Styx Dietrich



A cabeleira ruiva se espalhava por um colchonete, formando uma cascata de fios compridos sobre um lençol branco. Por longo tempo, ela permaneceu assim, imóvel. Mas a manhã já estava brilhando do lado de fora quando os primeiros movimentos da mulher desmancharam o desenho. Gina ergueu-se devagar, sentindo-se extremamente fraca. Apoiou-se nos cotovelos e ouviu um som metálico. Quis esfregar os olhos e teve a noção de que sua mão pesava. Piscou os olhos. Estava num quarto na penumbra, porém ainda conseguia enxergar algo. Uma luz entrava por uma fresta aberta. Estendeu os braços para poder se levantar. De novo, o peso e o som metálico. Fez força para acordar de vez. Percebeu, então, que estava acorrentada. Olhar para aquelas cadeias metálicas a remeteu imediatamente para o passado. Lembrou-se do dia em que fora feita prisioneira de Narcisa e Belatrix. No entanto, divagou, isso tinha ocorrido há tanto tempo... Por fim, tomou consciência do presente e o horror tomou-lhe a mente. Sirius! Agora, sim, estava desperta.

- Finalmente você acordou – murmurou uma voz feminina.

Pela fresta da porta surgiu uma jovem inteiramente vestida de branco. Os cabelos loiros cor de trigo mal se destacavam na roupa. Ela ergueu a varinha e uma jarra despejou água num copo.

- Tome

- Não quero – murmurou Gina, procurando se erguer, mesmo presa pelas correntes. – O que aconteceu com Sirius?

- Ah, o garoto... – disse, sem emoção. – Talvez eu te responda. Mas antes terá de beber um pouco de água.

- Já falei que não quero. Onde está o meu filho? – rosnou, sentindo que as pernas também estavam pesadas.

- Você decide: beber a água e afastar os efeitos da poção que te nocauteou ou não beber e ficar esperneando até ficar boa de verdade. Não sou eu que tem pressa – afirmou, abrindo a porta para sair.

- Espere! – e estendeu a mão para pegar o copo que estava suspenso no ar. Bebeu a água e percebeu o quanto sua garganta estava seca. Gina lançou um olhar mais demorado sobre si e notou que suas roupas estavam muito amarrotadas. Sentiu a pele áspera e os cabelos embaralhados. Com as costas da mão, limpou os lábios e descobriu que a boca estava ressequida, quase machucada. – Há quanto tempo estou aqui?

- Dias. O tempo todo desacordada. Mas não se preocupe. Eu cuidei de você. Tem gente que quer te manter inteira – e virou o rosto para um lado, perdida em seus pensamentos por alguns segundos.

A água teve o poder de acalmar os nervos de Gina. Ela sabia que não adiantava se precipitar. Observou com mais interesse a mulher. De súbito, seu coração disparou. Era a jovem que estava com Pinksy naquele dia em que se encontrara com Draco no ministério. Seriam aliados dela? Engoliu o espanto, segurou a respiração. Não queria dar a entender que reconhecera a pessoa diante dela. Mas era tarde. A mulher soltou uma risada. Puxou a cabeleira para trás, exibindo seu rosto bonito. Gina compreendeu de imediato que ela não estava nem um pouco preocupada em se esconder.

- Para quem você trabalha? Pinsky? Draco?

- Pinsky? Draco? É isso que você pensa? – e riu mais uma vez. – Por que não seriam eles que trabalham para mim? Hummm, que pena. Você terá de descobrir por seus próprios meios – e se preparou para sair.

- Onde está o Sirius? O que fizeram com ele? Quem invadiu a minha casa?

Greta girou nos calcanhares, enquanto a jarra e o copo se afastaram, flutuando rumo ao corredor.

- Ele está bem. E, se você se comportar, logo o verá. Não te direi quem esteve na sua casa. Até a hora em que você for necessária, isso vai continuar em segredo – respondeu, com desdém. – Por enquanto, melhor esperar e não tentar nenhum truque. Você já deve imaginar que é impossível aparatar e que sua magia não vai funcionar aqui. O quarto está preparado com feitiços anti-fuga. E pode apostar a sua vida que disso eu entendo.

- O que vocês querem conosco? Sirius é só um menino...

- E quem está interessado no menino?

Gina estremeceu.

- Não façam nada com ele, por fa...

- Basta que você nos obedeça e tudo ficará em paz – encerrou a mulher, deixando o lugar, que mergulhou na penumbra.



*****



Draco Malfoy apertou o botão do elevador com força. Irritava-se por estar ali, no Ministério da Magia. No entanto, atendia a um chamado excepcional da ministra. Impaciente, comprimiu o botão de novo. Quanto antes fosse embora, melhor. Tinha raiva por se lembrar da última vez em que estivera naquele prédio. Como se tivesse atraído o objeto de sua ira apenas com o pensamento, na portaria surgiu Harry. Cabisbaixo e com o semblante abatido, não se deu conta das pessoas que estavam por perto. Entretanto, Draco o vira. Estava em dúvida se deveria ir até o rival para se vangloriar de estar solto, porém a porta do elevador se abriu. O bruxo de cabelos platinados decidiu entrar e escapou à atenção do chefe dos aurores.

Ainda nervoso, desceu no andar da ministra. Resmungou. O sábado estava radiante, com o sol brilhando num contraste com seu humor. Draco aproximou-se da sala de Charlotte. Um bruxo ficou de pé ao vê-lo.

