A longa e sinuosa viagem



O dia seguinte chegou rápido. Harry acordou sentindo que mal havia se deitado, apesar de se sentir ainda inebriado ao lembrar-se de seus momentos com Ginny. Poderia ficar a eternidade relembrando dos bons momentos que já tiveram até ali, mas não havia tempo a perder. A necessidade de preparar-se para enfrentar Voldemort a qualquer momento o impelia, o apressava. Acordou Ron, que passara a noite toda em claro, remoendo o que acontecera entre ele e Mione, e mal havia pegado no sono quando o amigo o chamou.

Harry tocou gentilmente o braço do amigo.

- Tá na hora Ron. Vamos.

Enquanto isso, Hermione, que passara a noite toda em claro também, já estava pronta. Teve alguma dificuldade em despertar Ginny, que parecia incrivelmente feliz. Sentiu uma pontinha de inveja pela amiga, e ao mesmo tempo uma sensação horrível de arrependimento lhe invadiu. Ela errara, e muito, ao julgar Ginny e Harry como fez na noite anterior. Ela estava errada, por mais que fosse difícil para ela admitir. Sentiu-se mesquinha e desprezível, sentia ódio de si mesma ao pensar como tinha sido dura com Ron. E Ron estava certo, não era melhor aproveitar bem o tempo que pudessem ter? Afinal, o futuro incerto já começara. Sua cabeça fervia, não conseguia nem organizar seus pensamentos. Chamou Ginny, sentindo um pouco de remorso por despertá-la. Ela parecia estar sonhando com algo tão bom...

Desceram para o café. Uma preocupada Sra. Weasley tentava demonstrar tranqüilidade, mas por dentro estava apavorada. Aquele café da manhã fora o mais silencioso que já tiveram naquela alegre e aconchegante casa.

Eles comiam pouco. Trocavam olhares, como se tentassem se animar, tentando sorrir. Hermione sentiu o olhar apaixonado que Harry e Ginny trocaram, ficou feliz pelos amigos. Tentara olhar Ron de frente, mas não conseguira. Mantinha sua cabeça baixa, quase enfiando os cabelos dentro do prato. Ele, por sua vez, nem queria olhar para ela, tamanha a revolta que crescia dentro dele por causa da discussão dos dois na noite anterior. Ele estava realmente decidido a não pensar mais nela, nem um segundo.

Tonks chegou com Lupin, para acompanhá-los. Neville e Luna chegaram na hora certa de partirem. Agora o grupo estava completo.

Harry levantou-se. Não era dado a discursos ou declarações, mas precisava dizer algo a aquelas pessoas tão especiais, que decidiram acompanhá-lo por vontade própria, que jamais deixaram-no sozinho quando ele mais precisou deles. Devia isso a eles. Pelo menos alguma palavra de conforto e agradecimento.

- Só quero dizer que sinto dentro de mim que a hora de acabar com o mal finalmente chegou. E é um alívio para mim, que espero isso desde antes do meu nascimento. Não sinto medo. Não sabemos o que nos espera, mas isso nunca nos impediu de lutar até hoje. E quantas coisas já enfrentamos juntos... Peço a vocês, mais uma vez, coragem, e conto com vocês, meus melhores amigos, para me ajudar. Se hoje estamos todos aqui, é porque nos ajudamos sempre. Porque sempre pude contar com vocês. Eu jamais teria sido bem sucedido em qualquer uma das tentativas anteriores sem vocês ao meu lado. Obrigado por estarem comigo mais uma vez. Não me despedirei de ninguém porque logo estaremos de volta.

Todos se sentiram emocionados, e uma onda de otimismo invadiu a todos. Harry ficou satisfeito por isso, levantou-se sem despedir-se de ninguém, como prometera, no que foi imitado por todos.

Cada um deles levava uma mochila pequena, com apenas algumas roupas e comida, pois não deveriam demorar em Godric’s Hollow. Talvez um dia ou dois.

Um carro especialmente arranjado pelo Sr. Weasley os aguardava, eles partiram em silêncio até o bairro trouxa mais próximo, de onde pegariam um táxi até a antiga casa dos Potter.

Entraram no carro apressados e sem olhar para trás. Sem despedidas, como o próprio Harry insistiu. Harry entrou no carro logo atrás de Ginny, pediu para que ela ficasse do lado dele. Estavam de mãos dadas, muito próximos um do outro. Ron jurava ter visto um beijo no pescoço da irmã, mas nem ligou. Na verdade ficou legitimamente feliz pelos dois, que podiam ter alguns momentos para trocar carinhos antes de chegarem ao seu destino.

Ron entrou logo depois de Harry, no que foi seguido por Mione. Ele não estava muito feliz de sentar-se tão próximo dela que podia até mesmo sentir o cheiro do brilho que ela tinha passado nos lábios, o hálito quente dela em seu ombro... ele sentia arrepios cada vez que o carro fazia uma curva mais fechada, forçando Mione de encontro ao peito dele, quase o beijando. Se ela não tivesse sido tão idiota na noite passada, ele se entregaria àquelas sensações ali, naquele momento, para sentir-se mais seguro e verdadeiramente amado, querido... mesmo que Luna Lovegood estivesse grudada em Mione, o que era inevitável, considerando que Neville estivesse no banco da frente.

Mione também estava enfeitiçada pela proximidade com o corpo de Ron. Sentia a respiração ofegante dele em cada centímetro do seu próprio corpo, podia ver as gotículas de suor que se formavam na testa e nas costas dele... estremecia por dentro quando respirava fundo e sentia aquele cheiro de relva tão característico do ruivo. Não deixava transparecer em seu rosto, mas se Ron pudesse olhá-la nos olhos, veria o tanto quanto ela sentia por ele... e seria surpreendida por receber o mesmo sentimento de volta...

... os pensamentos apaixonados e confusos dos dois foram repentinamente interrompidos pela troca de carros. Desta vez, Harry preferiu ir na frente, porque estavam mais perto, ele pensou que poderia fazer algo se visse as coisas com mais clareza e tivesse necesidade de agir, deixando assim Ginny no banco de trás, com o irmão do lado, seguido por Mione, Luna e Neville.

Ginny parou por um momento de pensar nela e em Harry na noite passada, surpreendendo-se ao ver Ron completamente paralisado ao ver Mione agarrando-se no joelho dele ao passarem por uma cratera um pouco grande no chão, que fizera com que todos pulassem dentro do carro. Nenhum dos dois disse palavra, mas Ron fechou os olhos e respirou de forma muito irregular, Mione ficou vermelhíssima, largando o joelho de Ron quase que imediatamente. Seria engraçado se não fosse tão estranho... ver os dois se comportando de maneira tão...

Seus pensamentos foram interrompidos pela voz do namorado:

- É aqui, gente. Não há nada, podem pegar suas coisas e vamos lá! Tonks está ali, estão vendo?

Então, é isso. À partir de agora... ninguém mais sabia de nada. Só que deveriam continuar e seguir com Harry.

Uma outra jornada começava naquele momento.

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