Desespero




Pensando no que acontecera, horas mais tarde, Gina encontraria alguma dificuldade para organizar cronologicamente os fatos em sua cabeça. Mas as sensações ainda estariam incrivelmente vivas em seu corpo, do mesmo modo como o perfume de Luna permaneceria entranhado em sua pele e o gosto da garota em sua boca.

Como começou? Difícil dizer. O fato é que era simplesmente desumano demais desejar que, depois de meses de sentimentos reprimidos e saudades, Gina tivesse algum controle sobre seus atos estando tão incrivelmente perto de Luna. Elas estavam se abraçando com tanta força, que respirar era uma tarefa complicada.

Então, muito lentamente, seu corpo começou a reagir ao contato com Luna. Não era proposital da parte da garota... ou talvez fosse, mas Gina não saberia dizer. Embriagada por tantas sensações, a garota começou a deixar que seus lábios roçassem o pescoço de Luna. Podia sentir o coração da outra menina pulsando fortemente contra o seu peito.

Sentiu a respiração quente de Luna perto da sua orelha, e um arrepio desceu pelo seu corpo quando ouviu-a dizer num sussurro:

- Preciso de você. Agora.

Gina ergueu o rosto para Luna, e as duas se fitaram por um momento. Então, muito lentamente, seus lábios se encontraram. Aquele beijo começou morno, gentil. Era algo por que ansiavam há tanto tempo, e a sensação que tinham é de que deveria durar para sempre. Então houve desejo, acompanhado de uma certa violência.

Bocas, línguas, suspiros e palavras débeis murmuradas. Assim despertou-se a libido, e a necessidade incontrolável de um contato mais intimo entre seus corpos, pele com pele. As mãos, saudosas, apalpavam. Os dedos trêmulos de Gina desabotoaram a camisa de Luna, e logo a sua boca estava nos seios da garota. A respiração da loirinha ficava cada vez mais acelerada e fora de compasso.

Gina a empurrou para o sofá, e livrou-se das suas próprias roupas.

- Gina, você é linda – Luna murmurou.

- Você é – respondeu a garota, ajoelhando-se diante dela.

Roçando o seu corpo no de Luna, subiu para beijá-la. Sua boca escorregou para o queixo da garota e seguiu para seu pescoço, que Gina mordeu suavemente. Luna suspirou.

“Morda com mais força” pediu, e Gina obedeceu, mesmo receando machucar a menina. Seus dentes se fecharam na carne do pescoço de Luna, e mordeu mais forte dessa vez, deixando sua língua acariciar a pele dela. Luna gemeu baixinho, numa mistura de dor e prazer.

- Desculpe – Gina murmurou.

- Tudo bem. Eu gosto – ela ofegou, os olhos fechados.

Enquanto colocava as mãos entre as pernas de Luna para provocá-la, Gina lambia e chupava lentamente os belos seios da garota. Percebeu que o corpo dela tremia, e sorriu. Beijou sua barriga, passando a língua ao redor do umbigo de Luna e arrancando-lhe suspiros agoniados.

Puxou a saia dela para baixo, e livrou-a da sua última e desnecessária peça de roupa com a boca. Começou a beijar e a morder as coxas de Luna, subindo cada vez mais até chegar ao ponto que realmente interessava. Uma das coisas que Gina sempre considerou interessante, é o modo como Luna conseguia manter-se sempre controlada em todo tipo de situação, seja ela boa ou ruim. Mas, quando se tratava daquilo, ela não possuía qualquer calma ou discrição. Em poucos minutos Luna estava gemendo o nome de Gina e balbuciando uma porção de palavras sem sentido, empurrando a cabeça da garota com mais força contra si.

Gina sentia o corpo de Luna ferver cada vez mais, contorcendo-se de excitação. Ela estava tão provocada que Gina tinha certeza de que seu rosto ficaria molhado do prazer dela. Mas não se importava. Ela própria estava enlouquecendo sozinha, sentido descargas elétricas descerem para a sua virilha a cada gemido de Luna.

Quando a garota chegou ao êxtase, Gina soube imediatamente. Ela parou de tremer e soltou uma exclamação alta e curta, puxando dolorosamente o cabelo de Gina. Então sentiu os dedos de Luna afrouxarem em sua cabeça, e a mão da garota deslizou suavemente para o lado. Gina ainda continuou por mais alguns segundos.

Beijou carinhosamente a barriga de Luna, depois seu pescoço, e roçou seu nariz no dela. A garota abriu os olhos lentamente, parecendo exausta, e sorriu.