- A ministra...

- Sei. Está me esperando. Diga que cheguei.

Não demorou um minuto para que ele fosse introduzido à sala. Draco tratou de relaxar. Por mais irritado que estivesse, não queria demonstrá-lo a Charlotte. Entrou com ar sério, porém seu rosto já não exibia traços furiosos.

- Draco, como você está magro, rapaz.

- É a roupa, senhora Jones – respondeu calmamente.

- Preto sempre emagrece, não é – replicou a mulher, notando a elegância do rapaz, que vestia uma calça de brim escura e uma camisa negra e fina que permitia adivinhar os contornos do tronco. – Ora, vamos, você pode me chamar de Charlotte. Somos amigos. Você sabe por que te chamei?

Draco balançou a cabeça.

- Essa história da sua prisão foi muito desagradável. Mas espero que entenda. Harry está emocionalmente abalado. Muito abalado. O que mais se pode esperar de alguém que perde a família?

O rapaz de cabelos platinados não moveu um músculo. Seus olhos cinzentos continuaram fixos em Charlotte, sem pestanejar.

- Você vai mesmo levar adiante esse processo contra o meu chefe dos aurores?

- Depois do que aconteceu, é o que me resta.

- Seja razoável. Harry é louco pela mulher e pelo filho. Imaginava que você compreenderia melhor... Afinal, a mulher dele é Gina Weasley – comentou, com um olhar carregado de significados.

- Não abri um processo contra a mulher dele.

A ministra se levantou e caminhou pela sala com alguns pergaminhos nas mãos.

- Meu jovem, andei lendo os relatórios. Não costumo prestar muita atenção nesses documentos dos aurores. Eu quero saber apenas dos resultados. Só que este caso eu tive de acompanhar. Numa ponta está o meu favorito: Harry. Sim, ele é um rapaz excelente e vejo um grande futuro nele. Talvez um dia chegue a ministro. Naturalmente, gosto de acompanhar os passos dele. Eu disse a Dawlish que o nomeasse subchefe. E quando Dawlish se aposentou, decidi que Harry poderia muito bem assumir o cargo. É um bruxo como poucos.

Draco fez uma cara de enfado.

- Mas veja só: ele se colocou logo contra você. Justamente contra o outro rapaz em quem também percebo um imenso potencial. Você é diferente de Harry. Já era rico e tinha um lugar na sociedade reservado desde o seu nascimento, filho de bruxos puro-sangue que é. No entanto, você tinha abdicado um pouco da sua condição. Sumiu durante anos, isolado que ficou entre os trouxas americanos. Confesso que estranhei no começo quando soube um pouco da sua história. Depois pensei que você estava tentando apagar os episódios nada recomendáveis a respeito da sua família.

O bruxo apertou os lábios e uma ruga surgiu em sua testa.

- Agora, depois de ler os relatórios, mudei de idéia. Você deixou o seu país e a sua vida por causa dela, Gina.

- A senhora atribui importância demais a ela.

- Eu, não. Você. Caso contrário, por que você se meteria a provocar o Harry?

Draco também ficou de pé.

- Acontece que nós sempre fomos rivais. Desde Hogwarts. Esse é o ponto. E eu decidi me estabelecer nos Estados Unidos porque tinha planos de fazer negócios. E fiz. Ganhei um bom dinheiro e recuperei a fortuna da minha família, algo que meu pai deixou um pouco a perder com seu apego estúpido aos Comensais da Morte.

Charlotte fez um sinal para que ele voltasse a se sentar.

- Então, é só uma velha rivalidade? Muito bem. Aceito seus argumentos. Se você garante que isso não tem nada a ver com Gina, quem sou eu para te desmentir?! – e matutou por um minuto, sem deixar de encarar o rapaz. – Sabe, até fico satisfeito com sua resposta. Não que eu aprecie essa rivalidade. Gosto de Harry. E de você, Draco. Você é um exemplo para os jovens bruxos. Para que eles se sintam estimulados a crescer, fazer negócios, buscar saídas...

- Sem falar que eu posso trazer bons investimentos para a Inglaterra – ironizou Draco.

- Claro. Por que não? Não escondi isso de você, rapaz. Escondi? – perguntou Charlotte, com as sobrancelhas erguidas. – Você até poderia trabalhar no Ministério, no departamento de relações comerciais. Sim, você seria um excelente reforço para os nossos quadros. Já tinha pensado nisso, mas descartei porque imaginei que você ainda tivesse um fraco pela Gina.

- Mesmo que isso fosse verdade, não misturo assuntos pessoais com profissionais.

A ministra suspirou.

- Ah, não aprovo quando os assuntos pessoais interferem nos profissionais. Por Merlin, isso que está acontecendo com Harry... Como separar o pessoal neste caso? Como? – e, depois de soltar outro longo suspiro, desabafou. – Adoraria que ele não tivesse família. Seria um chefe perfeito se não tivesse mulher, nem filho com quem se preocupar.

