A provação de Sirius



Era mais um dia triste na vida de Harry Potter. O sol entrava pela janela, banhando o quarto de maneira radiante, uma ofensa a seus sentimentos. O rapaz esfregou os olhos verdes e saltou da cama. Não tinha trocado de roupa quando se deitara e ainda exibia a calça e a camiseta da véspera. Não se olhou no espelho. Não ligava mais para si. Abriu o armário onde colocara peças que tinha trazido do Largo Grimmauld. Teria descido com as vestes amarfanhadas. Sua depressão não o instigava a se apresentar melhor. Queria encontrar Gina. Rever Sirius. Voltar para casa. Nada mais importava. Porém a razão falou mais alto. O que na verdade significava que queria evitar o olhar de censura da senhora Weasley. Pegou qualquer coisa e se arrumou.

Desceu as escadas sem saber direito o que faria. Não estava disposto a tomar o café da manhã. A saudade da sua família o torturava. O medo de que sua mulher e seu filho estivessem sendo maltratados o atordoava. A sensação de impotência o agoniava. Chegou à sala sem ânimo e então percebeu que a Toca estava agitada. Ouviu a voz de Fleur comandando a mesa na cozinha. “Jamie, quer mais uma torrada? Nadine, coloque mais leite no seu cereal, oui?!”. Jin e Mei faziam demonstrações de ataques de espadas para Fred e Jorge. A senhora Weasley carregava Lilly no colo, entretendo a neta com um gorgolejar engraçado para um bebê. E Tonks e Lupin estavam com imensos livros abertos sobre a mesa, fazendo comentários com Hermione. O chefe dos aurores ficou surpreso com tamanha disposição.

- Harry, que bom que você acordou. Temos muitas coisas para resolver. Ah, desculpe. Bom dia!

- B-bom dia – respondeu, ainda espantado. Todos o cumprimentaram.

- Reparou em quanta gente está aqui? Bem, o Fred e o Jorge largaram a loja por uns dias para dar uma mão.

- O que pudermos fazer... – disse Fred.

- Faremos! – completou o gêmeo, entusiasmado.

- Err, Jin e Mei pediram licença ao ministério e também ficarão conosco por mais uns dias.

- É uma colaboração internacional – observou Mei com suavidade.

Os magos chineses estenderam suas espadas, tocando a ponta no chão, e curvaram as cabeças. Harry correspondeu à reverência, satisfeito de ter a ajuda de bruxos tão valorosos.

- Ahn, Fleur está lá com as crianças. Tonks e Lupin estão pesquisando o mundo inferior comigo. Rony foi para o ministério, mas em seguida irá para a Alemanha para falar outra vez com fräulein Dietrich. Humm, o que mais?

- E Dumbledore? Onde está o professor? – estranhou.

- Ele foi até a Grécia. Atrás de um amigo e talvez de pistas.

- Mas ele aparatou? Dumbledore perde muita energia aparatando... – preocupou-se.

- Aparatou, sim, Harry – interferiu Lupin. – Estava muito ansioso para partir. E ele nos desafiou quando sugerimos que usasse o pó de Flu. Falou que a gente pode pensar que ele está acabado, só que ele ainda tem lenha para queimar.

- E desaparatou mal acabou de falar. E o homem desapareceu com estilo. Sem o menor ruído e sem levantar pó. O oposto do que esses dois fazem – brincou Tonks, apontando os gêmeos.

- E qual a graça de sumir sem fazer um “cabum”? – retrucou Fred.

- Ei, isso me deu uma idéia. Que tal criarmos um feitiço de sonorização para dar um efeito legal nessas ocasiões? Já pensou você aparatar com um som de trovoada? – animou-se Jorge, lembrando-se do seu negócio.

- Isso é para matar algum bruxo do coração? – resmungou a senhora Weasley. – Se eu pudesse proibi-los de fazer essas maluquices...

- Maluquices, não. Gemialidades – replicou Fred, aprumando as vestes.

Harry não conteve um risinho. Hermione também e olhou para o amigo com um ar em que se via esperança. “Tudo vai dar certo. Acredite”, murmurou e voltou a puxar um livro e o pergaminho em que fazia anotações. Ao notar todos trabalhando, de fato, ele teve a impressão que, sim, era preciso acreditar. Estufou o peito, enchendo-o de oxigênio. E suas pupilas se dirigiram para a janela, para o lado de fora da casa, para o mundo externo, onde estava sua família.





******




Era mais um dia triste na vida de Sirius Potter. O sol entrava pela janela com grades do pequeno quarto que lhe fora destinado como cela. O menino esfregou os olhos azuis e saltou da cama. Retirou a camiseta larga que Greta oferecera como pijama na primeira noite em que chegara àquele lugar. Jogou-a numa cesta de vime perto da porta, como fazia todas as manhãs. E se encaminhou até outra, onde estavam suas roupas, prontas para vestir. A mulher loura fizera um encantamento para que as peças se limpassem sempre que fossem atiradas às cestas. Quando saísse de lá, contaria o truque para Dobby. E então o garoto abaixou a cabeça. Sonhava em ir embora. Queria encontrar sua mãe. Rever seu pai. Voltar para casa. Só não tinha idéia quando isso aconteceria.

