Sufocando
Aquela noite Gina chorou tanto que ao acordar na manhã seguinte seus olhos estavam inchados e vermelhos. Demorou o máximo que pôde para levantar da cama. Então tomou um banho rápido e desceu para tomar café. Sentiu-se aliviada ao constatar que nem Harry nem Luna estava no salão principal, pois não achava que tinha condições de encarar qualquer um dos dois. 
Hermione, no entanto, estava lá, e lançou-lhe um olhar dos mais significativos deixando Gina desconfiada de que ela já sabia o que acontecera. Percebendo que a garota fazia menção de vir até ela, a ruivinha apanhou alguns biscoitos, que meteu no bolso do casaco, e saiu rapidamente. 
Não tinha nenhum lugar específico para ir, mas sabia que não queria esbarrar com ninguém conhecido. Deixou que seus pés lhe guiassem para qualquer lugar, e viu-se dando voltas e mais voltas no labirinto de escadas e corredores que era o castelo de Hogwarts. Sempre que ouvia o som de vozes conhecidas desviava-se estrategicamente para longe. 
No entanto, ao virar distraidamente no corredor de feitiços esbarrou violentamente com alguém. E não precisou nem abrir os olhos para saber que era Luna. Reconheceria seu perfume numa multidão. 
- Deveria olhar por onde anda - disse ela, fazendo uma careta de dor. Gina não disse nada, repentinamente interessada numa aranha que escalava a parede. Luna a fitou detalhadamente. 
Então fez alguns ruídos estranhos e, antes que Gina entendesse o que acontecera, a amiga abraçou-a com tanta força que chegava a ser doloroso. 
- Lu, o que houve? - perguntou Gina, assustada. 
- Eu não queria brigar com você ontem... é que... Gin... - Luna murmurava confusamente. - Eu odeio a idéia de ficar sem você. Eu sei que não falo muito, mas é o meu jeito. Você sabe o que eu sinto. 
Gina não fazia idéia do que dizer. Mais do que nunca, sentia-se uma cretina imunda. Olhou para Luna e sentiu-se aliviada ao constatar que ela não estava chorando. Não suportaria isso. Com uma rápida olhada ao redor, as duas entraram numa sala de aula vazia. 
A porta mal fechara e os lábios de Luna já estavam nos seus. Com um pouco mais de força do que o normal Luna a empurrou contra a parede, mordendo seu pescoço e arriscando algumas lambidas. Gina podia sentir seu corpo reagindo às carícias, sua respiração ficando mais rápida e entrecortada a cada minuto. Luna já conhecia cada pedacinho do corpo de Gina cuidadosamente, e tocava-a com a perfeição de um escultor. 
A garota abaixou calmamente sua calcinha com os dedos, começando a fazer aquilo que deixava os joelhos de Gina completamente moles. A ruivinha não conseguiu manter-se de pé e caiu ajoelhada diante de Luna, que agora observava calmamente o resultado de suas ações. 
A face de Gina estava corada, e algumas mechas de cabelo ruivo caiam sobre seus olhos. Para Luna, não havia momento mais perfeito do que esse. E era quando sentia-se completa e feliz. Ela inclinou-se e beijou Gina com sua calma de sempre, sem maiores contatos entre seus corpos. Gostava disso pois provocava a si mesma. 
Afastou os cabelos de Gina para trás das orelhas, e encostou sua testa na dela com as mãos ainda segurando seu rosto. 
- Você é tudo de precioso que eu tenho - Luna disse num sussurro. - Sem você, a vida não tem valor. 
- Lu... 
- Vamos ficar sempre juntas, não é? - indagou Luna, com os olhos brilhando estranhamente. 
- Sempre, Lu - Gina disse, sentindo um aperto horrível no peito. - Sempre, sempre, sempre. 
