O mundo inferior



Gina estava cansada de ficar no escuro. Uma vela bruxuleava perto dela, mas a luz era insuficiente para clarear inteiramente o quarto. As correntes nos braços e pernas a incomodavam, porém o que mais a perturbava era a incapacidade de realizar magia naquele espaço. O local estava todo preparado para impedi-la de escapar. Ela já tentara de tudo, sem sucesso. Reconhecia que o lugar tinha sido enfeitiçado por alguém com excelente domínio de encantamento antifuga. “Se ao menos eu tivesse participado de mais missões como auror, talvez tivesse aprendido outros truques”, lastimava-se. Não era o único lamento que fizera naquelas longas horas em que permaneceu naquele ambiente abafado. Sirius estava constantemente em seus pensamentos. Apesar da conversa que tivera com a mulher de vestes brancas, não tinha certeza de como estava seu filho. Sua última lembrança – e lhe doera muito avivar a memória – era o menino inerte depois de ter sido tragado pelo rio negro no dia em que sua casa fora invadida. Mas estava confusa.

- Ela falou que o Sirius está bem. Disse que poderia trazê-lo. Ele deve estar vivo. Meu filho deve estar vivo – gemia, com o coração tão apertado que sentia o peito se contrair. Uma sombra de desespero, no entanto, a rondava. E se a mulher estivesse tentando enganá-la. E se Sirius... – NÃO!

Colocou as mãos na cabeça, tremendo e produzindo um som metálico por causa das correntes. Por que ela estava ali? Por que tinham sido atacados? Procurou se concentrar para enviar uma mensagem telepática para Harry. Nunca experimentara isso. Mas sabia que alguns bruxos tinham esse dom. Era uma prática comum entre os magos tibetanos. Uma ocasião Harry a ensinara alguns rudimentos, um pouco do pouco que aprendera no tempo que passara com Mestre Lao. Porém não tivera sucesso, exceto provocar risos no marido. Naquele momento, entretanto, valia tentar todas as táticas possíveis. Gina cerrou os olhos com força e focou sua energia em transmitir um pedido de socorro endereçado a Harry. O máximo que conseguiu foi receber de volta a energia emitida. Quase como se tivesse rebatido nas paredes, retornando com violência para ela. A cabeça começou a latejar. Atordoada, golpeou os muros de sua cela particular, fazendo as correntes retinirem.

- Está disposta hoje, hein?! – comentou Greta, que entrara sorrateiramente no quarto.

- ONDE ELE ESTÁ?

- Quem?

- SIRIUS!

- Acalme-se.

- Eu vi que o rio Flama o engoliu. O rio apareceu na minha casa.

Greta curvou os lábios para baixo, numa expressão que estampava seu desconhecimento.

- Rio?! Você viu um rio? – e então seus olhos brilharam, divertidos. – Ah, foi isso que você imaginou?! A poção alucinógena é realmente muito boa e pode revelar alguns dos seus piores medos. Sombra sempre teve habilidade para essas artes.

- Sombra?!

- Oops, alguém vai se irritar se souber que eu deixei escapar esse... apelido.

- Ele é o espírito do rio Flama? – perguntou, empalidecendo.

- Não sei do que você está falando – resmungou, batendo com a varinha numa mesa. – Está aqui a sua refeição. Melhor comer se quiser ver o seu querido Sirius.

- Como ele está? Eu preciso saber.

- Eu já disse. O moleque está bem.

- Que garantia você me dá?

- Nenhuma. Se quiser acreditar em mim, acredite. Se não quiser, estou pouco me lixando.

Gina teve vontade de esmurrá-la. Saltou de onde estava, mas foi violentamente detida pelas correntes. Caiu de mau jeito, porém conteve o grito de dor.

- Não adianta – comentou a mulher loura, com a voz gelada. – Não há como escapar. Já te expliquei. A magia antifuga daqui é poderosa. Tive excelentes professores...

- Quem? Algum Comensal, é?!

- Não. Tive aulas práticas num lugar que não existe mais. Tsc, tsc... Quem diria. Aprendi mesmo alguma coisa lá... – disse, com ironia, o olhar distante, pensando em algo difícil para Gina captar.

- Você vai ter mais aulas em Azkaban...

- Não sei como é Azkaban. Mas onde eu estive deveria ser a ante-sala do inferno. Já ouviu falar de inferno? – e riu, desdenhosa.

- Conversa de trouxas...

- Ah, mas esse lugar era mesmo a ante-sala do inferno... – respondeu de chofre. – Sabe o que fizeram comigo? Eu sempre fui tão quieta – murmurou, enrolando os fios claros nos dedos, com a mente perdida no passado. – Tinha de vez em quando uns problemas. Probleminhas de personalidade. Quem não tem quando se é jovem?

A auror não sabia para onde a conversa se dirigia, no entanto permaneceu quieta, atenta ao devaneio.