Aproximou-se da mesinha onde havia uma bandeja vazia. Pegou os talheres e o guardanapo e imediatamente surgiu um prato fundo com cereais. Outra magia de Greta. Sirius mexeu com a colher, sem vontade. Fazia alguns dias que comia absolutamente sozinho. Não estava habituado a isso. Sempre tivera a companhia de alguém. Se não era a mãe ou o pai, era o solícito Dobby ou a zelosa Winky. Na verdade, Winky é quem cuidava mais dele. Prestava atenção a sua roupa e às refeições. Guardava os brinquedos e os lápis coloridos. No entanto, com Dobby havia diversão. O elfo doméstico concordava com todas suas sugestões. “Desde que não contrariem sua mãe, pequeno mestre”, respondia. Normalmente, Gina aceitava as brincadeiras. E muitas vezes participava delas. Sirius não queria mais chorar. Mas naquelas horas em que se lembrava da família e da mansão no largo Grimmauld sua garganta fechava tanto que doía até arrancar lágrimas.

O menino estava com os olhos marejados quando a porta foi aberta de repente. Por um segundo, Sirius pensou que poderia ser Greta, a pessoa que mais via na misteriosa casa em que estava vivendo. Enganara-se. Uma pessoa alta e de preto entrou em silêncio. Como nas outras vezes, seu rosto estava mascarado.

- Acordou bem, Sirius? – perguntou, sem no entanto expressar simpatia pela voz.

- Uhum – respondeu, mexendo com a colher no fundo do prato. – Já estou tomando o café.

- Bom garoto. Soube que você apresentou progressos ontem. Seus cabelos ficaram completamente vermelhos, não é?!

- Por que não veio ontem? Pensei que você me levaria para ver minha mãe.

- Tive que me dedicar a outros assuntos. Mas não tem problema. Você se esforçou mais. Como prêmio, eu te levarei até ela. Porém será um encontro breve. Se conseguir avançar, terá direito a outro mais demorado.

- Eu vou avançar! – animou-se.

- Está mesmo disposto, hein, rapaz. Termine seu café e vamos até sua mãe.

Sirius engoliu o cereal com pressa. Não agüentava mais a espera. Devorou o que havia em seu prato e ainda estava mastigando ao sair da cadeira e se postar diante da figura encapuzada. Ambos atravessaram a porta. O menino só deixava o quarto para usar o banheiro. Não conhecia o resto da casa. Então, via tudo com curiosidade. Estava num corredor comprido onde havia outras portas, todas fechadas. Seu quarto ficava perto da entrada para a sala. O garoto conseguira vislumbrar um pedacinho do ambiente. Greta vinha de lá, com suas vestes brancas esvoaçantes. Era um constrante gritante com o personagem misterioso. O que ele não sabia é que apenas para vê-lo que a bruxa cobria o rosto e os cabelos. A mulher murmurou um “bom dia” nada animado para o filho de Harry.

- Então, vai ver a mamãe. Largou o elefantinho, é?! – debochou.

O menino ficou sem graça. Nos primeiros dias, agarrara-se ao brinquedo, que virara objeto de escárnio de Greta. Apenas recentemente deixara o bonequinho de lado, tão infeliz estava. Não tinha sido por outro motivo.

- Ele já não é tão criancinha – comentou a figura de negro, andando a frente dos três.

Por um instante, Sirius gostou de não ser mais tão criancinha. Pensou em James. Seu pai vivia elogiando James. Mas o fato é que ainda queria os braços da mãe e ainda queria brincar de caçar dragões com o pai. E de fazer bagunça com os tios Fred e Jorge...

- Chegamos. Você tem cinco minutos. Sabe o que são cinco minutos?

- Mais ou menos.

- Greta, leve o menino e deixe que ele fique só com a mãe um pouco no finalzinho. O resto do tempo permaneça com o moleque.

- Só com a mãe? Tem certeza que é uma boa idéia? – questionou em voz baixa.

- Pode deixar. Espero bons resultados a partir disso – sussurrou, sem que o garoto pudesse compreender o que discutiam. E se afastou.

A bruxa pousou a mão sobre a maçaneta. Seus olhos refulgiram, assim como a própria maçaneta, que brilhou por um instante antes de se ouvir um clique. Greta segurou Sirius pela cabeça, dando-lhe a entender que esperasse. Ela deu um passo para o interior do quarto onde estava Gina. Com um toque da varinha, fez acender a luz.

- Humm, está desprezando seu café da manhã, senhora Potter? – disse com sarcasmo.

O coração do menino deu um salto ao ouvir a mãe.

- Enjoei da comida de vocês – replicou. – E ainda bem que escondeu seu rosto. Também estou enjoada dele. Aliás, já estou enjoada de tudo.

- Tudo? Pensei que ainda existisse algo que te interessasse aqui. – tripudiou. E com a mão puxou Sirius até o quarto. – Pronto, garoto. Ela está aí.

Sentada no colchão duro lançado no chão, Gina arregalou os olhos.

- Filho... – e sua voz falhou.

Sirius correu até a mãe, a abraçou e mergulhou o rosto no colo dela, como um bebê pedindo proteção. Gina o agarrou com força, como se temesse que ele não fosse real. Beijou a cabeça do garoto. Ficaram quietos por alguns segundos até que Greta os interrompesse com ironia.

- Que comoção. EU estou ficando enjoada.

- Só porque você não sabe o que é amar alguém... – começou Gina, acariciando os cabelos de Sirius com as mãos.

- Realmente. Eu não sei – sibilou. – Vocês têm cinco minutos.

- Cinco? – protestou.

