Uma gripe suspeita



- Hermione, meu Deus, você está bem?
Hermione escutou a voz de Harry, mas parecia que estava muito distante, assim mesmo, ela esforçou-se para escutar.
- Mione, acorde, por favor!
De novo a voz de Harry retumbou por seu ouvido. Desta vez Hermione tentou abrir os olhos, não sem dificuldade.
Estava tudo escuro e por alguns instantes ela não pode ver nada. Um minuto depois o rosto preocupado de Harry se focou a sua frente. Quando, enfim, seus sentidos voltaram com a visão, Hermione percebeu que estava deitada no chão frio daquela viela imunda na qual adentrou para perseguir o estranho, mas Harry havia levantado sua cabeça e agora a puxava para cima, para o conforto de seus braços.
- Meu Deus, Mione! O que aconteceu? Eu vi você saindo do salão e te achei caída aqui.
Hermione fez esforço mental e teve um sobressalto quando lembrou-se de Belatriz e do homem que seguira até a viela. Ela olhou para todos os lados, assustada, esperando ver Belatriz pronta para atacar a Harry e a ela, mas não havia sinal da mulher. Porém, um pouco mais a frente, em parte, coberto pela sombra, jazia o estranho homem que seguira. Ele estava morto: os olhos esbugalhados abertos olhando para o nada. Na mão, estendida, a tiara de diamantes brilhava no escuro.
Hermione levantou-se então, apesar dos resmungos de Harry que dizia para não se mover até ver um medi-bruxo. Ela se abaixou do lado do homem e olhou fixamente para a tiara.
Harry também se abaixou, mas quando fez menção em tocar a jóia, Hermione segurou sua mão.
- Não, Harry! Pode estar amaldiçoada! – disse ela, preocupada. Sentiu-se levemente tonta, mas não deu muita bola. Arrancou um pedaço de seu lindo vestido e embrulhou a tiara nele. – Precisamos levar isto para a professora MacGonagal.
- Você acha que pode ser um...
- Horcruxe? Sim... – disse Hermione, levantando-se. Sentiu-se tão tonta que teve que se apoiar em Harry para não cair.
- Você está bem, Hermione? – Harry perguntou, segurando Hermione pela cintura.
- Estou... acho que fui estuporada por Belatriz – mentiu ela. Ela não sabia exatamente qual feitiço Belatriz havia usado nela, mas, certamente, não era apenas um estuporamento. Sentia uma forte dor no peito e tinha dificuldades para respirar, mas não queria deixar Harry nervoso ou preocupado.
- Vem, Hermione... vamos... quero que Madame Pomfrey dê uma olhada em você.
Harry começou a guiar Hermione com cuidado em direção ao salão principal. Apesar de sua preocupação por Mione, não abaixou a varinha. Se Belatriz estivesse por perto, isto indicava problemas. Além do mais, achava difícil o fato de Belatriz ter deixado Mione escapar. Tinha certeza que ela não perderia uma oportunidade para matar sua melhor amiga, principalmente depois que os dois mostraram para todos no baile que estava namorando.

Quando Hermione entrou no salão, coberta de lama, guiada por Harry, as pessoas começaram a ficar em polvorosa. Muitas vieram conversar com eles para saber o que estava acontecendo. Assim, quando a notícia de que Belatriz havia, aparentemente, assassinado um homem na viela e atacado Hermione se espalhou, as pessoas começaram a bater em retirada para tristeza de Fleur que começou a chorar quando restaram apenas os Weasleys, Harry, Hermione, Tonks, Moody e Lupin.
- Não chore mais, querida! – disse a Sra. Weasley, chateada. – Tonks, acompanhe Gui e Fleur até o hotel deles, sim? Lupin, você pode acompanhar Harry, Mione, Rony e Gina até a toca?