*** 
O turbilhão de emoções e sentimentos que crescia cada vez mais dentro de Gina estava atormentando-a de tal forma que estar na companhia de outras pessoas lhe era uma verdadeira tortura. Também não desejava ter que estar perto de Luna, pois não podia ignorar a culpa que sentia cada vez que seu olhar encontrava os grandes olhos azuis da amiga. A simples idéia de encontrar Harry outra vez atordoava ainda mais seus sentidos, de modo que Gina optou por isolar-se o máximo possível de tudo e de todos. 
Para isso, escolheu como esconderijo seu quarto no dormitório feminino. Sua cama nunca parecera tão aconchegante antes, e afundada em um mundo de cobertores e travesseiros Gina chorou até estar tão exausta que adormeceu. 
Ela não percebeu quando a porta do quarto se abriu delicadamente, e não ouviu os passos suaves aproximando-se de sua cama. Tampouco teve consciência do fato de estar sendo observada atentamente por olhos pensativos. Levando isso em consideração, não é difícil imaginar o quão surpresa Gina ficou ao acordar e descobrir que não estava sozinha. 
- Hermione? - Gina disse com a voz abafada, esfregando os olhos para acordar melhor. 
- Gina - a menina disse com um suspiro. - Precisamos ter uma conversa bastante séria. 
"Perfeito. Uma conversa séria é justamente tudo o que eu estava precisando" pensou Gina, e então tentou explicar gentilmente para Hermione que não estava muito disposta para "conversas" naquele dia. 
- Eu se fosse você me ouvia - Hermione disse lentamente, encarando-a de maneira estranha. - Por que existem algumas coisas que eu gostaria de compreender. 
O tom de voz da garota era calmo e frio, fazendo Gina colocar-se instantaneamente na defensiva. 
- Estou ouvindo - a ruiva disse, sem conseguir conter um certo sarcasmo em suas palavras. 
Hermione não falou imediatamente. Continuou a observar Gina cuidadosamente daquela maneira cheia de suspeita, fazendo a garota remexer-se incomodamente. Então ela finalmente falou. 
- Não vou fazer muitos rodeios - Hermione disse, tomando fôlego. - Sinceramente, o que há entre você e Luna? 
Gina tomou um susto com a pergunta, que decididamente não esperava. Mas em alguns segundos recompôs-se. 
- Ela é a minha melhor amiga - Gina disse, procurando fazer com que aquilo parecesse a coisa mais óbvia do mundo. 
- Não adianta mentir pra mim - Hermione disse calma. 
- Não estou mentindo. - Gina deu uma risadinha. 
- Eu vi e ouvi você e Luna hoje - Mione soltou com um suspiro. 
Aquelas palavras foram um verdadeiro balde de água fria para Gina. Ficou sem reação durante alguns segundos, encarando Hermione atordoada. 
- Não sei do que você está falando... 
- Gina, não seja tão boba. Você acha que eu sou burra ou algo assim? Sei muito bem o que vi, e você sabe melhor ainda o que fez. Agora eu quero que você me responda: o que há realmente entre você e Luna? 
Gina sabia que seria perda de tempo tentar convencer Hermione de que Luna era apenas sua amiga, pois se ela realmente vira o que acontecera entre elas naquela sala simplesmente não havia argumentos. 
- Nós somos - Gina murmurou lentamente. Então percebeu que nunca parara realmente para pensar em uma denominação para sua relação com Luna. E foi com uma pontada de estranheza que disse: - amantes. 
Hermione não esboçou qualquer reação. Não pareceu surpresa, horrorizada ou enojada. Seu rosto era uma máscara sem emoção, e apenas seus olhos continuavam a brilhar de maneira estranha. 
- Quando isso começou? 
- Depois do Dia das Bruxas - Gina falou, percebendo que não fazia sentido ocultar informações. - Mas já estava estranho antes disso. 
- Como assim "estranho"? 
- Eu já estava sentindo desejo por ela antes - Gina resmungou, corando. Era a primeira vez que falava sobre seus sentimentos por Luna com outra pessoa, e a sensação não era das mais agradáveis. 
- E ela? 
- Não faço idéia. Luna não fala muito. 