- Cinco. E é bom não reclamar se não eu reduzo!
Os olhos chisparam e a auror captou a irritação na mulher. Gina decidiu que no início conversaria sobre amenidades com Sirius para que a conversa não interessasse à vigia. Perguntou como o menino estava, o que comia, onde dormia. Logo Greta se entediou. Cruzou os braços no peito e seus pensamentos voaram longe.

- Querido, você terá que me ajudar a disfarçar nossa conversa – pediu num murmúrio. – Faça como eu. Primeiro, baixinho. Depois, em tom mais alto, mudando o assunto. – e alteou a voz. – Não sabia que você trouxe seu elefante. Tem brincado com ele?

- Não tenho vontade de brincar – respondeu. E baixou tanto a voz que Gina quase não ouviu a seqüência. – Assim está bom?

Não era bem o planejado. Porém Gina fez que sim com a cabeça.

- Ah, entendi. Mas você dorme com ele? Não sente falta do seu dragão? – e alterou o tom. – Do quarto onde você está consegue ver alguma coisa?

- Não muito – e abaixou a cabeça. – Consigo ver uma floresta lá fora, mas a janela tem grades.

- Está dormindo bem, Sirius? – e sussurrou. – Reconhece esse lugar? Eles trancam seu quarto à noite?

- Não. Não sei – e se atrapalhou, esquecido de disfarçar.

- Certo, querido. Certo, não precisa se preocupar.

Gina tentava descobrir um meio de passar instruções para o filho até que Greta descruzou os braços e colocou a mão sobre a maçaneta.

- Sombra deu a chance de vocês ficarem sós por alguns segundos. Eu vou, mas volto – e deixou o quarto.

- Rápido, querido. Eu não sei se eles vão escutar nossa conversa... – murmurou.

- Será que eles têm orelhas extensíveis? – inquiriu Sirius, inocentemente interrompendo a auror.

- Talvez. Não conseguiu identificar nada?

- Só a floresta. E ela me dá medo à noite. Ouço lobos.

- Não há sinal de alguma outra casa, uma cidade, fumaça?

- Não.

- Um rio? Praia? Montanhas?

- Só a floresta. Por que, mãe? Faz diferença?

- Porque, filho, se você tiver a oportunidade de escapar, você terá de aproveitá-la.

- Com você, né?!

- Eu não tenho certeza. Este quarto está muito protegido. Tento de tudo e não adianta.

- Essas correntes machucam? Por que eu não tenho correntes?

- Não me machucam, porém tem algum encantamento. Não consigo usar minha magia. Você está solto porque é uma criança e eles não acreditam que possa fugir. Só que você pode. Pense nisso, Sirius. Você e o James descobriram o segredo do guardião da nossa casa, não é?! Seu pai me falou.

- Foi o James.

- Então, finja que o James está com você e descubra algum meio de escapar, querido. É importante.

- Não sem você.

- É possível que seja sem mim.

- Não, mãe. Tenho medo.

Gina segurou o filho firmemente pelos ombros.

- Sirius, você irá para Hogwarts e é bem provável que acabe na casa em que todos os Weasleys entram. Na mesma casa em que seu pai entrou. Você sabe qual é...

- Grifinória!

- É a casa dos que têm coragem e bravura. E eu sei que você tem!

- É a casa dos que são leais também. Meu pai falou. Como meu tio Rony. Ele sempre foi leal. Eu também sou, mãe. Vou embora daqui com você.

A mulher sorriu.

- Você é leal, sim. Tenho certeza. Faça o que tiver de ser feito, querido. Mas esteja atento sempre. E disfarce. Se perguntarem sobre o que falamos, foi sobre o passeio ao zôo. Ok? Não confunda.

- Tudo bem, mãe.

- Agora eu queria saber por que Greta está usando máscara e está encapuzada.

- Ué, eles estão sempre assim.

- Ela não. Comigo nunca usa essas coisas. Quer dizer que Greta está se escondendo de você? Por que?

- E eu sei?

A porta se abriu de súbito e a mulher sobre quem falavam apareceu, chamando Sirius de volta. O menino não queria se separar da mãe. Mas Greta observou que se demorasse mais um segundo, ele não a veria mais. Gina se ergueu, furiosa com a ameaça feita ao filho. A bruxa não ligou para isso e puxou o garoto pela mão, levando-o e deixando a auror no escuro mais uma vez.





*****




Rony arrumou a capa e bateu à porta da casa de fräulein Dietrich. Estava acostumado a cumprir missões sozinho. Seu parceiro, durante os primeiros anos da carreira como auror, tinha sido Harry. Mas quando ele tinha fora nomeado subchefe teve de se conformar em partir para o trabalho sem a companhia constante do amigo.

- Sim? – perguntou o elfo que abrira a porta.

- Preciso falar com fräulein. Sou subchefe da seção de aurores do Ministério da Magia Inglês.

- De novo vocês? Não faz muito tempo um de vocês esteve aqui junto com herr Schmidt. E fräulein Dietrich não gosta de ser perturbada.

- Lamento. Mas é necessário.

- Onde estão eles? Onde está herr Schmidt?

- Vim sozinho. Está achando tão ruim assim o meu alemão?

O elfo resmungou, sem o menor humor. Rony foi conduzido até a sala e lá ficou aguardando pela irmã do antigo chefe dos aurores da Alemanha. A mulher surgiu com um ar nada convidativo.

- Será possível? Já disse tudo o que tinha para falar. Que mais querem vocês?

