Capitulo 2



CAPÍTULO II

Hermione recostou-se em sua poltrona, tentando relaxar o máximo possível para compensar o coração disparado no peito. Forçou um sorriso, quase tão casual quanto o de Harry.

- É verdade. É um mundo pequeno. O que posso fazer por você, Harry?

- Seu chefe disse que teve problemas com um dos seguranças.

- Oh...

Harry enfiou as mãos nos bolsos, pois não sabia o que fazer com elas.

- Então?

Ela soube que ele não tinha vindo especialmente para procurá-la. Era apenas uma relação comercial. Esse fato não deveria deixá-la desapontada, pois fazia cinco anos que ele desaparecera de sua vida.

Mas a verdade é que ficara desapontada.

Ele não fumava mais. Nos velhos tempos, sempre havia um cigarro na mão. Talvez não permitissem que agentes secretos fumassem, ou tivessem algum vício capaz de denunciar sua presença.

- Acontece que o sr. Erikson achou divertido fazer observações vulgares sobre mim – disse ela finalmente, tentando parecer ocasional.

- Diga ao sr. Erikson para não fazer mais.

- Já disse. Ele diz que não sabe por que eu me ofendo. Afinal eu sou uma mulher. Ele afirma que as mulheres foram criadas para o prazer dos homens.

- Certo. Que idade tem esse senhor que estamos discutindo?

- Acho que está perto dos cinqüenta.

- Já está em idade de saber se comportar melhor.

- Espero que você deixe isso bem claro. Cheguei bem perto de apresentar queixa contra ele.

- Por quê?

Ela hesitou. Na verdade não desejava discutir o assunto com Harry.

- Já fomos amigos, lembra? – insistiu ele.

- Ele fez algumas observações sobre o tamanho das minhas roupas de baixo, e queria saber se eram pretas – disse ela de uma vez só. Parou para tomar fôlego, depois continuou: - Depois ele disse que compraria peças intimas para mim se eu as vestisse para ele.

Harry não gostou do que ouviu. Sua expressão demonstrou desprezo pelo sujeito.

- Acho que vou ter uma conversinha com ele. Se acontecer outra vez, venha falar comigo, sim?

Ela levantou a cabeça, sustentando o olhar dele.

- Se acontecer de novo, pretendo apresentar queixa contra ele na delegacia. Ninguém deveria ser obrigado a escutar esse tipo de abuso no lugar em que trabalha. Esse é um bom emprego. Não quero perdê-lo.

- Não vai perder o emprego – garantiu Harry, voltando-se na direção da porta. Parou com a mão na maçaneta e encarou Hermione. – Como vai sua mãe?

- Não tenho a mínima idéia. A última vez que soube dela, estava morando na Dinamarca. Com o quarto marido – respondeu ela com frieza.

Harry despediu-se e saiu.

Hermione só então percebeu a dor. As unhas das mãos crispadas machucavam os pulsos. Abriu-as, para descobrir que estavam molhadas de suor e trêmulas. Fazia muito tempo que não ficava com os nervos abalados daquela forma, com nenhum assunto. Nem os exames finais da faculdade a tinham deixado naquele estado. Naturalmente, Harry era pior do que qualquer exame.

Tentou concentrar-se no trabalho, mas sua mente retornava sem cessar ao tempo agitado antes que Harry deixasse a cidade. Recomeçou várias vezes antes de desistir.

Girou sua poltrona e ficou olhando pela janela. Harry acabava de sair do prédio. Entrava num carro último modelo, ostentando o distintivo da segurança da empresa. O cabelo negro brilhava ao sol, e ela lembrou-se de como costumava acariciá-lo, deixar que escorresse por entre os dedos na escuridão acolhedora do carro no estacionamento. Muito tempo atrás...

A campanhia do intercomunicador interrompeu a cena imaginada. Lembrou-se de atender.

- Hermione.

- Sou eu, Hermione. Betty – disse a voz conhecida da amiga. – Você consegue mesmo resultados rápidos, quando quer.

- Como assim?

- Nosso amigo Erickson acaba de sair do escritório do novo chefe de segurança, aquele bonitão. Escutei alguma coisa sobre piadinhas com as mulheres lá dentro. Erickson ainda está de boca aberta.

