Capitulo 1



CAPÍTULO I

Harry Potter sentia-se praticamente nu sem a pequena pistola automática e as credenciais de agente, que se acostumara a usar nos últimos anos. Contudo, fora sua decisão de deixar o trabalho na CIA e ingressar numa companhia particular de segurança, em San Antonio.
Depois de um exaustivo atraso do vôo que o trazia de Washington, ele por fim caminhava pelo saguão do aeroporto de San Antonio. Carregando nas costas uma grande sacola de lona, ele olhava ao redor procurando o irmão.

Harry destacava-se na multidão pela altura e pelo porte musculoso. Os cabelos escuros emolduravam um rosto atraente, onde brilhavam como esmeraldas os olhos verdes. Bob, seu irmão, parecia uma versão mais idosa dele, porém de compleição física mais franzina. Os dois avistaram-se à distância, e aproximaram-se. Emergindo da multidão, levado pela mão de Bob, um menino de seis anos sorria.

- Oi. Espero que tenha acabado de chegar – saudou Bob. – Tive que trazer Mikey.

- Oi, tio Harry! – cumprimentou com entusiasmo o menino, sorrindo sem um dos dentes da frente. – Tem matado muitos bandidos?

O volume da pergunta do garoto fez com que um segurança do aeroporto se voltasse na direção deles.

- Ultimamente, não – respondeu Harry, disfarçando. Apertou com força a mão do irmão, e curvou-se para apanhar Mikey no colo. – Como vai indo parceiro?

- Ótimo! O dentista disse que vai nascer um dente novo, mas a fadinha me deixou uma moeda de um dólar pelo meu dente velho.

- Cá entre nós, acho que a Fadinha vai à falência – declarou Bob, em voz baixa.

- Posso ver sua arma tio Harry? – insistiu Mikey.

O segurança levantou as sobrancelhas. Harry suspirou quando viu que o homem vinha na direção deles. Passara por aquilo tantas vezes que conhecia a rotina inteira; chegou a abrir o paletó com ambas as mãos sem que o guarda pedisse.

O homem inclinou a cabeça, desconcertado.

- Bela camisa, moço. Ou está mostrando a musculatura?

- Estou mostrando que não carrego arma nenhuma – declarou Harry.

- Certo. Mas eu não estou procurando arma nenhuma - disse o segurança. - Seu nome é Harry Potter?

- É sim.

- Ninguém mais por aqui se encaixa na descrição que me deram - continuou ele. - Bem, acontece que temos uma Sra. Potter ao telefone, que pediu para o senhor parar na loja de autopeças a caminho de casa e comprar um carburador novo para Mustang, mil novecentos e sessenta e cinco. Disse para pedir por favor.

- Ah, ele não vai não! - resmungou Bob. - Já disse que ela não pode ir escalando todo mundo desse jeito.

Harry ostentava um sorriso divertido ao escutar as queixas do irmão. Voltou-se para o guarda:

- A mulher dele... minha cunhada... é um gênio para consertar qualquer tipo de motor - justificou ele. - Qualquer coisa que tenha rodas. Mas meu irmão aqui, não acha isso muito feminino.

- Em que século você está vivendo? - comentou o guarda. - Em casa, é a patroa que mantém funcionando nossa velha máquina de lavar. Ela economiza uma fortuna em mão de obra.Não existe nada melhor do que uma esposa que tenha jeito com ferramentas. Devia ser agradecido, amigo. Sabe quanto os mecânicos cobram hoje em dia?

- Claro que sei quanto cobra um mecânico. Estou casado com um - informou Bob de mau humor. Voltou-se para o irmão, - Ela tem a própria oficina, e não se importa nem um pouco em chegar toda suja de graxa em casa, cheirando gasolina e borracha queimada. Tudo o que faço ultimamente é servir de babá lá em casa.

Harry sabia que o irmão estava irritado. Ambos haviam passado a infância relegados ao segundo plano, por causa do trabalho da mãe. Ele não pretendia repetir a história na própria casa.

- Que é isso, Connie adora você... - disse ele, tentando colocar panos quentes na situação. - Além do mais, você tem uma carreira, e acho que se vira muito bem. Mikey vai seguir o seu exemplo um dia, não vai, Mikey?

