O bilhete que não dizia...



"Mione,

não me pergunte onde encontrei essa coragem que agora, nesse momento, brota de dentro de mim. Eu não tenho como escrever tudo o que eu quero dizer nestes poucos momentos que temos antes de desembarcar.
Só quero dizer que depois de tudo o que passamos nestes anos, e especialmente nestes últimos dias, tenho medo.
Medo de nunca mais poder dizer o que guardo dentro de mim há tempos... sem saber.
Venha para A Toca o quanto antes. Quem sabe assim reúno a coragem que preciso para te falar o que quero, preciso... Conto com você, como sempre.

Ron"


Tão típico de Ron, falar sem parar e não dizer absolutamente nada. Parecia até um trabalho de História da Magia!

Mione sentiu que toda a raiva que passara com ele naquele ano inteiro voltou, feito uma maré muito alta e brava. Que droga, quem poderia ser mais enrolado?

Ela há muito lutava para esconder o que era óbvio: o que sentia pelo desastrado e pateta amigo. Desde o Baile de Inverno com Vítor Krum, que servira só para mostrar aquilo que a razão não aceitava, de maneira alguma.

Ela pensou estar interessada em Viktor. Ele era mais velho, inteligente, galanteador, e tinha todas as meninas que quisesse por sua beleza física. Era alto, porte atlético, olhos de uma profundidade e meiguice sem igual. Ninguém acreditaria se ela contasse o quanto Krum era... perfeito. No quanto era inteligente, conversavam por horas a fio...

Nos vários passeios que fizeram por Hogwarts naquele ano, Hermione e Viktor tiveram chances incontáveis de se conhecerem muito melhor. Mas depois de algumas investidas inocentes, Hermione sabia o que ele queria. Ela não sabia o que ela queria, esse era o problema.

Num desses passeios, ela se sentiu tentada por ele. Já que ninguém a via como uma garota, porque não experimentar chegar mais perto daquele que finalmente a enxergava? Ela nunca tinha beijado um garoto. Sentiu-se inexperiente demais para Krum. Suas pernas tremiam com o contato das mãos de Krum nas suas, imagine só se ele quisesse um beijo? Ela não saberia o que fazer. E por isso foi muito aberta com ele, dizendo que seriam só amigos.

E ele tinha um perfume tão gostoso, uma voz que fazia Hermione tremer, um hálito quente e perfumado que a deixava simplesmente arrepiada da cabeça aos pés...

Mas, todas as vezes que tentava reunir forças para avançar um pouquinho, eram outros olhos que vinham na sua mente. Um par de olhos azuis muito profundos e doces. Sentia aqueles cabelos cor-de-fogo que tinham cheiro de relva molhada, aqueles braços desengonçados e o peito saliente e forte de um menino que crescera muito em poucos meses. Aquela voz irritante que ela conhecia tão bem, ah que ódio, ela pensava em Ron. Desde quando Ron era bonito ou inteligente? Ron era uma toupeira! Uma toupeira que havia sido tão grosseira quanto fosse possível, que jamais a vira como uma menina, que a tratava a pontapés!

Ron sempre estragava tudo. Era burro e egoísta. Extremamente imaturo, infantil! Jamais a olhava como uma menina! Estava tão habituado às aventuras dos três que jamais era delicado ou cortês com ela. Sempre fora incapaz de sequer ser delicado com ela em momentos que ela precisava tanto do carinho dele...

Depois da aventura do ano passado entre Ron e Lilah, aquela nojeira dos dois se enroscando feito enguias onde quer que estivessem, Mione resolveu trancar o que sentia dentro de si. Ele jamais a veria como menina. Quem dera mulher!

Quantas noites ela havia chorado naqueles anos todos, gostando de Ron em segredo, sem que ninguém, nem mesmo seu melhor amigo, Harry, soubesse...

Não, definitivamente não. E aquele era o pior momento de todos, com uma guerra por vir e tantas coisas infinitamente mais importantes do que aquilo que ela sentia...

Mesmo pensando que, pelo menos no enterro de Dumbledore, Ron realmente parecia mudado. Ela estava tão triste, ele tinha sido tão carinhoso, tão delicado... Ela se lembrava daqueles parcos e preciosos momentos e se emocionava...

Ron a abraçava com carinho enquanto ela chorava copiosamente, soluçando. Ela pensou ter imaginado coisas, mas não, ele também chorava! Grossas lágrimas pingavam da ponta de seu nariz comprido, ela sentia-o tão próximo de si, via de perto como nunca cada uma de suas sardas, seus lindos olhos marejados... Se sentia embriagada pela sensação do abraço forte e decidido dele... sentia seus braços fortes, seu peito musculoso arfava junto ao seu, seus cabelos tão perfumados, sua voz rouca sussurando “estou aqui, com você...”, a boca dele tão próxima, o hálito quente que deixava sua nuca arrepiada, uma vontade louca de beijá-lo e ficar nesse abraço pra sempre... ele passava a mão no cabelo dela com ternura, será que era um sonho?

Aí ela se lembrou da situação que estavam, convenceu-se que ele estava sendo um bom amigo, como sempre. Pra que viver de sonhos, que jamais se realizarão? Sonhar com Ron era querer o impossível!

Ah, Ron. De uma vez por todas, vai se danar! Sai dos meus pensamentos OK? Preciso pensar em outras coisas!

Enquanto dizia isso para si mesma, adormeceu. E teve um sonho maravilhoso...


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.