- Eles quiseram me endireitar. Como se eles tivessem direito a endireitar alguém? – disparou, fixando seus olhos em Gina por alguns segundos. Mas Greta não parecia estar prestando atenção nela. Torceu os lábios, trazendo à mente lembranças inacessíveis para a auror. – Um dia cortaram meus cabelos. Ficaram tão curtos – continuou, esfregando as mãos na cabeça para ter certeza que suas madeixas estavam normais. – Eles não deixavam crescer. Os malditos queriam acabar comigo, com a minha vaidade, minha herança, minha magia. Eu não sabia como desfazer o feitiço que podava meus fios... Enquanto chorava, podia ouvir o riso deles. Só podia mesmo perder o controle... Eu... sempre fui tão quieta. Mas às vezes... reagia – e riu. Seu semblante, porém, não exprimia alegria. – E foi assim que parei no porão uma noite, duas, cinco. Até deixei de contar.

Estava claro para Gina. Aquela mulher era perigosa. Enquanto estivesse equilibrada, não haveria muitos riscos, imaginava. Entretanto, ferida, algo nela se transformava. Podia pressentir.

- Onde foi que te trataram desse jeito?

Greta despertou do desvario. Arrependida por ter se revelado tanto, saiu sem dizer mais nada.



*****


Harry sentia-se exaurido. Física e mentalmente. Tinha acabado de contar em detalhes o resgate de Dobby e Winky. Rony balançava a cabeça, quieto. Dumbledore estava de pé, diante da lareira, observando as chamas crepitarem. E Hermione olhava desanimada para a porção de pergaminhos que tinha diante de si.

- Mas essa voz aguda, não pode ser da loura misteriosa? – inquiriu, puxando alguns papéis para ler mais a respeito dela.

- Ela não tem voz aguda. É rouca.

- Dá para disfarçar a voz com uma magia muito simples...

- Sim, dá – respondeu Harry, chutando fracamente uma bola esquecida na sala por James.

Estavam cabisbaixos assim quando as chamas da lareira se agitaram, abrindo espaço para duas visitantes inesperadas. Do fogo surgiram Fleur acompanhada da filha, uma menina um ano mais velha que James.

- Olá, todos. Ça va, Hermione? – perguntou a mulher em francês, puxando pela mão sua pequena e bela Nadine.

- Eu vou bem, obrigada – respondeu Mione, sem grande entusiasmo, depois de ouvir os cumprimentos dos homens. Passado tanto tempo, ainda não conseguia gostar muito da cunhada por se lembrar que Rony gostara dela nos longínquos dias do quarto ano em Hogwarts.

- Gui e eu conversamos sobre vocês ontem. Decidimos que eu poderia passar as tardes aqui para ajudar. Sei que está auxiliando o professor Dumblydor, Hermione. Posso colaborar cuidando de Jamie enquanto vocês estudam um jeito de encontrar Gina e Sirius. Trouxe Nadine comigo para brincar com o primo.

- Que gentil – replicou. – Mas não precisa, Fleur. Gringotes não vai querer ficar sem uma funcionária tão valiosa.

- Certamente! Só que eu pedi licença. Eles son muito compreensivos quando querem. Nadine, cherie, vá procurar o Jamie.

- Espera, Fleur. É só dar um chamão – interrompeu Rony, solicíto. – James! Temos visitas.

Incomodada com o grito do marido e com a presença da cunhada, Hermione fez uma careta.

- Ahn, estávamos falando sobre Dobby e Winky. Harry os encontrou...

- Non diga?! O que se passou?

Rony explicou rapidamente em que situação estavam as investigações. Fleur ouviu atentamente cada palavra do cunhado e Hermione enfiou a cara nos pergaminhos. Dumbledore voltara a se sentar, porém não movera um dedo em direção aos documentos. Estava pensativo. Harry não se pronunciava. Seus olhos estavam grudados no chão.

- Vá para a Toca, Harry – falou baixinho Dumbledore. – Você está cansado.

- Ainda não. Eu preciso ter a sensação de que algum avanço foi feito – respondeu, desolado. Preciso! Mas eu não consigo pensar.

- É natural, meu jovem. Seu coração não te permite raciocinar. Está sofrendo muito.

Calaram-se. Naquele instante, apareceu James. O garoto estava acostumado a ver a casa cheia, porém não contava encontrar sua prima. A careta que Hermione fizera um minuto atrás, o menino repetiu.

- Jamie, vim brincar com você – disse alegremente Nadine, piscando os olhos azuis e balançando os cabelos ruivos bem claros que estavam presos em duas chiquinhas.

- É James! E não quero brincar com você – estrilou.

- Ei, moleque, onde estão os modos? – bronqueou Rony. – Venha, Nicole, o James vai brincar com você.

- Mas eu não quero.

- Ah, vai querer.

- Pai!

- A Nadine veio até aqui só para te ver. Não vai ser mal educado, não é?!

O ruivinho armou um bico, porém não contestou o pai.

- Se quiser, estou jogando Castelo Encantado no meu quarto. Mas eu só vou explicar as regras uma vez! – e retornou para o dormitório sem manifestar simpatia alguma pela prima. Nadine, entretanto, o seguiu como se tivesse sido chamada a brincar de boneca.

Rony enfiou a mão nos bolsos e olhou para Fleur um pouco vexado.

- Sinto muito, mas meninos são assim, você sabe. Um dia eles começam a gostar de garotas.

