hermione, resignada.

As quedas de lado e de costas pareciam continuar para sempre, porém naquela noite Harry começou a ensinar também a posição das mãos. Quanto mais ela aprendia sobre economia e eficiência de movimentos, mais ficava fascinada. Conseguiu entender por que tantas pessoas apreciavam o esporte. Naquela noite, reparou que havia muitas mulheres na academia, assistindo uma aula dada por Tony, o gerente.

- Elas estão fazendo muito mais que nós – comentou Hermione, assim que o fôlego permitiu.

- Claro que estão. As aulas de Tony começaram há duas semanas, e ele já deu bastante material. E trata-se apenas de movimentos básicos, sobre como chutar o peito do pé do adversário com o calcanhar, ou a melhor forma de dar uma joelhada na virilha de um atacante. Você vai aprender muito mais que isso, portanto vamos demorar mais tempo.

- Certo.

- Posso dizer que você é uma ótima aluna – afirmou Harry. – Está se adaptando como um patinho aprendendo a nadar.

- Por que nunca me ensinou nada disso quando estávamos juntos? – quis saber Hermione.

Ele a encarou antes de responder.

- Porque era quase impossível para mim manter as mãos longe do seu corpo. Uma aula desse tipo, tocando seu corpo, seria demais para meu controle.

Ela refreou a pergunta que lhe veio imediatamente à mente, sobre como era possível manter o controle agora. Com certeza não a desejava mais.

- Só que você nunca quis realizar nada. Só naquela noite...

Ele aproximou-se, para que os outros não ouvissem. Sentiu-lhe o calor do corpo.

- Eu desejava você dia e noite, Hermione. Era quase uma obsessão...só que você era ingênua demais para reparar nisso.

- Devo ter sido ingênua mesmo – concordou ela. – Mas isso não parece incomodar você agora.

- Estou mais velho. E bem mais experiente – disse Harry.

- Claro que sim...

Os olhos de Hermione esfriaram.

Harry virou-se. Não queria que ela percebesse seu estado. O ciúme que enxergava nos olhos dela quase o deixara fora de controle. Isso na verdade não significava muito, pois ela também estava mais controlada, e não demonstrava vontade alguma de envolver-se com ele. Era preciso manter isso em mente, e não ser otimista na interpretação das reações de Hermione.

- Vamos tentar o último exercício de novo – sugeriu ele, mudando de assunto.

Posicionou-a no tatame, e convidou-a a derrubá-lo. Com eficiência, Hermione repetiu os movimentos aprendidos, sem, no entanto conseguir seu intento. Harry evitava seus movimentos, com um sorriso nos lábios.

- Assim não é justo, Harry. Você é faixa preta – reclamou ela, ofegante. - E não está cooperando nem um pouco.

- Tudo bem, pode vir – disse Harry permanecendo imóvel.

Ela colocou toda a vontade no movimento, avançando com uma perna, a outra forçando o equilíbrio dele, e tirando-o do chão. Contudo, calculou mal a própria estabilidade. Caiu sobre ele.

- Você não deve cair junto com a vítima – explicou ele fazendo força para conter o riso.

Não demorou muito para que a vontade de rir desse lugar a outros sentimentos. Ela ficara surpresa demais para mover-se permanecendo como estava. Uma das pernas estava entre as dele, os seios achatados contra o peito dele, as mãos segurando-lhe a cabeça. Hermione constatou que era uma posição confortável, e então percebeu a intimidade corporal que compartilhavam. Harry ficara excitado.

- Pode me ajudar? – pediu ela arfando.

- Por que não? Afinal, você me ajudou a levantar... – respondeu ele, com voz rouca, que tornou sensual a vulgaridade.

- Harry!

Ele riu enquanto ela saltou de cima de seu corpo, levantando-se com rapidez, o rosto afogueado.

- Felizmente para nós dois, esses uniformes são largos e compridos – comentou ele, erguendo-se.

- Você foi grosseiro – reclamou Hermione, afastando os cabelos castanhos dos olhos.
- Acho que você pode considerar uma espécie de elogio. Afinal, essa situação não é tão fácil de criar quanto você possa imaginar. Pelo menos com outras mulheres...

- Quero ir para casa.

