Um grifinório Domesticado

Um grifinório Domesticado



"És parte ainda do que me faz forte,
E pra ser honesto só um pouquinho infeliz... mas tudo bem"
(Giz - Legião Urbana)




Os momentos em que Harry e Rony passaram no galpão de vassouras fez com que Harry esquecesse temporariamente os problemas que o atormentavam. Eles somente saíram de lá quando a noite se aproximava.

Entraram na Toca conversando distraidamente sobre feitiços e contra-azarações.

-Imagina só, Harry, se só com os feitiços e azarações que a gente aprendeu na escola já conseguimos enfrentar comensais, imagina como será quando você se tornar Auror?! Cara, isso é muito legal!

Harry observou a empolgação do amigo e desejou imensamente pensar desta maneira, mas o único pensamento que lhe ocorria era: 'viver o suficiente para derrotar Voldemort'.

Tentando afastar esses pensamentos, ele deu um sorriso fraco ao amigo e continuou caminhando em direção ao quarto dos gêmeos.

Se largou cansado na cama de Fred e fitou o teto, pedindo aos céus alguma solução, alguma pista para os enigmas que lhe rondavam o pensamento "o pingente.., a copa... a cobra... algo sobre Grifinória ou Corvinal... o pingente... a taça... a cobra...".

Este mantra pulsava em sua mente e fazia com que o jovem grifinório se sentisse velho e cansado. Desejou por um breve momento aquelas preciosas poções de Madame Pomfrey que lhe davam um sono sem sonhos. Mas se entorpecer era o mesmo que fugir, e ele sabia bem que a fuga não era a solução. Se fugisse, ele estaria fazendo com que a morte das pessoas que lhe foram muito caras fossem em vão. Adormeceu com a lembrança da última frase que sua Tia havia lhe dito: "Faça com que o sacrifício dela não seja em vão, viu..."

Pouco tempo depois, acordou assustado, com batidas insistentes na porta. Demorou um pouco para se lembrar onde estava. Ajeitou os óculos e tentou não parecer tão largado.

-Te acordei? Desculpa, mas mamãe tava te chamando pra jantar.

-Não tem do que se desculpar Rony. Afinal, aqui é a sua casa!

-Hey, não fala assim que eu me ofendo. Você é como se fosse da família e, por um tempo, também foi o meu cunhadão! - Rony tentou animar o amigo, mas ele conseguiu afundar mais ainda o ânimo do moreno.

Enquanto jantavam, Harry notou que a cada ano, a casa dos Weasley parecia mais vazia. Carlinhos estava na Romênia, Gui trabalhando em Londres, Percy puxando o saco do Ministro em algum lugar da Grã-Bretanha e os gêmeos com sua loja de logros e brincadeiras no Beco Diagonal.

-Mãe, eu to ficando preocupado com a Gina. Ela não vai descer pra jantar, não?

A Sra. Weasley lança um olhar indefinido a Harry e comenta - Deixe sua irmã em paz! Depois eu levo o jantar pra ela.

Para Harry, era extremamente constrangedor ficar na mesma casa de sua ex-namorada. Não por ela, mas por si mesmo. Não queria ter terminado com ela, mas também não queria perde-la para Voldemort. A simples insinuação de não ter a oportunidade de fitar aqueles doces olhos castanhos fazia com que seu coração diminuísse de tamanho.

-Sra Weasley, pode deixar que eu levo o jantar da Gina! - quando se deu conta já estava de pé deixando Rony e a Sra. Weasley um tanto confusos.

-Não precisa se incomodar querido!

-Não vai ser incomodo nenhum.

O jovem ruivo lançou um olhar cúmplice ao amigo e acrescentou - Deixe ele mamãe! Acho que o Harry quer animar a Gina um pouquinho... você sabe, por causa da escola...

Deu uma piscadela e Harry anotou mentalmente que precisava agradecer ao amigo mais tarde pela desculpa.

A Sra. Weasley, apesar de não ter acreditado numa única vírgula do que Rony disse, olhou carinhosamente para Harry e foi ajeitar uma bandeja com o jantar de Gina.

Harry se demorou alguns minutos em frente ao quarto da ruiva, sem ter coragem de bater na porta "E agora? O que eu vou dizer? Olá Gina, como você vai? Eu terminei com você, mas eu lhe trouxe o jantar..."