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O dia seguinte começou com uma terrível ressaca de Gina que vomitou por toda a toca e dizia palavrões em alto e bom tom, apesar dos apelos da Sra. Weasley. Por fim, foram os gêmeos que resolveram esse problema. Ao desenvolver técnicas de vômitos para matar aulas, Fred e Jorge se tornaram muito bons em conter esses ataques.
Gina não falou uma palavra sequer com Harry e Hermione e, por isso, Mione resolveu partir, antes do final do dia.
- Tem certeza? – perguntou Harry, quando a amiga arrumava as malas. Hermione estava muito estranha naquele dia. Quando seus olhares se cruzavam ela ficava ruborizada e evitava sempre ficar no mesmo lugar com ele quando estavam à sós.
- Não dá, Harry! Rony parece ter aceito o nosso (falso – disse ela baixinho) namoro, mas Gina está acabada. Coitada! Eu não consigo vê-la desse jeito. Acho que se eu não ficar por aqui ela vai se sentir melhor e vai acabar aceitando. – Hermione fechou o zíper da mala e virou-se para ele. Novamente, ela parecia encabulada e ruborizada. – E você, Harry? Ainda vai para Godric’s Hollow?
- Vou sim! – Harry confirmou, achando o jeitinho de Hermione adorável, apesar de constrangedor. – Vou ficar mais um pouquinho por aqui, mas depois eu vou para lá. De lá, não sei para onde vou. Eu espero encontrar algumas pistas que me levem até outros Horcruxes.
- E a tiara? – Hermione perguntou, lembrando-se da noite passada. – MacGonagal já analisou a tiara?
- Ah... sim... foi isso que eu vim te dizer, além de apelar para você ficar. Minerva disse que não é um Horcruxe. Ela acha que pode ter sido um Horcruxe, mas não é mais.
- E isso pode acontecer? Você acha que Belatriz transferiu o Horcruxe para um outro objeto.
- Não sei, Hermione. É o que Minerva acha, mas se é verdade, então... ontem à noite... tivemos mais do que a presença de Belatriz...
- Voldemort?
- É... Voldemort é o único que pode criar mais horcruxes para ele, ou transferir horcruxes de um lugar para outro.
- Uhm...
- Bem... Hermione... sabe... eu gostaria que você ficasse.
- Ah... Harry... eu já lhe disse... bem... Gina...
- É que talvez não nos vejamos mais! – disse Harry com um tom sombrio na voz.
- É claro que vamos nos ver... se Hogwarts reabrir...
- Eu não sei se volto para lá, Hermione... meu caminho é longo, sabe? E eu tenho que ir atrás de Voldemort antes que ele venha atrás de mim e das pessoas que amo.
Hermione ruborizou como nunca e seus olhos marejaram nesta hora, mas ela se manteve forte.
- Eu vou com você, Harry, então! Aonde você for... Escreva-me quando estiver em Godric’s Hollow e eu irei ao seu encontro.
Hermione abraçou Harry e repousou a cabeça nos ombros do garoto. Harry a segurou de um jeito que fazia os pêlos do braço se arrepiarem e ela tentou se afastar, mas Harry a segurou e erguendo seu queijo, roçou os seus lábios.
- Então, até mais, minha falsa namorada! – disse ele, divertido, enquanto havia um turbilhão de emoções passando pelo coração de Hermione naquela hora. E para seu azar, a porta se abriu para Rony e Gina entrarem.
Hermione se afastou automaticamente e disfarçou, colocando a mochila nos ombros, mas tanto Rony, quanto Gina fizeram uma expressão de quem não tinha gostado do que vira.
- Bem, então... até mais!

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Um mês se passou desde a última vez que Harry havia visto Hermione. Em Godric’s Hollow, ele descobriu uma amiga de sua mãe que tinha muitas informações sobre seu pai e sobre Sirius. Descobriu uma pista que indicava que Belatriz e Voldemort podiam estar num vilarejo da Franca, bem perto da ponte que ligava Grã-Bretanha ao continente europeu. Quis escrever uma carta a Hermione, pois sabia que ela conhecia a França, mas resolveu poupá-la, alguma coisa lhe dizia que era arriscado demais. Tampouco quis envolver Rony e foi ao local munido apenas de sua coragem, o que era pouco perto do conhecimento de Hermione e a sensatez de Rony.
Sem sucesso, Harry resolveu voltar para Londres, onde ficou instalado no Caldeirão Furado.
Recebeu uma coruja um dia depois, relatando a reabertura de Hogwarts que ficaria a cargo da Professora Minerva. Recebeu uma carta de Hermione alguns minutos depois, convencendo-o a retornar a escola. “Existe muitas coisas ainda a aprender, Harry. Com saudades, sua... Hermione”.

Revirando a lista de materiais, Harry resolveu passear pelo beco diagonal. Naquela tarde, tinha tudo o que precisava para voltar a Hogwarts.