- Eu, não. Quero ficar todo sujo de graxa, que nem minha mãe!

O guarda afastou-se para atender um passageiro exaltado. Bob olhou para o filho, levantou as mãos aos céus, suspirou, e caminhou para a saída, exasperado.

Harry e Mikey seguiram atrás.

A casa dos Potter ficava em Floresville, um local agradável próximo a San Antonio, onde o gado dividia seus pastos verdejantes com postos de gasolina que ainda utilizavam bombas manuais. Era parte do Texas que mantivera o espírito rural, e Harry guardava na memória recordações agradáveis daquele lugar, na infância. Muitas vezes ele e o irmão iam visitar o rancho do tio, e andavam a cavalo com caubóis de verdade. Em casa, as coisas eram um pouco diferentes.

- O tempo passa depressa - Observou Harry, com ar vago.

- Você nem faz idéia como... - respondeu Bob, encarando o irmão. - Vi Hermione no centro da cidade, outro dia.

O coração de Harry bateu mais forte. Não estava esperando escutar o nome dela. Durante cinco anos, tentara de todas as maneiras esquecê-la. À simples menção do nome, veio à sua mente uma imagem de Hermione, o cabelo castanho claro esvoaçando ao vento, os olhos também castanhos brilhando de alegria. Outras recordações, não tão agradáveis, surgiram. O belo rosto chorando, suplicando a Harry que a escutasse. Porém ele não a atendera. Apanhara-a semidespida com seu melhor amigo, e no acesso de raiva acreditara nas aparências. Demorou seis meses para descobrir que o próprio amigo preparara toda a situação, porque desejava Hermione para si mesmo.

- Tentei pedir desculpas uma vez – disse Harry, pois o irmão sabia de toda a história.

- Ela não fala sobre você até hoje – respondeu Bob, virando o volante na rua de sua casa. – É muito educada, e muda de assunto quando alguém fala em você, mas sempre faz isso.

- Ela ainda vem para cá?

- Me parece que ela evita Floresville como o diabo foge da cruz. Desde que a mãe vendeu a velha casa onde moraram. Você deve ter magoado um bocado a moça...

- Você nem faz idéia...

- Logo depois você entrou para a CIA, não foi?

- Eu tinha prestado concurso seis meses antes – lembrou Harry. – Não foi uma decisão súbita.

- Mas foi uma coisa que você não contou para nenhum de nós.

- É que eu sabia que ninguém iria gostar. Mas estou aqui de volta, não estou? São e salvo, com algumas cicatrizes, recordações ruins, e muitas aventuras para contar.

- É, e tão sozinho quanto saiu – comentou Bob, apontando o pequeno Mikey, acomodado em seu próprio assento, provido de volante. – Se tivesse casado, podia ter um desses agora.

- Não tenho a sua coragem – declarou Harry, taciturno.

- E você ainda diz que eu não devia deixar o passado arruinar minha vida...

- Mas sempre tende a voltar. Um pouco menos durante o tempo que estive fora.

- Mas você evita lidar com o assunto, Harry. Está ficando mais velho. Algum dia vai querer uma esposa e filhos.

Harry não podia desmentir aquilo. Foi a idéia de ter filhos que o fez hesitar.

- Meu último caso me fez lembrar como a vida pode ser curta, e imprevisível – comentou, com ar ausente. – A mulher que eu ajudava a guardar tinha um irmão que estava em coma há anos. Um pouco mais velho que Mikey... um garoto legal. Fiquei ligado a ele. Isso me fez pensar um bocado sobre minha vida, e onde eu pretendia chegar. Pouco depois, uma pessoa amiga mencionou o emprego numa companhia de segurança, e decidi tentar.

- Que pessoa amiga foi esse? Alguma mulher? – quis saber o irmão, fazendo a curva na rua de sua casa.

Harry olhou para ele antes de responder.

- Foi Cho.

- Ela ainda está interessada em você.

- Cho desistiu de mim há muitos anos, antes que eu começasse a sair com Hermione. Ela só imaginou que eu gostaria de uma mudança. Na verdade, não se trata de uma história romântica.

Bob não disse nada, mas sua expressão revelou o que pensava.

- Tudo bem, eu paro de ficar me intrometendo na sua vida. Onde fica esse novo emprego?

