Dia de extremos



Esgotado pelo dia anterior, Harry dormia pesadamente. Mas algo o fez despertar. Teve uma sensação agradável sobre o ombro. Não sabia exatamente o que era. Porém era bom. Aos poucos, a sensação se espalhou pelas costas. Mexeu-se um pouco. Por um segundo, a carícia parou. Franziu a testa, ainda entorpecido pelo sono. E então ouviu uma voz sussurrada. Uma voz amada.

- Acorde...

Foi como se alguém tivesse ligado a energia em seu corpo. Despertou. Virou-se e viu Gina sentada ao seu lado, oferecendo seus óculos. Esfregou os olhos, ajeitou os cabelos o quanto pode. Estava sem palavras. Abraçou-a fortemente.

- Gina, fiquei preocupado. Por que você sumiu? – perguntou, angustiado e ainda agarrado à mulher.

Ela ficou ligeiramente sem graça. Ainda abraçada, deitou a cabeça num dos ombros do marido:

- Eu... fiquei chateada. Pensei que você não tivesse ligado para o que eu disse a outra noite. Quis ficar longe por um tempo, só que descobri depois que você teve um monte de coisas para fazer. Ah, desculpe. Não foi capricho, mas é que...

- Não precisa falar mais nada. Eu entendo – murmurou, enquanto segurava o queixo dela e a beijava. Súbito, deu-se conta que fazia tempo que não namorava, tão ocupado andava. - Gina, eu é que deveria pedir desculpas.

- Nunca! Eu fico imaginando bobagens e faço besteira. A Hermione que me contou o que se passou. Quando cheguei em casa, tinha uma coruja do ministério me esperando com um recado da Vada, avisando que você foi urgentemente para Berlim.

- Não era a Edwiges? Eu pedi que mandasse a Edwiges. Ela teria te encontrado em qualquer lugar.

- Ah, isso eu não posso explicar. Só posso dizer que se eu não tivesse bancado a orgulhosa, poderia até ter te ajudado. Não sei como, mas pelo menos eu não iria causar preocupação.

Harry ia responder “deixa pra lá”, no entanto, a mulher se antecipou, envolvendo seu pescoço. Pediu desculpas em um sussurro que o arrepiou. Beijaram-se longamente. Foi dela a iniciativa de se afastar.

- Vamos descer. O Sirius está esperando pela gente para tomar café.

- Ohhhh, vamos ficar mais um pouquinho aqui – disse, rouco. – Tá tão bom.

Ela sorriu. Ele colocou suas mãos no rosto da jovem, atraindo-a para perto da boca. Gina resistiu, ainda risonha.

- Sei. E a gente deixa o menino lá embaixo, esperando?

- Bom, tem certas coisas que ele não pode ver – brincou, beijando-a de novo e a estreitando contra o corpo. – Gina, faz tempo que a gente não namora...

- Pois é. Faz tempo que você chega tarde – replicou, encarando o marido no fundo dos olhos. E continuou numa voz insinuante. – Um fato tem a ver com o outro. Se quiser se queixar, sugiro que você procure a ministra... Agora, vamos descer, antes que seu filho se canse de esperar.

Gina puxou Harry pela mão, com um ar zombeteiro. O bruxo se levantou da cama, relutante. Seu olhar aceso demonstrava o quanto se animara com a perspectiva de aproveitar aquela manhã para um idílio amoroso. Enquanto descia as escadas, imaginou se, depois do café, poderia arrastar a mulher de volta para a cama. “Sim. Claro!”, respondeu para o “monstro” em seu interior, que rugia como um leão no alto de uma colina.

- Em que você está pensando? – perguntou a jovem, curiosa com a expressão do marido.

- Humm, nada demais – mentiu descaradamente.

No último degrau, Harry a pegou no colo e entrou na cozinha carregando Gina nos braços, que protestava sob risos. Winky arregalou seus olhos imensos e por pouco não derrubou o prato de panquecas que estava colocando sobre a mesa. Dobby, que ajeitava o pequeno Sirius em sua cadeira, deu um sorriso tímido. E o menino se espantou.