- Tudo bem, mais vai perder a melhor parte. Agora eu ia ensinar como chutar a virilha de um assaltante.

- Pode fazer isso qualquer outra hora – respondeu ela.

- Era brincadeira, Hermione...

- Pois eu não achei nem um pouco engraçado.

- Está certo, pegue suas coisas, e vamos passar no meu hotel. Quero apanhar as coisas.

- Você acha que Erikson pode desistir? – indagou ela, esperançosa.

- Não, infelizmente, não acho que ele vá desistir.

Pelo brilho nos olhos verdes, Hermione percebeu que ele falava sério.


O quarto de Harry ficava no sexto andar de um velho hotel no centro da cidade, e a decoração tinha o clima da década de vinte. Tratava-se de um local escuro, com um certo ar de decadência.

Hermione reparou que as coisas de Harry mal enchiam uma mala.

- Só isso? – indagou ela, quando ele saiu do quarto com uma mala de tamanho médio e um terno protegido por uma capa de náilon.

- Só. Nunca levo muita coisa comigo.

- Certo, mas você deve ter mais posses, mais roupas!

- Tenho mesmo. Estão na casa de Bob e Connie.

- Claro. Eu tinha esquecido. Você não iria carregar suas relíquias de família pelo mundo afora...

- Falando de relíquias de família, o que você fez com o anel de esmeralda que eu te dei de presente?

- Você acha mesmo que eu iria manter uma jóia que me lembrasse você, depois de tudo o que fez?

- Acho.

Ela olhou para ele, estudando-lhe a expressão.

- Tive vontade de jogar fora – confessou Hermione.

- Não teria culpado você – comentou Harry. – Mas estou contente que não me odiasse o suficiente para fazer mesmo uma coisa dessas.

- É um anel muito bonito.

- Mas você não usa mais.

- Faz parte do passado. Eu queria começar as coisas outra vez. Fui para a universidade, vivi bem lá, e quando saí formada em Relações Públicas, consegui um emprego na mesma hora. Tenho tido muita sorte.

- Mas está sozinha – observou ele.

- Eu pensei muito, e preferi assim, pelo menos no início da carreira. Quando achar que estou pronta, começo a procurar um marido.

- Tem algum candidato em mente? – quis saber Harry.

- Mack – respondeu ela, com uma rapidez que espantou a si própria.

- Não me diga!

- Ele é um homem estabelecido, e possui segurança financeira. Além disso, é uma companhia agradável.

- Você iria encolher como uma uva passa se ele tocasse em você. Vi a forma como se encolhe quando ele se aproxima.

- Não é verdade!

- Hermione, você não sabe nada sobre a tecnologia moderna de vigilância? Talvez seja melhor assim. Eu detestaria deixar você envergonhada dizendo que fica uma gracinha quando dança nua em seu quarto.

Ela arregalou os olhos, e o rosto tornou-se escarlate.

- Seu pervertido!

- Juro que foi um acidente – alegou ele, levantando a mão direita, como se estivesse no tribunal. – Foi pelo espelho. O espelho refletiu toda a cena no quarto...

Ela golpeou, sem aviso. Ainda assim, Harry foi capaz de esquivar-se a tempo. Continuou falando, como se nada tivesse acontecido.

- Você estava linda. Os cabelos castanhos soltos, que combinaram tanto com seu tom de pele...parecia uma ninfa dançando no bosque. Não consegui dormir a noite inteira, depois daquilo.

Ela estreitou os olhos, contendo a raiva.

- Odeio você!

- Escute, Hermione – disse ele, com voz terna. – Não vi nada que eu não tivesse visto antes. Sei que não gosta de lembrar disso, mas é a verdade.

- Se eu soubesse o que iria acontecer depois, que você preferiu acreditar nas mentiras do Rony...

- Você nunca deixaria que eu tocasse você. Sei disso.

Hermione ajeitou o casaco por sobre o uniforme.

- De qualquer forma, tenho vergonha do que aconteceu naquela noite.

- Não sei por quê. – respondeu ele, magoado. – Estávamos noivos. A maior parte dos noivos faz amor, e nós nem fomos até o fim.

- É verdade, mas fazem amor quando realmente planejam casar-se. Foi por isso que você se controlou antes, não foi? Porque nunca teve a intenção de casar.