Draco ficou quieto. Não piscou os olhos. Charlotte entregou-lhe os relatórios e retornou para sua cadeira. O jovem percorreu as linhas rapidamente. A mulher tirou da gaveta uma garrafa de xerez e dois copos. Serviu doses generosas e ofereceu para o rapaz, que recusou, ainda ocupado com a leitura, embora seu rosto não se alterasse. Charlotte bebeu silenciosamente, aos poucos. Assim que terminou, guardou a garrafa e deixou os copos sobre a mesa e convidou o visitante para almoçar. Não costumava passar em seu escritório no final de semana. Porém estava angustiada com o clima do ministério. “Conheço um restaurante bruxo excelente, Draco. Seria maravilhoso se você passasse a freqüentá-lo. É de um grande amigo meu”. Entretanto o bruxo alegou estar ocupado demais. “Para minha infelicidade”, acrescentou, devolvendo-lhe os papéis. Ele se retirou sem ligar para o desapontamento da ministra. Dirigiu-se até o elevador, pensativo. Amaldiçou-se em voz baixa. Tinha de fazer algo. Em vez de partir para a portaria, apertou o botão do andar da seção dos aurores. Caminhou resoluto. Abriu a porta e deu de cara com um homem mais velho, entretido em lustrar sua varinha.

- Quer alguma coisa, rapaz? Não costumamos receber visitas nos plantões – grunhiu.

- Seu chefe está?

- E quem gostaria de falar com ele? – prosseguiu o auror, desconfiado.

- Esse sujeito eu conheço, Arnold – respondeu Harry, que abrira a porta de sua sala. – Mesmo assim, não confie nele. Não é alguém para se dar as costas.

Arnold percebeu que os dois estavam com expressões nada amáveis no rosto. Parado onde estava, Harry ofereceu passagem para Draco. O bruxo avançou sem olhar para os lados e se sentou numa cadeira. O chefe dos aurores fechou a porta sem dizer coisa alguma. Andou sem fazer ruídos e se instalou em seu lugar.

- O que você quer, Malfoy?

A voz era ríspida. Draco não se intimidou.

- Vim avisar que apelar para a ministra não vai adiantar. Charlotte me pediu para retirar o processo contra você.

- Não sei do que você está falando – replicou, com desprezo.

Draco deu uma risadinha debochada.

- É, então ela gosta mesmo de você. Quer te livrar de problemas – disse, sarcástico. Em seguida, lembrou-se que, de certa forma, entre os problemas Charlotte incluíra Gina. Tinha sido isso que o movera a tomar a decisão que tomara. Iria ajudar Harry a encontrar Gina. Ao menos, no que pudesse. E naquele momento só lhe tinha ocorrido uma coisa. – Alguma novidade em relação ao rapto?

Harry não conseguiu evitar o movimento involuntário que quase lhe travou os maxilares. Seu queixo endureceu. Como ele se atrevia a fazer aquela pergunta? No entanto, lembrou-se das palavras de Dumbledore e conteve a indignação que lhe feria o coração. Amenizou ao máximo as palavras. E ainda assim não conseguiu ser polido.

- Não é da sua conta.

- Potter, o que aconteceu com Dobby? Você já o encontrou?

- Não se meta onde não é chamado, Malfoy. Estou te avisando. O que sabe da investigação? Quem está de conversinha com você?

- Charlotte está de conversinha comigo – retrucou com maus modos. – Diga logo se você localizou o Dobby.

- Por que quer saber?

- Você nunca soube como lidar com um elfo doméstico, não é?! Nunca soube como um elfo doméstico se comporta em relação ao seu mestre...

- Não tenho o hábito de maltratar ninguém. Mas olhando pra você sinto que posso mudar...

- Um elfo doméstico deve obediência ao seu senhor! E mesmo que ele ganhe a liberdade sempre ficará em sua cabeça a imagem da família a qual serviu. É muito comum que eles jamais se livrem da influência do seu senhor.

- Obrigado pela aula. Pode se retirar.

- Também não quero ficar perto de você, inútil! Acontece que li parte de um relatório a respeito do dia em que a Gina sumiu. Dobby não teria saído de casa sem mais nem menos. E nem ficaria tanto tempo incomunicável. Um elfo doméstico sempre atende ao chamado do seu senhor!

- Eu chamei o Dobby e a Winky inúmeras vezes, canalha!

- Não é isso que quero dizer! Dobby deve ter atendido a um chamado ao qual se sentiu obrigado a responder. Por que outro motivo ele deixaria a casa e desapareceria sem deixar pistas?

- Boa teoria, Malfoy. Preciso te recordar que o Dobby serviu a sua família no passado?

Draco embatucou. Não pensara que seu argumento podia se voltar contra ele.

- Eu não me esqueci. É que... nem pensei nisso! Isso faz muito tempo.

- Então, foi isso, Malfoy? Você chamou o Dobby? – perguntou Harry, com os olhos verdes fuzilando seu inimigo.

- Não. Eu, não. Dumbledore! Só pode ter sido Dumbledore. Winky não serviu a minha família. Mas trabalhou para o velho, junto com o Dobby!

- Está acusando Alvo Dumbledore de ter raptado minha família? Esse é o maior absurdo que já ouvi!

- Sua toupeira! Estou querendo te mostrar que Dumbledore pode ser o caminho. Alguém deve ter se feito passar por Dumbledore. Eu não sei como. Mas para que os dois elfos saíssem assim da casa é porque receberam alguma convocação que não conseguiriam ignorar. Tem de ser uma convocação do Dumbledore. Se fosse minha convocação, essa Winky não me atenderia!

Harry estudou a fisionomia de Draco. Estava aborrecido. Segurou o desprezo que sentia por ele.

- Por que eu devo dar ouvidos ao que você está dizendo?

- Por causa da Gina! Eu não sequestrei a Gina. Eu não faria isso com ela! Jamais! Não pense que estou te ajudando. Estou tentando ajudar a única mulher que fez sentido na minha vida.