- Mãe, você caiu?

- Nãããooo. É o seu pai que acordou com um parafuso a menos.

- O que é um parafuso?

Harry materializou um parafuso em uma mão e com a outra tentou pegar Sirius no colo.

- Uau, você está pesado, garoto. Isto aqui é um parafuso. Sua mãe brincou, querendo dizer que um parafuso saiu da minha cabeça. Ou seja, que eu estou louco. Mas, como você sabe, seu pai não é maluco. Portanto, isso não pode ter saído da minha cabeça. Ou pode?

Sirius segurou o parafuso em suas mãozinhas, com o cara de quem acabara de descobrir uma novidade. Era a mesma que o senhor Weasley fazia quando via um objeto trouxa ainda desconhecido. Harry sentiu vontade de rir.

- Como saiu, pai? Pela boca?

As gargalhadas de Harry foram estrepitosas. Winky franziu o cenho levemente.

- Meu senhor, o menino Sirius ainda não entendeu que aquilo é uma piada trouxa.

- Ah, Sirius, você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Chama o pai de maluco e eu nem fico bravo – e o abraçou.

Estava tão contente que tinha a sensação de ter tomado um frasco de Felix Felicis. Dobby preparava-lhe uma xícara de chá, Winky trazia mais torradas e Gina bebia um suco de laranja. Espiando a mulher com o canto dos olhos, Harry calculava que se estivesse mesmo com sorte poderia contar sem sustos que interferira para afastá-la das missões difíceis. Pigarreou.

- Err, Gina, depois precisamos falar a respeito das missões do departamento de aurores.

- Tudo bem. Mas aquilo já passou. Não posso ficar te pressionando... – disse, distraída em fazer uma faca picar uma banana para o cereal do filho.

A maneira como a mulher se pronunciara, esforçando-se para tratar de modo natural algo que verdadeiramente a perturbara, afastou a sensação de que tomara a poção da sorte. Harry voltou a espiá-la e perdeu o pique para confessar seu erro. “Não nesta manhã. Vou deixar para depois. A gente está tão bem”, pensou. Viu a ruiva puxar uma mecha de cabelos para trás da orelha e sorrir amorosamente para Sirius. O leão voltou a rugir.

- Eu já disse hoje que você está muito bonita?

- Ah, eu sabia que estava faltando algo – gracejou, encantada em ver Harry tão atencioso.

Igualmente atento estava Sirius, que gostava de participar da conversa dos pais.

- A mamãe é muito bonita. Todo mundo fala isso. A vovó, o vovô, a tia Hermione, a Winky, até aquele homem loiro – comentou, antes de engolir uma colherada do cereal.

- Homem loiro?! – estranhou Harry.

Gina teve de disfarçar o espanto. Como pudera se esquecer da memória prodigiosa de Sirius? No íntimo, torceu para que o filho não tivesse prestado muita atenção a Draco. E torceu também para que o marido não insistisse na pergunta. Não queria discussões naquele dia em que estava disposta a compensar seu sumiço.

- Harry, o que exatamente você quer falar a respeito das missões?

- Eu?! Ah, sim! – e sorveu um gole de chá, doido para driblar o assunto. – Bom, ainda não tive condições de... humm, você sabe... ontem tive um dia complicado.

E contou o que se passara desde o minuto em que tinha desaparatado do ministério até o momento em que aparecera em casa. Sirius ouvia tudo, no entanto, cansou-se na metade. Puxou das vestes o saco com as bolinhas de gude que pegara emprestado de James. O detalhe não escapou a Harry, que acabava de concluir o relato.

- Bolinhas de gude? Como você conseguiu isso?

- O James me emprestou. Eu pedi para ele depois que o homem loiro devolveu a bolinha que eu joguei lá na loja de roupas.