- Styx Dietrich. Queremos encontrar o seu sobrinho.

- Eu expliquei que não sei por onde ele anda! Se não fui clara antes, serei mais enfática agora - bufou. – Desconheço o paradeiro de Styx!

Rony não alterou sua expressão serena, porém firme.

- Também serei enfático, fräulein. Desta vez não estamos atrás dele apenas para simples esclarecimentos. Neste momento podemos cobrar sua colaboração.

- Minha colaboração? O que você está dizendo? Vocês estiveram aqui antes. Fizeram perguntas, olharam fotos, mexeram em papéis. Quando é que não colaborei? Mas vocês insistem em algo que não posso ajudar. Não tenho mais nada a oferecer – e se preparou para dar meia volta, numa maneira grosseira de encerrar o assunto.

Dessa vez, ele não disfarçou o aborrecimento.

- A senhora tem de achar um meio de se comunicar com ele e convencê-lo a se apresentar imediatamente. E é melhor fazer isso o quanto antes. Nós estamos caçando o seu sobrinho. E não me refiro apenas aos aurores ingleses. Acabei de sair de uma reunião com o ministro da magia da Alemanha. Agora é oficial: Styx Dietrich é o número um da lista de procurados do seu país.

- E por quê? – gritou, espantada.

- Ele é o principal suspeito de dois atos criminosos: o roubo da Arca dos Inseparáveis e o seqüestro de duas pessoas que me são muito caras, minha irmã e meu sobrinho.

A mulher contorceu o rosto. Esbugalhou os olhos e apertou os lábios, como se estivesse segurando a vontade de proferir uma série de imprecações.

- Vocês estão loucos? O que meu sobrinho tem a ver com isso?

- Temos motivos, fräulein. Nossas suspeitas não são infundadas.

- É por causa do meu irmão, não é?! Vocês acham que ele não cuidou direito dessa arca? É isso? Por isso querem acusar Styx?! É um absurdo!

- Avise seu sobrinho. É melhor ele se apresentar agora ou será muito pior.

- E que diabos ele tem a ver com sua irmã e seu sobrinho? – guinchou a bruxa. – De onde vocês arrancaram essa asneira?

- Minha irmã é esposa do chefe dos aurores, um dos responsáveis pela investigação do roubo da arca. Suspeitamos que seu sobrinho, fraulein, esteja armando uma represália contra ele. E essa foi a pior burrada que poderia ter feito. Garanto que ele pagará caro se continuar a manter por mais tempo essas pessoas sob cativeiro – replicou, com as narinas dilatadas, segurando ao máximo a raiva que subia ao peito.

- É IMPOSSÍVEL – rebateu a mulher, avançando em direção a Rony. E prosseguiu aos berros. – STYX É INCAPAZ DE FAZER ISSO.

O elfo doméstico que a atendia surgiu instantaneamente.

- Fräulein, quer que expulse este homem mau?

- Eu? O homem mau? – perguntou Rony em tom escandalizado. – Traga aqui Styx Dietrich e eu te mostrarei o verdadeiro homem mau.

- STYX NÃO É MAU – urrou a mulher e ela desabou sobre o sofá com o rosto muito vermelho, sufocada.

Gotas de suor porejavam na testa de fraulein Dietrich. Os lábios esbranquiçaram. E tremiam junto com a papada sob o queixo. O elfo fez surgir em suas mãos um copo de água e um comprimido, que sua senhora engoliu de uma vez, molhando parte do colo. Rony não sabia o que fazer e ficou parado, com a mão na cabeça. Indeciso entre abanar a mulher ou desaparatar em busca de socorro.

- Acalme-se, senhora – pediu, atrapalhado.

Quando a respiração da bruxa voltou ao normal, ela se arrumou melhor no sofá. E com a mão no peito encarou Rony.

- Meu sobrinho é um rapaz excelente. Sempre foi motivo de orgulho para a família. Ele não pode ter feito nada disso de que o acusam.

- A senhora tem certeza de que ele jamais representou o papel de bom moço apenas para agradar a família? A senhora nem tinha tanto contato assim com eles...

- Styx? Se viessem falar de Persephone... Mas Styx, nunca.

Rony deu de ombros. Vendo que ela já estava recuperada do ataque, voltou à carga.

- Quando foi a última vez que vocês tiveram uma conversa longa?

- Desde a morte da irmã, Styx se tornou bastante calado. Foi um duro golpe para todos nós. Mas eles eram gêmeos. Sempre estiveram muito unidos. Styx sofreu demais.

- Talvez ele tenha mudado depois disso.

- O que há com você? Styx era bom na essência. Por que não acredita no que digo?

- Porque há elementos que apontam o envolvimento dele nos crimes que citei – respondeu. – E, de mais a mais, quem não deve, não teme. O sumiço dele é injustificável ante os fatos ocorridos recentemente.

- Eu não sei por que ele teria de aparecer já que não está envolvido nisso. Eu não acredito nessas bobagens de vocês.

- É seu direito, fräulein. Em todo o caso, sugiro que vocês contratem um advogado – replicou Rony. – Ahn, a senhora já ouviu falar de Greta Schwab?

- Não sei de quem se trata.

- Era amiga da sua sobrinha. Ela também é suspeita de ter participado do roubo da arca e do seqüestro. Esperava que a senhora me falasse mais dela.

- Persephone era fechada demais. Desconheço as amizades que teve. Aliás, imagino que ela não tivesse muitas.