- Harry despediu o sujeito – exclamou Hermione, incapaz de conter-se.

- Harry?

- Harry Potter, o novo chefe de segurança. Eu...fui amiga dele, quando era mais jovem.

- Ah, então foi por isso que funcionou tão rápido!

- Você não acha que eu ia agüentar muito mais tempo, acha?

- Não. Eu também não estava agüentando mais. Todas nós estamos cheias das gracinhas do Erickson. Vamos levar você para almoçar. Talvez o sr. Potter nos mande algum cara bonitão e solteiro.

- Provavelmente ele vai mandar um ex-fuzileiro, com vários dentes arrebentados – provocou Hermione.

- Não seja espírito-de-porco – respondeu Betty. – A propósito, Erikson está uma fera. Seria bom não encontrar com ele na hora de sair.

- Não tenho medo dele.

- Bem, eu acho que seria sensato evitar o cara, mesmo assim. Vejo você mais tarde...

Betty desligou e Hermione mordeu o lábio inferior. Não tinha sido sua intenção causar problemas. A maior parte dos homens demonstrava simpatia e boa educação. Erikson, porém, olhava de forma desrespeitosa, e chegava a ser agressivo com as piadinhas. Sentia-se suja quando passava por ele no corredor.

Nas primeiras vezes, pensou que estava exagerando. Afinal, acabara de sair da universidade, onde homens e mulheres desfrutavam de igualdade intelectual, que desprezava o comportamento machista.

Porém, no mundo dos negócios existiam homens que ainda se comportavam como se as mulheres fossem suas propriedades sexuais. Foi um choque para ela descobrir que trabalhava num local onde um vigilante sentia-se livre para dizer o que bem entendia a todas as mulheres.

Erikson chegara a beliscar o traseiro de Betty, e quando recebeu um tapa na cara, disse que ia acabar se apaixonando. Acrescentou depois, que as mulheres sempre estão concordando, mesmo quando dizem não.

Hermione podia ter dito muita coisa a Harry sobre Erikson, mas aparentemente ele próprio se entregara. Sentiu-se aliviada e um pouco culpada por ele ter sido despedido. Não tinha família, porém ela sabia como era difícil um homem na idade dele arranjar outro emprego. O fato de saber que ele mesmo provocara aquilo não aliviava em nada.

O telefone tocou.

- Não pense que você vai se sair bem com isso, boneca. Dizer todas aquelas mentiras sobre mim ao chefe – disse a voz rouca de Erikson, do outro lado da linha. – Vou pegar você. Você não perde por esperar.

Hermione desligou imediatamente, sentindo um arrepio de medo percorrer-lhe a espinha. Com certeza ele estava nervoso ainda, e iria ultrapassar essa fase, com o tempo. Entrementes, ela não pretendia dar chance para que ele realizasse suas ameaças. Seria bom também mencionar o caso a Harry. Só para prevenir.



Naquela noite, quando voltava para sua casa, certificou-se de sair ainda com a claridade do dia. Não pretendia mais ficar trabalhando até tarde, como dissera ao chefe, até que o assunto terminasse por completo. Mack concordara sem pestanejar.

O estacionamento era longe do prédio onde ficava seu apartamento. Hermione examinou os arredores, mas não viu nada de especial. Entrou, grata pela presença do segurança, e subiu depressa para o segundo andar.

O apartamento era decorado com muitas plantas, e mobília simples. Era um local pequeno, mas bonito e funcional; pelo menos possuía a própria moradia. E havia ainda um terraço, que fora o ponto decisivo na compra do imóvel. Podia divisar o Álamo a distancia, por sobre a frondosa algarobeira que crescia em frente ao prédio. Gostava muito de ficar ali esticada na espreguiçadeira, apreciando a vista e a árvore, ao sol poente da primavera.

Depois de colocar roupas mais confortáveis, Hermione fez um pouco de café e acomodou-se. O sol, já bastante inclinado, banhava-lhe o rosto com uma luz avermelhada e agradável.