- De novo esse homem loiro! Quem é esse sujeito, Sirius? Algum vendedor folgado? – inquiriu Harry, olhando de esguelha para a mulher.

- Ele disse que te conheceu em Hogwarts. Mas eu esqueci o nome dele. Acho que não era vendedor...

- Eu fui a uma loja de roupas. Charlotte sugeriu que eu usasse algo novo na recepção que fará a uma comitiva de bruxos americanos esta noite – cortou Gina, tirando as bolinhas de gude da mão de Sirius e colocando a colher em seu lugar. – Você ainda não terminou, querido.

- Realmente, Sirius. Termine o seu cereal. Não lembra mesmo o nome desse metido a engraçadinho?!

- Harry! Você está exagerando. Ele não fez nada demais.

- Talvez. Se você me disser quem é esse meu “conhecido” de Hogwarts, pode ser que eu concorde – rebateu, franzindo o cenho. – Deve ser, no mínimo, algum chato porque se não você diria logo quem é.

- Pai, acho que era parecido com Dragon – Sirius deu um gritinho, derrubando a colher sobre o prato e espalhando cereais sobre a mesa, a roupa, a bochecha e a testa.

- Draco? – guinchou Dobby, que estivera escutando a conversa da família e surgira de repente para limpar o rosto do menino.

- Isso, Dobby. Nossa, você é bom!

Harry ficou imediatamente de pé. Sua primeira reação foi de incredulidade. Mirou o garoto e, em seguida, a mulher. Gina terminou seu suco sem aparentar nervosismo. De fato, ela calculara que o marido não gostaria mesmo de saber que o antigo rival se aproximara dela, porém a ruiva não tinha por que se preocupar. Draco nada fizera. E nem ela. Só não quisera falar a respeito dele para poupar uma cena de ciúmes. Afinal, ele podia não assumir nunca, mas Harry era ciumento.

- Draco Malfoy? Era ele que estava na loja?

- Era esse o nome. Pai, ele foi seu colega em Hogwarts?

- Colega?! Ele nunca foi meu colega. Estudou na mesma época que eu, mas só isso – resmungou. E girou a cabeça para a mulher lentamente. – Por que não me disse que era ele? Alguma... razão especial?

- Nenhuma. É que para mim é irrelevante esse encontro casual. Por isso, nem me preocupei com isso.

- Curioso, então, que você tenha se empenhado em esconder o nome dele.

- Não escondi. Só não queria te ver aborrecido com bobagem – disse. E, vendo o rosto contrariado dele, emendou. – Harry, minha mãe estava junto...

- A vovô estava, sim. E eu e o James também – afirmou Sirius, sem notar como o pai fechara a cara.

- Adianta falar que ele perguntou apenas como vai a minha família?

- Foi para isso que ele veio, é?! – ironizou, sob efeito de uma pontada extra de ciúmes.

- Veio a negócios.

- Mais nada?

- Não sei. Não conversamos muito.

- Não?

- Não.

- Tem certeza?

- Ah, pára com isso, Harry. Não tenho idéia do que ele falou com a minha mãe. Não deve ter sido algo espetacular. Foi uma coincidência a gente ter se encontrado no Beco Diagonal. Ele foi educado em me cumprimentar. E cumprimentar minha mãe. Só – replicou, começando a perder a paciência ante o riso sarcástico do marido. – Qual o problema?

- O problema é que é muito estranho ele aparecer assim, do nada. Esse mau caráter deve estar aprontando alguma. Não pode ser simples coincidência – bufou. – Ele vem e a arca é roubada?! E aparece justo no dia em que eu viajo?! Não, senhora. Tem algo aí!

- Não será exagero da sua parte? Ou tudo isso é fruto do ciúme?

- Ciúme do cara de fuinha?! Eu tinha de estar maluco.

- Cara de fuinha – riu Sirius, cochichando para Dobby, que terminara a limpeza e permanecera quieto, acompanhando a discussão sem olhar para o casal.

