Preconceito



Harry chegou na toca, um dia antes do casamento de Fleur e Gui se realizar. A casa dos Weasley parecia em polvorosa: a senhora Weasley corria para cima e para baixo, o sr. Weasley saia direto com Gui para ver o salão que alugaram no centro de Londres para a festa e Fleur parecia que estava no último limite da exaustão e do stress. Apesar disso, a estada de Harry foi muito tranquila. Gina estava bem aborrecida com Fleur, já que as duas dormiam no mesmo quarto. Harry gostaria de poder conversar com Gina, mas parecia que ela o estava evitando. Rony, contudo, parecia bem feliz e ansioso.
- Você acha que ela vai chegar hoje? - Ele perguntou, enquanto os dois caçavam gnomos no jardim.
- Quem? - Harry perguntou, distraído. Ele olhava para dentro, onde Gina desfilava com um bonito vestido verde, e imaginou se ela não o usaria na festa do casamento.
- A Hermione, oras! - perguntou Rony, aborrecido. Ele havia dado consentimento a Harry, para que ele namorasse Gina, mas já estava demais a cara de abobado que o amigo fazia quando sua irmã estava por perto.
- Ah, Mione! - Harry disse, pensando na amiga. Ele lhe escrevera duas vezes durantes as férias, mas Hermione havia enviado perto de dez cartas. - Deve vir, Rony. Ela prometeu que viria para a festa! Harry olhou novamente para dentro da Toca pela janela. Agora Gina colocava na testa uma linda tiara de diamantes que ornava perfeitamente com seu rosto angelical, seu rosto rosado e sardendo e os olhos verdes profundos.
- Cara, você tem que acertar a sua situação com a Gina de uma vez por todas! Você fica mais interessante quando está namorando ela - disse Rony, aborrecido, virando Harry para que eles se olhassem.
- Rony, você sabe que eu não posso! - disse Harry. - Achei que, depois do que aconteceu com Dumbledore, você entenderia.
- Sim... eu entendo... e temo pela vida da minha irmã. Mas ela ama você. Durante as férias, ela ficou muito triste por vocês terem terminado, e ela ficou chateada por você não ter escrito nenhuma carta para ela.
- Eu tive que fazer isso. Eu tenho certeza de que os comensais estão me vigiando. Não quero que interceptem uma carta de amor... Gina seria o próximo alvo deles, não tenho dúvida!
- Mas mandou cartas para mim e para Hermione! - Rony disse, num tom brando. Harry virou-se para Rony, muito preocupado.
- Rony. O mundo inteiro sabe que você e Mione são meus melhores amigos... que são a única família que tenho neste mundo. Se houvesse uma maneira de voltar no tempo e fazer com que todos se esquecessem disso, não tenha dúvida de que eu o faria para proteger a vocês dois.
- Ah, Harry...
- Eu tenho muito medo... morro de medo de perder vocês. De você não tenho tanto medo, porque sei que sua família é bem grande e daria mais trabalho para os comensais. E ainda tem seu pai que trabalha no Ministério. Não acho que eles ousariam tentar alguma coisa. Eu fico preocupado com Hermione. Ela é filha única... é a única bruxa da casa. Mas ela me enviou algumas cartas, dizendo que estava tudo bem. Que estava sendo cautelosa...
- Ah... os comensais se arrependeriam amargamente se tentassem alguma coisa com Hermione. Se até eu, que sou o melhor amigo dela, tenho medo para caramba quando ela ergue aquela varinha, imagina os comensais. – disse Rony, divertido, fazendo Harry sorrir.
- É verdade, Rony. Hermione é muito poderosa. A cada dia está melhor.
- Como você! - disse Rony, um pouco ciumento. - Fico imaginando o que meus dois melhores amigos, e os mais poderosos de Hogwarts, querem andando comigo... um pobre garoto ruivo que mal sabe fazer um vingardium leviosa! Harry bateu no ombro de Rony pelo melodrama que o amigo fez e ambos caíram na gargalhada.