- Você está toda babada – ela sussurrou, e erguendo a cabeça passou a língua pelo queixo de Gina, suas bochechas e lábios. As duas se beijaram com paixão e fúria, e Luna habilmente trocou de lugar com ela.

Começou escorregando a sua língua pelo pescoço de Gina, deslizando as mãos pela cintura da garota e apalpando suas pernas. Capturou os mamilos de Gina com a boca, arrancando suspiros da amada.

- Oh, Luna – Gina ofegou, trêmula.

- Tenho certeza de que ele não sabe fazer o que eu faço por você – Luna sussurrou ao pé do ouvido da menina, mordendo de leve o lóbulo da orelha dela.

- Não – Gina respondeu debilmente. – Mas ele aprende rápido...

Em resposta, Luna desceu a mão para o meio das pernas da menina, provocando-a. Ela beijou a barriga de Gina e roçou a língua em seu ventre, fazendo a ruivinha contorcer-se de excitação. E então simplesmente se afastou.

Ficou parada, olhando para ela com um sorriso tranqüilo nos lábios. Gina levantou a cabeça, frustrada e um pouco aborrecida.

- O que foi? – perguntou, a voz soando estranhamente abafada.

- Vamos jogar? – Luna perguntou, ainda sorrindo. – Eu quero brincar.

- Brincar – Gina repetiu, tonta. Como Luna tinha coragem de parar justamente agora?

- Brincar. Quero jogar com você. Diga uma palavra – Luna disse, calmamente.

- Como é? – gaguejou a garota.

- Diga uma palavra – repetiu Luna. – Qualquer uma.

- Luna – Gina murmurou. – O que diabos...

Mas antes que pudesse terminar de articular a frase, Luna mergulhou o rosto entre a suas pernas e com a língua escreveu seu nome. Gina soltou uma exclamação de surpresa e satisfação. É, aquela brincadeira não era nada ruim...

- Escolha outra palavra – Luna sorriu.

- Inconstitucionalidade – Gina falou marota.

Luna deu uma risadinha e começou a escrever lentamente, letra por letra, a palavra entre as pernas dela.

- Sabe - Gina murmurou. – Acho que eu decididamente gosto desse jogo. Deveríamos jogá-lo mais vezes... Luna! Oh!

Gina sentiu todo o seu corpo tomado pela sensação única que somente Luna sabia como lhe proporcionar naquela intensidade. Sua visão ficou turva, e suas mãos apertaram com força os braços da garota. Então, lentamente, seu corpo amoleceu.

Ela fechou os olhos e suspirou, exausta. Sentiu Luna escorregando para o lado, e após alguns segundos virou-se para a garota. Luna a encarava, como sempre, e seus grandes olhos claros brilhavam com uma paz que há muito tempo ela não via. Gina sorriu para a garota, e puxou gentilmente o seu rosto para um beijo morno. Não queria pensar nas conseqüências do que tinha feito, e no quanto aquilo significaria para a sua vida dali em diante. Naquele momento, tudo o que precisava era sentir o corpo de Luna colado no seu, e seus lábios gentis acariciando-lhe suavemente a pele.

A noite ainda estava apenas começando.

***

- Gina, acorde – Luna sussurrou, escorregando os dedos pela sua bochecha.

Gina abriu os olhos lentamente. Sua cabeça estava um pouco tonta, e seus sentidos começaram a voltar ao normal. A primeira coisa que viu foi o rosto de Luna. Então sentiu que havia algo pesando sobre o seu corpo, e demorou alguns segundos para perceber que era a garota.

Levantou-se com algum esforço, ficando sentada. Virou o rosto para Luna, que a fitava atentamente.

- O que houve? – Gina indagou, ainda sonolenta.

- Eu invadi os seus sonhos – Luna respondeu quase como se fosse uma confissão, e com essas palavras todas as memórias da noite passada voltaram à cabeça da menina. Fora fraca...

- Luna – Gina começou.

- Não diga nada – Luna interrompeu rapidamente. – Ah, Gina, não diga nada... Palavras são supérfluas, e nós não precisamos delas. Podem mentir... mas não os olhos, ou as mãos... Ou o corpo, a respiração e a boca calada por outra boca. Gina, eu amo você. Eu amo você.

Gina fechou os olhos, sentindo os braços de Luna passarem ao redor do seu pescoço, e seus lábios quentes beijarem seu rosto seguidas vezes.

- Que horas são? – conseguiu dizer, utilizando-se de todo o seu autocontrole para não corresponder aos beijos de Luna.

- Perto do nascer do sol – informou a garota, sem parar de beijá-la.

- É melhor colocar uma roupa – Gina disse, empurrando Luna levemente e ficando de pé.