- Ok, “querido” – disse Gina, com ironia. – O que mais imagina que ele veio fazer?

- Veio me espionar! Ele sabe que eu sou auror – retrucou, ainda enciumado, embora não quisesse dar o braço a torcer. - Já que esse maldito filho de Comensal sabe que não tem a menor chance com você, por que mais iria te procurar se não fosse para sondar o que estou fazendo?

- Eu disse: foi uma questão de boa educação.

- Ah, não tente defender o cara! Ele tem maus propósitos. Posso sentir no ar. O Draco deve estar por trás do sumiço da arca. E o cretino queria saber se eu já descobri alguma coisa. Só pode ser isso - resmungou.

- Realmente. Não há nenhum fato que o levasse a falar comigo exceto me conhecer há muito tempo – provocou, já esgotada com aquela conversa que não levava a lugar nenhum.

A observação surtiu efeito. Harry se calou, incomodado com a lembrança de que Draco passara muito tempo ao lado de Gina. O tempo em que ele estivera ausente. Mordido, murmurou com maus modos para que somente a mulher pudesse ouvi-lo.

- Não sei como você conseguiu ficar com ele...

- Já falamos sobre isso. Pensei que você tivesse entendido – suspirou. – Que tal se a gente partisse para outro assunto? Por exemplo, você tem algo mais a dizer a respeito das missões?

Harry ainda ruminava seu ressentimento. A imaginação o feria, fazendo-o criar cenas perturbadoras. Pensar em Draco beijando sua garota o irritou profundamente. No início de seu namoro com Gina, quando finalmente tinha retornado do exílio, essas idéias quase o enlouqueciam. Jamais perguntara para ela – isso seria doloroso demais –, entretanto suspeitava fortemente que eles se “conheciam” de verdade. Recordar de todas essas angústias aumentou o veneno que o intoxicava. Não dosou as palavras e com isso o veneno voltou contra ele mesmo.

- Saquei! Quer fugir desta conversa. Está com medo de quê? – disparou, com o sangue quente. Não querendo parecer ridículo, tentou se controlar. – Bom, mas tudo bem. Eu não tenho medo de enfrentar nenhum assunto. Nenhum. Até aqueles que depõem contra mim.

- O que depõe contra você? – retorquiu, surpresa.

Ele titubeou. Percebeu que tinha avançado o sinal. Só que não podia mais retroceder. Limpou a garganta.

- É que preciso contar que eu tive uma participação nessa história de te afastar das missões perigosas. Era... era... isso.

- Senhor Potter, quer mais chá? – interferiu Dobby, notando o embaraço de Harry.

- Como? – fez Gina, desejando não ter escutado direito.

- Eu... não quis... te tirar de todas as missões. Somente de uma. Não sabia que iriam te tirar das demais.

Primeiro Gina empalideceu. Aos poucos, porém, seu rosto adquiriu tons vermelhos.

- É melhor você se explicar direito – comentou, com a voz contida.

O bruxo pediu que Dobby se retirasse e levasse Sirius com ele. “Ahnn, vá escovar os dentes, filhote”, recomendou, cada vez mais consciente que sua situação se complicara. Amaldiçoou Malfoy por ter precipitado sua atitude e se xingou por ter cedido à raiva. Olhou para Gina e se preocupou com a expressão fria de seu rosto. Era o oposto do que vira assim que despertara. Arrependeu-se instantaneamente de ter sido impulsivo. Via que a possibilidade de viverem um idílio amoroso naquela manhã evaporara. “Sou uma besta”, lamentou mentalmente, tamborilando na mesa. Então, decidiu despejar toda sua explicação. Repetiu as palavras que dissera para Rony, tomando o cuidado de acrescentar outras para aliviar seu lado. Tentou segurar a mão da mulher, mas ela a retirou. O que mais o preocupou, no entanto, foi o silêncio dela.