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Harry foi um dos primeiros alunos a chegar a plataforma 9 ¾ no dia de retorno à Hogwarts. Ele reservou uma das cabines e ficou esperando por seus amigos. Luna e Neville foram os primeiros a chegar. Eles conversaram poucos. Estavam ainda abalados com tudo o que acontecera no ano passado. A morte de Dumbledore ainda estava acesa na mente de todos e, com certeza, haveria bem menos alunos naquele ano. Rony e Gina entraram um pouco depois, ambos mais bem humorados desde a última vez que os vira, há duas semanas. Os cinco conversavam animadamente quando o três começou a se mover. Harry achou estranho que Hermione não tivesse entrado ainda na cabine e quando resolveu se levantar para procurá-la, a porta abriu-se e uma garota entrou.
Era Hermione, com certeza, apesar de Harry levar alguns minutos para reconhecê-la. Ela estava magra, muito mais do que costumava estar. Tinha olheiras escuras e profundas e uma aparência não muito saudável.
- Hermione? Você está bem? – Harry perguntou, aproximando-se dela, e fazendo-a sentar ao seu lado. Rony e Gina deram muxoxos baixinhos, que não lhe passou despercebido.
- Estou sim... é só uma gripe chata! – disse Hermione, assoando o nariz em um lencinho branco.
- Procurou um medi-bruxo? – Harry perguntou, preocupado. Era muito mais do que uma gripe. Hermione parecia estar muito debilitada.
- Não... eu brocurei um médico. Meus bais insistiram. Estou tomando um monte de xarobes. Eu já estou bem melhor, Harry.
- Desde quando você está assim? – Harry perguntou, desconfiado. Tinha uma suspeita em seu ser, mas não queria pensar nisso.
- Desde que... desde que saí da toca... – revelou Hermione, parecendo perceber a suspeita de Harry.
E se...? E se não fosse uma gripe e sim uma reação ao feitiço de Belatriz?
- Assim que chegarmos você vai ver Madame Pomfrey!
- Ah... Harry... eu...
- Não discuta, Hermione. É uma ordem, não um pedido! Você vai ver Madame Pomfrey e ponto final.
- É assim que trata a sua namorada, Harry? – Rony debochou, enquanto Gina dava mais um muxoxo.
Harry teve que contar até 10 para não socar Rony. Será que ele não percebeu que Hermione estava doente? Será que ele não a conhecia o suficiente para saber que ela não procuraria ajuda a não ser que ele mandasse? Será que ele não tinha convivido sete anos com Hermione para saber que ela altruísta e autoritária com os outros, mas era descuidada consigo mesma? Rony não merecia Hermione e cada dia que passava, Harry tinha mais consciência disso. Para merecê-la, Rony teria que mudar bastante. Mas Rony não tinha importância agora, então resolveu não responder à provocação e tirou o casaco para cobrir Hermione que parecia estar com frio.
- Obrigada, Harry! – disse ela, encostando-se nele para se aquecer. Rony parecia ainda mais chateado.

Quando o trem chegou a Hogwarts, os alunos desceram animados para tomarem as carruagens levadas pelos testrálios. Havia mais alunos do que o costume, para a surpresa de Harry que esperava bem menos alunos. Ao longe, a turma da Sonserina andava como se fossem os donos do pedaço, mas não havia sinal de Malfoy. Ele certamente não daria as caras por ali. Sabia que Harry o mataria se o fizesse.
Harry acompanhou Hermione com cuidado e quando ela cambaleava, ele a segurava pela cintura.
Quando chegou a vez dela subir a carruagem, Harry teve que tomá-la nos braços e sentou-se com ela nos braços. Cansada, ela não resistiu e acabou descansando a cabeça nos seus ombros.
Quando chegou, enfim, no castelo, Hermione não acordou. Estava desmaiada.
- Hermione? – Ele disse, sacudindo-a com cuidado.
- Meu Deus! Acho que ela está mesmo doente! – disse Gina, aproximando-se de Hermione.
Hermione estava tão pálida que seu rosto parecia de porcelana. - Vou chamar Madame Pomfrey!
- Não precisa! – disse Harry, descendo da carruagem. – Eu vou levar Hermione até lá.
Normalmente, Hermione era leve, mas, magra como estava, estava ainda mais fácil de carregar. Harry subiu as escadas com desenvoltura, sempre cuidando para não balança-la demais.
Madame Pomfrey parecia intrigada quando Harry repousou Hermione numa das camas.
Ele disse para ele sair, enquanto tratava dela. Ele esperou lá fora por algum tempo. Alguns minutos depois a própria enfermeira saiu.
- Vamos jantar? – disse ela, indicando o caminho para que Harry a acompanhasse até o salão principal.
- E Hermione? – Harry perguntou, resistindo.
- Ela precisa descansar. Quando retornar, vou lhe dar uma poção de reanimação, mas ela precisa estar, pelo menos, semi-consciente.
- E o que ela tem? – Harry perguntou, decidindo acompanhar a senhora, afinal, seu estômago já roncava alto com a fome que estava.
- Parece uma gripe! – respondeu a enfermeira.
- Uma gripe normal? Não é uma azaração? Hermione foi atingida por um feitiço de Belatriz há mais ou menos um mês.
Madame Pomfrey parecia estar ainda mais intrigada.
- Bem... Potter... pode ser. Snape era melhor do que eu nessa área. Sinto falta dele. Eu vou fazer alguns exames, mas não vou poder fazer muita coisa. Eu conheço um medi-bruxo que é muito bom com feitiços das trevas, não tão bom quanto Snape, mas... talvez ele possa me ajudar. Se eu mandar uma coruja hoje à noite... amanhã ele poderá vir.
- Ótimo! – disse Harry, preocupado. Queria muito que fosse uma simples gripe, mas não tinha tanta confiança nisso.
Quando Madame Pomfrey e Harry entraram no salão principal, Minerva fazia o costumeiro discurso de início de ano. Harry sentou-se entre Rony e Gina e quando pensou em abocanhar uma grande pedaço de frango, um forte estampido estourou, fazendo o castelo todo tremer.
Assustados, os alunos e os professores olharam para o teto.
No céu escuro, pairava uma nuvem esverdeada na forma de uma caveira: a marca negra.









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