- Oui. E Nadine ainda é muito nova para começar a exercer a magia das veelas. Nem sei se ela herdou a capacidade de encantar. A cada geraçon que passa, o poder diminui.

- Ainda bem que nem todos os homens se deixam seduzir pelo encanto das veelas. Espero que James não seja assim tão suscetível a ponto de fazer bobagens – retorquiu Hermione.

- Ah, as veelas têm poderes extraordinários. Conseguem dominar as pessoas. A beleza tem um encanto especial. Por causa disso, os homens prometem coisas fantásticas e fazem tudo o que uma veela pede. E as mulheres podem ser convencidas a fazer o que ela quer se souber como emocioná-las.

- Obrigada pela lição, Fleur. Um dia ela poderá ser bem útil para mim – disse Hermione, aborrecida.

Fleur fez mais perguntas a Rony, enquanto Harry e Dumbledore permaneciam em silêncio. Hermione folheava os pergaminhos.

- Mas vocês têm de descobrir como ficaram sabendo do ataque que Arry sofreu no passado! É fundamental para garantir a segurança das investigações – afirmou Fleur, como se estivesse falando algo que ninguém soubesse.

- Obrigada mais uma vez, Fleur! Suas observações são brilhantes.

- Mione! – admoestou Rony em tom quase inaudível para os demais. – Eu acho que tem dedo do Binder nessa história. Desde o começo ele está mais atrapalhando do que ajudando...

- Pode ser – murmurou Harry, sentando-se no sofá, aparentando cansaço extremo e apatia profunda.

- E o ministro? É confiável? – continuou Fleur.

- Pode ser – repetiu Harry, afundando a cabeça nas mãos.

- Deixe o Harry descansar. Ele está praticamente fora do ar – sussurrou Hermione para a cunhada. – Nem com seu encanto veela, Fleur, você conseguiria prender a atenção dele agora. Ele não está te ouvindo direito e só vai ser perda de... OHHH – gritou repentinamente.

Todos ergueram a cabeça, espantados. Hermione saltou da cadeira e puxou a varinha, apontando-a para os pergaminhos e fazendo com que alguns se sobressaíssem sobre os demais.

- Por mil dragões, o que foi, Mione? – perguntou Rony.

- ELA É UMA VEELA!

- Fleur?! Ela é mesmo – estranhou o marido.

- Não! Estou falando da Greta sobrenome-esquisito. Eu já estava achando anormal que existissem poucas informações sobre ela nestes pergaminhos. Olhem! Tem um monte de coisa sobre um monte de gente, só que dela mesmo só vem um ou outro documento. Mas agora eu saquei qual é o problema. Quem esteve encarregado desta papelada?

- Schmidt – respondeu Harry.

- Ele é confiável? – cortou Fleur.

- Meu feeling de auror diz que ele parece ser do bem. É chato, mas do bem – replicou Rony.

- E ele tomou Veritaserum para atestar a veracidade de tudo o que disse sobre o sumiço da arca – prosseguiu Harry. – Foram os próprios aurores alemães que fizeram isso.

- Párem! Escutem-me! Greta é uma veela – impacientou-se Hermione. – Quando Schmidt entrou para as investigações, ela deve ter dado um jeito de procurá-lo no Ministério e ter usado seus poderes sobre ele. Deve ter arrancado as informações possíveis e ter pedido para apagar os dados a seu respeito. E depois provavelmente fez com que ele esquecesse de tudo. Veelas conseguem fazer isso, não é, Fleur?

- Exactement. Basta que peça ao homem encantado por ela. Isso non é difícil. E funciona como se fosse um feitiço obliviador, se a veela tiver realmente essa intençon.

- Se é assim, por que a gente tem pergaminhos sobre ela? Tudo bem, são poucos. Só que ainda assim eles existem e trazem pistas a respeito dessa... suposta veela.

- Ela deve ter entrado em ação depois que o Schmidt começou a produzir os relatórios – exasperou-se Hermione, interrompendo Rony.

- Ou ela não é uma veela 100%. A cada geraçon...

– Nós entendemos, Fleur. E se ela demorou a saber que o Schmidt tinha sido promovido?

- Schmidt não foi promovido. Para ele, foi um castigo ter sido nomeado para esse trabalho. O negócio do homem é ficar na salinha dele e...

- Isso é só um detalhe, Rony! Por Merlin, o que estão esperando para ir atrás dele? Talvez Schmidt tenha mais informações sobre ela, guardadas em algum lugar.

Rony e Harry concordaram com a cabeça e desaparataram em seguida. Dumbledore ergueu as sobrancelhas e fez apenas um breve comentário.

- Muito bem, Hermione. Você trouxe luz para nossos aurores. E para mim também. Confesso que me senti bastante inútil hoje. Devo estar caducando. Ou foi a depressão de Harry que me contaminou.

- Non, non. A gente não pode se abater. Caso contrário, vai ser muito mais difícil encontrar saídas – disse Fleur.

Hermione se conteve antes de lançar mais um agradecimento carregado de ironia. Em vez disso, pediu para a cunhada dar uma olhada em Nadine e James. Mal a mulher tinha se afastado, ouviu-se o som de aparatação na entrada da casa. Ela correu até a porta e se deparou com Jin e Mei.