- Peço desculpas, Gina. Eu não queria te magoar de jeito nenhum. Estou sendo sincero. Não sabia que você estava batalhando para entrar em outras missões. Não sabia o quanto isso era importante. Cometi o erro de não olhar para os lados. Eu estava só olhando para a frente, imaginando que nossa felicidade dependia muito dos meus esforços. Por isso, dediquei-me mais do que devia ao trabalho. Nem me preocupei em perguntar se você estava satisfeita. Achei que para a gente ficar bem bastava eu ser o provedor da casa, ser um marido legal e não te encher a paciência com bobagens para você ter todo o tempo do mundo com o Sirius.

Gina crispou os lábios. Ergueu-se da cadeira sem abrir a boca. Foi até a sala. Harry a seguiu, sem atinar com o que deveria fazer. A ruiva parou perto da escada e chamou Dobby e Sirius. Em seguida, chamou Winky. Rapidamente os três apareceram. Os olhos do menino piscavam. Os de Harry também.

- Dobby, outro dia você disse que gostaria de visitar os elfos domésticos de Hogwarts. Muito bem. Vá hoje. Leve Winky com você. Por favor, partam agora e retornem no final do dia para cuidar do Sirius.

- Madame não me quer por perto hoje? – fungou Winky.

- Não é isso, Winky. Hoje é um dia livre. Para quase todos nós – sublinhou a mulher, batendo com a varinha sobre a poltrona. No mesmo minuto, surgiram uma capa e uma bolsa de viagem.

- O que é isso, Gina? – assombrou-se o bruxo.

Ela ignorou a pergunta.

- Winky e Dobby, tenho mais uma ordem. E quero ver se alguém vai ter coragem de contestá-la – disse com a voz trêmula de raiva. Harry reconhecia aquele tom. – Como o dia é livre, até as seis horas vocês estão impedidos de atender qualquer chamado da gente, com exceção do Sirius. Se ele pedir, vocês virão. Mas, filho, é sério. Não quero que você procure pela Winky e pelo Dobby. Somente se for urgente.

- Não precisa, mamãe. Se eu precisar de alguma coisa, peço para você – disse o garoto.

- Não, querido. Também não estarei por perto – respondeu, esforçando-se para parecer tranqüila. – É que estou muito aborrecida. Tão aborrecida que não vou ser uma boa companhia para você.

- Gina... – começou Harry, procurando se aproximar da jovem, que se afastou, resoluta.

- E quem vai cuidar do menino Sirius? – estremeceu Winky.

- Não se preocupe. Não quero atrapalhar meus pais e espero que ninguém se atreva a perturbá-los. Mas tem mais gente nesta casa. Espero que seja gente capaz de ter um mínimo de responsabilidade e consideração com a família – replicou com a voz elevada.

Harry teve a sensação de ter levado um soco no estômago.

- Senhora Potter... – arriscou Dobby, desejoso de ajudar o bruxo.

- Dobby, por favor, não me chame assim. Vão! Agora, por favor! – era como se fosse um comando militar.

Não esperaram outro pedido. Desaparataram.

- Mãe, eu já sou grande. Posso cuidar de mim – comentou Sirius, empertigando-se para ficar mais alto.

- Acredito, querido! Um beijo – pediu, segurando o rosto do menino para sapecar-lhe um carinho na bochecha. Em seguida, ela atraiu a bolsa e a capa.

- Dá para me ouvir? – forçou Harry, tomando o que estava nas mãos da jovem.

Novamente, Gina fez que não ouviu. Com um puxão, recuperou suas coisas. Sacou a varinha mais uma vez e a apontou para o marido. Harry tentou falar, mas sua voz não saía.

- Ih, o que aconteceu com o papai?

- Nada. É só que ele tem palavras vazias – disse calmamente, como se fosse um hábito as pessoas abrirem a boca para se expressar sem emitir som algum.

Harry teria bufado se não estivesse sob efeito de magia silenciadora. Não era simples escapar de um feitiço de Gina.

