O Poço Sagrado



"Jornada para as terras sagradas da Terra dos Sonhos
Para o conteúdo de um coração ser livre de novo.
Visões narram segredos na Terra dos Sonhos
E minha sorte termina no poço dos desejos”
(Wishing Well - Angra)





Após a ceia daquela noite, Eriu permaneceu sentada em sua cadeira de espaldar alto em frente à lareira. A mão direita apoiava o queixo, enquanto ela olhava distraidamente as brasas da lareira esmorecerem aos poucos.

A Grã-Sacerdotisa estava imersa em seus próprios pensamentos e mal notava a movimentação de Morrigan pelo aposento, arrumando a mesa bagunçada pela ceia, depois que todos já tinham ido se recolher.

Morrigan ajoelhou-se ao lado da cadeira de Eriu e segurou a mão desta, carregando em seu rosto sério um semblante preocupado - Senhora, já está tarde. Vá se deitar!

Eriu sacudiu a cabeça, como se estivesse tentando afastar algum pensamento e sorriu fracamente - Acho que acabei divagando um pouco e perdi a noção do tempo. Pode me ajudar a trançar os meus cabelos? Você sempre foi mais habilidosa nisso do que eu.

-Claro, Senhora - Morrigan sorriu de volta.

-Morrigan, quem pede isso não é a Senhora de Avalon, mas apenas a sua irmã mais velha. Você pode me ajudar, irmãzinha?

-Certamente, Eriu - Morrigan estendeu uma das mãos, ajudando Eriu a se levantar - Venha, minha irmã, que vou coloca-la para dormir.

As duas irmãs caminharam vagarosamente em direção ao quarto de Eriu. Estavam de mãos dadas e Morrigan apoiava a cabeça no ombro da irmã mais velha.

Quando chegaram ao austero quarto da Grã-Sacerdotisa, Morrigan ajudou Eriu a trocar as vestes por uma simples camisola branca e escovar os cabelos louros avermelhados da mulher.

Morrigan deslizava os dedos ágeis sobre a cabeça da outra, enquanto Eriu permanecia calada, como uma criança obediente.

-O que você tem, Eriu? Após a ceia, ficou tão calada... - Morrigan perguntou, num tom de voz preocupado.

-Certos pensamentos que passaram por minha cabeça e me deixaram intrigada - Eriu disse.

Morrigan ficou calada. Quando Eriu tinha esses devaneios, era melhor esperar que ela falasse por si só.

-Durante a ceia, estive reparando em várias coisas -Eriu disse, enquanto olhava distraidamente para a janela ao lado de sua cama.

-Que tipo de coisas? - Morrigan perguntou.

-A garota ruiva... Ela olha para as coisas de Avalon como se já as conhecesse e isso me pareceu estranho. Os outros que vieram com ela nos olham com curiosidade, mas apenas isto. Ela não. Ela nos olha com reconhecimento...

-Eu também percebi isso, Eriu - Morrigan confirmou, enquanto se sentava em frente à irmã - Quando os encontrei na floresta, ela me olhou de um jeito estranho. Estava estampado em seu rosto o seu estado de surpresa. No momento, não me importei com isso, mas agora que você disse, vejo que está certa.

As duas sacerdotisas ficaram algum tempo sem dizer palavra alguma, até que Eriu expôs a mesma dúvida de Morrigan.

-Morrigan, será que Gina tem a Visão? Não consigo pensar em nada para justificar isso.

-Pode ser, Eriu. - Morrigan disse, pensativa. - Você pretende fazer algo?

-Primeiro, vou conversar com ela. Depois, dependendo do que ela me disser, vou leva-la ao Poço Sagrado na primeira noite da lua cheia.

-Ao Poço Sagrado?! - Morrigan exclamou com surpresa - Mas ela não é uma consagrada. Você tem certeza?

-A Deusa consagrou todas as mulheres. Se ela possui esse Dom, é minha obrigação orienta-la. - Eriu disse, decidida.

-Bem, você é a representante da Deusa na Terra. -Morrigan disse e depois soltou um longo suspiro - Você sabe que faz...



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Véspera de lua cheia.

Lupin sentia em cada célula de seu corpo a ansiedade que tal acontecimento trazia ao seu interior.

Inquietação. Medo. Vergonha. Sentimentos tão distintos que se misturavam e, que ainda assim, não eram capazes de traduzir o que ele sentia. Inquietação devido às mudanças que ocorriam em seu corpo; medo de ferir alguém, de algo sair de seu controle e vergonha desse seu lado selvagem.