Lembrou-se de outra manhã de primavera, no dia em que percebera estar apaixonada por Harry Potter. Com dezesseis anos de idade, estivera repousando em cima da árvore em frente à sua antiga casa de Floresville, perto da casa dos Potter. Harry cursava a escola e trabalhando na força policial de San Antonio, e aos fins de semana vinha para casa visitar os pais e o irmão. Estivera saindo com uma modelo chamada Cho Chang, mas tinham acabado de terminar. Viera sozinho visitar a família, e Hermione ficara contente com isso. Não gostava do ar superior que Cho exibia para todos nas vizinhanças.

Sempre fora amiga de Harry, que representava o papel de um irmão mais velho a maior parte da vida.

- Desça daí antes que quebre o pescoço! – gritara ele lá de baixo, sorrindo com as mãos na cintura.

Lembrou-se da camiseta e do jeans apertado, que expunha o físico musculoso de Harry. Ela adorava admirá-lo, e dar asas a fantasias que a deixavam sem fôlego.

- Não é contra a lei subir em árvores, que eu saiba...Vá prender outra pessoa! – gritara ela, num desafio.

- Estou muito bem aqui – anunciara ele, encontrando os apoios colocados no tronco, subindo, e acomodando-se no galho ao lado dela. – Aceita uma pêra?

Quando ele estendeu a fruta, as mãos de ambos se tocaram, e Hermione percebeu que Harry a tratava diferente. Seu olhar deteve-se mais tempo do que de costume nas pernas bronzeadas e no decote da blusa amarrada. Tornara-se consciente da feminilidade dela. Porém não fizera movimento algum para aproximar-se. Depois desse dia, Harry passou a provocá-la e o relacionamento transformara-se em amizade.

Quanto tempo parecia ter passado desde que escutara os conselhos dele sobre problemas escolares. Sua mãe estava ocupada demais casando-se e divorciando-se para prestar atenção à filha, e não havia outros parentes. Hermione gravitava ao redor da casa dos Potter, onde faltava sobre a mãe, que morrera muitos anos antes. Ninguém falava sobre ela, muito menos Harry. Quando o pai dele morrera de repente, vítima de um ataque cardíaco, ela permaneceu ao lado de Harry. Segurou a mão dele o tempo todo, durante o funeral. Depois do nascimento de Mikey, Hermione acompanhara Harry ao batizado. Quando se deram conta, ela ia a todos os lugares com ele...

O toque do telefone provocou um sobressalto em Hermione, despertando-a dos devaneios. Obedeceu ao reflexo de atender, mas hesitou, pensando nos acontecimentos do dia. Seria Erikson?

O coração batia forte quando levantou o fone.

- Hermione?

Era Harry. Pode relaxar, pelo menos um pouco.

- Oi, Harry.

- Achei que gostaria de saber que despedi Erikson esta tarde – anunciou ele, em tom controlado. – Ele ficou bem irritado. Se por acaso ele criar algum tipo de problema para você, me avise na mesma hora.

- Ele telefonou para mim antes de sair – informou ela. – Disse que ia “me pegar”.

Houve um silencio do outro lado.

- Ele assustou você?

Ela sorriu, e torceu o fio do telefone.

- Um pouquinho – admitiu por fim.

- É mesmo? – havia um traço de sorriso na voz dele. – A menina que eu conheci teria aberto a cabeça dele com um taco de beisebol.

- Minha mãe nunca teve tempo para lutar por mim. Tive de aprender a me virar sozinha.

- Acho que lutei algumas com você – lembrou ele.

- É verdade. Antes, você era meu amigo. – A fase pareceu encher sua cabeça com recordações desagradáveis. – Preciso desligar, Harry.

- Espere!

- Não temos nada a dizer um para o outro.

- Fale por você mesma. Eu preciso dizer que sinto muito que não tenha lido a carta, Hermione.

- Você não confiou em mim – lembrou ela. – Achou que eu era uma vagabunda de duas caras.

- Eu estava maluco de ciúmes. Não sabia que ia acabar me acalmando.

Ela riu amargamente.

- Quando isso aconteceu, eu já não me importava mais. Estava saindo com outro cara na escola, e me divertindo muito. – mentiu ela, para manter a dignidade.

Jamais admitiria o estado em que ficara quando ele se recusara a escutar suas explicações.

Harry gelou por dentro. Ainda alimentava esperança de ser amado, apesar de passado tanto tempo. Se ela iniciara outro relacionamento tão depressa, isso significava que esse amor não chegara a existir.