- Bem... pobre ou não, Rony, parece que Hermione esta... bem... caída por você! – Harry disse, tentando ser divertido, mas percebeu que Rony ficara sério de repente – Algum problema, Rony? Achei que gostasse dela!
Rony suspirou pesadamente
- Eu gosto, cara! Gosto mesmo.
- E então? Qual é o problema? – perguntou Harry sem entender. Ela ficava um pouco sem jeito quando pensava em Hermione e Rony juntos, afinal, os três andavam sempre juntos, como grandes amigos e se os dois namorassem, querendo ou não, a amizade do trio iria mudar, mas, assim mesmo, torcia para que os dois se entendessem, pois sabia que ambos se gostavam.
- Mesmo se Hermione quisesse ficar comigo e namorar comigo, eu não poderia ficar com ela.
- Ah? – Harry disse. Estava confuso com o amigo, principalmente pelo tom sério em que ele falava. – Por que não?
Rony olhou sério para ele e abaixou a cabeça, parecendo triste.
- Você não vai entender, Harry. Veja... você é inteligente, poderoso, tem dinheiro. Eu... eu não tenho nada. Minha família é pobre, simples.
- E o que tem isso a ver? – perguntou Harry, meio aborrecido. – A sua simplicidade e a de sua família foi o que me cativou em primeiro lugar.
- Eu sei, Harry – disse Rony – Você é bom, mas eu não posso me dar o luxo de ficar com quem eu gosto. Eu preciso fazer como Gui. Você acha realmente que ele ama Fleur?
- Claro que sim!
- Não, Harry, não ama! – respondeu Rony, aumentando o volume da voz, mas tomando cuidado para que ninguém, além de Harry o escutasse.
- Fleur é mimada, chata demais para um aventureiro como Gui. Mas ela é rica, filha de diplomatas mágicos da França, além de serem famosos, os bruxos mais poderosos da França.
- Você não está falando sério! – disse Harry, sem acreditar no que o amigo falava.
- Eu não posso me casar com alguém como Hermione. – Rony continuou, sem mudar o tom melódico e sério. – Ela é brilhante... e famosa. Mas é uma nerd. E bem... eu nunca tive preconceitos, você sabe... minha família até é conhecida como amantes de nascidos trouxas, mas Mione é uma... sangue-ruim. Casar com uma sangue-ruim é suicídio social! Meu sonho é trabalhar para o ministério, e nunca poderei realiza-lo se estiver casado com Hermione. Ser amigo de um sangue-ruim não é problema, e é até bem quisto, mas não posso me envolver mais profundamente... você entende, não é Harry?
Harry ainda estava petrificado com o que o amigo dissera e demorou alguns segundos para responder.
- Não, não entendo! – disse Harry, decepcionado. – Sempre lutamos contra o preconceito. É esse preconceito IDIOTA tem causado todos os nossos problemas, afinal se Voldemort não tivesse esse pensamento, tudo seria diferente. Eu não acredito, Rony. Não acredito que pense dessa forma. É por isso que nunca ficou com Hermione?
Rony balançou a cabeça afirmativamente, parecendo arrenpendido de ter revelado seus sentimentos a Harry.
- Não sei se posso aceitar isso, Rony... sinceramente, eu não sei! – disse Harry, jogando o último gnomo no chão e disparando para dentro da toca.


Harry não falou com Rony pelo resto do dia, pois tentava digerir o que o amigo lhe falara. Nunca imaginou que Rony pudesse ser preconceituoso quando seus atos sempre revelaram o contrário, mas agora que sabia, estava tendo dificuldade para aceitar isso.
Harry fez várias tarefas para ajudar a Sra. Weasleys que fazia brigadeiros para o casamento e ficou afastado de Rony até a hora do jantar a noite.
Ele comia devagar e silenciosamente quando Gina desceu as escadas. Ela vestia roupas simples agora, mas mesmo assim estava deslumbrante. Ela sorriu para Harry, mas se sentou um pouco longe, de forma que não puderam conversar. Harry se sentiu mal naquele momento. Estar aborrecido com Rony e não poder falar com sua querida Gina era desconfortável para ele, até que, para seu acalento, alguém bateu a porta.