- É uma firma chamada Lancaster, em San Antonio. Controla várias companhias diferentes, e eu ficarei responsável pela supervisão de Segurança em todas elas.

- Lancaster? Puxa, como estamos importantes... – brincou Bob fazendo uma careta em seguida. – Só espero que ainda goste de panquecas para jantar. É a única coisa que sei fazer na cozinha, além de omelete. Connie vai demorar algumas horas para voltar. Provavelmente vou bater uma omelete para ela quando chegar. Cara, eu odeio essa história de oficina mecânica!

- Mas você já sabia que Connie adorava mecânica quando casou com ela – argumentou Harry.

- É, mas não sabia que ela pretendia abrir uma oficina própria. Desde que ela começou com esse negócio, há seis meses, tenho vivido como pai solteiro. Cuido de Mikey o tempo todo, e ela não para mais dentro de casa.

Harry arqueou as sobrancelhas.

- Ela tem ajudante?

- Diz que ainda não ganha o suficiente – resmungou Bob, manobrando para o acesso da casa em estilo vitoriano. Harry reparou na nova construção de folhas de zinco no quintal, de onde vinham ruídos metálicos. Havia uma senhora à porta da casa vizinha, que sorriu para Bob e dirigiu-se ao irmão:

- Que bom ver você por aqui outra vez, Harry. Espero que não tenha vindo à procura de paz e um lugar calmo, porque o centro de San Antonio é mais calmo do que aqui.

- Você está gritando, Marta – observou Bob, com voz calma.

- Preciso gritar na minha própria casa para que alguém consiga escutar o que eu digo – respondeu a senhora, começando a ficar vermelha com o esforço. – Não pode conseguir que ela pare num horário respeitável?

- Tente você mesma, para ver o que ela diz.

- Eu, não! Uma vez eu tentei, e ela me atirou uma ferramenta com nome esquisito em mim – admitiu Marta, sem graça, voltando ao trabalho no jardim.

Harry, fazendo força para não rir, apanhou a bagagem e o sobrinho, no banco traseiro.

- Só trouxe essa sacola de lona? – quis saber Bob, pela segunda vez desde o aeroporto.

- Não gosto de acumular coisas. É o mais sensato a fazer quando a profissão da gente nos obriga a ficar viajando pelo mundo.

- Pelo jeito você também não gosta de acumular pessoas...

- Com família, é diferente – declarou Harry, dando um tapa nas costas do irmão, que sorriu. – Vou até a oficina dizer alô a Connie.

- Escute, Harry, se eu fosse você...

- Tudo bem, mano. Eu sou agente secreto treinado, lembra?

- Cuidado com a cabeça. Aquele lugar está cheio de ferramentas.

Harry caminhou até o barracão, e aguardou uma pausa entre as marteladas para poder ser ouvido. Em seguida ouviu resmungos ininteligíveis no interior. A porta abriu-se.

- Harry? É você, Harry?

Viu-se em frente a uma mulher com macacão de brim e boné a esconder-lhe os cabelos castanhos. Assim que o reconheceu, atirou-se aos braços do cunhado, numa demonstração expansiva de saudades.

- Como vai? Quando Bob me disse que você tinha desistido da CIA para trabalhar em San Antonio, dei um pulo de alegria – disse Connie, num só fôlego. – Agora, se você tiver qualquer problema mecânico, pode trazer que eu faço de graça. Viu minha oficina? Claro que vai ficar conosco...

- Não posso, preciso ficar em San Antonio – interrompeu Harry. – É uma das exigências do meu cargo. Mas pode ficar sossegada que eu venho sempre visitar vocês. Vou alugar um bom apartamento na cidade e comprar alguns brinquedos para quando trouxer Mikey para me visitar.

- Ando um pouco ocupada com a oficina – sorriu ela.- Não tenho muito tempo livre. O pouco que sobra preciso dedicar Bob e Mikey. Mas não posso me queixar. Não me falta trabalho. Compramos uma televisão e um videocassete novos, e Mikey está cheio de brinquedos. Até comprei um veículo decente para Bob ir ao trabalho. Nada mal, hein?

- Nada mal, mesmo – concordou ele, examinando o interior da oficina.