Quando acordou naquela manhã fresca, a realidade caiu como um balde de água fria nele: a lua cheia estava chegando. Como tinha sido capaz de esquecer?

Nesse seu estado de ansiedade, a única coisa que o acalmava era caminhar. Antes que alguém sentisse falta dele na casa de Dagda, ele se levantou silenciosamente e saiu.

Enquanto caminhava, observou os habitantes de Avalon cuidando de seus afazeres diários, totalmente despreocupados. “Se eles soubessem o tipo de monstro que sou...”, Lupin pensou, amargamente.

Caminhou a esmo por longas horas, sem saber ao certo onde estava indo. Suas pernas o levaram por belas paisagens, ao qual ele não deu importância. Tinha pensamentos tão inquietantes, que a única coisa que ele queria era sair dali. Precisava ir embora, encontrar um lugar seguro onde ele pudesse se transformar.

Foi quando ele se decidiu.

Precisava falar com Eriu e pedir que ela o ajudasse a ir embora dali. Com certeza ela deveria conhecer o caminho para sair de Avalon.

Encaminhou-se em direção à casa da Grã-Sacerdotisa. Passou em frente á uma construção que parecia ser um estábulo. De lá, ele pôde ouvir uma voz feminina entoando uma bela canção. A música era um pouco melancólica, mas conseguiu trazer uma sensação de paz ao espírito inquieto do homem.




May it be an evening star
Shines down upon you
May it be when darkness falls
Your heart will be true
You walk a lonely road
Oh!How far are you from home





Lupin parou fascinado, na entrada do estábulo. De olhos fechados, deixou a canção o envolver, livrando-o de todos os seus medos e receios.


Mornie utúlien (darkness has come)
Believe and you will find your way
Mornie alantie (darkness has fallen)
A promise lives within you now




Morrigan, como sempre ocorria, acordara cedo naquela manhã para cuidar de seus afazeres. Tinha ido ao estábulo para cuidar de seu pégaso branco, que ela chamava de Angus.

Escovava carinhosamente o pêlo brilhante do animal, enquanto cantava uma das canções antigas que aprendera quando era apenas uma menina.



May it be the shadows call
Will fly away
May it be your journey on
To light the day
When the night is overcome
You may rise to find the sun




Lupin, ao se aproximar mais da porta do estábulo, conseguiu ver a dona daquela bela voz. Era Morrigan. O ex-professor pensou em sair dali, mas parecia que a voz da Sacerdotisa tinha algum tipo de encantamento, fazendo com que ele não tivesse a menor vontade de sair dali.




Mornie utúlien (darkness has come)
Believe and you will find your way
Mornie alantie (darkness has fallen)
A promise lives within you
A promise lives within you now



Morrigan sentiu que estava sendo observada e sabia quem a observava. Sentia-se poderosa, majestosa. Não sabia exatamente a razão de estar assim, mas era uma sensação agradável.

“Se eu quisesse poderia tê-lo agora mesmo em meus braços”, ela pensou. Mas ela era uma Sacerdotisa de Avalon e não poderia se deixar levar por impulsos tão primitivos. Quando terminou a canção, voltou-se para Lupin, trazendo em seu rosto, o sorriso mais doce que possuía. -Vejo que gostou da canção.

Lupin, como se houvesse despertado de um sonho, respondeu - Realmente é uma bela canção. Você tem uma bela voz.

-Fico agradecida! - Morrigan olhou para Lupin e viu que ele voltava a ter a expressão melancólica e angustiada de antes. Utilizando-se de seu dom de ver as emoções humanas, ela pôde perceber que tinha algo o incomodando, um grande peso em seus ombros que o envelhecia e lhe conferia uma aparência doentia.

Enquanto terminava de escovar o belo animal branco, milhares de pensamentos passavam pela mente de Morrigan. Lupin lhe parecia ser um homem doce, gentil, mas no fundo ele escondia algo, um lado oculto e obscuro. A sacerdotisa teve o fluxo de pensamento interrompido quando escutou a voz de Lupin falando com ela.

-Você poderia repetir? Estive tão distraída que acabei não compreendendo... - Morrigan disse.

-Sem problemas - Lupin disse, sorrindo - Gostaria de saber se poderia falar com Eriu. Preciso da ajuda dela.

-Algum problema? - Morrigan franziu ligeiramente a testa.