Hermione sacudiu a cabeça lentamente, parecendo perdida em seus próprios pensamentos. Gina a observou, tentando ler a expressão em seus olhos. 
- Eu pensei que você gostasse do Harry. 
- Sim, eu sei - Gina suspirou. - Eu gostava dele. Mas ele nunca quis nada comigo, eu tinha que esquecê-lo, certo? 
- Com uma menina? - indagou Hermione. Gina percebeu o desgosto nas palavras da garota, e seus olhos começaram a arder. 
- Não. Eu não procurei isso. Eu não escolhi isso - defendeu-se Gina, a voz trêmula. - Mas eu gosto dela. E muito. 
- Gina... isso tudo é um absurdo - Hermione disse. - Você é uma menina! 
- É claro que eu sou! - exclamou Gina. - Mas eu gosto dela! E que direito você acha que tem para me julgar? Ou pior, para sair por aí me seguindo e espionando! 
- Eu achei que havia algo estranho... só queria falar com você - defendeu-se Hermione. - E acabei vendo mais do que devia. Nunca foi minha intenção espionar você. 
- Por que você não vai cuidar da sua própria vida? - Gina falou, cheia de raiva. 
- Você está me interpretando mal - Hermione disse, tentando acalmar a garota. - Só quero ajudar você, Gina! Você está passando por uma faze confusa... é natural toda essa bagunça em seus sentimentos. Mas eu sei que você não é... não pode ser... 
- Não posso ser o que? 
- Lésbica - sussurrou Hermione, como se aquela palavra pudesse derrubar o teto do quarto sobre a cabeça delas. 
- É claro que eu não sou lésbica! - exclamou Gina. - Você sabe que eu... eu sempre gostei de estar com meninos. 
- Exatamente! E é por isso que eu digo, tudo isso não passa de uma grande confusão! E eu vou ajudar você a se livrar disso, Gina. Por favor, não me veja como uma inimiga, ok? 
Gina havia se levantado e estava caminhando de um lado para o outro do quarto bastante irritada. Quem Hermione achava que era para se meter desse jeito na sua vida? 
- Você vai contar para alguém? - perguntou Gina, de repente. 
- Não - Hermione disse. - Não há motivos. Isso é passageiro... vamos superar, eu vou ajudar você. 
Gina deu uma risadinha sarcástica. 
- Quem é você para dizer o que eu devo ou não fazer? A vida é minha, e se eu quiser continuar com a Luna... 
- Então terei que contar ao Rony o que está se passando - Hermione disse, bastante séria. Não parecia uma ameaça. Mas era. 
- Você não tem esse direito - Gina murmurou, sentindo que estava ficando difícil raciocinar por causa da dor em sua cabeça. 
- Gina, entenda - Hermione falou num tom maternal. - Eu estou apenas querendo ajudá-la... 
- Não, não está! Você por acaso já parou para pensar que existem muitas pessoas envolvidas nessa história? Os sentimentos da Luna também estão em jogo! E tem... 
-... o Harry - completou Hermione calmamente. - Pois é, tem o Harry. Ele gosta de você. 
Gina sacudiu a cabeça, virando-se para a janela. 
- Eu sei. 
- Você não sente mais nada por ele? 
- Eu sinto. Mas não é a mesma coisa. 
Seguiu-se um longo silêncio, no qual nenhuma das duas ousou se encarar. Então Hermione ficou de pé e caminhou lentamente até a porta. 
- Você tem o tempo que quiser para pensar - Hermione falou suavemente, de costas para Gina. - Mas não se esqueça que, se você insistir nessa loucura com Luna, serei obrigada a contar ao Rony o que está acontecendo. E já não estará mais nas minhas mãos. 
Assim que Hermione deixou o quarto Gina virou para o lado e começou a chorar compulsivamente. Por que tinha que ser tão difícil? Não era justo. Era horrível, aquela dor. Ficava difícil até respirar. E não podia esquecer ou fugir do seu tormento, que só parecia aumentar a cada minuto. 
***
 
                    
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!