- E ele vai ficar bom? – continuou Sirius, preocupado com a "mímica" do pai, que sacudia os braços querendo falar algo para a mulher.

- Vai. Seu pai é o grande Harry Potter – explicou com sarcasmo e sem dar a menor atenção para o rapaz. – É o famoso chefe da seção de aurores. Ele pode tudo, querido.

Sirius nunca tinha visto uma briga dos pais. Normalmente, eles evitavam discutir na frente do menino. Por essa razão, sentiu-se confuso ao notar a mãe ajeitar a capa sobre os ombros e se preparar para partir sem se despedir de Harry.

- Mãe, eu vou ficar sozinho?

- Claro que não! – respondeu com ar escandalizado. – A menos que alguém aqui não tenha mesmo juízo!

Harry se atirou no sofá, com a respiração acelerada. Estava convencido que não adiantava insistir. Não naquele instante. Ficou desolado. Sem entender o que se passava, Sirius sentiu-se triste, compartilhando a agonia do pai. E, de súbito, a cor dos olhos do menino mudou para verde. Gina deu-se conta disso. Estava furiosa, porém se sensibilizara com a reação do filho.

- Eu volto, Sirius... – murmurou. – Tenho um trabalho para cumprir hoje à noite. A Winky e o Dobby vão cuidar de você. Depois a gente conversa, está bem? Agora não tenho condições. Até mais tarde – e beijou a testa de Sirius, desaparecendo na seqüência e deixando a impressão de que sumira com o discreto ruído do estalo de seus lábios.

Sirius se virou para o pai. Não sabia se ele voltaria a ter voz. Ainda assim, quis um ombro amigo.

- Acho que a mamãe está brava comigo.

- Não, Sirius – respondeu Harry, demonstrando, para alívio do filho, que recuperara a voz. – Ela está brava comigo.

- O que você fez, pai?

- Hummm... eu não comi todo meu cereal – disfarçou. Havia jeito de contar a verdade para um garotinho como ele?

- Ah, pai, por que você fez isso?! – repreendeu o menino, balançando a cabeça de um lado para o outro. – Você vai ter de pedir desculpas.

- Você está certo, Sirius – concordou, cabisbaixo.

O menino abraçou o bruxo para confortá-lo.

- A mamãe vai te perdoar. Eu sei...

Harry sorriu. Afagou os cabelos do filho.

- Seus olhos estão verdinhos, garoto. Parecem os meus.

- É?! Eu não sei como faço isso, pai. Um dia você me ensina, né?!

- Vou pedir para a Tonks. Ela é metamorfomaga. Vai saber te demonstrar melhor do que eu. Está com todo o jeito de que você é metamorfomago. Bom, está na hora de irmos para o trabalho.

- Para o seu trabalho? – alegrou-se Sirius, com os olhos arregalados e com o tom original. Azul como um céu sem nuvens.

- Claro! Não posso te deixar aqui. E eu não posso me ausentar do trabalho. Então, vamos juntos para o ministério. Eu arrumo um cantinho para você se ocupar com seus desenhos e brinquedos. Enquanto isso, seu pai se encarrega dos aurores.

- Posso falar com os aurores também?

- Sim. Por que não?! Eu mando lá – brincou.

Mas voltou a se entristecer. Não tinha idéia do que fazer em relação a Gina. Teria preferido mil vezes que ela jogasse todos os vasos da casa sobre sua cabeça. “Ah, e o dia tinha começado tão bem”, lastimou-se. O pior é que ele estava longe de terminar.













Este é um capítulo rapidinho. No próximo, Sirius e Harry viverão um momento tenso no ministério. E Harry terá outro horas depois quando irá descobrir que sua agonia não cessará naquela noite. Ah, querem conhecer a sobrinha de Vada? Vcs vão saber um pouco dela e mais um pouco de Draco. Aguardem! ;-) Obrigada. Bjs, K.

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