-Bem... - Lupin parou para pensar, escolhendo cuidadosamente as palavras - Eu preciso ir embora daqui, digo, nós todos, sabe. As pessoas devem estar preocupadas com nós e não podemos ficar desaparecidos por tanto tempo...

Morrigan notou que isso era apenas parte do que incomodava Lupin. Tinha algo mais que ele tinha medo de revelar e foi exatamente isso o que ela perguntou.

-Tem algo o incomodando e você não quer me dizer. Diga-me, tem algo em Avalon que o desagrada?

-Não, não, de maneira alguma - ele disse rapidamente - Mas é que eu realmente preciso ir... - Ele suspirou, cansado - Você não iria compreender...

-Como sabes que eu não compreenderia? - Ela perguntou de maneira incisiva.

-Por que quase ninguém compreende... - ele respondeu, derrotado.

-A Nymphadora compreende?

-A Tonks, você quer dizer. Se ela escuta alguém a chamando de Nymphadora, é bem capaz de ter um chilique - Lupin disse, sorrindo fracamente. - A Tonks compreendeu os meus motivos, aliás, foi uma das poucas pessoas que me aceitou do jeito que sou.

-Não sei o que você esconde, mas deve ser algo realmente sério. - Morrigan disse.
Lupin fitou os olhos escuros de Morrigan e disse - Se eu te contar, você irá me levar até Eriu?

“Deusa, ele irá confiar um segredo dele a mim... Será que sou digna dessa confiança?”, Morrigan pensou. Acenou afirmativamente e largou a escova de pêlos macios em um canto da baia.

-Venha, vamos dar uma volta e então você me conta tudo - Ela convidou.

Saíram silenciosos do estábulo, enquanto Remus Lupin tentava encontrar as palavras adequadas para contar o seu “pequeno problema cabeludo”. Por fim, ele começou:

-Quando eu era criança, Morrigan, meu pai ofendeu um homem, pelo jeito deve ter sido algo muito grave, pois o deixou extremamente furioso. O nome dele era Fenrir Greyback...

-Sim, e o que houve? - Morrigan perguntou, sem conter a curiosidade.

-Acontece que esse homem era um Lobisomen - Vendo a expressão confusa da jovem, Lupin completou - Nas noites de Lua cheia, a pessoa se transforma em Lobo, se tornando uma fera sanguinária. Como o meu pai havia ofendido Greyback, ele acabou me mordendo, fazendo com que eu me tornasse semelhante a ele.

-Você quer dizer que você também é um lobisomen?

-Exatamente! - Lupin disse, parecendo muito sombrio. - Nas noites de lua cheia eu me isolo de todos, para que ninguém seja ferido.

“Pobre homem... Eu aqui, pensando em coisas tolas e fúteis enquanto ele tem um problema tão sério...”. Morrigan olhou penalizada para ele - Existe algo que eu possa fazer para ajuda-lo?

-Creio que não. Por isso gostaria de falar com Eriu. A lua cheia está se aproximando e eu não gostaria de ficar aqui e ferir alguém. Saindo daqui, posso encontrar um lugar seguro onde eu possa me transformar.

-Bem, sinto dizer, mas você não poderá sair de Avalon hoje... - Morrigan disse lentamente.

-Como assim? - Lupin tinha uma nota de desespero na voz.

-Como você já deve ter notado, entrar e sair de Avalon é muito difícil. A passagem só se torna mais tênue a cada dez dias, ou seja, a passagem só poderá ser feita após a lua cheia.

Morrigan segurou a mão de Lupin ternamente e o puxou, para que ele se sentasse junto dela à sombra de uma árvore. - Tenha calma, Remus, nós vamos pensar numa solução. Não exista nada que possa deixa-lo mais calmo?

-Existe uma poção, chamada Wolfsbane que me ajuda na época da lua cheia, me deixando mais calmo, mas...

-Então nós podemos tentar prepara-la - Morrigan o interrompeu bruscamente - Eu sou ótima preparadora de poções.

-Não é tão simples assim, Morrigan. -Lupin disse, com o rosto muito sério - A poção é muito difícil de se preparar e até hoje só encontrei uma pessoa capaz de prepara-la, Severus Snape era o nome dele.

A Sacerdotisa pareceu desanimar após isso e ficou longos minutos em silêncio.

-Se pelo menos houvesse um lugar isolado onde eu pudesse ficar... - Remus balbuciou para si mesmo.