- Nesse caso, fez bem em não ler a carta. Desculpe.

- Mais alguma coisa? – indagou ela, em tom educado.

- Sim. Me avise se tiver qualquer tipo de contato com Erikson, sim? Ele se encontra com alguns dos maus elementos locais. Acho que é um meliante.

- Bela palavra.

- Acha mesmo? Estou pensando em cobrar direitos autorais, mas se quiser pode usar também.

- Eu aviso se tiver algum problema. Obrigada por telefonar, Harry.

- De nada.

Hermione desligou lentamente, imaginando como seria beijar Harry outra vez. Antes ficava tonta quando se beijavam, porém agora não podia se dar ao luxo de arriscar tudo outra vez. Tinha sofrido um golpe e tanto ao perdê-lo, especialmente com sua mãe ocupada com um novo divórcio. Praticamente sem vida familiar, resolveu ir para a faculdade sem um único protesto. Engraçado como tudo isso parecia ter ocorrido há décadas. Precisava agora garantir que as coisas continuassem como estavam.


Harry acomodou-se num hotel, e lançou-se ao trabalho. No espaço de uma semana, aprendeu tudo sobre o funcionamento da segurança na Lancaster, e convenceu-se de que poderia atualizar as operações e aumentar a eficiência.

Hermione, porém o preocupava. Ela se manteve cautelosa nos primeiros dias após a saída de Erikson, porém de repente tornara-se descuidada.

Naquele dia por exemplo, ela estava trabalhando até tarde, e já escurecera. Harry sabia que o estacionamento estaria deserto. Resolveu fazer um reconhecimento da área.

Realmente, o estacionamento se encontrava praticamente vazio, à exceção de um antigo sedan azul, com um rosto familiar no interior.

Harry descobrira, há muito tempo, que o confronto direto era a melhor forma de evitar uma encrenca mais séria. Estacionou seu carro com o emblema da segurança ao lado do outro, e desceu. Usava a arma no coldre sob a axila, uma necessidade em seu novo trabalho. Esperava não ter de usá-la.

- O que está fazendo aqui, Erikson? Agora esta área é propriedade particular para você. Não pode mais ficar aqui dentro.

- Estou apreciando a vista. – declarou ele, com um sorriso cínico, apesar de demonstrar certa surpresa com a abordagem direta.

- Pois aprecie a vista de outro lugar – sugeriu Harry, com um sorriso ameaçador. - E se tiver alguma idéia de jerico na cabeça, acho melhor esquecer. Você pode ter tido experiência como militar e agente de segurança, mas eu trabalhei na CIA por cinco anos. Já esqueci truques que você nem chegou a aprender.

A ameaça pareceu surtir efeito. Sem dizer uma palavra, Erikson deu a partida e saiu do estacionamento, enviando olhares de ressentimento para o outro.

Harry observou o carro até que sumisse de vista. Só então retornou ao prédio, caminhando em direção ao escritório da vice-presidente.

Hermione estava ao telefone, e pelo tom deveria estar falando com um cliente.

- O senhor não precisa se preocupar – afirmava ela ao bocal. – Temos a situação totalmente sob controle. Isso mesmo... Vamos cuidar de todos os detalhes. Tudo o que precisa fazer é vir até aqui, certo? Claro, claro. Pode ficar tranqüilo. Sou eu quem agradece. Até logo.

Ela desligou com um suspiro de alívio, e recostou-se na cadeira. Então os olhos verdes perceberam Harry à porta, e ela deu um salto na cadeira. Mas não fora medo. O simples impacto da presença dele ali provocava aquela reação; sempre causara, embora geralmente conseguisse controlar-se. Naquela noite, porém, estava cansada e fora apanhada desprevenida. Muitos problemas haviam surgido desde que entrara no escritório, pela manhã.

- Achei que não havia mais ninguém no prédio – comentou ela, para justificar a surpresa.

- Acabei de verificar o estacionamento – informou Harry, dando de ombros.

Ela reparou no movimento, e percebeu o volume na axila.

- Você está armado!

Ele olhou de forma diferente para Hermione, cujos olhos pareciam acusá-lo.

- Andei armado por muitos anos, e você nunca comentou nada sobre isso.