O chefe dos aurores teve a impressão mais uma vez que seu maxilar travara. E Draco prosseguiu como se tivesse simplesmente acabado de perguntar as horas.

- Só pode ser uma convocação de Dumbledore. Vocês têm de investigar possíveis lugares para os quais o velhote levaria alguém. Tem aquele pardieiro de Hogsmeade que ele gostava de freqüentar, o Cabeça de Javali. Em Hogwarts, não pode ser. Eles devem ter recebido uma convocação e ter partido para algum lugar onde foram capturados e...

- Seu tempo acabou, Malfoy – cortou Harry. – Fora.

Draco ficou nervoso com o tratamento, porém não contestou a ordem. Levantou-se e estava para bater a porta quando ouviu mais um comentário de seu rival.

- Você gosta de andar todo de preto, não é?! Não tinha reparado antes.

- E o que isso significa, Potter? – perguntou Draco, entre dentes.

- Responda você, Malfoy.

O ex-capitão da Sonserina replicou com altivez.

- Significa que meu gosto é semelhante ao de meio mundo – e bateu a porta.



*****


Hermione prendeu os cabelos volumosos com um laço vermelho que amarrou no alto da cabeça. Depois pediu a James que ficasse no quarto da irmãzinha enquanto ela e o professor Dumbledore estudavam as cópias dos pergaminhos que Rony trouxera do ministério. O menino estava desenhando histórias de lendas bruxas num caderno. Obediente, carregou o material nos braços. Sabia que os adultos andavam estressados ultimamente.

- Muito bem, professor. Por onde começamos?

- Como professor, olharia as fichas de estudantes dos Dietrich. No momento, é o que mais me interessa. Ficarei com os papéis referentes ao rapaz.

Os dois examinaram pergaminhos durante meia hora. Não trocaram palavras nesse tempo. Foi Hermione quem rompeu o silêncio.

- Esta moça teve uma série de problemas disciplinares. As notas não chegariam a ser ruins, se não fossem pelos descontos dados pelos professores. Só melhorou mesmo no último ano. Os últimos registros, aliás, apontam uma recuperação fantástica, inclusive em relação ao comportamento. Ela deveria estar amadurecendo até que... bem... houve a tragédia!

- Precisamos entender direito o que aconteceu nessa tragédia. Quanto a este jovem, diria que foi um aluno fabuloso.

- Ah é? – perguntou Hermione, curiosa. Puxou alguns papéis que Dumbledore já tinha avaliado. De um deles saiu um retrato onde se via um bonito rapaz, de intensos olhos azuis. – Este aqui que é o tal do Styx Dietrich?

- O próprio. Depois de ver esse retrato, eu me felicitei por esse moço não ter estudado em Hogwarts. Teria me dado muito trabalho com as garotas...

- Professor! Até parece que a gente só liga para a aparência.

- Neste caso, minha cara, não seria somente pela aparência. De acordo com esta papelada, Styx era inteligente, organizado, generoso, solidário e ainda jogava quadribol muito bem. Faria estragos nos jovens e inexperientes corações femininos de Hogwarts.

- Humm, ele era do tipo atirado?

- Não. Era tímido. E muito correto – respondeu, lendo um pergaminho que descrevia a personalidade do estudante. – Não teve problemas disciplinares. Nada que o desabonasse. No último ano, esteve algumas vezes na ala hospitalar. Mas não eram situações graves. Exceto quando soube da morte da irmã. Na noite em que foi informado do que se passou, Styx teve uma reação violenta, destruindo o dormitório e agredindo os compranheiros. Algo que ninguém imaginava que pudesse acontecer. Estava tão incontrolável que lhe deram uma poção tranqüilizante. Humm, uma dose um tanto excessiva, eu diria – murmurou ao analisar a descrição do tratamento. – No dia seguinte, ele entrou em depressão profunda. E mesmo nessas condições pediu licença para acompanhar o enterro da irmã. Hermione, procure todas as informações que houver a respeito da morte de Perséfone Dietrich.

Ela balançou a cabeça, revirando os papéis. Sabia que não havia muitos documentos ali. Grande parte se perdera no incêndio que destruira Saint Petrus. Sugeriu que seria melhor analisar as entrevistas das colegas de Perséfone. Hermione puxou a lista das antigas estudantes do reformatório e começou a ler alguns depoimentos. De repente, seus olhos caíram num nome. Buscou a ficha que a instituição mandara para o departamento de ensino da magia do Ministério alemão. Com os papéis numa das mãos, puxou com a outra uma caixa onde havia fotografias das internas. Tirou uma, duas, três...

- O que está fazendo, Hermione? – estranhou Dumbledore, como se não acreditasse que sua ex-aluna, sempre tão ordeira, estivesse aprontando tamanha bagunça.

- Tenho um palpite – respondeu, espalhando as fotografias até que soltou um “ahhhhhhhh” longo e surpreso. – Uma das internas citou um nome que me fez pensar na mulher misteriosa que foi contratada pela Pinsky. Eu fiquei com isso na cabeça porque... – enrubesceu. – Bom, quando o Rony me contou que todos diziam que ela era bonita, eu logo perguntei se ele a tinha visto. Err, não é propriamente ciúme, mas prevenção, professor. Ahn, ele não a viu. Só que me descreveu como essa moça era. Daí, vi esse nome bem parecido e corri para procurar uma foto dela. O senhor não acha que pode ser esta a mulher que sumiu?