- Confesso que pensei nisso uma ou duas vezes, mas você queria tanto o anel, a cerimônia de noivado, que eu resolvi fazer seu desejo. Mas eu sabia que não seria um bom marido, até matar minha sede de aventuras. Tentei explicar tudo isso, mas você era tão jovem.

- Jovem e burra – completou ela. – Completamente apaixonada.

- Apaixonada, uma ova. Você queria dormir comigo.

- Claro que queria – admitiu ela. – Mas não era só isso.

- Você só tinha dezoito anos – lembrou Harry, dirigindo-se para a porta. – Bem, de qualquer forma isso são águas passadas. Temos coisas mais importantes para pensar, agora.

- Claro – concordou Hermione, abrindo a porta para que ele passasse.

Ele deixou a mala no chão, apagou as luzes e trancou cuidadosamente a porta. Mais tarde conversaria com o gerente sobre sua breve ausência, a fim de certificar-se que o lugar continuaria a sua disposição. Pagaria o aluguel adiantado. Com um pouco de sorte, Erikson seria uma recordação desagradável em poucos dias.

Mantiveram-se em silêncio, observando as luzes da cidade até chegarem ao prédio de Hermione. O carro azul não estava ali. Subiram, e Harry usou a chave para abrir o apartamento contíguo ao dela. Era um pouco menor, mas em compensação a vista do Álamo era melhor, e o imóvel acabara de ser decorado. Os tons eram uma combinação de verde e marrom o que de alguma forma parecia ajustar-se a Harry.

- Gostei –comentou ele, olhando ao redor. – Moramos perto o suficiente para cozinharmos num apartamento só? O que acha? Você cozinha numa noite e eu cozinho na outra.

- Seria bom.

- Mas não pode dormir aqui. Não adianta implorar, nem chorar. Não permito mulheres nesse quarto. É muito difícil mandá-las embora, depois.

- Não sabia que você era homossexual – comentou ela com sarcasmo.

- Engraçadinha. Também não admito homens, ainda que seja mais fácil expulsar um homem do que uma mulher.

- Aposto que é mesmo.

- Que tal experimentar? – sugeriu ele, oferecendo-se.

- Você nunca fala sério?

- Quando eu falo sério, as pessoas não me levam a sério.

Os dois se encaravam, e Hermione precisou morder o lábio para não pedir que ele a beijasse ali mesmo. Mas sabia que acima de tudo, não devia encorajar Harry. Virou-se para a porta.

- Vou deixar você à vontade, para se instalar. Estou cansada, e quero ir para a cama.

Ele abriu a porta para que Hermione passasse.

- Já verifiquei esse lugar. O quarto onde você dorme fica na mesma parede que o meu. Se raspar ou bater qualquer coisa na parede, vou escutar. Não tenho sono pesado. Nunca.

- Obrigada. É bom saber disso.

- Use um roupão, sim – pediu ele. – Preciso vigiar você para sua própria proteção. Não torne as coisas mais difíceis para mim, certo?

- Acho que vou usar uma armadura – respondeu Hermione por sobre o ombro. – Durma bem, Harry.

- Você também.

- Só quero mesmo um bom banho quente... – ela interrompeu-se olhando esperançosa para ele.

Harry suspirou.

- Certo. Eu desligo a câmera quando escutar o chuveiro. Está bom assim?

- Você não precisa de nenhuma câmera no banheiro! – protestou ela.

- Engraçado, o último sujeito que protegemos disse a mesma coisa. Conseguimos umas fotografias interessantes dele com uma garota...

- E como é que está vivo ainda?

- Não foi falta de esforço dos irados contribuintes, isso eu posso garantir. Durma bem, minha pequena. Basta gritar, que eu apareço correndo.

- Eu vou gritar se você não desligar essas malditas câmeras – ameaçou ela.

- Estraga-prazeres...

- Eu não assisto seus banhos.

Ele não sorriu como ela imaginara. Os olhos verdes prenderam-se aos dela, e a intensidade do olhar provocou em ambos um arrepio.

- Quer assistir?


Obs: Ai estão os capitulos!!!!Espero que tenham curtido!!!!E mais uma vez me desculpem pela demora!!!Bjux!!!!!

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