Apanhou as peças de roupa que estavam espalhadas pelo salão de inverno e começou a vestir-se sob o olhar atento de Luna. Não queria pensar. Simplesmente não queria pensar em nada. Terminou de abotoar a camisa, e sentou-se para calçar os sapatos. Com o canto dos olhos observou Luna levantar-se e colocar suas próprias roupas sem pressa.

- No que você está pensando? – Luna perguntou, de repente.

- Em nada – Gina respondeu. – É curioso, sabe. Parece que a minha cabeça está completamente vazia. Não consigo pensar em nada.

Ela terminou de amarrar os sapatos e ficou de pé, jogando a capa sobre os ombros.

“Então, acho que a gente se fala... depois” Gina murmurou, e preparou-se para deixar o salão de inverno. Luna segurou sua mão.

- Não fuja – disse baixinho.

- Não vou.

- Promete?

- Prometo – Gina suspirou, e mordiscou o lábio inferior não muito certa de que o que estava prestes a fazer era sensato.

Colocou a mão direita gentilmente no rosto de Luna e beijou-a com calma e suavidade. Então a abraçou com força, encostando os lábios em sua testa. Luna quis mantê-la por mais tempo junto de si, mas Gina empurrou-a e se afastou sem olhar para trás.

Luna sabia que as coisas ainda não estavam boas.

***

Pensar. Gina nunca tivera tanto receio de algo em toda a sua vida. Tinha medo de deixar as idéias invadirem a sua mente, trazendo consigo a agonia e o transtorno em intensidade insuportável. E, por isso, Gina evitou o máximo que pôde ficar sozinha. Entre seus colegas, não parava de tagarelar. A maior parte das pessoas achou simplesmente que ela estava feliz e falante naquele dia, mas quem a conhecia de verdade percebeu que havia algo errado. Gina estava nervosa.

E Harry foi o primeiro a reparar.

Ele não conhecia-na tão bem quanto Luna, mas era bastante atencioso e preocupado com qualquer diferença de comportamento que a namorada apresentasse. De modo que, quando Harry tentou beijá-la no intervalo entre a primeira e a segunda aula da manhã e Gina virou o rosto, ele não se chateou ou ficou aborrecido.

- O que houve? – perguntou o garoto mansamente. – O que está errado?

- Nada, Harry – Gina murmurou sem olhá-lo.

Harry levantou o queixo dela com calma, obrigando-a a encará-lo, e afastou uma mecha de cabelos ruivos que caíra sobre seus olhos.

- Eu sei que há algo errado – ele disse preocupado. – Foi algo que eu disse? Fiz alguma coisa que não lhe agradou?

- Não, não é nada com você – Gina falou rapidamente.

- Então por quê você não quer me beijar?

– É que eu estou realmente preocupada com a prova de Poções de amanhã. As minhas notas não estão muito boas, e eu não posso me sair mal de maneira alguma.

- E o que um beijo tem a ver com isso? – indagou Harry, erguendo uma sobrancelha.

- Muito! – exclamou Gina. – Quero dizer, eu simplesmente não consigo beijar você tendo tantas preocupações na minha cabeça. Você... entende?

Harry suspirou.

- Certo...

- De verdade? Você não está magoado? – perguntou Gina, aflita.

- Não, tudo bem – o garoto sorriu. – Eu não entendo, mas respeito.

- Ah, Harry...

- Só espero que a sua cabeça volte logo ao normal, porque eu não sobreviveria mais um dia sem os beijos da garota mais linda de Hogwarts – ele brincou.

Gina sorriu e beijou carinhosamente a bochecha dele. Mas ela não pôde beijá-lo no dia seguinte, e nem no outro. Harry não tentou nada, limitando-se a segurar sua mão e a abraçá-la. Gina sabia que ele estava esperando a iniciativa vir dela, mas simplesmente não se sentia pronta para isso.

O cheiro de Luna ainda estava impregnado em sua pele, e ela não conseguia esquecer a última noite que passaram juntas. Durante as aulas, Gina de repente pegava-se pensando na garota e em todos os detalhes que faziam dela uma pessoa singular na sua vida.

“Palavras são supérfluas, e nós não precisamos delas. Podem mentir... mas não os olhos, ou as mãos... Ou o corpo, a respiração e a boca calada por outra boca.” Merlim, Luna podia dizer as coisas mais perfeitas sem sequer precisar parar para pensar. E o modo como seu corpo tremia sob o toque de Gina, cada poro da pele reagindo ao contato entre elas. Nada pagava aquela sensação. Sempre que lembrava dos gemidos da garota, Gina sentia calafrios percorrerem a sua espinha. Como a desejava... Ela sabia o que queria, só não conseguia decidir se as conseqüências eram suportáveis.