Dumbledore pegou o velho retrato. Uma moça de olhos claros e cabelos louros como trigo estava sentada num cadeira quase imóvel. Então, ela ficava de pé, como se estivesse obedecendo a alguma ordem. Erguia-se com suavidade. Seu semblante praticamente inalterado. Mas havia um quê de melancolia em seu rosto.

- E quem é esta jovem tão solitária?

- Greta Schwab, “companhia constante da Perséfone”. É o que está aqui, neste depoimento. Greta, Grietl. Percebe? A descrição do Rony bate com esta imagem. E se o Styx conheceu essa moça no dia do enterro? E se eles começaram a planejar naquele dia uma vingança que acabasse com todos?

- Vingança contra quem??? Isso não combina com o caráter de Styx.

- Ele ficou louco por causa da morte da irmã! O senhor acabou de me contar isso.

- E quem não enlouqueceria com isso? Styx não me parece o tipo de gente que pensaria em vingança. Ainda que sua hipótese esteja certa, Hermione, por que ele não teria eliminado todos antes? O incêndio de Saint Petrus já aconteceu há anos. Styx não perderia tanto tempo para ir atrás do zelador. Ele não deixaria uma ponta solta se fosse esse vingador que você está imaginando. Não pode ser uma mera questão de vingança. E nós estamos perdendo o foco! Nosso objetivo é encontrar pistas que nos levem à arca. Que nos levem a Styx Dietrich, que por sua vez nos levará a Frank Dietrich, o chefe dos aurores que não cuidou da arca. Algo que até o momento não sabemos se foi deliberado ou não.

- Mas, professor, e se essa mulher que esteve no ministério for mesmo Greta sobrenome-impronunciável???

- Se for isso mesmo, Hermione, quer dizer que você poderia ser auror. Tem cabeça para investigar. Vá. Procure Harry. Se a Lilly acordar, farei alguns truques para entretê-la.



*****


O sol começava a declinar, anunciando o fim do dia. Para o menino que estava na janela, olhando para o bosque que o amedrontava à noite, era um momento angustiante. Sirius apertou com força o elefante de borracha que trazia consigo desde aquele distante passeio no zoológico de Londres. Desceu da cadeira, foi até uma cama que estava encostada na parede e puxou debaixo do travesseiro um agasalho para se aquecer. Soltou o brinquedo por alguns instantes para se vestir. Então, a porta se abriu. Sirius assustava-se sempre com isso. Seus olhos azuis ficaram amarelos e ele estendeu rapidamente a mão para pegar o elefante de volta e se encolher num canto.

- Como vai, Sirius? Trouxe algumas coisas para você – disse a figura coberta de negro.

O menino, que agarrava entre os braços a blusa e o brinquedo, fez que sim com a cabeça. Não sabia por que aquelas pessoas cobriam seus rostos com lenços que deixavam apenas seus olhos à vista. Em todo caso, aquilo lhe era bastante assustador.

- Arrá! De novo não comeu seu sanduíche. Desse jeito, você vai ficar fraco e doente. E isso não é certo, Sirius.

- Eu não tenho fome.

- Você tem de comer. Não vai me ajudar se ficar doente. E você sabe: se não me ajudar não vai voltar a ver sua mãe.

Sirius foi até a mesa, encolhido. Tinha receio de passar perto daquele gigante de preto. Para o menino, aquela pessoa era imensa. Na verdade, era magra e comprida. Talvez fosse da altura de seu pai, no entanto o fato de só surgir encapuzada no quarto em que era prisioneiro aumentava-lhe o medo. A seus olhos, portanto, o raptor parecia ser ainda maior. Não convinha desobedecer ao homem.

- Quando eu vou ver a minha mãe?

- Logo. Se você mostrar que aprendeu a fazer as coisas que te pedi.

- Por que eu tenho de fazer isso?

- Ah-ah. Sem perguntas, lembra-se. É esse o nosso acordo.

- Mas eu sou fraco. Não sou bom de magia. Eu posso até ser um aborto. O Dobby me contou o que é um aborto...

- Você é o filho de Harry Potter. É filho de uma auror. Não é uma criança qualquer.

- Eu não consigo fazer magia. Sou criança ainda.

Uma risada soou sob o lenço que cobria o rosto do raptor.

- Você consegue, sim. Seus olhos estão amarelos, de novo.

Sirius parou de comer no ato. O naco que engolira não queria descer pela garganta.

- Eu não sei como isso acontece – murmurou quase choroso.

- E não foi só isso que você fez durante todo esse tempo. Já mudou o cabelo, a cor dos olhos, até o formato das sobrancelhas – emendou, ainda risonho. – Você é um metamorfomago!

- Não sou, não – reagiu, com violência.

- Você acha ruim ser metamorfomago? Que bobagem! Só porque metamorfomago está a um passo de ser um monstro – disse, irônico.

O menino arregalou os olhos.

- Dizem que metamorfomagos não são confiáveis. Dizem até que o metamorfomago bom já nasceu morto – provocou. – Que terrível sina para a sua mãe, não é?! Você acha que ela merece isso?

Sirius começou a chorar.

- Eu quero a minha mãe.

A figura de preto ficou de pé de repente, jogando para longe a caixa que trazia nas mãos.