- Q-que surpresa! – e os cumprimentou.

A dupla tinha ido até lá para oferecer seus préstimos nas investigações. Hermione explicou que Rony e Harry tinham acabado de sair, mas os dois aurores chineses disseram que estavam dispostos a esperar. “Sem problemas”, respondeu. Mas para seus botões acrescentou: “Esta noite promete”. A medibruxa estava ciente de que tinha sob seu teto duas mulheres por quem o marido já tivera uma queda.



*****


Werner Schmidt abriu a geladeira e tirou um pote cheio de azeitonas recheadas. Fazia pouco tinha aparatado em sua sala de estar. Perdera um bom tempo coletando material extra pedido por Rony e Harry. Eles estavam ansiosos por saber mais a respeito das ex-alunas de Saint Petrus. Já estava bastante aborrecido com o excesso de trabalho e prometia se queixar a Binder na próxima reunião que tivessem. Não estava habituado a ter tantas tarefas, mas como estava em sua natureza ser organizado tratava de correr para não acumular serviço. Agora, por exemplo, estava produzindo novo relatório. Poderia deixar para segunda-feira, mas não. Preferira levar serviço para casa. Foi até seu escritório, um aposento apertado e repleto de caixas onde tudo estava guardado com etiquetas que classificavam o conteúdo.

Enfiou outra azeitona na boca. Achava incrível que os trouxas pudessem produzir alimentos tão gostosos. E melequentos. Olhou para seus dedos, manchados com o recheio avermelhado. Em seguida, viu o imaculado pergaminho no qual estava preste a escrever. “Isso não vai dar certo”, disse para si. Limpou-se rapidamente com um guardanapo, pegou sua varinha e fez com que de sua gaveta saísse uma pena repetidora.

- Agora sim – murmurou, comendo mais uma azeitona. E mesmo com a boca cheia começou a ditar o relatório.

De repente, escutou uma batida leve na porta. Schmidt largou o pote sobre a mesa, pegou um guardanapo e se dirigiu até a sala com o cenho franzido. Raramente recebia visitas.



*****


Harry aparatou numa rua silenciosa de Berlim. Esperou um segundo até que ouviu Rony chegar no mesmo local.

- Pena que nenhum de nós tinha o endereço do Schmidt. A gente teria economizado tempo.

- Nunca pensei que fosse precisar. Só mando corujas para o ministério.

- Eu também – respondeu Harry, puxando a capa para se proteger do frio noturno. – Ainda bem que pelo menos você guardou o endereço dele na sua papelada na sala dos aurores.

- Ah, tudo bem. Nem deu trabalho passar pela segurança de plantão. Eles estavam doidos para voltar para a soneca – brincou Rony.

- Não é tão tarde assim. E não tire sarro dos seguranças. Eu escolhi quase todos – disse, abrindo o portão do prédio onde vivia Schmidt.

- Estava aberto ou você...

- Alohomorra – respondeu Harry, subindo as escadas.

- Certo. Só na cabeça e sem varinha – emendou. Como não teve réplica, completou. – Humm, você está de pouca conversa hoje.

- Você também estaria no meu lugar.

Rony reconhecia aquele estado. Harry estava deprimido. Já o vira outras vezes nessa situação. Pensar nisso também o atormentava. Era quase como enfrentar um dementador. Sua única irmã e seu sobrinho ainda estavam desaparecidos. Subiram as escadas com a impressão de que carregavam muitos quilos a mais nas costas.



*****


Schmidt destrancou a porta e abriu uma fresta com desconfiança. Para sua surpresa, havia uma mulher no corredor.

- Sim?

- Boa noite.

- Boa noite, senhorita. Ahn, deseja alguma coisa?

- Ora, não lembra de mim, Werner?

- Eu? Como sabe meu nome? Perdão, mas não me lembro da senhorita. Mora aqui no prédio?

- Não – respondeu com a voz rouca e um sorriso cristalino nos lábios. – Pode me convidar a entrar?

O homem teria recusado, mas aquele sorriso cativante dobrou sua vontade. Fez com que a bonita jovem entrasse. Estava intrigado. Não se recordava de algum dia ter conhecido uma moça tão encantadora.

- Creio que deve haver algum engano. Nós não nos conhecemos.

Ela retirou a capa escura que a cobria e desvendou suas vestes brancas. Schmidt teve a impressão de que alvura como aquela só nas nuvens. Em seguida, a mulher soltou os cabelos que mantinha presos num coque. Sacudiu a cabeleira e lançou um olhar profundo sobre o homem confuso. Schmidt teve a impressão que o dia nascera subitamente. Radiante e cálido.

- Ainda bem que você não se recorda de mim. Sinal de que te mantenho sob meu poder.

- Sempre me terá sob seu poder, senhorita...

- É assim que se fala, Werner. Bom, hoje será a última vez que vamos nos encontrar.

- Não diga isso, senhorita. Mate-me, mas não me deixe...

- Muito romântico, Werner. Só que não é necessário esse sacrifício. Preciso de você vivo.