- Identifique-se! – disse a Sra. Weasley, agressivamente, enquanto colocava o ouvido sobre a porta, o que foi inútil.
- SOU EU, A MIONE! – gritou Hermione lá de fora, fazendo a Sra. Wesley, afastar os ouvidos.
- Como é que eu vou saber se é você de verdade? – disse a Sra. Weasley, desconfiada.
Mas Gina levantou-se e rapidamente abriu a porta.
- Gina!
- É a Mione, mamãe! – disse a garota, sorrindo, enquanto Hermione entrava.
- Boa noite para todos! – disse Hermione, sorrindo, revelando seus dentes alvos e alinhados.
Ela trazia uma mochila bem pesada às costas e uma sacola nas mãos.
- Rony, ajuda a Hermione a levar as malas pr... - começou a falar a Sra. Weasley.
- DEIXA QUE EU FAÇO ISSO! – disse Harry, pulando instantaneamente da mesa, queria muito mesmo sair daquele lugar e aquele era um bom motivo, principalmente por que poderia falar com Hermione que era sempre uma coisa prazerosa.
Ele tirou a mala pesada das costas da amiga que girou os ombros em sinal de cansaço.
- Ah, Mione, querida. Você se importa em ficar com Rony e com Harry. É que no quarto de Gina está Fleur...
- Claro que não, sra. Weasley! – disse Hermione, sorrindo para Harry e depois lançando um olhar terno para Rony que virou o rosto meio constrangido. - Eu já estou acostumada com os meus meninos, mesmo!
- Vem comigo, Mione! – disse Harry, chamando a atenção para a amiga que subiu as escadas atrás dele.
- Pode ficar na minha cama! – Harry disse, colocando a mochila sobre uma das camas no quarto de Rony. – Eu durmo no chão!
- Não quero incomodar, Harry... eu posso dormir no chão, também.
- Claro que não, né Mione. Ia ficar muito chato eu e o Rony na cama e você no chão.
- Nada a ver, Harry! – disse Hermione sorrindo e tirando a mochila da cama e a colocando no chão – Essas convenções sociais não dizem nada para mim.
Harry ficou um pouco sério com o que Mione falou, e sentiu por Rony ser o inverso da amiga que era totalmente livre de preconceitos. Ele gostaria muito naquele momento que ela não fosse apaixonada por Rony, pois sabia agora que ele não a merecia.
- Você ficou sério! – disse Harmione, percebendo a tristeza de Harry. – Se for por causa da cama, eu fico onde você quiser, Harry!
- Não, Mione! – disse Harry, forçando um sorriso. – Estou aborrecido com outra coisa.
- Com o que? – perguntou Hermione.
Harry pensou se deveria revelar o que sabia, mas achou melhor não, para não decepcioná-la. Mesmo assim se sentiu mal. Desde que se conheceram, Harry compartilhou muito mais coisas com ela do que com o próprio Rony.
- Nada! – mentiu ele. – Só estava pensando em Dumbledore.
Hermione ficou triste também. A morte de Dumbledore ainda era muito doida para eles.
- Ah, Harry... – disse Hermione, enquanto seus olhos marejavam.
- Não chore, Hermione – pediu Harry. – Eu tenho tentado ser forte, não tenho mais nem pensado nisso, mas se você chorar, acho que vou desmoronar.
- Nem sempre as lágrimas são sinal de fraqueza, Harry. Um homem forte deve saber o momento de chorar... o que você não pode fazer é deixar o sentimento de vingança ser mais forte em você.
Fazia mesmo muito tempo em que não tocava no nome de Dumbledore e se arrependeu em ter usado essa desculpa para não falar de Rony a Hermione, pois a perda de Dumbledore representava muito para ele.
Mas ainda mais forte do que a dor da perda era o desejo de vingança. Snape iria chorar lágrimas de sangue antes de encontrar a morte. A morte que o próprio Harry Potter traria a seu encontro.

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