Rony estudou a reação da bruxa. Parecia estar sendo sincera. E resolveu fazer a última pergunta.

- O que sabe sobre o mundo inferior?

A mulher empalideceu. Ficou quieta por alguns segundos. O auror percebeu que ela perdera o prumo. Manteve suas pupilas concentradas no rosto de fraulein.

- Onde ouviu falar dessa besteira?

- Ah, a senhora entende desse assunto.

- Não. Eu não entendo disso. Frank aboliu essa baboseira!

- Seu irmão aboliu da onde? Pode ser mais clara.

- Eu disse isso na vez que o outro rapaz inglês esteve aqui. Minha cunhada tinha idéias malucas.

- A respeito?

- Essas manias.

- Quais?

- Mitologia! Se Yoanna, a mulher de Frank, tivesse ficado só na narrativa das lendas... Mas ela queria consagrar as crianças ao deus do mundo inferior. Ela era fascinada com essa história de mitologia, que todos sabem que é uma invenção dos bruxos para disfarçar nossa magia para os trouxas.

- Como? Consagrar? O que isso quer dizer?

- Yoanna escolheu o nome dos gêmeos e Frank não se deu conta. Anos depois ele descobriu que a maluca queria consagrar as crianças. Queria que elas se dedicassem ao deus dos mortos. Onde já se viu tamanha besteira?

- E por que ela queria fazer isso?

- Minha cunhada achava que um dia poderia livrá-las da morte. Ela tinha... planos! Yoanna era doente. Mas Frank proibiu esses assuntos. Ach! Se ela achava que era possível mexer com isso, como é que não evitou a própria morte? Era uma tola! – desabafou.

- Ela consagrou os filhos?

- Nein! Frank não permitiria. E meu irmão sabia se fazer obedecer! – retrucou. De repente, algo lhe veio à mente. – Por que me perguntou a esse respeito?

- Essa Greta que a senhora desconhece, a amiga de sua sobrinha e aparentemente amiga do seu sobrinho também, fez menção ao mundo inferior. É por isso, fräulein. Pelo visto, a ordem de seu irmão não foi 100% cumprida. Afinal, Greta, que não tem nada de grega, adquiriu alguma noção a esse respeito com alguém de suas relações. Ela até sabe de um certo “segredinho” que nós estamos trabalhando para desvendar. Bom, preciso ir. O tempo é meu inimigo nestes dias. Caso se lembre de algo que contribua para a investigação, avise-nos. E mais uma coisa: se a senhora estiver encobrindo seu sobrinho, será responsabilizada por isso.

E deixou sobre a mesa um cartão onde se via em letras vermelhas “Ronald Weasley. Auror”. Fräulein, entretanto, tirou sua varinha assim que ele saiu de sua casa e bateu sobre o papel, fazendo-o sumir.

- Vá para o inferno, seu tomador de chá! Como se eu fosse prejudicar Styx?! – disse entre dentes.





*****




Sirius tinha subido na cadeira para olhar melhor a paisagem externa revelada pela janela. Recordava as palavras da mãe. No entanto, não se sentia animado a fugir e se arriscar naquela região estranha. A floresta realmente lhe metia medo. Entristeceu-se ao se dar conta disso. Será que não iria para a Grifinória quando chegasse o tempo de partir para Hogwarts?

- Não adianta. Não há nada para você lá fora.

O menino não escutara a porta se abrir. Perto dele estava mais uma vez a figura de negro, encapuzada e soturna. Trazia uma caneca na mão, que colocou sobre a mesa.

- Ficou satisfeito em ver sua mãe, não é?!

- Uhum. Mas eu queria ficar mais com ela.

- Você ficará. Só que antes terá de cumprir algumas coisas para mim. Espero que você seja capaz.

- Eu estou estudando. Consigo dominar às vezes a cor dos meus cabelos. Olha só – e Sirius fechou as pálpebras para se concentrar. Os fios negros começaram a mudar de tom até que adquiriram um tom avermelhado uniforme. – Viu?

O vulto não emitiu som algum. Com a varinha fez aparecer um largo espelho no quarto.

- Mire-se e agora mude a cor dos olhos.

- Agora? – titubeou o garoto. Tentou se concentrar, no entanto, não conseguiu alterar mais nada. – Não dá.

- Você vai ter de conseguir. Não tenho muito tempo para esperar.

- Por que?

- Sem perguntas – respondeu, pegando a caneca. – Há momentos em que a necessidade nos obriga a aprender rapidamente, Sirius.

- Não entendi.

- Você vai entender. Beba isto – disse, de modo imperativo.

- O que é isso?

- Sem perguntas.

Intimidado, o menino aspirou o odor do líquido esquisito. Fez uma careta.

- Não quero beber isso. Parece ruim.

- Você quer ver sua mãe outra vez? Então, beba.

Sirius teria recusado se não desejasse tanto ficar ao lado de Gina. Lembrou-se da conversa que tivera sobre coragem. Virou parte do conteúdo na boca e se sentiu enjoado no mesmo segundo.

- Ahhh, é horrível!

- Continue bebendo! Ou você não terá sua mãe de novo! – replicou com firmeza.

O estômago embrulhou. Os olhos se encheram de lágrimas. Sirius teve a impressão que devolveria a bebida em golfadas.

- Não quero mais.

- Ou isso ou sua mãe está perdida para você.