-Bem, isso eu posso conseguir - Lupin olhou esperançoso para ela - Existe uma cabana de pesca próxima ao lago, mas que fica por detrás do Tor, isolada do restante dos edifícios de Avalon. Você poderia ficar lá. O que acha?

-O que acha do que, Remus?

Lupin olhou para cima e se deparou com Tonks, tendo as mãos na cintura e o olhando friamente, parecendo-se assustadoramente com Bellatrix Lestrange.

-Bem, acho que vocês têm o que conversar agora - Morrigan disse enquanto se levantava e limpava algumas folhas que estavam presas na barra de seu vestido. Voltou-se para Lupin e disse amavelmente - Se você se interessar pela cabana, depois eu lhe mostrarei o caminho...

Tonks olhou de Morrigan para Lupin sem entender nada do que a Sacerdotisa havia dito. E antes que Tonks dissesse algo, Morrigan já havia dado as costas e saído a passos largos dali.

-Do que ela estava falando? - Tonks perguntou de maneira inquisidora, enquanto se sentava no mesmo lugar onde Morrigan estivera.

-Você sabe que dia é hoje, Nympha? - Lupin perguntou calmamente.

-Não... Não, espere...Hoje é véspera de lua cheia, não é isso? - ela disse rapidamente.

-Sim, hoje é véspera de lua cheia e Morrigan me ofereceu um lugar para que eu possa passar a semana, isolado de todos.

-Oh, Merlin, como fui me esquecer disso...Burra, Burra, eu sou muito estúpida mesmo... - Tonks dava vários tapas na cabeça, arrancando um raro sorriso de Lupin - Você todo preocupado com a lua cheia e eu aqui, tendo crises estúpidas de ciúmes... Mas, eu sou muito idiota mesmo!

-Calma Tonks, já passou. - Ele a puxou para os seus braços, enquanto ela recostava a cabeça sobre o peito dele. - Mas é bem engraçado ver você com ciúmes, viu...

-Há-há-há... Muito engraçadinho! Queria ver se você iria achar graça quando eu transformasse a sua cabeça num broto de feijão. - Ela disse, fingindo falso aborrecimento.

-Boba! Você acha mesmo que eu iria trair você? - Lupin perguntou, olhando carinhosamente para Tonks.

-Não, você não seria capaz disso - Tonks disse antes de beija-lo repetidamente. - Pelo menos eu espero que não.


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Quando todos ficaram sabendo que só poderiam sair de Avalon após a Lua Cheia, tiveram de se conformar e aproveitar o tempo de paz e tranqüilidade que poderiam desfrutar na Ilha Sagradas dos Druidas.

As pessoas que viviam em Avalon eram em sua grande maioria, muito cultas e amáveis e adoravam trocar impressões e comparações entre Avalon e o mundo exterior.

De certa forma, Harry se sentiu aliviado por estar ali. Era bom viver naquela calmaria, sem ter de se preocupar com guerra, Voldemort ou Horcruxes. Se pudesse escolher, viveria ali na mais absoluta felicidade.

Quando já estava quase anoitecendo, naquela primeira noite de lua cheia, Gina e Hermione estavam se preparando para fazer uma visita à Danna - que logo ficou amiga das garotas.

-Anda Hermione, você está demorando muito - Gina bufou irritada - O seu cabelo está ótimo, vem logo...

Hermione olhou calmamente para Gina e a acompanhou para fora do quarto. Quando estavam quase saindo da casa da Grã-Sacerdotisa, encontraram Eriu bebendo uma xícara de chá.

-Boa noite, Eriu - Gina disse, sorridente - Eu e Hermione vamos visitar Danna. Algum problema?

-Não, não, minha querida. Sinta-se em casa. Mas eu gostaria de trocar algumas palavras com você, isso seria possível?

Gina e Hermione trocaram um olhar entre confuso e surpreso, até que Gina disse - Vá na frente, Mione. Depois, se der, eu apareço por lá. Diga ao Harry que está tudo bem, sim?

Hermione parecia um pouco relutante, mas após ver que Gina estava tranqüila e que Eriu não iria fazer nenhum mal à ruiva, saiu da casa.

-Sente-se aqui ao meu lado, Gina - Eriu convidou.

Gina, parecendo um tanto desconfiada, sentou-se no mesmo banco em que Eriu estava.

-Aconteceu alguma coisa, Eriu?

-Isso só você poderá me dizer! - Eriu disse de maneira enigmática.