Magoaria Harry, em primeiro lugar. E isso era a última coisa que desejava. Além disso, havia Hermione. Assim que soubesse que Gina rompera com ele, correria direto para Rony e contaria o verdadeiro motivo pelo qual a garota fizera aquilo. Logo sua família ficaria sabendo, e então Gina teria sua vida transformada num pesadelo. Essa simples idéia a apavorava.

Esses eram os pensamentos da garota naquela manhã, quando entrou no salão principal para tomar seu café. Percebeu de imediato que havia um burburinho diferente, recheado de excitação, na conversa matinal dos estudantes. Sentou-se ao lado de Rony e diante de Harry, cumprimentando os garotos distraidamente.

- Qual é a nova? – perguntou, servindo-se de mingau de aveia.

- Você não ouviu? – Rony disse com um estranho brilho nos olhos.

- Se eu estou perguntando, é um pouco óbvio que não – Gina resmungou, revirando os olhos. Então encarou Harry. – E então, o que está havendo? Qual o motivo de todo esse alvoroço?

- Ora – Harry disse, rindo um pouco constrangido – É um boato que está circulando...

- Nem é boato nada – Rony cortou. – A mais pura verdade. Quero dizer, pelo menos foi o que Simas disse. E ele ouviu direto da boca do Justino!

- Mas como enrolam – Gina bufou.

- É que – Harry inclinou-se mais para perto da garota na mesa. – parece... Bem, na verdade, Justino Finch-Fletchley disse que viu... hum...

- A Hannah Abbott e a Padma Patil se beijando – Rony completou com excitação.

- O quê? – Gina engasgou, sentindo como se tivesse levado um soco certeiro na boca do estômago.

- É, é verdade – Harry continuou, dando uma mordida em sua torrada. – Resumidamente, o que está circulando é que elas estão tendo um caso.

Rony deu uma risadinha.

- Não é totalmente bizarro? – riu-se o garoto.

Gina sentiu que estava prestes a vomitar, colocando-se automaticamente no lugar de Hannah e Padma. Todas aquelas pessoas rindo e comentando... Oh Merlim...

Naquele momento, o salão ficou repentinamente silencioso, como se todos estivesse segurando a respiração. Gina levantou a cabeça para ver o que estava acontecendo. Hannah e Padma haviam entrado no local, parecendo muito pequenas e assustadas. Gina sentiu-se terrivelmente mal por elas. De algum modo, todos esperavam que as garotas fossem começar a se justificar, negando o que Justino andara espalhando pelo castelo. Mas, para a surpresa geral, não foi isso o que elas fizeram. As duas simplesmente deram-se as mãos e, nariz levantado, caminharam juntas para tomar café com a mesa da Corvinal.

- Caramba – Rony disse, parecendo ainda mais empolgado. – Elas não tem vergonha na cara mesmo, heim? Assumindo toda a coisa assim, publicamente...

Gina não conseguia pensar em nada para dizer. Estava simplesmente gelada, e todo o seu apetite fora-se como num piscar de olhos. Observava Hannah e Padma comendo sob os olhares curiosos e cheios de maldade de seus colegas.

- Ela não é mais minha irmã – ouviu Parvati Patil dizer com asco. – Realmente não acredito que a falta de homem tenha feito Padma descer tão baixo... Quero dizer, podia simplesmente ter falado comigo, e eu certamente arranjaria alguém...

Gina sacudiu a cabeça, tonta e enjoada. A própria irmã de Padma dizendo aquelas coisas. Como ela podia ter coragem... Merlim, Merlim! Era horrível! Como todos estavam sendo tão cruéis com aquelas duas. Como podiam achar que tinham o direito de julgar... Eles não entendiam nada. Ninguém entendia coisa nenhuma, e Gina começou a sentir que os odiava. Teve vontade de pular em Parvati e arrancar um por um cada fio de cabelo ensebado daquela maldita vaca. No momento em que a irmã mais precisava, ela era a primeira a virar as costas. Seria assim com Gina também? Será que todos os seus irmão virariam as costas, enjoados?

- Gina, você está pálida – Harry disse preocupado. – Está se sentindo bem?

- Estou... Digo, não... – Gina gaguejou.

- Tudo bem – Simas disse, intrometendo-se na conversa. – É normal sentir-se mal diante de uma cena asquerosa como essa.

- Asqueroso – Gina disse com a voz abafada. – Asqueroso é você. É melhor calar a boca, ou vai apanhar aqui mesmo.

