Põe a culpa nos Beatles!



As palavras de Harry tinham sido algo de maravilhoso. Todos sentiram a mesma energia especial brotando de si e nos outros presentes, como se fosse possível materializar pensamentos naquele ambiente. Sensação estranha, única, maravilhosa!

Tonks e Lupin já haviam dado uma boa ajeitada no lugar, no que dizia respeito ao pó e a sujeira. Mas tudo aquilo que não fosse pó nem sujeira estava no mesmo lugar de sempre. Harry explicou o que podia deduzir aos amigos.

- Cada canto dessa casa vai ter de ser vasculhado, cada papel lido, cada segredo descoberto, porque magia antiga é simples e sutil. Se pudermos juntar as partes desse quebra-cabeça, saberemos como meus pais usaram-na, e como nós poderemos usá-la, mais uma vez, e de uma vez por todas, contra Voldemort. Ele não sonha com o fato de que essa casa ainda tem magia poderosa impregnada nela, em cada um dos tijolos, em cada grão de areia do reboque usado pra construir essa casa. Senão ele já a teria destruído. A maldade peca pela burrice quando presume saber de tudo.

Ginny, Ron, Hermione, Luna, Neville, bebiam as palavras de Harry. Entendiam o que ele queria dizer com tudo aquilo. Estava tão claro, era tão óbvio! Assim como em Hogwarts eles conseguiam sentir cada centímetro do castelo protegido por Dumbledore e por todos aqueles que gostavam dele, de seu trabalho.

Como se guiados, se separaram em casais. Harry e Ginny, Luna e Neville (casal estranho e divertido esse!), Ron e Mione (por mais difícil que fosse, eles sabiam que deveriam estar juntos).

Luna e Neville ficaram com a sala. Ron e Mione com a sala de estudos, obviamente. Harry e Ginny foram para o quarto de Harry. Começaram. Tonks e Lupin foram para a cozinha, preparar algo para que pudessem comer mais tarde, e olhar os armários e gabinetes à procura de algo também.

Na sala, Luna começou com o piano. Adorava música, mesmo que não soubesse arrancar uma nota afinada cantando, ou que não soubesse tocar nenhum instrumento. Sentou-se à banqueta. À sua frente uma partitura de Chopin. “Tristesse”. Luna conhecia música trouxa o suficiente para lembrar-se de Chopin.

- Olha Neville! Eu conheço essa música! Temos que achar um meio de mostrá-la para Harry, deve ajudar!

Neville olhava as fotos e abriu uma porta da estante que havia na sala, no canto esquerdo, logo atrás do piano. Achou uma quantidade grande de uma coisa que lembrava um frisbee quando olhado, tinha um buraco no meio, era preto e tinha ranhuras. Luna olhou maravilhada.

- Discos! Olha só! Aposto que acharemos Chopin no meio deles.

Neville repetia as palavras de Luna.
- Discos? Pra que servem?

- Discos tocam música Neville. Como rádio. Você não ouve rádio?

- Sim, mas meu rádio não come discos pra falar...

- Não, bobo, olha só como funciona!

Luna achou a velha vitrola dos Potter logo na próxima porta da estante. Era uma vitrola embutida, um modelo muito antigo, mas parecia ainda funcionar! Estava na cara que era uma casa meio trouxa e meio bruxa. Como tudo por ali. Ela ligou o botão, colocou o primeiro disco que encontrou e ...

Neville tomou um susto de dar pena!

Uma música agitada e alegre começou a tocar. Tonks e Lupin vieram da cozinha checar, Ron deu um pulo ao primeiro acorde de guitarra (nunca tinha ouvido algo parecido), assim como Ginny. Para Harry e Mione aquilo não era novidade, viveram no mundo dos trouxas a vida toda pra saber o que era aquilo.

A música seguia animada. Harry deu um berro, e riu.

- Beatles! Quem diria que meus pais curtiam rock...

Lupin checou o lado de fora da casa. Nenhum vizinho podia escutar nada. Ele não ouviu nada quando fechou a porta atrás de si. Voltou para dentro.

- A casa é selada por dentro com relação à sons internos. Interessante... explica porque naquela noite nenhum trouxa ouviu nada.

Harry achou extremamente divertido descobrir que até mesmo seu gosto musical trouxa era uma influência dos pais. Os tios e Duda não gostavam de nada que ele gostasse. Ele sempre gostara de rock, desde muito pequeno, mas só podia ouvir num radinho velho de pilha quando estava sozinho em seu quarto, isso muito antes de descobrir a magia. Agora reconhecia sua influência musical. O disco que Luna colocara era "HELP!", a música que tocava agora era "The night before". Harry cantarolava alegre, Mione também, eles podiam se ouvir pelo corredor.

- Olha aí Mione, essa é boa!

- Eu também tenho o mesmo gosto musical Harry, que engraçado!

A letra era cheia de significado. Principalmente para Ron e Mione. Falava alguma coisa sobre um casal que não tinha dado muito certo, sobre algo que tinha acontecido “na noite anterior”, esse era o nome da música.

"The last night is the night I will remember you by
When I think of things we did
It makes me wanna cry…"

"A noite passada é a noite pela qual você será lembrado/a
Quando eu me lembro do que fizemos
Tenho vontade de chorar..."