- Do que precisa? Farei qualquer coisa que me pedir. Quer mais cópias de relatórios? Os aurores estão atrás da senhorita. Eles solicitaram muitos documentos. Tive de fazer mais pesquisas...

- Apague tudo. Esconda-me, Werner. Não deixe que eles me descubram.

- Mas não precisa se esconder. Os documentos dizem que a senhorita morreu.

- Eu sei. Num ataque de lobos. Dois anos depois de eu ter saído de Saint Petrus. Acontece, Werner, que eu estou bem viva. Como você pode ver.

- Sim. Viva e linda! Eu poderia morrer pela senhorita.

- Eu já disse. Você tem de estar vivo. Ao menos por mais um dia ou dois. É o tempo que a gente necessita. Quero apenas que faça o que mandei. E depois que tiver feito tudo, sua memória não registrará mais que estive aqui. Está claro?

- Claro como o dia.

- Não quero que encontrem nada a meu respeito! – reforçou. E, mais calma, perguntou – Eles estão na minha pista?

- Estão muito perto, pelo que sei. Os aurores pediram muitos papéis da sua velha casa. Eles irão atrás da senhorita. Precisa tomar cuidado.

- Cuidado? – desdenhou. – Mesmo que estejam perto, eles teriam de se aventurar pelo mundo inferior. E eu duvido que eles consigam. Não terão coragem de entrar. Ah, não mesmo. Eles não têm o “nosso segredinho”- e soltou uma risada de mofa. – Chega de conversa. Agora, o principal motivo da minha visita – murmurou Greta, materializando uma tesoura e se aproximando do homem. – Fique quieto enquanto corto seus cabelos.

- Meus cabelos? A senhorita os quer?! Sou um homem feliz. O mais fe...

- Quieto!

Schmidt se encolheu ante o comando da mulher. Ela tinha ouvido o ranger do assoalho no corredor do lado de fora do apartamento. Ficou paralisada.

- Você está esperando alguém?

- Não, senhorita.

Uma batida forte na porta a assustou.

- Schmidt!

A voz masculina a assustou. Guardou as mechas loiras de Schmidt num vidro, que colocou num bolso das vestes. Não a reconhecera.

- Abra. Somos nós – disse outra voz, a de Harry.

- Eu não estive aqui – sussurrou.

- Sim, senhorita – respondeu o homem, profundamente dominado pela magia veela.

Mas ele não diminuira o tom. E Harry se deu conta que havia alguém conversando com Schmidt. “Rápido”, berrou, enquanto arrebentou a fechadura com um feitiço explosivo.

A porta se soltou, pendendo para um lado, e os dois aurores entraram na sala correndo. Schmidt ainda estava catatônico. Olhava para um ponto vago.

- Com quem você estava falando?

O homem não respondeu. Estava com um ar apalermado. O efeito da magia não cessara. Só terminaria quando concluísse o serviço que Greta solicitara: apagar seus registros. Rony começava a vasculhar a sala, enquanto Schmidt aprumou o corpo e se dirigiu ao escritório.

- Um minuto, senhores. Tenho de resolver algo antes – e sacou sua varinha.

Harry o seguiu e o viu erguer a varinha em direção a uma porção de pergaminhos que estavam sobre a mesa. O chefe dos aurores não hesitou.

- Imobilus – bradou!

Werner Schmidt ficou parado, com o braço apontado para cima. Rony juntou-se aos dois rapidamente.

- Olhe. Uma capa feminina – afirmou, entregando-a para o cunhado. – Greta deve ter acabado de desaparatar. Ei, o que aconteceu com ele?

- Schmidt ia destruir estes documentos...

Cada um pegou um papel. Rony foi o primeiro a falar.

- Salamandras me mordam, Harry – deixou escapar. – Dá uma lida nisto aqui.

Porém Harry estava interessado em outra coisa. Seus olhos verdes se arregalaram ao perceber uma pena repetidora rabiscando um pergaminho. Terminava de anotar a última palavra proferida por Rony no relatório que Schmidt estivera preparando antes de ser interrompido. Estava lá também, com todas as letras, a íntegra da conversa entre Schmidt e a dona da capa escura que estava em suas mãos.



*****


- Oh, não acredito! Por poucos vocês não pegam essa Greta – lamentou Hermione, olhando a capa pela segunda vez.

- Mione, por favor, dê um jeito no Schmidt. Ele ainda parece abobalhado. Fico mal de olhar para o coitado.

- E ele vai ficar assim por mais um tempinho, Rony. Paciência, amor!

- Se fosse uma veela verdadeira, talvez ficasse desse jeito para sempre – observou Fleur.

- É um bom palpite, querida. Então, essa moça deve ser filha ou neta de veela – disse Gui, que tinha aparecido pouco depois de Jin e Mei, juntando-se ao grupo que acompanhara a leitura do pergaminho que reproduzira o diálogo entre Schmidt e Greta.