Simas deu uma risadinha, um pouco confuso.

- Mas Gina, ele tem razão – Rony disse, erguendo uma sobrancelha.

- Não, não tem! – exclamou Gina. – Vocês todos, francamente, não têm vergonha? Discutindo a vida dos outros como se fosse a última edição de uma revista, e ainda achando que estão no direito de opinar!

- Nós não estamos discutindo a vida dos outros, só achamos esquisito ver duas garotas andando juntas – Simas defendeu-se.

- Exatamente – Rony apoiou.

- É a vida delas sim, e se as duas querem ficar juntas isso certamente não é da conta de nenhum de vocês! Se elas se amam... – uma risadinha de Simas a interrompeu.

- Sinceramente, Gina, uma garota não pode amar outra garota do mesmo modo que um homem e uma mulher – ele zombou. – Isso, para mim, só tem um nome: falta de macho.

Rony, Simas e mais algumas pessoas que estiveram ouvindo a discussão caíram na gargalhada.

- Amor está além de sexo – Gina disse, as orelhas muito vermelhas. – Amor está acima de tudo, e ninguém escolhe quando ou por quem vai sentir.

- Ok, ok – Simas disse, enxugando os olhos úmidos de tanto dar risadas. – Então, se é como você diz, para que é que existem homens e mulheres? Já pensou se todos no mundo fossem gays? A humanidade acabaria!

- Esse não é o ponto – Gina retrucou, sentindo a raiva crescer cada vez mais.

- É claro que é – Simas continuou, rindo gostosamente como se Gina fosse apenas uma garotinha boba que não consegue enxergar que dois mais dois são iguais a quatro. – Os seres humanos foram feitos para procriar, Gina! Gays não podem fazer isso, portanto, são aberrações da natureza e não merecem consideração.

- Ah, ok. Certo – Gina falou, tremendo de ira. – Então é isso. Vamos todos foder aqui mesmo, afinal, esse é o objetivo da vida, certo? Foder. Fazer filhos. Foder. Fazer mais filhos. Então você se atira de um penhasco, porque já cumpriu seu papel no mundo e a sua existência não é mais necessária. Uau! Perfeito! Ei, Harry, vamos fazer um sexo! Vamos acabar logo com isso, garantir a perpetuação da espécie! Ha-Ha-Ha! HA-HA-HA!

- Gina, por favor – Harry murmurou entre dentes.

Agora a atenção de todo o salão estava voltada para ela, que praticamente gritava.

- O que foi? – ela indagou, histérica. – Você também concorda com essa merda ignorante do Simas?

- Bem – Harry disse nervoso. – Não é exatamente normal...

- Claro. Eu devia ter imaginado – Gina falou friamente, e então levantou-se com violência e deixou o salão pisando forte.

- Credo, o que deu nela? – perguntou Simas, os olhos arregalados.

- Sangue Weasley – Rony falou lentamente. – Esquenta com facilidade, sabe... Acho melhor você ir atrás dela, Harry. Antes que a garota mate alguém.

Harry suspirou, cansado.

- É, acho que sim...

O rapaz colocou um último pedaço de torrada na boca e arrastou-se para fora do salão atrás da namorada.

***

Gina não tinha uma noção exata de onde estava indo. Apenas caminhava pelos corredores do castelo, sem rumo definido, remoendo todo o ódio em seu interior. Tinha certeza de que, se alguém lhe mostrasse como fazer, seria capaz de lançar um Avada Kedavra em Simas. Nunca, em toda a sua vida, sentira tanta raiva. Nem mesmo quando viu Harry beijando Cho Chang, no ano passado, ou quando Hermione lhe fez terminar com Luna. Era algo insano, furioso. E Gina não conseguia encontrar uma maneira de extravasar aquele sentimento horrível.

Então, lentamente, o ódio foi se transformando em tristeza. Tristeza por saber que aquele era o mundo em que vivia, e que todas as suspeitas que alimentara até o momento estiveram certas. As pessoas simplesmente não entendiam o diferente, e por esse motivo desprezavam. “Gays não podem fazer isso, portanto, são aberrações da natureza e não merecem consideração.” Maldito... Maldito!

Lagrimas grossas e salgadas começaram a escorrer pelas bochechas de Gina, e ela deixou-se cair sentada nos primeiros degraus de uma escada. Enterrou o rosto nas mãos e começou a chorar. Alguns minutos depois, sentiu uma mão tocar gentilmente o seu ombro.

Luna – foi seu primeiro pensamento. Mas estava enganada.

- Vá embora, Harry – Gina soluçou. – Quero ficar sozinha.