O garoto levou a caneca mais uma vez à boca. Engoliu mais uma parte. O estômago se revoltou. E ele caiu de joelhos, com ânsia. Outras sensações se somaram a essas. O corpo se sacudiu em espasmos. Sirius não compreendia o que se passava. Algo estava se transformando dentro dele. Ergueu-se com tontura. Para seu espanto, ficou de pé e quase atingiu a altura da sombra negra que o rondava, em passos agitados. O que acontecera? O enjôo continuava a atormentá-lo, embora estivesse diminuindo.

- Minhas mãos – gemeu Sirius, ao notá-las muito diferentes do que eram. E sua vez o assombrou.

- O espelho. Olhe-se no espelho – ordenou a figura de roupas pretas.

Sirius virou-se bruscamente e soltou um grito forte. Não via mais sua imagem refletida e sim de um homem de cabelos ralos e louros, magro e branco. Colocou as mãos no rosto, como se pudesse escondê-lo de si.

- O que...? – e não completou a pergunta, tão assustado que começou a tremer.

- Quer voltar a ser o que era, não é?! – instigou o raptor do menino. – Então, volte a ser o que você é.

O garoto balançou a cabeça, aterrorizado. Entretanto, não tinha idéia de como voltar a ser o filho de Harry e Gina e não aquele homem estranho no espelho.

- Você conhece a sua cara! Mude-a! Recupere seu rosto – continuou.

- Eu sou criança. Eu não sei – desesperou-se, quase chorando.

- Você sabe. Eu te passei os treinos. Concentre-se. Primeiro retome a cor dos seus cabelos. Ande. Você é capaz!

- Eu não...

- Você quer ficar assim e não ser reconhecido por sua mãe? Mude a cor agora.

Sirius fechou os olhos por instantes e seu desejo de recuperar sua fisionomia e seu corpo foi tão forte que seus cabelos começaram a se alterar. Fios negros surgiram e aos poucos cobriram sua cabeça. Os olhos recuperaram o tom de azul e seu corpo encolheu levemente. No entanto, nada mais se modificou. O choque foi forte demais quando reabriu as pálpebras. Antes que falasse qualquer coisa, a figura de negra lhe entregou um pequeno vidro.

- Beba. É o antídoto. Vire de uma vez e você vai anular o efeito da poção polissuco.

O menino o obedeceu sem pestanejar. O sabor também era desagradável e ele teve mais uma vez vontade de colocar tudo para fora. Novos espasmos o sacudiram. Mas o estômago se aquietou rapidamente e o garoto percebeu um formigamento no corpo. Passado um minuto, voltara a ser o Sirius que conhecia. Tocou seu rosto, seus cabelos. Estava aliviado. Entretanto, não disse palavra alguma. A experiência tinha sido horrível para ele.

- Muito bem. Você reagiu muito bem. É o que falei outro dia. Você tem talento, garoto. Agora, descanse. Volto depois.

Depois que o vulto se retirou, Sirius caminhou para a janela. Subiu na cadeira e olhou para fora. Estava começando a pensar que valia a pena enfrentar a floresta.





*****




Dumbledore andava calmamente por uma alameda repleta de estátuas e flores. Era um lugar bem organizado e até bonito que ficava numa rua isolada no alto de um morro. Durante o dia, os trouxas poderiam confundi-la com uma loja comum. O fato, porém, é que ninguém entrava, exceto se fosse bruxo. O feitiço na entrada que recordava compromissos adiados funcionava apenas em quem não tinha magia.

- Estarei enxergando bem? Alvo Dumbledore! – gritou de dentro de uma oficina um homem de barbas brancas que estava com as mãos sujas de tinta.

- Constantino, meu caro, como vai? – respondeu o diretor emérito de Hogwarts. – Ahn, estendo minha mão, embora não reconheça se essa tinta é trouxa ou é alguma das misturas que você usa...

- É trouxa – riu o homem, apertando a mão do velho amigo. – Sai facilmente. Nem precisa de varinha.

- Ainda bem. Não gostaria de sujar minha varinha.

Constantino esfregou as mãos uma na outra até que as cores berrantes sumiram. Dumbledore fez o mesmo e ambos entraram na pequenina casa que se via em meio a um arvoredo frondoso.

- Este seu canto é bem interessante. Onde montou sua biblioteca? Você deve ter mais de cinco mil livros.

- São agora sete mil. E crescendo – disse o bruxo, conduzindo Dumbledore até um par de portas que compunham o desenho de uma imensa oliveira. – Eles estão aqui.

O homem bateu as palmas e as portas se abriram revelando enormes estantes, uma mesa cercada de cadeiras, um sofá e uma imensa poltrona que ficava sob uma janela quadrada.

- Impressionante! – murmurou Dumbledore.

- Não é?! – deu mais uma risada. – Mas o que te traz a Atenas, Alvo? A última vez que nos vimos já faz um bom tempo. Minha neta era criancinha e agora já está até para casar.

- Electra vai se casar? Pensei que você a mandaria para Hogwarts.

- Ah, você não entende muito bem a cabeça grega. Somos orgulhosos disto aqui. Eu sei que Hogwarts é a melhor escola que existe. E, aliás, só podia ser assim tendo você à frente do negócio. Só que meu filho e minha nora decidiram que Electra estudaria aqui, na nossa cultura.

- Compreendo perfeitamente, Costa. Posso te chamar de Costa?

