O início de outro aprendizado



Assim que desceram do carro, Harry reconheceu o lugar imediatamente. Foi como se jamais houvesse deixado Godric’s Hollow. Como podia se lembrar daquele lugar com tanta clareza, já que havia o deixado para trás há dezesseis anos?

A casa dos pais, sua casa, estava abandonada desde então. Mas, externamente, nada dava essa impressão de abandono. Nem mesmo o jardim, porque a casa toda era cercada por grandes heras que não permitiam ver nada além de uma porta de entrada e janelas fechadas. Harry cruzou um portão de madeira tão alto quanto as heras, pediu que os amigos esperassem, foi com Tonks e Lupin até dentro da casa verificar se havia algo com que se preocupar.

Os três entraram e viram uma sala muito bonita, além de empoeirada, obviamente. Um lindo piano ainda aberto ao lado de uma magnífica lareira, uma bela sala de jantar com a mesa ainda posta, pratos, talheres e taças de cristal, uma pequena cadeira de bebê ao lado, Harry sentiu um nó na garganta, os olhos arderem... as mortes aconteceram antes do jantar, pensou ele. Fotografias dele, dos pais, de Sirius com ele, dos amigos de Hogwarts e da Ordem da Fênix cobriam a sala e a parede toda do corredor, que dava para a escada e para uma enorme cozinha que ainda tinha panelas, tigelas, e muitos bichos infestando pia, gavetas, geladeira, fogão... uma boa limpeza iria bem ali.

Tonks providenciou isso num aceno de sua varinha. Tudo brilhava novamente, que linda casa! Ela fez o mesmo com o pó da sala, do corredor. Quem entrasse ali jamais pensaria em abandono.

Subiu a escada, enquanto isso, com Lupin. Havia um grande corredor, quatro portas. Três do lado esquerdo, uma de frente, no fim do corredor. Começaram a percorrer o corredor e entrar pelas portas, uma a uma.

A primeira era uma sala de estudos, ou um escritório. Uma escrivaninha muito bonita, uma enorme, repleta e variada estante com todos os tipos de livros de magia, alguns livros de trouxa também. Penas, pergaminhos, papéis. Até mesmo contas para pagar! Como em qualquer casa.

A segunda era um banheiro enorme, com banheira, parecia o banheiro dos monitores em Hogwarts, aquele do desafio Tribruxo, indicado por Diggory. Uma banheirinha de bebê complementava-o, bem como um trocador, fraldas... ainda tinha água, verde e lodosa, dentro da banheirinha... seu coração despencava à cada lembrança vaga que pudesse ter, ou imaginar, daquele último dia dele naquela casa...

A terceira porta era o quarto de Harry. Um bercinho, enfeites pendurados, bichinhos, roupinhas, brinquedinhos... Harry não queria olhar mais, as lágrimas desciam por seu rosto sem que ele pudesse controlá-las, ele só pensou no que veria no quarto em frente...

Entrou sem problemas, já que só havia o sinal de que um tufão havia passado por ali. O que devia ser um outro berço e uma cama de casal, um guarda-roupa e um banheiro privativo eram apenas escombros. Um buraco muito fundo, uma grande vala, uma cor verde predominava em algo que lembrava ser anteriormente branco. Foi ali. Ali que os pais haviam morrido, e ele fora atacado, e o verde das paredes não foi algo difícil de entender. O verde nas paredes era Voldemort, quando o atacou e recebeu contra si mesmo o Avada Kedavra que deveria ter matado ao próprio Harry. Suas lágrimas cessaram. Ele não via tristeza naqueles escombros. Sentia a coragem dos pais, a força que emanava dele mesmo... Não havia mais medo, nem saudades. Estava em casa, junto dos seus, suas coisas, a vibração de amor e carinho do lugar todo enchia o coração de Harry com pensamentos bons, idéias, esperança... seja lá como for, o lugar não podia jamais ser invadido uma segunda vez por Voldemort. Porque ele, Harry, trouxera consigo os amigos que amava, a mulher de sua vida, pessoas boas e devotadas ao bem... pela primeira vez Harry soube o que viera fazer naquela casa. Entendeu imediatamente sua necessidade de estar ali, e de trazer as pessoas consigo.

Precisaria esquadrinhar cada centímetro daquela casa, ele e os amigos. Precisavam encontrar pistas para a batalha que não tardaria, e precisavam descobrir sobre ao outras Horcruxes, tantos planos, tantas coisas a serem feitas, a cabeça de Harry fervendo...

- Harry. Harry!

Lupin chamava-o, olhando estranhamente seu rosto. Havia se esquecido que tinha que chamar aos outros, que esperavam lá fora. Lupin parecia indagar com os olhos aquela expressão que esboçava um sorriso no rosto de Harry.

- Desculpe, me distraí por um momento. Pode chamar todo mundo pra dentro. Aqui, acredite-me, nesse momento, é o lugar mais seguro pra nós. Voldemort não pode atravessar aquele portão sem que eu saiba ou sem que seja atingido pela mesma proteção que me salvou, professor Lupin. Você sente também, não sente?

Lupin sentiu um calor repentino, uma imensa vontade de sorrir. Entendeu o que o garoto dizia.

- Magia antiga...

- É professor, magia antiga. Feita por meus pais e Dumbledore. Que salvou minha vida. Que eu vou precisar descobrir como trabalhar, com as pessoas que eu trouxe aqui comigo. Ninguém, nem Dumbledore, jamais explicou como essa magia antiga funciona para mim. Mas ele com certeza explicou aos meus pais, inclusive os ajudou. Talvez porque ela seja única e nasce com cada um de nós. Na escola aprendemos magia ao alcance de todos, bons ou maus, mas essa magia especial é aquela que trazemos dentro de nós, e que só nós conhecemos. Tenho um palpite muito forte sobre aquela sala de estudo, Hermione vai me ajudar com os livros, e...

- Calma Harry, já entendi. Vamos colocar todos pra dentro, agora.

Inspirado por alguma coisa que não sabia explicar, Harry ouvia em sua cabeça palavras desconexas, sem sentido. Foi até a sala de estudo, pegou pergaminho e pena, começou a recitar e escrever o que ouvia em sua mente.

- Vida... amor... plenitude... selar... Universo... emoção... lugar... sonhar... arte... sorrir... mundo... brincar... viver...

Foi anotando febrilmente, pareciam palavras de uma cantilena, uma canção de ninar, ele podia ouvir a voz da própria mãe cantando aquelas palavras em seu ouvido! Que lindo, que estranho! A canção cessou em seus ouvidos. Os amigos foram chegando dentro da casa, e aquela vibração toda de amor e alegria parecia aumentar ainda mais com aquelas pessoas que ele amava tanto dentro da casa. Ele podia jurar que sentia a presença de cada um deles dentro de si.

Exultante, decidido, desceu as escadas. Olhou para todos e disse com firmeza:

- Alegria, amor, dedicação, caridade, humor, sabedoria. Estão todos dentro de mim, de nós, dessa casa, e são a chave para a magia antiga e eterna que nos protege e nos une. Agradeço por cada um de vocês, conto com todos. Esta casa é nossa proteção e abrigo à partir de hoje, desde que cada um busque essas qualidades dentro de si e me ajudem. Preciso de cada um, vocês tem um propósito. O de descobrirem comigo como derrotar Voldemort com as armas que ele jamais possuirá.

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