- Isso foi antes de você entrar na CIA para servir de alvo aos outros. Aliás, me admiro muito que ainda esteja vivo e inteiro. Está inteiro ainda?

- Não me diga que se importa, gatinha!

Ela baixou os olhos. Usava um conjunto cinza com blusa cor-de-rosa, o que lhe conferia uma aparência de fragilidade e beleza. Harry não conseguia tirar os olhos dela.

- Achei que me importava... – respondeu ela. – Mas você me curou, graças a Deus.

Ele avançou, limpou um dos cantos da escrivaninha e acomodou-se ali. O movimento deslocou o tecido da calça sobre os músculos das coxas; Hermione precisou controlar-se para não olhar. Ela o tocara com intimidade, e ainda recordava o impacto, a mão dele guiando a dela no calor da paixão, o gemido rouco emitido ao tocá-lo...

- Por que ainda está aqui? – indagou ele, interrompendo-lhe os pensamentos.

- Negócios inacabados. Sou vice-presidente, e isso significa tratar pessoalmente de alguns de nossos clientes especiais. Em alguns dias as coisas saem erradas, como hoje.

- E é você quem precisa limpar a sujeira.

- Exatamente. Você entendeu o espírito da coisa – sorriu ela.

- Já está escuro lá fora, sabia?

- Eu reparei. Sabe, eu carrego isto comigo na bolsa – respondeu ela, retirando da bolsa uma latinha de Mace, o gás de defesa pessoal.

- Hermione, o que vai fazer se o vento estiver soprando para o lado errado quando precisar usar isso? Sabe como precisa ser usado perto do assaltante para produzir efeito?

Ela corou.

- Tenho esse alarme também – insistiu ela, apanhando a sirene portátil da bolsa.

- Ótimo. E se ninguém estiver perto o suficiente para ouvir?

Ela começou a ficar nervosa. Se havia uma coisa que Harry conhecia bem, era a proteção pessoal.

- Não gosto de armas.

- Uma arma é a última coisa de que precisa. Fez algum curso de defesa pessoal?

- Não. Não tenho tempo.

- Pois arranje, então – sugeriu ele, com ar preocupado.

Aquilo a perturbou. Começou a pensar e fazer as ligações adequadas; a presença dele ali, as perguntas sobre defesa...

- Alguém estava no estacionamento, certo? – indagou Hermione, estreitando os olhos. – Erikson?

Ele fez sinal afirmativo com a cabeça.

- Eu o ameacei e fiz com que saísse do estacionamento, mas não posso fazer isso na rua, entende. Não há lei alguma contra isso.

- Mas e se ele ficar me vigiando, me espreitando?

- Ainda assim, não é contra a lei – informou ele.

Ela recordou-se dos filmes de televisão que assistira, nos quais o ex-namorado ou ex-marido persegue a heroína até matá-la. A polícia nunca podia fazer nada, pois o crime precisa ser cometido para que pudessem agir. Depois que acontecia, obviamente era tarde demais para a vitima.

- Ele não teria coragem de me matar – declarou ela.

- Existem outras coisas que se podem fazer – lembrou Harry, em tom soturno.

Os lábios de Hermione se abriram.

- Não acredito numa coisa dessas. Eu só estava me defendendo contra uma situação desagradável. Nunca foi minha intenção prejudicar...

- Você imaginou que tudo voltaria ao normal se resolvesse ignorar as gracinhas? Homens do tipo dele não desistem com facilidade. Ás vezes ficam piores com o passar do tempo. Você sabe disso.

- É verdade, só que eu nunca esperei algo parecido com o que está acontecendo. – Os olhos castanhos procuraram os dele. – Ele vai desistir, não vai? Vai cansar e desistir dessa bobagem...

- Para ser bem honesto com você, Hermione, não acredito muito.

Ela juntou as mãos percebendo que estavam frias. Apertou-as uma contra a outra, sentindo uma sensação desagradável na boca do estômago. Percebeu que sentia medo.

- O que posso fazer?

- Vou tentar ficar de olho em você tanto quanto puder.

- Harry, não vai funcionar. Você não pode ficar me vigiando o tempo todo, nem seria justo pedir que fizesse isso. Preciso ser capaz de cuidar de mim mesma – afirmou Hermione, olhando para o próprio corpo, e lembrando a corpulência de Erikson, muito maior e mais pesado. – Não posso acreditar que chegue a assustar alguém com um curso de defesa pessoal, mas vou procurar um.