Harry estava distante dessa conversa. Despachava Pichi com uma mensagem para Binder, avisando-o do ataque sofrido por seu funcionário. E dizia que aquela noite Schmidt passaria sob sua guarda. No final, acrescentara. “Recomendo que você destaque alguns aurores para vigiá-lo”. Sabia que seu colega alemão iria espumar ao ler as últimas linhas. Sorriu brevemente. Mas logo mudou de humor. Tinham conseguido avanços importantes. Porém seu tormento naquele dia estava agudo. Não obtivera nenhum sinal de que sua família vivia. Os raptores não exigiram nada em troca. Já se passara tanto tempo que começava a desconfiar que pedidos jamais viriam. Não pretendiam negociar com ele. Seu coração pesava como chumbo.

- Escrevi para o Binder. A gente precisa de muita atenção agora. Temos de encontrar mais pistas com o material que conseguimos esta noite. Depois teremos de condecorar Schmidt pelo trabalho valioso que vem fazendo.

- E pensar que o Binder queria justamente que ele nos atrapalhasse – tripudiou Rony.

- Ahn, aurores, aqui tem um atestado de óbito – alardeou Jin, que estava olhando alguns dos documentos que Schmidt quase destruira. – É de Greta Schwab. Descreve mesmo que ela teve uma morte horrível. Foi estraçalhada por lobos!

- Vocês ouviram! Ela comentou isso com Schmidt. Greta simulou a morte. Não se esqueçam que eu a vi. E garanto que ela não tinha nada de fantasma – acrescentou Harry. – Lobos? Foi desse jeito que atacaram a vila perto de onde ficava Saint Petrus. E a chefe de disciplina morreu atacada por um. O zelador nos contou isso dias antes de também morrer. Ela está por trás disso. É uma assassina!

- Harry, achei o depoimento de uma ex-aluna que o Schmidt deve ter colhido estes dias. Sim, Greta foi filha de uma veela. Humm, mas a mãe... Bom, não se sabe o paradeiro dela. Nas férias, ficava na instituição porque a mãe não vinha buscá-la. Foi a veela que colocou a filha em Saint Petrus. O pai tinha morrido no ano anterior. Ele era trouxa. Essa ex-aluna diz que Greta começou a reagir violentamente quando um grupo de internas passou a provocá-la dizendo que foi abandonada pela mãe. Àquela época, ela parecia não ter poderes. Diziam que ela era um aborto.

- Quanta crueldade – comentou Mei. – Essa instituição não parece ter sido um bom lugar. A mãe não deveria saber disso.

- Ou sabia – disse Fleur, com o rosto grave. – Há veelas que não aceitam a "imperfeição" em suas filhas. São tão egoístas e vaidosas que seriam mesmo capazes de abandonar uma criança se não sentisse nela o potencial da magia veela ou se ela não for suficientemente bonita.

- Que horror! – chocou-se Hermione.

Ela ficou tão assombrada que não teve condições de prosseguir. Quase correu até o quarto dos filhos para beijar cada um deles. Como se tivesse percebido no ar o desespero materno, Dumbledore chamou a atenção para si.

- Muito obrigado, Hermione, por levantar essa informação tão importante. Estamos começando a delinear o perfil dessa misteriosa jovem. No entanto, devemos notar que o tempo todo ela fala em “nós”. Por isso, não creio que Greta seja o líder de todas essas ações que estamos presenciando desde o sumiço da arca. Se fosse o comandante, diria “eu”.

- O líder só pode ser Styx Dietrich – afirmou Rony. – Greta era amiga da irmã dele.

- Sim, provavelmente. Uma coisa me interessou particularmente na leitura que Hermione fez do pergaminho. Greta se referiu ao mundo inferior. Vocês repararam nos nomes dos jovens Dietrich?

- Não me lembro do nome da mulher – disse Jin, em tom de desculpa.

- Persephone – respondeu Harry. – Mas eu ainda não peguei onde quer chegar, professor.

Hermione deu outro salto. Dumbledore era mesmo genial.

- Eles são filhos de uma grega. E na mitologia grega Persephone é a rainha do mundo inferior. E Styx é um rio. Um rio que leva ao mundo inferior. Ohhhh, professor, o senhor não está se referindo ao... – e cobriu a boca com as mãos.

- Exatamente, Hermione.

- Exatamente o quê? – perguntou Rony, com um ar quase tão abobalhado quanto o de Schmidt, que estava sentado quieto, num canto.

- Em muitas culturas o mundo dos mortos é chamado de mundo inferior – explicou Mei, roubando um momento do brilhantismo intelectual de Hermione (que não evitou um biquinho por causa disso). – O senhor quer dizer que eles vão tentar entrar no mundo dos mortos?

- Ou então atrair os aurores para o mundo dos mortos? – arriscou Fleur.

- Rony, não se atreva a se aproximar desse lugar – disparou Hermione, já esquecida do ciuminho.

- Ainda não sei o que eles pretendem – respondeu Dumbledore. – Sem prosseguir as investigações, não poderemos descobrir o objetivo. E eu confesso que não tenho a menor idéia de como eles chegariam ao mundo inferior. Nunca soube de alguém que um dia tivesse entrado lá e retornado.

- Mas houve, sim, professor. Hércules, por exemplo – disse Hermione.

- Isso são lendas trouxas inventadas por bruxos – objetou Mei.

- Talvez sim, talvez não. Eu não teria tanta certeza – contestou Hermione.

- Eles podem querer trazer a tal da Persephone de volta, non?