- É claro. Como nos velhos tempos, Alvo. Sente-se – e ofereceu o sofá para o professor, fazendo surgir também três garrafas com diferentes bebidas, dois copos e um pratinho de azeitonas. – Sabe, recordo-me até hoje daquele dia em que você veio atrás de mim para tentar capturar aquela medusa que andou rondando a floresta proibida perto da escola. Ei, onde está aquele rapaz que te acompanhava sempre? Um grandão que você nomeou guarda-caças?

Dumbledore tomou um gole de algo que parecia água. Só que não era água. A bebida provocou-lhe um leve ardor na garganta e marejou seus olhos azuis.

- Hagrid se foi há algum tempo.

- Oh, eu lamento. Deve ter sido na época em que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado ainda aterrorizava o mundo.

- Sim. Foi no tempo de Voldemort.

Por pouco, Constantino não engasgou com sua bebida, a mesma que Dumbledore provara. Deu uma tossida e virou outro copo de uma vez só, sem fazer careta.

- Alvo, por favor, não diga esse nome. Dá azar.

- Perdão. Esqueci o quanto vocês são superticiosos.

- Não é à toa que inventamos o olho grego – e soltou uma risadinha. – Ah, mas os anos se passaram para nós, Alvo. Eu não tinha barba branca e agora tenho. Acho que você já tinha.

- É verdade. A minha começou cedo. Mas, sim, eu estou bem velho, Costa. Talvez meu tempo tenha se acabado.

- Não diga isso. Você está ótimo. Para ter vindo de Hogwarts até aqui, até que fez uma viagenzinha e, no entanto, você exibe energia de sobra.

- Ah, já isso não é verdade. É que sou um tantinho orgulhoso e não desejo que você me veja abatido. Tive de me recuperar um pouco antes de entrar em seu terreno. E, falando nisso, preciso de sua ajuda.

- Outra medusa? Elas são realmente uns tipos teimosos.

- Não. Estou aqui para auxiliar um rapaz que você deve conhecer de nome, Harry Potter.

Constantino fez que sim com a cabeça. E Dumbledore contou ao amigo tudo o que sabia a respeito do caso. O grego coçou a barba quando ouviu o trecho referente ao mundo inferior. Levantou-se da poltrona e foi até uma prateleira. Ergueu o braço e um livro veio voando até sua mão. Enquanto caminhava de volta e retirava o pó com um sopro forte, uma ruga funda surgiu em sua testa.

- Vocês têm certeza a respeito disso?

- Sim. Foi mundo inferior que a jovem com sangue veela disse.

- Alvo, você deve ter alguns livros meus em Hogwarts...

- Temos todos seus livros, Costa. Estão nas estantes de livre acesso.

- Obrigado. Fico feliz de saber que seus estudantes têm a chance de ler as coisas que escrevi. Bom, nas minhas pesquisas, nunca encontrei nada que provasse a existência dos deuses gregos como são descritos nas lendas.

- Sei disso.

- Criaturas, temos em monte. E vocês também. Aliás, nós, bruxos do mundo todo, tratamos de inventar alguns mitos para justificar parte do nosso universo perante os trouxas. Os chineses e os dragões. Vocês e os duendes. Nós... e tudo isso – comentou, apontando uma série de quadros que enfeitavam as paredes da biblioteca, exibindo seres fantásticos.

- Estou ciente.

- Nunca foi provado que tenha existido Zeus, Hera, Hefestos e todos esses mitos olimpianos. Estive muitas vezes na Tessália. Perdi a conta de quantas escaladas fiz ao monte Olimpo.

- Ninguém seria capaz de contestar seus conhecimentos, Costa.

- Mas já houve. Não sou a prova de erros. Apesar de ninguém nunca ter apresentado fatos incontestáveis. Em relação ao mundo inferior, seria ainda mais difícil, visto que nem pesquisar o local nós poderíamos. A lenda diz que ele fica no centro da terra e é banhado por rios, entre eles, o Estige, que vocês chamam de Styx. O que não é um bom nome para um rapaz.

- Conheço um pouco de mitologia, meu caro. Gostaria de saber como alguém pode ter acesso a ele sem estar morto.

- Não há meios. Apenas semideuses ou heróis auxiliados por um deus conseguiram visitar o mundo inferior e retornar. De acordo com as lendas.

- Os deuses eram imortais. Um ser imortal poderia transitar livremente por essa região?

- Talvez. Hades não gostava de visitas. Mas certamente se alguém tivesse mais condições de entrar e sair de seu reino seria um imortal.

- E trazer alguém de volta à vida?

- Não acredito nisso, Alvo.

- A mitologia diz que sim. Hércules...

- Herácles era um semideus e foi ajudado por deuses... – interrompeu Costa. – Tudo não passa de lenda, Alvo. E sei que você concorda comigo.

- Essas histórias, entretanto, podem levar alguém a acreditar que isso é possível.

Constantino entregou o livro que limpara ao professor.

- Como penetrar nesse reino, eu não tenho idéia. Mas houve um grupo secreto, muitos anos atrás. Eles estavam dedicados ao culto de Hades, o deus do mundo subterrâneo. E quando digo dedicado não me refiro a um grupo de estudos. Tinham idéias mirabolantes. Pelo que sei, era uma turma que originalmente surgiu nos famosos Mistérios de Elêusis, o culto de mistérios da Antiguidade que acontecia aqui perto. Os Mistérios, você deve saber, eram dedicados a Demeter e Persephone, mãe e filha. A sogra e a mulher de Hades – disse, ligeiramente risonho. – Os Mistérios perduraram durante muito tempo. Suspeito que chegaram aos dias atuais e talvez continuem existindo até hoje, embora seja difícil descobrir isso. Já esse tal grupo secreto...