- Páre com isso. “Eu quero a minha mãe”! – debochou. E prosseguiu, com a voz irritada. – Você tem de ser forte. Onde está sua fibra? Um filho de Harry Potter, de um bruxo tão poderoso, não pode fraquejar assim. Compreendeu?

Foi um custo para Sirius conter as lágrimas. Mas ele se esforçou. Apertou o elefante de borracha junto ao corpo trêmulo. O raptor se deu conta do terror que inspirara no garoto. Com a mão nua, atraiu a caixa de volta. Retirou dela pergaminhos, recortes de revistas, alguns retratos, um pacote de sapinhos de chocolate.

- Vou te dizer algo, Sirius, que provavelmente ninguém te disse ainda. Você tem magia poderosa. É que ainda não descobriu. O que eu sei de metamorfomagos me diz que você está conseguindo fazer transformações em idade bastante precoce. Então, esqueça isso que você falou. Você não é fraco!

- Eu ainda não tenho varinha. Nem posso ter.

- Treine o que já te passei. O metamorfomago não precisa de varinha para se transformar. Olhe, trouxe uns pergaminhos ilustrativos. Você vai aprender mais. Concentre-se, Sirius. Olhe para o espelho e mude a cor dos seus cabelos. Vamos lá – disse, arrastando um espelho grande que havia no quarto. – Como eu te ensinei.

Sirius olhou fixamente para sua imagem no espelho. Pensou em sua mãe. Desejava desesperadamente reencontrar sua mãe. Mas não era assim que a magia funcionava. Tinha de colocar na cabeça que seus cabelos eram vermelhos. Vermelhos. Vermelhos. Fechou as pálpebras por segundos. Quando as reabriu, viu no espelho que sua cabeleira continuava escura, exceto por algumas mechas cor de laranja aqui e ali.

- Não consegui – observou, frustrado. Seria mais um dia longe de sua mãe?

- Ok. Sem problemas – respondeu, entregando-lhe um sapo de chocolate. – Coma. Isso te dará energia. Vamos fazer o seguinte. Você está sofrendo sem ver sua mãe, não é? Essa cor é porque você estava pensando nela, é óbvio. Então, amanhã eu deixarei que você a veja. Será por poucos minutos. Mas assim que melhorar sua concentração, você poderá ficar com ela por mais tempo. Por isso, treine! Aqui, tente copiar os traços dessas pessoas dos recortes de revistas. E estude esses retratos. Decore cada detalhe desse rosto. Se você fizer tudo direitinho, logo estará longe daqui.

- Eu vou para a minha casa, com a minha mãe?

- Você terá paz, garoto. Paz – disse, saindo do quarto.

Sirius pegou um dos retratos. Seus olhos voltaram a ficar azuis.



*****


Harry estava inquieto. Não queria retornar para a Toca, onde o ambiente lhe lembrava fortemente a mulher e o filho. Em seu escritório, entretanto, não conseguia se concentrar. Avaliara alguns relatórios de outros casos que não o remetessem a seu drama particular. Mas era impossível deixar de pensar nisso. A visita de Draco também tinha sido intrigante. Em seu íntimo, revoltava-se. Sim. Draco tinha razão em seus argumentos. Porém ele não queria dar o braço a torcer. “Inferno! Por que diabos tem de ser ele a trazer uma hipótese plausível? Por que ninguém pensou nisso? Nem o Rony, que é bruxo desde que nasceu. Nem a Hermione, que é a pessoa mais inteligente que eu conheço. E nem o próprio Dumbledore”, resmungava.

Se alguém tivesse atraído Dobby e Winky se fazendo passar por Dumbledore, para onde os levaria? Havia tantos lugares no mundo. Certamente não tinha sido Hogwarts. Um estranho não conseguiria ficar no castelo por muito tempo à espera dos elfos. E como o raptor saberia de Dumbledore? Como?

- Ahn, Harry, tenho de dar um pulo em casa. Minha mulher me mandou um recado dizendo que nosso netinho acaba de quebrar um dente e ela não consegue lembrar como é a poção de solidificar dentes.

- Pode ir, Arnold.

- Obrigado, Harry. Minha mulher é mesmo uma coisa. Acho que vou fazer fichas com as principais poções e deixá-las em casa. Ela detesta pegar livros...

O chefe dos aurores deu um pulo na cadeira. Fichas! A mulher misteriosa poderia ter acessado as fichas do ministério. Aquelas que ele detestava e cuja existência ele desconhecia até bem pouco tempo atrás. “Que droga. O que a Vada disse mesmo quando perguntei a respeito delas? Hummm”, pensou, vasculhando a memória. Desesperado, foi até a mesa da secretária para bisbilhotar. “Será que era uma chave? Não. Uma sala? Um...”. Seu cérebro finalmente funcionou. Olhou para trás, onde havia um velho gaveteiro, torto, meio enferrujado. Um gaveteiro que nenhum auror se animava a mexer, tão feio e maltratado era. Harry puxou a varinha e bateu no alto.

- Quero as fichas!

Uma gaveta se abriu com tanta facilidade que seria impossível pensar que saíra daquele móvel decrépito. Havia inúmeros pergaminhos. Harry não tinha certeza do que fazer. Arriscou.

- Alvo Dumbledore!

Um pergaminho saltou do meio da salada de documentos. O rapaz o pegou e o abriu para ler. Era imenso. Se o desdobrasse totalmente poderia virar um tapete para a sala dos aurores.

- Quero saber que lugares Dumbledore anda freqüentando ultimamente.