As duas ficaram alguns instantes se encarando, até que Gina não suportou e baixou os olhos. Eriu buscou outra xícara e serviu Gina.

-Eu notei, Gina - Eriu disse - Que você foi a única que não me olhou com espanto por causa de minhas vestes sacerdotais ou por causa do sinal crescente em minha testa. Diga-me, você já havia visto isso em algum lugar? Talvez num livro ou numa gravura?

Gina bebeu um pouco de chá e ficou olhando a fumaça que subia de sua xícara formar figuras bruxuleantes. “Então ela sabe... Será que devo contar o meu sonho a ela?”

-Isso foi realmente estranho, sabe. - Gina começou a falar lentamente - A alguns dias atrás eu sonhei com uma mulher muito parecida com você e ela usava uma tatuagem igual a essa - E tocou o crescente semi-apagado na testa de Eriu. - Mas eu nunca havia visto isso antes.

-Curioso, realmente curioso - Eriu balbuciou para si mesma - E você sonhou somente uma vez com a tal mulher?

-Não, foram duas ou três vezes, não me lembro direito - Gina disse, tentando se recordar.

-Ás vezes os sonhos não são apenas sonhos. - Eriu disse tocando as mãos de Gina

- Ás vezes podem ser lembranças que a alma traz da Terra da Verdade, de onde a alma vem e para onde a alma vai.

“Sonhos, Terra da Verdade... Que papo mais estranho é esse?”

-Gina, alguma vez você já viu algo que os demais não viram? Uma Visão, talvez... - Eriu disse, olhando no fundo dos olhos de Gina.

“Algo que somente eu tenha visto?”

Foi quando se lembrou da vez em que Harry havia chegado à Toca

-Bem, já. Mas não tenho muita certeza se foi bem uma visão.

-Conte-me como foi, minha pequena. - Eriu disse, acariciando a mão da ruiva.

-Uma vez, eu estava preparando uma poção para minha mãe e tive uma espécie de transe, foi um negócio bem esquisito, sabe, então eu tive a certeza de que o Harry estava chegando. E em menos de dois minutos ele estava entrando pela minha sala.

-O Harry... Você teve uma visão com o Harry...”O rapaz que também reconheceu os dragões da Sabedoria... Certamente isso não foi uma coincidência”

-Exatamente! Na época eu achei que fosse coisa da minha cabeça. Isso é normal, Eriu?

-Normal? Não sei ao certo se isso é normal, mas eu também possuo a Visão. É um Dom magnífico se souber usa-lo com sabedoria. - Eriu sorriu - Você não gostaria de ser considerada apenas uma vidente, não é mesmo?

Gina arregalou os olhos, apavorada. A última coisa que gostaria que acontecesse era ser considerada uma doida varrida igual á Profª Trelawney.

-Não, não, claro que não. - Gina disse rapidamente.

-Então, eu vou leva-la ao Poço Sagrado e teremos a certeza de que você possui a Visão e se você quiser, eu poderei ajuda-la. O que acha?

Gina ponderou durante alguns momentos, até concordar, sem saber ao certo o que a esperava.



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Quando a majestosa lua cheia se postou no meio do céu de Avalon, Eriu - Grã-Sacerdotisa de Avalon, encaminhou-se para o Poço Sagrado, levando Gina Weasley consigo.

Caminharam silenciosas, percorrendo o caminho oculto marcado por pequenas pedras brancas, que brilhavam calidamente quando tocadas pela luz prateada da lua.

A Grã-Sacerdotisa usava uma túnica simples de algodão e tinha o punhal de sua iniciação, em feitio de foice, preso à sua cintura. O cabelo que oscilava ente o louro e o ruivo, caindo em longas cascatas até o meio de suas costas, semelhantes a um mar de fogo.

Gina estava um pouco assustada. Tinha a nítida impressão de que estava sendo observada por vários olhos brilhantes e a presença de Eriu a aterrorizava um pouco. Ela já não parecia a mulher amável e gentil que conversara com ela algumas horas antes. Agora, Eriu era a face da Deusa, terrível e adorável como a aurora.

Após alguns minutos, que para Gina pareceram horas intermináveis, elas finalmente chegaram ao Poço Sagrado, que tinha suas águas mágicas brilhando misticamente.

Eriu conduziu Gina delicadamente até a borda do poço. A Sacerdotisa se abaixou e com as mãos em forma de concha, levou um pouco da água límpida até os próprios lábios. Respirou fundo, enquanto murmurava uma prece de agradecimento pela benção que a Deusa lhe proporcionava.

