Reviravolta muito inesperada



As coisas vinham correndo de maneira tão irregular que Harry mal lembrava que fazia aniversário! E ele nunca tinha sido muito fã da data, afinal ninguém nunca se importou antes de Hogwarts com o aniversário dele... mas agora era tudo diferente...

Nos primeiros momentos, ele realmente se sentiu muito bem, sentiu-se normal. Agradeceu a atenção que todos o dispensavam naquele momento, cumprimentou Neville, que tinha feito aniversário no dia anterior... uma festinha pequena e animada, que durou poucos minutos, meia hora talvez. Havia muito o que fazer...

No decorrer de uma outra meia hora, ele começou a sentir algo diferente dentro de si. Como se suas entranhas estivessem do avesso, seu estômago pesava, a cicatriz começou a latejar em sua testa, levemente... E estranhamente, inesperadamente, a imagem de Snape surgiu, do nada, em sua cabeça. Ele se alarmou, mas disfarçou o quanto pôde... esquecendo-se que Ginny podia saber o que ele pensava.

- Harry, você acaba de completar 17 anos. Você atingiu a maioridade no mundo bruxo, e isso não seria grande coisa se você não tivesse...

- Perdido a proteção de Dumbledore agora. Nesse momento. – Harry completou ansioso, como se pudesse entender melhor as coisas falando em voz alta.

McGonagall já sabia disso também. Dumbledore a advertira no ano anterior sobre as possíveis mudanças que poderiam ocorrer a Harry. Ela apressou-se em explicar o que sabia:

- Harry, a proteção familiar acabou. Antes, o lugar mais seguro para você, além de Hogwarts, era a casa dos seus tios. Agora, lá não é seguro. Voldemort não podia atacá-lo lá. Mas devo completar seu pensamento. Hogwarts ainda conta com a proteção de Dumbledore. Aqui, você não pode ser atingido desavisadamente. Compreende? Não é impossível que Voldemort o ataque aqui, mas você não estará sozinho... nenhum de nós estará. Sente-se melhor?

- Eu estou bem, professora. Eu sinto apenas que algo está para acontecer. E sinto que...

Harry vislumbrou Snape novamente. Ele falava algo que Harry não compreendia...

- Professora, Snape está tentando se comunicar comigo.

Os presentes foram invadidos por uma sensação negativa, dadas as circunstâncias nas quais Snape tinha desaparecido... ele matara Dumbledore... mas Harry não se deixou influenciar pelo sentimento dos restantes, por mais incrível que isso possa parecer. Ele precisava ver Snape. Enfrentá-lo, se necessário. Entender muita coisa do passado... Ele se dirigiu aos presentes seriamente.

- Olha gente, sei melhor do que ninguém o que vocês sentem. Eu nunca acreditei em Snape, e ele sempre me odiou, como odiou ao meu pai a vida toda. Eu nunca gostei dele, mas vejo com clareza que tive influências maiores do que eu para isso: meu pai, Sirius... Mas guardem os seus sentimentos no momento... porque eu preciso falar com ele. Ele deve saber sobre Voldemort, pode nos ajudar a encontrá-lo.

- Mas Harry, ele matou Dumbledore! Como é que ele pode ajudar? Ninguém entende o que levou Snape a fazer isso, ele é perigoso, é um Comensal da Morte... – Ron estava à beira de um ataque de nervos, achou que Harry tinha perdido o senso de perigo.

- Ron, presta atenção. Ser levado pelas emoções é obviamente inútil nesse momento! Qualquer bruxo sabe que eu estou em Hogwarts, Voldemort está apenas reunindo seus seguidores e as criaturas que se aliaram à ele no passado... é uma questão de tempo! Você achou que só o diário ia nos levar à resposta?

Harry foi tomado por uma infinidade de idéias e teorias, e precisava organizá-las. Esclarecê-las. Mas sempre soube que seu primeiro passo o levaria a Snape, desde o assassinato de Dumbledore. Era necessário compreender o que havia acontecido. Harry se lembrou dos acontecimentos dos anos anteriores, mas agora via tudo sob um prisma completamente diferente... como se fazer 17 anos tivesse feito com que um véu muito espesso tivesse sido retirado dos seus olhos...

Pediu à Professora McGonagall a Penseira de Dumbledore. Ela prontamente atendeu-o.

Munido da Penseira, Harry procurou fazer o que sentia ser certo. E sem saber exatamente como, começou a retirar os fios prateados de pensamento da própria cabeça, incontáveis, depositando-os na bacia. Eram tantos, tão confusos! Como não havia pensado em usá-la antes?

Depois de alguns minutos, ele apenas perguntou a McGonagall quantas pessoas podiam entrar na penseira de uma só vez.

- Nunca soube exatamente, Potter. Você vai ter que tentar.

Harry pegou na mão de Hermione, que por sua vez pegou na mão de Ron, que pegou na mão da irmã Ginny.

- Apenas nos chame se algo errado acontecer, professora. Certo?