O pergaminho girou no ar, se contorceu e deixou exposta uma parte onde Harry conseguiu ler que o professor costumava sair para beber no bar de Madame Rosmerta e no Cabeça de Javali. Também tinha o hábito de dar um pulo na sala da professora Minerva McGonagall antes de se deitar. E fazia compras costumeiras na Dedos de Mel. Estavam em sua rotina ainda passeios por Londres para endereços impossíveis de serem identificados (que Harry logo deduziu se tratar de sua casa e da residência de Rony, ambas protegidas de curiosos) e visitas eventuais à velha cabana de Hagrid. Harry quase deu um grito ao ler esse trecho. Devolveu o pergaminho à gaveta e disparou rumo ao elevador. Precisava ir a Hogwarts. Correu tanto que mal disse “olá” para os funcionários do ministério que encontrou no meio do caminho. Despediu-se com um “tchau” apressado dos bruxos encarregados da portaria e desaparatou com destino a Hogsmeade. Surgiu no local mais próximo que podia do castelo. Lamentou não ter trazido sua vassoura. Era tão pouco usual um auror recorrer a vassouras! Em poucos minutos, avistou a cabana. Subiu a colina o mais célere possível. Uma pista. Deveria haver uma pista ali. “Maldito Malfoy! Se eu encontrar uma pista aqui, para toda a vida ele vai jogar na minha cara que me ajudou. A menos que ele esteja envolvido nisso. Ah, diabos que te carreguem, cara de fuinha”, despejou já a poucos metros da porta. Harry sacou a varinha, por precaução e entrou na casa que tinha sido de seu amigo. Assim que colocou os pés no lugar, uma nuvem de pó amarelado se espalhou. Auror experimentado, saltou para trás, cobriu o rosto e materializou uma máscara para se proteger. Harry avançou com cuidado. Viu algumas garrafas vazias de vinho sobre uma mesa. Dumbledore devia beber ali um ou outro copo em honra ao fiel Hagrid. O pó amarelado cobria as garrafas, a mesa, os móveis. Andou por todos os lados. Não encontrou sinais dos elfos. Era a hora de fazer valer seu treinamento. Não tinha sido à toa que atingira o posto de chefe dos aurores. Puxou a varinha para o alto e fez com que o pó amarelado ficasse fosforescente, todo ele, inclusive as partículas em suspensão. Foi como acender um rastilho de pólvora. Um brilho tênue se espalhou pela atmosfera e se encaminhava para o lado de fora da casa, pela porta dos fundos. Harry saiu da cabana, seguindo a trilha formada por pequenos e esparsos pontos luminosos depositados na vegetação rasteira do lugar. Pareciam pequenas fagulhas. O bruxo agradeceu aos céus por não ter chovido naqueles dias em Hogwarts. Caso contrário, o pó em suspensão teria sido carregado para longe. Enquanto seguia aquele caminho, pensou no que poderia ser aquela coisa amarelada. Tirou do bolso um frasco e uma espátula. Arrastou um pouco do pó para dentro do tubo e o lacrou com cuidado. Descobriria depois. O que importava naquele momento era seguir adiante.

Estrelas despontavam no horizonte. Logo viria a noite. Harry não se preocupava com isso. Nem com o fato de penetrar na Floresta Proibida. De vez em quando, ouvia os ruídos típicos da mata. Animais correndo a se esconder dele. Devia estar estranho. Ele, um homem com uma capa de bruxo e uma máscara esquisita no rosto, coberto de pontos fosforescentes na roupa. Harry andou bastante, sem se desviar da trilha brilhante. Tinha de prestar muita atenção porque, após tantos dias, era natural que as partículas tivessem se espalhado. Até pelo movimento dos bichos ou do vento. No entanto, um caminho persistia. Estava ali, indicando uma direção. Deu mais alguns passos e, então, notou um amontoado de pó perto de uma árvore. Harry olhou para os lados. Era uma área muito distante do castelo. Uma região perigosa, habitada por lobos, cobras e aranhas e mais uma sorte de criaturas que ele mesmo desconhecia. Manteve a varinha firme na mão. Aproximou-se e soltou um palavrão. Lançou um feitiço que afastou uma pesada rede que cobria Dobby e Winky. O pó se alastrou. Os elfos estavam imóveis. Harry limpou a poeira amarelada, fazendo-a sumir de vez, apagando inclusive os pontos que tinham se depositado em suas vestes.

- Dobby!

Ele não respondeu. Harry energizou os dois elfos. Os corpos pequeninos se sacudiram levemente, porém continuavam quietos.

- Enervate! – bradou em voz alta e vibrante.

Winky se moveu primeiro. Abriu lentamente os olhos enormes. Trazia nas mãos um bilhete com o emblema de Hogwarts. E nele a letra de Dumbledore. Para Harry, estava claro que não era a caligrafia do professor, e sim uma tentativa de copiá-la.

- Senhor – murmurou Winky, abrindo a boca com dificuldade.

Em seguida, Dobby procurou levantar a cabeça. Estava lutando contra o entorpecimento.

- Harry Potter veio salvar Dobby! Dobby é muito grato. Dobby achou que seria comido pelas feras.

- O que aconteceu, Dobby? – perguntou Harry, improvisando uma poção com alguns frascos que retirara do outro bolso. – Quem fez isso com vocês?

Winky tossiu e algumas partículas amarelas e brilhantes saíram de sua boca e se elevaram no ar.