- Não vou deixar você assim – Harry retrucou, sentando-se ao lado dela. – Vamos, o que é isso? Chorando...

Gina não disse nada, virando o rosto para o lado. Harry tocou seu ombro com carinho.

- Você certamente não entende nada, não é? - Gina disse lentamente.

- De fato, não entendo – Harry concordou. – Mas sei como é ficar completamente furioso com alguém. Você sente vontade de matar, e como precisa extravasar de alguma forma, costuma ser com lágrimas.

Gina olhou para ele. Harry sorriu e enxugou o rosto da garota com as mãos.

- Você concorda com ele...

- Não, não totalmente – Harry suspirou, sacudindo a cabeça. – Conforme eu já disse, para mim não é algo natural, porque eu não estou acostumado a lidar com o assunto. Mas não acho que caiba a mim ou a você decidir se é certo ou não. No caso de Hannah e Padma, a vida é delas e se as duas estão bem assim... quem pode culpá-las?

- Elas certamente não escolheram isso – Gina recomeçou, tremendo. – Seria muito mais fácil se...

- Gina – Harry interrompeu. – Chega, está bem? Eu não quero discutir esse assunto. É uma questão muito polêmica, e sempre vai gerar conflitos em qualquer lugar. E eu não vim atrás de você para brigar.

Gina resmungou, ainda aborrecida. Durante alguns segundos, nenhum dos dois disse nada. Então Harry conseguiu quebrar o gelo com uma brincadeira.

- Sabe – ele disse com uma risada. – Mesmo com o rosto inchado de chorar, você continua linda.

Gina revirou os olhos.

- Oh, falando sério...

- Estou falando sério! – Harry exclamou, e muito lentamente um sorriso desenhou-se nos lábios de Gina.

- Bobo – ela murmurou.

- Sua culpa – Harry falou, puxando Gina para junto de si num abraço. E, dessa vez, ela deixou-se beijar por ele. Não com desejo ou paixão. Era mais uma espécie de agradecimento. Talvez 'recompensa' fosse a palavra certa a ser usada. Recompensa por Harry estar sendo tão legal e compreensivo com ela.

- É melhor irmos, ou vamos chegar atrasados nas nossas aulas – Gina disse quando se afastaram. Harry concordou com um aceno de cabeça.

Ele foi com Gina até a entrada das masmorras, e então seguiu sozinho para a sala de aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. A garota observou o namorado afastar-se sentindo-se um pouco – muito pouco – menos despedaçada.

***

Para piorar ainda mais o humor de Gina, aquele dia foi simplesmente terrível. Os professores pareciam decididos a caprichar nas atividades em classe, fazendo o cérebro dos alunos ficar a beira de um curto-circuito. Durante a aula de Transfiguração, a profa. McGonagall pronunciou-se sobre Hannah e Padma.

Ela limitou-se a dizer que todos deveriam respeitar as meninas, e que qualquer tipo de piada ou brincadeira de mal gosto seria punida severamente. Qualquer aluno autor de algum ato de violência física ou moral contra elas seria imediatamente expulso, sem direito a aviso prévio.

A última aula do dia foi Poções, e Gina precisou aturar Snape pela segunda vez naquela tarde. Ele entregou os testes corrigidos, e a garota descobriu que não fora tão mal quanto pensara. Tirara um ‘Passável’. Não era tão ruim assim, afinal. A nota mais alta da turma, como sempre, foi de Luna. Gina sabia que ela era extremamente habilidosa com o preparo de poções. “Ela é habilidosa com outras coisas também” uma vozinha maliciosa sussurrou em seu ouvido. Gina sacudiu a cabeça para afastar aqueles pensamentos.

Quando saiu da sala de aula de Snape, naquele começo de noite, a garota achava que tudo de ruim que aquele dia lhe reservara já havia sido revelado. Estava enganada. O prato principal estava guardado para o fim, e Gina não fazia a menor idéia disso quando foi repentinamente puxada para dentro de uma sala de aula vazia por Harry.

Ele estava desesperadamente carente, essa fora a justificativa. E Gina descobriu que não tinha forças nem coragem para negar qualquer coisa ao garoto depois de tudo o que acontecera horas atrás. Estava exausta, sem forças. E deixou que ele tivesse o que queria sem qualquer dificuldade.

É claro, Gina já fizera aquilo antes... Primeiramente com Luna e, há alguns meses, com Harry. Era obviamente diferente. Acontecera no Natal, em sua casa – bem debaixo do nariz de seus pais, como Harry adorava comentar. Doera um pouco, mas não fora exatamente ruim. Algumas vezes, depois, Gina conseguira sentir alguma coisa razoavelmente forte com ele. Mas, na maior parte das vezes, ela apenas fingia que estava gostando. Como dessa vez.