Levantou-se e cuidadosamente desatou os laços do vestido de Gina, que escorregou até a cintura da garota.

-Calma, está tudo bem, criança, não precisa se assustar - Eriu disse, tentando tranquilizar Gina. - Agora, você terá que tirar qualquer objeto de metal que você carregue consigo...

Gina olhou para Eriu e disse, a voz saindo estranhamente fraca - Não posso tirar isso - E pôs a mão na corrente com o pingente em forma de meia-lua - Foi o Harry que me deu e eu jurei a mim mesma que nunca tiraria...

“Mais uma coisa que liga ela ao rapaz... talvez isso nos ajude”

-Certo... Mas você poderia ao menos segurar a corrente, não poderia? Isso nos ajudaria muito. - Eriu disse.

A ruiva, um pouco relutante, retirou a corrente prateada do pescoço e a manteve segura em sua mão esquerda.

-Agora, beba um pouco da água do poço. Vai ajudar a abrir a Visão.

Gina ajoelhou-se diante da fonte de água. O cabelo solto caia preguiçosamente sobre o colo de pele alva, enquanto Gina repetia o gesto de Eriu.

Nunca, em seus poucos anos de vida, Gina havia provado água tão saborosa. Podia ouvir mentalmente a voz de Hermione lhe dizendo que água não tinha gosto, nem cor e nem cheiro. Mas a água que brotava daquele Poço era diferente, era mágica, era pura... simplesmente diferente!

Eriu voltou a ajoelhar-se ao lado de Gina e passou a mão sobre a superfície da água - Gina, olhe bem para a água e diga-me o que vê!

A ruiva obedeceu. A princípio a única coisa que viu foi a brisa da noite agitar vagarosamente as águas do poço. Gina, após alguns momentos olhando fixamente para a água, começou a se irritar, achando que, talvez, aquilo fosse uma grande bobagem.

Mas, então, o seu corpo parecia não pertencer mais a ela. Seus olhos ficaram desfocados e ela sentia que a terra era uma extensão de seu próprio ser. Como se céu e terra fossem uma coisa só.

De sua boca, brotaram palavras, que ela tinha consciência, não eram delas - A Mãe... A Mãe exigiu um sacrifício e ele foi feito... Amor... Amor e Sacrifício... O Sacrifício foi feito, mas o mal ainda não foi erradicado...

Eriu observava, sem compreender exatamente o que Gina dizia. E logo, a jovem presseguiu em seu transe.

-Cerridwen... Cerridwen escolheu o seu campeão... Sacrifício... O escolhido para erradicar o mal...

E dizendo essa últimas palavras, Gina desabou sem sentidos, nas encostas do Poço Sagrado.


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N/A: Vamos lá, me matem, me estuporem... eu sei que foi maldade minha terminar o capítulo desse jeito, mas eu tive que parar aqui senão ficaria muito longo...;) eu sei que vocês entenderão...

A música que a Morrigan cantou no meio do capítulo é May it be - Enya e é da Trilha do filme O Senhor dos Anéis. Se não me engano a música está disponível na rádio UOL...

Vou deixar aqui a tradução para vocês:


Enya - May It Be


Pode ser



Pode ser, uma estrela da noite brilhando sob você
Pode ser, quando a escuridão cair
Seu coração será a verdade
Você caminha ao longo da estrada
Oh quão longe você está de casa


Escuridão vem vindo
Acredite e você encontrará seu caminho
Escuridão vem caindo
Uma promessa vive, dentro de você


Pode ser, o chamado da sombra
Voará para longe
Pode ser, sua jornada
Para iluminar o dia
Quando a noite se vai
Você pode se elevar para encontrar o sol


Escuridão vem vindo
Acredite e você encontrará seu caminho
Escuridão vem caindo
Uma promessa vive, dentro de você
Uma promessa vive, dentro de você


E então, gostaram? Eu amo essa música... espero que tenham gostado do capítulo e aguardo os comentários. Vale tudo: críticas (construtivas e com fundamento, obviamente), sugestões, elogios...=]
Ah... E tenham um feliz natal! Que o Bom Velhinho encha a vida de vocês de presentes e que o p´roximo ano seja maravilhoso.
Agradeço a paciência de vocês e desejo que td de bom se realize a todos...
Grande beijo e até o próximo capítulo

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