McGonagall assentiu com a cabeça, varinha à postos.

Os quatro encostaram o nariz no líquido prateado, sentindo um solavanco que foi seguido de uma sensação de estarem sendo puxados por um rodamoinho...

Caíram sentados, os quatro, num cemitério horrendo, entreouviram conversas. Ron, Mione e Ginny estavam gelados... perceberam que estavam no cemitério onde Diggory tinha sido assassinado, no quarto ano de Harry... o corpo dele estava ali... estavam na memória de Harry daquele dia da final do Torneio Tribruxo, quando Voldemort ressurgiu...

Harry olhou para eles e disse:

- Isso é a minha memória daquele dia. Vamos prestar atenção nas conversas, nas palavras de Voldemort... preciso da ajuda de vocês, ninguém consegue nos ver aqui, entendem? Esqueçam o resto, precisamos entender algo sobre esse dia... algo que talvez eu não tenha entendido antes.

Voldemort discursava sobre Harry, sobre os Comensais... e naquele momento Voldemort estava falando justamente dos Comensais que faltavam ali...


#- E aqui temos seis Comensais da Morte ausentes... três mortos ao meu serviço. Um demasiado covarde para voltar... ele me pagará. Um que eu acredito ter me deixado para sempre... este será morto, é claro... e um que continua sendo meu mais fiel servo, e que já reingressou no meu serviço.

Os Comensais da Morte se agitaram; Harry viu que eles se entreolhavam por trás das máscaras.

- Ele está em Hogwarts, esse servo fiel, e foi graças aos seus esforços que o nosso jovem amigo chegou aqui essa noite... #


Os quatro observavam as palavras de Voldemort, tentando compreendê-las. Depois de alguns momentos, eles saíram da Penseira, puxados por Harry, sendo trazidos de volta à sala comunal.

Harry andava de um lado para o outro. Apenas os quatro, mais Hagrid e a professora McGonagall estavam ali agora. Harry falava de si para si mesmo, ainda andando de um lado para outro:

- Voldemort falou especialmente sobre três Comensais. Eu hoje vejo que não havia compreendido corretamente o papel de Snape naquele momento, mas compreendo agora.

- O primeiro Comensal do qual Voldemort fala é Igor Karkaroff. Muito covarde para voltar... está desaparecido, não está?

- O terceiro Comensal, eu pensava ser Snape na hora em que Voldemort falou... mas quando cheguei à Hogwarts, era Barty Crouch Júnior... Não era Snape.

- Isso só pode querer dizer que Snape realmente era, e é, fiel a Dumbledore e à escola. Por menos que eu goste de Snape, Dumbledore sempre acreditou nele. E quero saber porquê.

Ron achou que o amigo tivesse enlouquecido. Acreditar em Snape? Dar-lhe chance de explicar porque matara Voldemort? Harry só podia ter enlouquecido...

Hermione, como se pudesse ler os pensamentos do namorado, pronunciou-se:

- É indiscutível que Snape é frio, calculista, mesquinho e arrogante. Mas eu nunca pude acreditar que ele tivesse realmente algo de verdadeiramente maligno... pelo menos não do jeito que todos confiavam nele por causa de Dumbledore. Ele apenas foi um garoto mal interpretado, por ser diferente... Outro argumento indiscutível é o discernimento de Dumbledore.

- Dumbledore foi realmente sábio. Mesmo que no início pairassem dúvidas sobre Snape na mente dele, com o tempo essas dúvidas podem não ter sido sanadas, mas foram substituídas por outras certezas. Você disse ter visto claramente Snape, a Profa. McGonagall e Dumbledore no espelho-de-inimigos de Crouch naquele mesmo dia, não foi Harry? Quando Barty Crouch Jr. tomou o Veritaserum.

Harry assentiu com a cabeça.

- Aí está. Se ele fosse realmente partidário de Voldemort, um agente duplo durante todos esses anos, ele figuraria ali como inimigo? O espelho não se engana, é um artefato extremamente confiável porque vê além dos pensamentos e julgamentos de quem o usa.

Mione tinha razão. McGonagall, no entanto, interveio:

- Mas não é seguro trazê-lo aqui, Harry. Voldemort deve estar atrás dele também... O que você consegue ler na mente do Prof. Snape?

Lembrado do poder que adquirira recentemente, Harry concentrou-se em Snape. Queria entender o que ele dizia...

Viu que Snape não estava longe dali. Estava escondido na Casa dos Gritos! Ele não estava realmente tentando falar com Harry, afinal Snape era ótimo Oclumente e Legilimens. Mas agora Harry também o era...

Harry muniu-se apenas da varinha. Não disse nada a ninguém do que vira. Apenas disse:

- Preciso tentar encontrá-lo sozinho. É arriscado, mas necessário.

- Mas Harry, leve pelo menos Hagrid com você... você sabe que não pode andar sozinho! Não porque precise de alguém, mas porque...

- Eu sei Professora. Tem razão. Venha, Hagrid, não temos tempo a perder.

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