Mione olhava para Ron revirando uma gaveta com paixão e dor. Ele fingia não estar ouvindo a letra com atenção, procurava não olhar para ela, mas seu coração gritava dentro do seu peito... que idéia era aquela de colocar música como aquela, cheia de significado pra ele, enquanto faziam algo tão importante? Teve menção de pedir pra pararem a música, mas Harry parecia ler a mente do amigo. Chegou na porta de onde estavam, perguntou se estava tudo bem, pediu pra Luna continuar colocando os discos que achasse. Tudo era pista, tinham que ouvir até mesmo as músicas que podiam conter algo de importante em sua letra. Não atrapalhava em nada o que estavam fazendo, pelo contrário, animava ainda mais o ambiente.

A próxima música era "I need you". Essa foi de matar pra ouvir fingindo não sentir nada.

"You don’t realise how much I need you
Love you all the time and never leave you
Please come on back to me
I’m as lonely as I can be
I need you
Said you have a thing or two to tell me
How was I to know you would upset me
I didn’t realise ‘till I looked in your eyes
You told me
Oh yes you told me
You don’t want my love anymore
That really hurt me
A feeling like this
I just can’t go on anymore
Please remember how I feel about you
I could never really live without you
So come on back and see
Just what you mean to me
I need you…"

"Você não percebe o quanto eu preciso de você
Te amo o tempo todo e nunca vou te deixar
Por favor, volta pra mim
Estou tão sozinho quanto alguém pode estar
Preciso de você
Você me disse que tinha uma coisa ou duas pra me dizer
Como eu podia saber que você ia me magoar?
Eu não percebi até olhar em seus olhos
Você me disse
Sim, você me disse
Que não quer mais meu amor
Isso realmente me machucou
Um sentimento como esse
Eu simplesmente não posso mais seguir em frente
Por favor, lembre-se de como me sinto em relação à você
Eu jamais poderia viver sem você
Então volte e veja
O quanto você significa pra mim
Preciso de você..."


A música penetrava nos ouvidos de Ron com fúria. Mione ainda cantava a música baixinho, como ela podia fazer isso com ele?

Sentia seu rosto ardendo enquanto ela estava no chão, entre muitos papéis que haviam sido tirados com cuidado da escrivaninha, de costas para ele. A raiva dava lugar a um outro sentimento, o de paixão, uma vontade louca de beijar Mione invadiu os sentidos dele, que agora sentia um arrepio percorrendo sua espinha, suas mãos já estavam estendidas, procurando Mione, os olhos fechados, pensando na letra daquela música, que ela cantarolava com aquela voz que ele tanto gostava de ouvir e que povoava seus sonhos mais ardentes...

Ele se ajoelhou no chão. Pra mais perto dela. Sentia o cheiro do cabelo dela, que distraída pelos papéis nem notou o rapaz chegando. Ela gritou de susto quando sentiu Ron tocando seu ombro.

- Nossa! Que susto Ron!

- Desculpa Mione, eu só queria...

Ele estava vermelho, gaguejando palavras sem sentido, ela colocou as mãos no braço forte dele e deu uma risadinha, vermelha também.

- Tudo bem, não tem problema. Não precisa dizer nada.

Ela não conseguia sentir o que sentia ontem. Não conseguia pensar no que havia de ruim fora dali. Estava ali, com ele perto dela, o que mais ela poderia querer? A sensação de paz que a invadira desde que ela entrara naquela casa cheia de amor tomou conta dela. E ela conhecia-o suficientemente bem pra saber que ele sentia o mesmo. Não sabia o que ela ou ele conseguiriam vocalizar naquele momento, então resolveu adiantar o quanto pudesse. Ajudá-lo era a palavra mais correta.

- Ron, desculpe por ontem. Por mais que eu odeie admitir que estou errada, estou. Ontem agi de maneira egoísta e mesquinha. Desculpe, mesmo. O que você queria conversar comigo ontem?

Ron não acreditava no que estava ouvindo. Música trouxa hipnotiza as pessoas? Mione admitindo um erro? A incredulidade invadiu o rosto dele.

- Ahn, Mione, eu não consigo entender como você pode ter mudado de idéia assim, tão rápido... – a voz dele saiu tremida, quase num sussurro.

- Eu não sinto medo dentro dessa casa, Ron.

Ele compreendeu. Balançando a cabeça, a respiração ofegante, o coração batendo a mil e quase saindo pela boca, ele sentou-se no chão, de frente para ela, que estava muito calma, seu rosto refletia um charme irresistívelmente adulto. Ela parecia uma mulher feita ali, na frente dele. A silhueta de um corpo lindo de mulher à luz de uma lareira era tudo o que ele via. Ele pegou nas mãos dela. Levou-as aos lábios, beijando os dedos de Mione, um a um. Ela sentia um calor tão forte emanando do corpo dele, que estava tão perto dela, que fechou os olhos. Sentiu uma emoção tão grande aflorando dentro dela, tinha gana de gritar...

- O jantar tá na mesa, gente! – Tonks gritou com força, despertando os dois do devaneio.


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