Comparações à parte, homens são muito fáceis de enganar. Eles simplesmente acham que é impossível uma mulher não estar completamente maluca de tanto prazer durante o sexo, e nunca percebem a diferença entre um orgasmo verdadeiro e uma encenação. Gina sabia disso, assim como a maior parte das mulheres no planeta. E quando gemia o nome de Harry baixinho, sob a pressão do corpo do rapaz, ela estava na verdade pensando no jantar... Mas ele não sabia disso, de modo que não era necessariamente um crime – certo?

Gina não gostava muito de fingir, mas sabia que, às vezes, era necessário. Quando seus corpos se encaixavam e ela não sentia nada de especial, achava que não havia mal algum em interpretar um pouquinho e fazer Harry acreditar que estava realmente levando-na aos céus. Ele ficava feliz e gozava, e Gina ficava feliz porque ele gozava. Conclusão: não havia nada de errado em fingir de vez em quando, pois todos acabavam satisfeitos dentro de seus limites.

Naquela noite, Harry ficou bastante feliz – duas rápidas vezes. E Gina fez uma das suas melhores interpretações, deixando até algumas marcas de arranhões nas costas dele. Tão entretida estivera em sua tarefa, que sequer reparou quando a porta da sala de aula se abriu e alguém espiou lá dentro.

Gina não viu quando Luna cambaleou para longe dali, desesperada e perdida.

***

- Onde vocês andavam? – perguntou Rony, desconfiado, quando Harry e Gina juntaram-se a ele e Hermione à mesa da Grifinória.

- Conversando – disse Harry, encolhendo os ombros. – Passa o frango, Mione? Estou morrendo de fome...

- Sério, Harry – Rony disse, aborrecido. – Se eu descobrir que você andou deflorando a minha irmãzinha...

- Rony, francamente – Gina cortou, revirando os olhos. – Três coisas: estamos no século XX; Harry é meu namorado; e a minha vida sexual não lhe diz respeito. Ponto final.

Harry gargalhou, Hermione sacudiu a cabeça em desaprovação e Rony ficou parado boquiaberto tentando processar o real significado daquelas palavras da irmã. Logo a conversa enveredou por outros assuntos, e Gina distraiu-se com seus próprios pensamentos. Então, muito lentamente, a conversa de Parvati e Lilá, que estavam sentadas ao seu lado, começou a entrar pelos seus ouvidos.

-...e ele é realmente idiota, acho que vou pedir um tempo – suspirou Parvati.

- Se eu fosse você não faria isso...

- Por quê?

- Bem, você sabe... Com toda essa história da sua irmã e tudo o mais... os homens podem ficar meio receosos de se aproximar de você.

- É mesmo. Tudo culpa daquela anormal! Que ódio!

Gina sentiu as orelhas queimarem, mas manteve o controle. As garotas continuaram a falar.

- Eu preciso ir ao banheiro, você vem comigo Parv?

- Claro! Ah, e falando em banheiro... Sabe quando eu inventei para o Flitwick que estava com dor de barriga para poder sair da sala? Pois é. Eu dei umas voltas, é claro, e então decidi passar de verdade no banheiro... E adivinha quem eu encontrei lá, chorando de se acabar?

- Quem? – Lilá perguntou, interessadíssima.

- Loony Lovegood – Parvati disse com uma risadinha. Gina sentiu seu sangue congelar. – Francamente, nunca tinha visto aquela esquisitinha chorar antes.

- Mas o que houve com ela?

- Sei lá. Provavelmente Janine e as meninas pegaram um pouco pesado demais dessa vez... Ela não quis falar. Então eu mandei a retardada desocupar o banheiro e procurar um que as pessoas não tivessem o costume de freqüentar, como o da Murta, por exemplo... E acredita que ela foi?

As duas desataram a gargalhar, levantando-se em seguida e deixando o salão principal. Gina ficou paralisada durante alguns minutos. Luna chorando? Isso decididamente não era normal. Alguém devia ter feito alguma coisa terrível para ela... Ah, aquelas vacas sujas... Se descobrisse que fora elas, Gina jurava que faria cada uma das três se arrepender até o último fio de cabelo alisado.

- Vou ao banheiro – Gina informou aos garotos, pondo-se de pé. Antes que qualquer um deles pudesse fazer perguntas, afastou-se a passos largos para fora do salão principal.