Pensou um pouco e resolveu não mencionar que os presentes não compensavam o tempo que ela não passava com a família. Ele e o irmão tinham problemas a esse respeito, que Connie provavelmente não conhecia. Harry jamais tinha sido capaz de relatar algumas coisas a Hermione, por mais íntimos que tivessem sido. Acreditava que o mesmo acontecesse com Bob.

- Bem, de volta para o trabalho – disse ela. – Bob está fazendo o jantar hoje, vai cozinhar alguma coisa gostosa para você. Depois a gente se vê, Harry. Trouxe o carburador?

Ele corou.

- Bob não deixou, foi isso? – Connie respirou fundo, mas não se conteve. – Com tantos homens no mundo, eu tinha que casar justo com um macho chauvinista!

Ela voltou-se e fechou a porta, ainda resmungando. Harry teve certeza que Bob não lhe contara tudo sobre o passado.

- Ela reclamou muito de carburador? – quis saber Bob, quando o irmão entrou na cozinha.

- Reclamou – respondeu Harry, olhando com ar desconfiado para as panquecas queimadas que o irmão servia.

- Mas aposto que contou quanta coisa conseguiu comprar para todos nós, não foi? Tudo ótimo se a gente tivesse ela aqui para aproveitar também. O pobre Mikey não escuta mais histórias na hora de dormir, porque ela está cansada demais.- continuou Bob, servindo uma porção de panquecas carbonizadas para o filho, que fez uma careta. – Raspe a parte queimada.

- Já tentou conversar com ela?

- Claro! Pensa que ela escuta? Está ocupada demais projetando sistemas motores e outras coisas importantes.

- Tem hambúrguer de ontem na geladeira, pai. Posso comer hambúrguer em vez de panquecas queimadas outra vez?

- Tudo bem. Pode esquentar no microondas – resmungou Bob.

- Puxa, pai, obrigado. Posso comer na frente da televisão?

- Pode também. A família não anda unida mesmo, por aqui.

Mikey deu um pulo e foi buscar seu sanduíche na geladeira. Em pouco tempo usou o forno de microondas e foi para o quarto.

- Coitado do garoto – comentou o pai. – O colesterol dele deve ser tão alto quanto o de um executivo. Vai acabar morrendo de inanição.

Harry ainda olhava as panquecas queimadas em seu prato.

- Isso se não morrer de fome primeiro...

- Não sei cozinhar. Não casei com ela por minhas habilidades culinárias. Ela devia ter casado com um cozinheiro.

- Por que não contrata uma cozinheira? – sugeriu Harry.

Os olhos de Bob brilharam.

- Sabe que é uma ótima idéia? Temos dinheiro pra isso, agora. Amanhã mesmo vou começar a procurar – declarou entusiasmado.

Seu entusiasmo dissolveu-se ao encarar o próprio prato de panquecas, mais escuras ainda que as outras.

- E tem mais: vou até a esquina buscar um par de suculentos sanduíches, com batatas fritas. O que acha?

Harry sorriu.

- Agora, sim. E já que estamos no assunto, você podia contar para Connie como nós dois detestamos mães que trabalham. Se ela soubesse, talvez colaborasse um pouco.

- Quem? Connie? Nem sonhando – respondeu Bob. – Além do mais, não gosto de falar sobre o passado. Você deve ser mais corajoso que eu. Chegou a contar alguma coisa para Hermione?

Harry não teve resposta. Virou as costas e afastou-se.

Passou dois dias descansando em casa de Bob e Connie, tentando não reparar nas brigas. Se cada um dos dois não fosse tão teimoso, talvez as coisas corressem melhor. Mas nenhum deles seria capaz de ceder um centímetro que fosse.

Antes que Harry partisse para encontrar o novo patrão na segunda-feira de manhã, Bob já entrevistara quatro candidatas ao cargo de cozinheira para a família. Sua preferida foi uma mexicana que tinha belos cabelos negros até a cintura, e olhos castanhos suaves. A voz era bonita, e o corpo fizera o coração de Harry bater mais forte. Não foi difícil imaginar a situação que viria a seguir, mas não disse nada ao irmão. Bob sabia cuidar da própria vida.

O proprietário da Lancaster Inc. eram um senhor de meia idade e sua esposa, conhecida na sociedade local. Embora existissem outros acionistas, o casal controlava a companhia. Harry gostou dos dois à primeira vista. Ambos foram claros e diretos ao explicar quais eram suas funções, e fizeram-no sentir-se bem vindo.