- Perdão, senhor – desculpou-se enquanto Dobby tomava o primeiro gole da poção.

- Vocês vão ficar bem. Mas eu preciso saber logo o que houve...

- Nós recebemos uma mensagem do professor Dumbledore que precisava nos ver com urgência. Madame Potter já tinha saído com o menino Sirius e não havia tempo para avisá-la. Dobby disse que iria esperar por ela, mas eu não deixei. Se o mestre Dumbledore solicitou nossa ajuda, é nosso dever atender de imediato – começou Winky, com a voz ainda engrolada.

- Dobby desconfiou um pouco. Por que o mestre Dumbledore iria querer falar com dois elfos domésticos com urgência? Mas é difícil não atender um pedido de um senhor tão generoso e bom como o grande mago Dumbledore – interferiu Dobby, que continuou a narrar o que se passara. – Então, nós viemos até a cabana de Hagrid, como estava no bilhete. Quando entramos na sala e nos sentamos no sofá para esperar o professor uma nuvem de pó amarelo caiu sobre nossas cabeças. Oh, mestre Potter! Aquele pó é muito forte. Ele nos fez dormir. Winky desmaiou na hora. Eu resisti um pouco mais e vi um homem de preto entrar pela porta dos fundos.

- Como é esse homem, Dobby? É muito importante que você me diga como ele é? Por acaso é o Malfoy?

- O senhor Draco Malfoy? Não. O homem estava com a cabeça coberta com lenços negros. Devia estar usando uma máscara. Não consegui ver o rosto dele. Mas não pode ser Draco Malfoy. Ele gritou “Durma logo. Ou você quer sentir os bichos da floresta te devorando?”.

- Malfoy poderia muito bem ter dito isso.

- O senhor Malfoy não tem voz aguda. E Dobby acabaria obedecendo à ordem porque fui elfo doméstico dos Malfoy durante muito tempo. Receber ordens da família Malfoy ainda me afeta. Só que eu não fui afetado. Tentei ficar acordado. Minha cabeça dizia para não dormir, mas meu corpo não me obedecia. Fiquei molinho, molinho, sem vontade de me mexer, de fazer nada. A única coisa em que pensava era que eu não queria acordar mais. Esse pó é muito forte, mestre Potter. Deve ser por isso que as feras não nos comeram. E foi por isso que nem eu, nem Winky conseguimos escapar. É um pó maldito esse! Nunca vi igual.

Harry ficou pensativo por segundos. Winky terminou de beber sua parte na poção e ficou de pé com a ajuda de Winky. O bruxo, então, falou o que lhe ocorrera naquele minuto.

- Eu já vi igual. É o pólen de Tsé-Tsé. Usaram esse negócio em mim há muitos anos, quando Comensais liderados por Belatrix Lestrange tentaram me capturar em Berlim. Usaram esse pó na noite em que herr Gutmann morreu.

- Oh, mestre Potter, o senhor acha que foi um Comensal que nos atacou? – guinchou Winky.

- Pode ser. Ou foi alguém que tem acesso aos documentos do ministério da magia da Alemanha. Apenas lá, num relatório secreto, está descrito o ataque que sofri. O relato que consta no meu departamento não traz esse pormenor. Rony não prestou depoimento aos aurores ingleses. Somente para os alemães. Eu conferi recentemente o material que temos. Não havia nada sobre o pólen de Tsé-Tsé. Aliás, eu nem me lembrava mais disso.

- Então, quem nos atacou foi um auror alemão? – perguntou Dobby, confuso.

- Ainda não tenho 100% de certeza a respeito de quem atacou vocês. De todo modo, não deve ser coincidência que esse homem de preto tenha usado esse pó. Poucos conhecem a planta que produz o pólen do sono. Ele deve ter lido isso no relatório que foi feito na ocasião. Um relatório conhecido só por algumas pessoas. Só por algumas pessoas...

Dobby e Winky não entenderam aonde Harry pretendia chegar. O bruxo estava com a mente longe. Para ele agora ficava cada vez mais claro que Styx Dietrich estava por trás de tudo aquilo. Do roubo da arca ao seqüestro de sua família. "O pai devia liberar todos os documentos que possuia para o filho ver. Frank deveria estar doido para que Styx seguisse os passos dele", calculou. No entanto, ainda não conseguia descobrir o por quê de ter sido envolvido naquilo. Não bastava que Styx tivesse a pedra filosofal nas mãos para fazer o que bem quisesse com aquele objeto mágico? Mas ele descobriria. Sim, ele descobriria!

- Vamos. Precisamos ir à casa do Rony.

- Senhor, prefiro voltar para o Largo Grimmauld. Madame Potter deve estar precisando de mim – disse Winky. – E a esta hora o menino Sirius tem de jantar.

A garganta de Harry se fechou num aperto doloroso.

- Vamos para a casa do Rony.

Foi o máximo que conseguiu dizer.









Uau. Não consegui revisar o capítulo. Não reli. Não deu tempo. Então, procurem não se aborrecer com eventuais erros que tenham passado. Vou tentar conferir o capítulo de novo no meio da semana. Eu achei que teria um tempo mais tranquilo. Que nada. A coisa apertou mais. E vai ficar sufocante por mais uns meses, quando terei de entregar um trabalho que está custando até as minhas horas de sono. Ai, ai... Sério: peço perdão e a compreensão de vcs. Não está fácil. Obrigada pela leitura e pelos comentários. Bjs, K.

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