- É impossível trazer mortos de volta à vida – emendou Dumbledore, afastando-se das mulheres que começaram a discutir a respeito do papel dos bruxos na criação de lendas e mitos trouxas.

Dumbledore tinha percebido que Harry acabara de deixar a sala, caminhando em direção ao quintal no fundo da casa de Rony. Atento ao rapaz, ele o seguiu. Harry acomodou-se num banco e mirou as estrelas no alto. O professor se ajeitou ao seu lado.

- Gostaria de te ajudar...

- O senhor não pode. Ninguém pode.

- Sei que está doendo muito, Harry. É que nem todas as pistas que levantamos hoje conseguem diminuir seu sofrimento.

- Se ao menos eu soubesse que Gina e Sirius estão bem. Vocês ficaram falando de mundo dos mortos. Ah, isso me abalou. Eu... – a garganta se fechou. – Às vezes eu sinto que eles estão vivos. Mas outras horas tenho um medo horrível.

- Você sente que eles estão vivos? Harry, já tentou se conectar com eles?

- No tempo em que estive com Mestre Lao ele quis me ensinar como se envia mensagens telepáticas. Só que eu não aprendi quase nada. Nunca me aprofundei – lamentou-se.

- Experimente agora. Livre-se de todos os pensamentos. Jamais fui bom nisso. Eu penso demais em muitas coisas. Mas concentre-se, Harry. Você é mais capaz do que eu. A ligação que você tem com Gina e com Sirius é muito forte.

- Não sei se consigo...

- No passado, você tinha uma conexão com Voldemort. Lembra-se? Você penetrava na mente dele. Harry, você conseguirá. Porque há um sentimento muito mais nobre envolvido nessa tarefa. Aproveite que a noite está clara. Deixe sua energia fluir porque o caminho está livre.

“Por que não?”, pensou Harry. Fechou as pálpebras e inspirou profundamente. Em sua mente, fez surgir apenas a imagem de Sirius. Por um segundo, sentiu a tristeza da saudade. Mas concentrou-se. Em seus pensamentos era como se gritasse o nome do filho. Então, algo o tocou. Não sabia se era uma brisa morna. Arrepiou-se. Não conseguia atingir a mente do menino. Porém teve a certeza, de uma maneira inexplicável, que Sirius vivia. Estava quase sem fôlego. Abriu os olhos e notou que tremia. Seus olhos se umedeceram.

- Sirius – murmurou, rouco.

Antes de comentar a sensação com Dumbledore, decidiu se esforçar mais uma vez. Precisava saber de Gina. Repetiu o ritual. “Gina, ouça-me”, dizia para si. Teve a impressão que saía de seu corpo e caminhava nas estrelas, procurando por ela. A imagem de sua mulher estava diante dele e ele prosseguia. “Gina”, chamava. O tempo tinha parado e ele andava pelo desconhecido. Mas, por mais passos que desse, a distância não encurtava. Dessa vez, não houve brisa. Nem calor. A imagem se apagou e ele quase caiu do banco. Dumbledore o amparou. Harry tremia fortemente.

- Conseguiu, filho?

Harry ficou de pé, com a pulsação acelerada e um misto de emoções instalado no peito.

- Sirius, sim. Ele está vivo. Tenho certeza – e sua voz ficou engrolada. – Mas Gina, eu não sei. Não consegui sentir nada. O que é isso? – perguntou, agoniado.

- Você não conseguiu fazer contato, Harry. É só isso. Sua energia não encontrou a dela. E ela está inencontrável, como também Styx. Ele providenciou um lugar inacessível para a gente.

- Só que eu senti Sirius.

- Sim. Ele é seu filho! Seu sangue circula nele. Sirius também está inencontrável. Só que isso não te impediu de senti-lo. Até no mundo animal isso acontece, Harry. É o instinto da natureza que te guia. E, além disso, você tem o seu talento mágico.

O chefe dos aurores abaixou a cabeça.

- Eu preciso dela, professor. Sem a Gina, vou enlouquecer. Sei disso – disse, com as lágrimas surgindo nos olhos. – Desculpe. Creio que o senhor não compreende. Acho que o senhor nunca...

E ficou de costas para o diretor, sem coragem de se mostrar tão frágil. Depois de um minuto, recuperou-se do choro e girou o corpo para dizer que era melhor retornarem à sala. Dumbledore, porém, tinha uma expressão curiosa.

- Harry, eu já sou bem velho. E, aliás, você já me conheceu velho – riu levemente. – Mas antes de ser bruxo sou humano. Compreendo esse sentimento, sim. Ah, estou vendo seu rosto. Não acredita em mim?

- Não é isso. É que nunca pensei que o senhor... Então, o senhor já amou?

Dumbledore soltou outro riso sutil.