- O que houve?

- O fundador morreu. Toda dedicação dele não serviu para salvar-lhe a vida.

- E os membros do grupo?

- Nem imagino. Há alguma coisa a respeito deles nesse livro.

- Não estou vendo o nome do fundador.

- Esse livro não é de minha autoria. Porque se fosse teria esse dado. Se quiser, posso pesquisar mais.

- Seria uma ajuda valiosa, Costa. Só você pode nos trazer essas informações.

O bruxo franziu o cenho.

- Alvo, por que tanta precaução? Esse rapaz que você citou, esse que vocês estão procurando... Ele é muito jovem.

- É muito inteligente.

- Mesmo que tenha lido muito, ainda assim seria praticamente impossível encontrar o mundo inferior. Não há muitos livros que falem a esse respeito com fidedignidade. Creio que eu tenho as melhores obras nesse sentido. Estão comigo. E nunca recebi a visita de ninguém atrás desses livros.

- Talvez a mãe tenha deixado algo para ele. Sabemos pouco a respeito dela. Deixarei o nome dessa mulher aqui, Costa – e retirou das vestes um papel que depositou na mesa.

- De todo modo, como ele poderia entrar no mundo subterrâneo?!

- A arca que desapareceu, meu caro, continha uma pedra filosofal.

- Como? – espantou-se.

- Sim, houve outro homem, além de Nicolas Flamel, que conseguiu produzir uma. E ele a deixou nessa arca, que ficou escondida um bom tempo no Ministério da Magia da Alemanha. Ela sumiu. Acredito que o ladrão sabia bem o que fazer com a pedra. É provável que ele queira se tornar imortal, ainda que sob o efeito efêmero dessa magia.

Dumbledore colocou a mão na coluna, sentindo uma dor incômoda. Aparatar, de fato, estava mais complicado ultimamente.

- Err, com licença, Costa. Posso usar sua lareira? Creio que é melhor voltar recorrendo ao pó de Flu. É um pouco humilhante para alguém como eu, só que prefiro reduzir as chances de sensações dolorosas...

Constantino não respondeu de imediato. Estava estupefato, sem fala. Aquela tinha sido a notícia mais bombástica que recebera em toda sua longa vida.





*****




Greta retirou o capuz e o lenço que cobriram seu rosto bonito. Sentou-se diante da lareira e bebeu uma xícara de chá com o olhar distante. Estava dividida entre a tensão e a ansiedade. Queria entrar logo em ação. Desejava ver o plano concluído o quanto antes. Receava a proximidade dos aurores. Mas assim que atingissem o objetivo estariam livres. Poderiam desaparecer daquele lugar e partir para um lar verdadeiro. Ela queria um lar. E seus lábios pronunciaram o nome que alimentava seus sonhos. “Styx”, murmurou baixinho.

Sua mente divagava por campos aprazíveis, por dias de céu azul, longe de tudo que vivera até então. Mal se deu conta da presença da figura alta e magra que se aproximara da lareira. Também permaneceu em silêncio.

- Logo teremos um lar – declarou Greta, com um sorriso.

- Sim, teremos – respondeu num sussurro distraído.

A mulher se ergueu e se dirigiu à lareira, criando um contraste grande entre o branco de suas vestes e o negrume das roupas de sua companhia.

- Ele está preparado?

- Ainda não. Não completamente. Mas eu vou tentar mesmo assim.

- E quanto a você?

- Desde o momento em que decidi ir à frente com este plano! – exclamou com os olhos brilhantes. – Repito a pergunta. Está pronta?

- É evidente que sim.

- Você sabe que não poderá entrar. Greta, você será muito importante para mim na retaguarda. Para evitar que alguém interfira na hora em que eu estiver lá.

- Eu estou pronta – insistiu. – Sei exatamente o que fazer. E vou esperar pelo seu retorno triunfante.

- Tenha essa confiança, sim. Só não pense que será fácil. Não se iluda, Greta. Você terá de ser muito cautelosa. Terá de usar seus poderes com o máximo de atenção.

- Assim o farei – replicou com um leve desdém.

- É sério. Além disso, os lobos daquela região não são como esses da floresta. Para falar com franqueza, eles são muito diferentes de todos os que você já encontrou.

- Um lobo é um lobo. Não se preocupe. Minha herança veela funciona bem com animais. Você sabe disso. Confie!

- Confio – respondeu. – Amanhã será o dia!

E as duas figuras, a de branco e a de negro, ficaram quietas. Cada uma mergulhada em seus pensamentos.












Demorei séculos por causa de vários compromissos. Foram duas viagens a trabalho. E na semana passada foi anunciado um casamento na família, o que foi motivo de festa no domingo, impedindo-me de escrever (não ficava bem dizer que não participaria porque tinha de continuar a fic). Humm, está aqui o capítulo. Quero ressaltar que não tenho a intenção de reproduzir fielmente os mitos gregos. Estou fazendo adaptações para casar (ê, olha o verbo... hehehehe) com o roteiro. Mas a base é mesmo a mitologia. Espero que gostem. Obrigada mil vezes pela paciência, pela leitura e pelos comentários que me enchem de energia!!! Bjs. K.

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