Foi apresentado a seus subordinados diretos: um ex-policial veterano, uma mulher que fora militar, e dois indivíduos eficientes que vinham dirigindo as operações desde que o chefe de Segurança anterior saíra.

- Ele não suportava sangue – comentou Edna Riley, com ar de desdém.

– Ouvi dizer que você era da CIA.

- É verdade – admitiu ele.

- E antes disso?

- Trabalhei por algum tempo na polícia de San Antonio.

- Ótimo, ótimo – sorriu Edna, com aprovação.

- Eu me lembro de você – declarou Tory Madison amistosamente. – Eu me aposentei na mesma época em que você entrou. Só que não consegui ficar parado, sabe como é? A inatividade estava me matando, então vim para cá. Não consigo acompanhar os mais jovens em tudo, mas sei de alguns truques que ajudam os novatos. Meu trabalho é administrativo, e gosto do que faço.

- Depois que eu tiver examinado as operações com cuidado, pretendo fazer algumas mudanças – afirmou Harry. Reparou na preocupação demonstrada pelo pessoal, e apressou-se a acrescentar. – Nada de muito radical, claro. Não precisam se preocupar. De vez em quando é bom limpar a casa para começar outra vez.

Todos assentiram, aliviados.

- E precisamos ainda estar bem atualizados com todas as inovações em nosso ramo – continuou Harry. – Como acabei de vir da batalha, estou em dia nesse aspecto.

- Gostaríamos muito de tomar um café e ouvir tudo o que tem a ensinar – disse Edna.

- Tudo o que sei sobre o assunto é secreto. Mas terei prazer em falar sobre a nova tecnologia de armamentos e equipamentos de segurança.

- Todos assistimos Máquina Mortífera – respondeu Edna. – Esse assunto a gente já conhece bem.

- Pode ser, mas algumas coisas antigas a gente vai precisar trocar – afirmou Harry, olhando para a velha máquina de café.

Para surpresa dele, Edna colocou-se de forma protetora em frente à antiga máquina.

- Só por cima do meu cadáver – afirmou ela com veemência.– Se ela for embora, eu vou junto.

- É muito bom o café que ela faz?

- Faz o melhor café do Texas – garantiu Edna, operando a máquina.


Dez minutos mais tarde, Harry sentia-se inclinado a concordar com ela. Era melhor não arriscar a compra de uma cafeteira nova sem deixar cair o padrão da bebida. Todos riram, achando que o novo chefe não era tão chato, afinal de contas.

No dia seguinte, trajando seu melhor terno cinza e uma bela gravata, Harry fez o reconhecimento das cinco companhias sob a direção da Lancaster Inc.,

A primeira foi a própria Lancaster Inc., localizada no vasto complexo de escritórios de sua propriedade, que abrigava várias outras companhias de San Antonio. O pessoal da segurança era em número de dez, cinco para o dia e cinco para o período noturno, cobrindo toda a área Um deles não fazia nada além de cuidar da segurança do estacionamento, e verificar os passes dos ocupantes. Os outros realizavam patrulhas em carros e a pé, mantendo um bom nível de vigilância.

Entrevistou o pessoal, e houve um dos homens que não lhe provocou boa impressão. Algo no sujeito o incomodou, principalmente depois que Harry o pegou dirigindo gracinhas a uma das moças que trabalhavam no prédio. Talvez fossem amigos, porque ela sorriu e continuou andando. Lembrou-se do incidente mais tarde, quando conversava com supervisor de segurança.

O supervisor contou que dois dos escritórios centrais localizados no mesmo complexo, uma enlatadora e uma empacotadora de carne, haviam sido alvo de protestos por grupos radicais. O homem era mais jovem que Harry, e mantinha-se um tanto reservado; explicou que eram responsáveis pela segurança de todas as áreas comuns das companhias que alugavam o complexo. De forma casual, Harry perguntou se ele tinha problemas com seus homens. Depois de um instante de hesitação, o supervisor afirmou que tivera problemas em duas oportunidades com um dos agentes, e agora estava de olho nele. Harry não gostou daquilo.