- Existe uma mulher que me faz um bem incrível. Até hoje. Quando eu a conheci, não pensava nessas coisas, de fato. A magia ainda era a razão principal da minha existência. Ah, eu já lecionava e adorava ensinar meus alunos. Só que meu foco era esse: aprender o máximo que pudesse e transmitir o que descobrira para que nossos poderes fossem usados da melhor maneira possível. Como vê, sou um romântico desde sempre. Tive uma aluna extraordinária, que me procurava com freqüência e me pedia lições extras. Ela realmente gostava da minha disciplina. Fui um bom professor de Transfiguração, Harry. Estávamos sempre conversando. Gostava desses momentos, sabe. Ela se graduou e se foi. Alguns anos depois, retornou, com um diploma de mestrado em Transfiguração. Perguntei até se ela queria o meu lugar. Era uma brincadeira, mas a mulher ficou tão vermelha que julguei ter sido indelicado. Sua resposta me deixou envergonhado pela piada. “Ninguém poderá ocupar seu lugar. Você é único”. Nunca me esqueci dessas palavras. Bom, ela foi aceita nos quadros de Hogwarts. Vivíamos nos encontrado pelos corredores. Eu não era diretor. Era um mero colega. Havia uma boa diferença de idade entre nós. Isso não prejudicou em nada nossa amizade. Com o tempo, eu me habituei tanto a sua presença que comecei a lamentar sua ausência nas férias. Não sei quando exatamente, porém um dia essa professora me confidenciou que tinha sido pedida em casamento por um bruxo que eu conhecia bem. Até hoje não entendo como consegui quebrar todos os vasos que enfeitavam minha sala e que ganhei da mãe de um aluno que sonhava ser ceramista, mesmo sem ter a menor habilidade para aquilo. Não lamentei a perda dos vasos. Que eram, de fato, horrendos. Mas a cena foi um espetáculo bastante embaraçoso. Imagine você conversando com uma moça e os vasos se espatifando de uma vez. Tentei manter a pose em meio aos cacos. Só que essa mulher é muito inteligente. Perguntou-me se eu tinha algum sentimento por ela? Creio que foi a primeira vez que fiquei incandescente na vida. É possível que alguma fumaça tenha escapado de meus ouvidos. Sim, é muito possível...

Harry apertou os lábios por instantes.

- E o que senhor respondeu para a professora McGonagall?

As bochechas de Dumbledore ficaram rosadas.

- Estava tão óbvio assim que eu me referia a ela?

- Conheço uma mestra em Transfiguração. É a mesma mulher a quem McKinley se declarou muito tempo atrás. O velho Mac acreditava que ela estava apaixonada por outro e que por isso foi recusado.

- Foi o que ela me disse no dia, depois que eu fiquei mudo. Demorei um pouco para me explicar para Minerva. Eu me achava muito velho para ela. Achava? O que estou dizendo? Sou muito mais velho do que ela. Fui seu professor.

- E por que não ficaram juntos? Já eram adultos.

- Uma vez minha mãe recebeu a visita de um adivinho em nossa casa. Ele entrou em transe e a avisou que eu nunca poderia me casar porque estava destinado a uma causa maior. Minha mãe era uma boa mulher, mas se impressionava com alguma facilidade. E me fez prometer, em seu leito de morte, que não me casaria. Alguém é capaz de descumprir a promessa feita à mãe em seus últimos minutos de vida? Eu tenho um coração mole demais. E jurei que não me casaria. E sou do tipo que é fiel. Não poderia quebrar a promessa. Quando contei isso a Minerva, ela ficou furiosa. Nunca gostou muito de adivinhos. Que mais eu poderia fazer? Aconselhei que aceitasse o pedido de Thelonius. Ele era um grande homem. E lhe daria condições para ter uma vida esplêndida.

- Eu jamais faria coisa parecida – interferiu Harry, pensando em Draco. – Se não pudesse me casar, não diria à mulher que amo para escolher outro homem.

- É meu coração mole, Harry. No final, Minerva não quis deixar Hogwarts. E tampouco me deixou. Pelo qual sou eternamente grato a essa mulher. Certamente, sou um homem muito melhor do que poderia imaginar por influência dela. Não sei o que seria de mim se ela tivesse partido com Thelonius. Bom, contei-lhe essas coisas para tentar dizer que minha solidariedade por você neste momento tão difícil é absolutamente sincera. Compartilho sua dor, meu rapaz. Agora, vamos. Já é bem tarde.

Antes de entrarem na casa, entretanto, Harry se voltou para Dumbledore com uma ruga na testa.

- Ahn, professor... O senhor e a professora McGonagall já... Humm, vocês...?

- Harry, há certas perguntas que não se fazem – respondeu com o rosto sereno. – Mas, como eu te disse, sou humano antes de ser bruxo...

E se silenciou com um discreto sorriso nos lábios.












Está aí o capítulo. Foi difícil escrever por dois motivos: a falta de tempo (que já expliquei 200 mil vezes, sorry) e porque era hora de abrir mais pistas. A partir deste episódio, vcs podem estar bem próximos dos que vai acontecer. Claro, tenho minhas surpresas guardadas. Mas agora as especulações podem fluir bem mais à vontade... O que me angustia é que não terei condiçòes de escrever rapidamente. Pois é. Então, vcs terão tempo de estabelecer 200 mil teorias, hehehe. Se alguém acertar o que vai rolar de fato, juro que no final faço uma menção honrosa. Não fiz correções. Um dia, faço. Bjs e obrigada pela paciência, pela leitura, pelos votos e pelos comentários. Valeu muito. K.

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