- A maioria deles funciona à noite. Poucos instrutores podem se dar ao luxo de manter uma academia em tempo integral.

- Certamente devem ter aula aos sábados, não?

- Certamente – concordou ele, com um sorriso simpático. – Só que ninguém vai poder ensinar defesa pessoal melhor do que eu. E durante as aulas, eu mantenho um olho em você, ainda por cima. O que acha?

- Seria uma boa idéia – concordou ela.

- Já fomos amigos – disse Harry, encarando-a. – Mais do que amigos. Será que pode fingir que nada aconteceu entre nós...só por algumas semanas? Até resolver o problema de Erikson.

- Não sei, Harry – respondeu Hermione, hesitante.

- Somos diferentes agora. Eu mudei muito. Se não tivesse mudado, acha que teria largado a CIA?

Ela franziu a testa.

- Eu não tinha pensado nisso. Por que você saiu? Mesmo quando era mais jovem, só falava em ser agente da CIA...

- Repensei minhas prioridades e meus valores – explicou Harry.

- Será mesmo? – perguntou ela, estreitando os olhos. – Como soube que a Lancaster estava precisando de um novo chefe de segurança?

- Uma pessoa amiga me apresentou.

Não tinha a menor intenção de revelar a ela a identidade da pessoa que o auxiliara. Pelo menos, ainda não. Ela nunca apreciara Cho, e podia assegurar que a recíproca era verdadeira. Cho não demonstrara nenhum outro interesse a respeito dele, mas era bom que Hermione não soubesse disso.

Seus olhos verdes deslizaram pelo rosto dela, seguindo-lhe o contorno do corpo, depois retornando ao rosto. Tinha vontade de perguntar se havia algum homem na vida dela, porém era muito cedo. Além do mais, precisa ter certeza dos próprios sentimentos antes de pressioná-la. Não podia suportar a idéia de magoá-la, e passar por tudo outra vez.

- Não sei se sou boa em artes marciais – começou ela, devagar.

Por instinto, sabia que ela pretendia aceitar. Sorriu abertamente para ela, num incentivo que também era um desafio.

- Que tal descobrir?

Ela suspirou, capitulando.

- Certo. Mas preciso encaixar meus horários com o trabalho. Quando começamos?

- Duas noites por semana, duas horas cada sessão – informou Harry. – E precisa praticar em casa também.

- Parece cansativo...

- Posso garantir que é muito cansativo. Mas vale a pena. Pode salvar sua vida.

- Está mesmo preocupado com Erikson, não está?

Se Harry estava preocupado, é porque havia motivo para tanto, pensou Hermione.

- Vamos dizer que prefiro ser cauteloso nesses assuntos – corrigiu ele, aproximando-se. – Anime-se. Lembre dos bons tempos.

Ela franziu a testa e roeu a unha enquanto se dava conta da proximidade dos dois corpos. O mesmo que ela tentara esquecer durante tantos anos.

- Será que estou esquecendo alguma coisa óbvia? – indagou ele repentinamente. – Existe um homem em sua vida? Alguém que espera vê-la todas as noites?

Ela desejou com todas as forças poder responder de forma afirmativa.

Era ridículo deixar-se alterar daquela forma por um homem, principalmente depois de como ele a tratara. Contudo a verdade é que Harry estava mesmo diferente. Não parecia o mesmo homem altivo e arrogante que saíra de Floresville para juntar-se a CIA. Parecia mais suave, mais consciente. A parte perigosa dele continuava ali, e talvez até mesmo a falta de piedade, porém tornara-se mais humano. Talvez mais terno...

- Não, Harry. Não há ninguém.

Os olhos deixaram escapar um brilho momentâneo, porém o rosto não se moveu.

- Muito bem. Que tal irmos fazer compras amanhã depois do trabalho? Podemos começar de noite.

- Fazer compras? – estranhou Hermione. – O que vamos comprar?

- Espere até amanhã e vai ver. – disse Harry com um sorriso no canto da boca.



Obs:Capitulo postado!!!!Espero que tenham curtido!!!!Em breve tem próxima atualização, e das duas fics!!!!!Bjux!!!!

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