A segunda visita foi a uma sofisticada loja de departamentos, cujos dois andares de artigos finos eram guardados por dois agentes durante o dia, e um à noite. O mais novo dos três assumiu uma atitude hostil e francamente provocadora, até saber do currículo do chefe; depois disso, Harry chegou a ficar penalizado com os esforços do rapaz para tentar consertar as coisas.

A terceira companhia era uma pequena fábrica de roupas, que trabalhava quase que exclusivamente com jeans. Só possuía um homem para o dia e outro para a noite. Harry gostou do vigia noturno, um veterano da D.E.A., o organismo de combate ao tráfico de drogas. Precisava passar ali uma noite qualquer para escutar velhas histórias.

A quarta companhia era um armazém de estocagem de produtos, onde as mercadorias importadas permaneciam até que fossem liberadas pela alfândega.

A quinta companhia controlada pela Lancaster, cuja segurança ficaria sob sua responsabilidade, era uma firma nova chamada Contatos Ilimitados. Reunia seis executivos e dez empregados do escritório central, onde Harry começara sua visita, pela manhã.

Conversou com Mack Dunlap, o presidente da companhia, para saber se havia alguma queixa contra o pessoal da segurança. Seguiu-se a mesma conversa que tivera com o supervisor, agora seu subordinado.

- Eu, particularmente, não tenho queixa, mas um de nossos vice-presidentes me contou que um sujeito dirigiu uma gracinha a ela.

Os olhos de Harry estreitaram-se.

- Foi mesmo, é? Gostaria de conversar um pouco com ela. Pretendo levar a sério esse tipo de reclamação.

- Isso é novidade – respondeu Mack, arqueando as sobrancelhas. – O velho Baxter, que ocupava o cargo antes de você, simplesmente dava risada, e dizia que as mulheres estavam acostumadas a ouvir piadinhas, e algumas até gostavam. Ela chegou a discutir com Baxter por causa disso.

- Não posso fazer nada a respeito de Baxter, mas prometo a você que vou usar um novo padrão de regulamentos com nosso pessoal de segurança.

- Obrigado – sorriu Mack. – O escritório dela fica na segunda porta à esquerda. Ela está lá agora.

- Só pretendo tomar um minuto do tempo dela – garantiu Harry.

Saiu e caminhou até a porta indicada, sem reparar na placa com o nome. Bateu.

- Pode entrar – respondeu uma voz feminina no interior.

Harry abriu a porta e ficou paralisado.

Ela vestia um conjunto de saia de linho branco com blusa verde. Os olhos castanhos estavam presos aos documentos sobre a escrivaninha. O cabelo castanho claro emoldurava-lhe o rosto, destacando os malares e a boca carnuda.

As sobrancelhas finas estavam arqueadas, examinando alguns dados que a intrigavam. Quando falou, não levantou os olhos do papel.

- O que posso fazer por você Mack? – indagou ela, em tom casual.

A mão de Harry apertou a maçaneta com força. As recordações fluíam agora como se uma represa tivesse arrebentado dentro do seu cérebro.

A conversa com Bob veio à sua mente, em meio às imagens do passado, e ele imediatamente soube o motivo do sorriso estranho quando soube que o irmão ia para a Lancaster Inc.

- Eu perguntei... – começou Hermione, levantando a cabeça e interrompendo-se.

O choque estampado nos olhos castanhos era pelo menos comparável ao seu. Várias emoções surgiram ali em poucos segundos. Ela levantou-se, linda como sempre, e ostentando mais segurança, uma nova maturidade.

- Oi, Hermione – disse Harry, forçando-se a sorrir com indiferença calculada. – Há quanto tempo...

- O que a CIA está fazendo aqui?

Harry olhou para os lados e para trás.

- CIA? Que CIA?

- Você!

- Ah, eu não trabalho mais para a CIA. Agora só trabalho para a Lancaster. Sou o novo chefe de segurança – informou ele, sorrindo. – Esse mundo não é mesmo pequeno?



Obs: Primeiro capitulo para vocês!!!!Espero que tenham curtido!!!!Amanhã tem atualização de "O Senhor da Paixão" e se eu conseguir, porque tenho aula amanhã e sábado, eu posto o capitulo 2 dessa fic entre sábado e domingo!!!Bjux!!!!

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