Parvati dissera que mandara Luna para o banheiro da Murta-que-geme, e era lá que Gina pretendia procurá-la. Subiu rapidamente as escadas para o terceiro andar e atravessou o corredor praticamente correndo, escancarando a porta do banheiro com um empurrão. O vulto transparente de Murta voou raspando a cabeça de Gina, exclamando com irritação:

- Mais uma! Mais uma! Pobre de mim, não posso ter sossego nem depois de morta! Todos querem o banheiro da Murta quando as coisas ficam ruins... – e mergulhou com estardalhaço em uma privada, espalhando água por todos os lados.

Gina revirou os olhos. Chamou por Luna, mas ninguém respondeu. Começou então a empurrar uma a uma as portas dos boxes, até descobrir a que estava fechada. Suspirou e encostou o rosto na madeira.

- Luna, você está aí?

Silêncio.

“Eu sei que está. Abra a porta, por favor. Eu quero saber o que aconteceu.”

Depois de alguns segundos, veio a resposta.

- Vá embora! Eu não quero falar com você!

Gina piscou, surpresa. Havia raiva no tom de voz da garota. Ela, na verdade, parecia completamente irada com Gina. Mas não podia ser possível. Claro que não. Portanto, a garota insistiu.

- Por favor, Lu, abra essa porta. Deixe-me ajudá-la. – Gina disse. – O que foi que houve? Alguém fez alguma coisa contra você? Porque se fizeram, eu juro que vou arrancar cada fio de cabelo do maldito com uma pinça!

Mais alguns segundos de silêncio, e então a porta se abriu. O sorriso que se formara nos lábios de Gina desmanchou-se instantaneamente quando viu os olhos vermelhos e inchados de Luna, seu cabelo mais mal acabado do que nunca e sua pele anormalmente pálida.

- Se eu fosse você, não faria isso – Luna disse, os olhos brilhando em fogo. – Ou você não terá cabelo para puxar quando ele estiver fodendo você contra a parede!

Gina sentiu como se seu coração tivesse parado por alguns momentos, todo o seu corpo gelando. Ela sabia. Ela vira.

- L-Luna – Gina começou, desesperada. Mas o fato é que não sabia o que poderia dizer para reverter aquela situação.

- Poupe as palavras, eu já vi e ouvi o suficiente – Luna falou com frieza. – Agora faça o favor de sair daqui e me DEIXAR EM PAZ!

- Não, Lu, escute...

- Cala a boca, Gina! Cala essa maldita boca! Eu não quero ouvir mais nada vindo de você! Eu não quero mais ter que olhar para você! Você é baixa, falsa... Você mentiu para mim outra vez!

- Nunca, Lu – Gina gaguejou, os olhos enchendo-se de lágrimas.

- Chega, Gina! Acabou! Agora sou eu quem não quer, ok? Não suporto mais tudo isso. Não agüento mais essa sua falta de coragem e decisão. Se você quer ficar com ele, fique! Mas não me use outra vez, porque eu realmente achei que... eu pensei – lágrimas e mais lágrimas escorriam pelas bochechas de Luna, que tremia. – Achei que... você realmente se importava.

- Eu me importo! – Gina exclamou aos prantos.

- Você só se importa com o que as pessoas vão pensar de você – cortou Luna. – É só isso que realmente lhe interessa. Sabe, eu... nunca deixei que alguém entrasse tão fundo na minha vida como você entrou. Minha mãe foi a pessoa que... ela me amava, e cuidava de mim – Luna balbuciava. – E então ela morreu. E eu chorei exatamente como estou chorando agora, na sua frente... Como uma garotinha boba e fraca. Então eu prometi que nunca mais choraria... E eu decidi que não iria crescer nunca. Eu queria ser criança para sempre, porque só assim poderia viver num mundo onde todas as coisas são perfeitas para mim, e ninguém poderia me machucar de novo. Mas você apareceu, e fez com que eu acreditasse que era possível... E eu amei você – Luna parou para recuperar o fôlego. – Eu amei você com tudo o que eu podia, e então eu cresci! E agora eu estou aqui chorando na sua frente... e Gina, eu odeio você por isso... EU ODEIO VOCÊ!

Gina não conseguia dizer nada, apenas chorava e chorava.

- Por favor, Luna, você não entende...

- Não, não entendo. Eu não entendo mais nada. Não entendo você, não entendo as pessoas, não entendo esse mundo e não entendo essa porcaria de vida. Para mim já chega, definitivamente já tive o bastante. Eu vou embora... Eu... vou embora...

E dizendo isso a garota passou por Gina com violência, deixando a garota cair sobre os joelhos completamente miserável.

***

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.