Reuniu coragem e deu três batidas ritmadas na porta.

-Eu já disse que não quero jantar, mãe!

Harry respirou fundo e repetiu o gestou. Bateu de novo na porta.

Escutou um clique e a porta estava destrancada. Girou a maçaneta e abriu a porta cautelosamente. Gina estava debruçada sobre a janela, olhando a lua nova no céu estrelado.

O quarto da garota tinha uma aparência romântica, com cortinas amarelas com pequeninas flores brancas que combinavam com os seus lençóis de cama.

Ele observou como o seu cabelo ruivo parecia em chamas, balançando sob a brisa suave da noite.

-Mãe, eu... - a frase morreu na garganta, e a caçula sentiu suas faces vermelhas quando fitou Harry com o seu jantar numa bandeja. "Droga! Por que ele tem de ser assim?"

-Er... O-oi Gina!

-Oi... o que você veio fazer aqui? - sua voz saiu fraca e tremida; e o seu olhar um pouco magoado e ferido.

-Bem, eu trouxe o seu jantar. - Colocou a bandeja em cima da pequena escrivaninha ao lado da cama - Sua mãe está preocupada com você. Ela me disse que você estava chateada por causa da escola...- o jovem tentou parecer natural e despreocupado - eu também me preocupo com você.

Ela olhou incrédula pra ele. Não queria acreditar no que ouvia.

-Você não precisava trazer o meu jantar! -sentou-se com ar aborrecido na cama e olhou para Harry - Não fique com a consciência pesada, eu estou muito bem assim!

Harry conhecia Gina o suficiente pra saber que ela mentia, que no fundo ela estava tão ansiosa quanto ele. Sorriu quando notou ela tentando parecer aborrecida e agachou-se ao seu lado na cama.

Com uma vozinha aguda e esganiçada ele disse - Se eu aborreço a senhorita, Potter deve ser castigado! Potter é um mau menino, sim ele é! Potter tentou agradar a senhorita e fez tudo errado! - numa tentativa cômica de imitar Dobby, ele ameaçou bater a cabeça na parede - Potter mau, muito mau!

Nesse momento Gina já dava altas gargalhadas e tentava impedi-lo de continuar com a sua brincadeira.

-Harry, pára! Deixa de ser bobo! - ela tentou controlar o riso inutilmente.

-Eu posso ser bobo, mas se te faço sorrir já me dou por satisfeito.

Os doces olhos castanhos de Gina se encontraram com os seus olhos e por um momento ele se perguntou se a sua decisão de se manter longe dela era realmente necessária. Ficou tanto tempo sem nota-la, sem saber que gostava de sua presença. Ele se repreendeu muito por ter demorado tanto a ama-la. Mas tudo isso pertencia à um tempo que ele gostaria de guardar com muito carinho no meio de suas lembranças mais queridas.

-E então... você ainda tá brava comigo?

-Como se isso fosse possível!

-Essa é a sua casa e eu não gostaria de ser um incômodo pra você... Se você ficasse chateada comigo eu entenderia...
Ficaram em silêncio por um instante até Harry se manifestar.

-Gina... o seu irmão tava me falando uma coisa... sobre você hoje...

-O que ele falou?

-Que você disse que eu tava vindo pra cá, sendo que eu não tinha avisado pra ninguém que eu viria... Gina, você é ...hm...legilimente?

-Não... eu passei o dia todo pensando nisso e também não consegui entender. - ela piscou confusa, tentando lembrar ao máximo o que acontecera naquela manhã - Eu tava fazendo uma poção pra mamãe. Ai, de repente eu comecei a me sentir um pouco zonza e, de repente, eu simplesmente tive a certeza de que você estava chegando. Mas, eu realmente não sei como isso aconteceu.

-O Rony perguntou se eu era telepata. Mas eu acho que não sou telepata...

Gina observou que não era tão difícil conversar com Harry, como ela imaginou que seria. Enquanto ela jantava, ficaram um bom tempo falando sobre coisas diversas como a guerra, a escola, o casamento de Gui...

Já eram quase dez horas quando Harry resolveu ir para o seu próprio quarto. Afinal, não podia abusar da hospitalidade de seus amigos e permanecer horas no quarto da caçula da casa.

Harry se despediu dando um beijo suave na bochecha da ruiva. O que lhe pareceu muito estranho. Já que estavam habituados com os beijos calorosos e apaixonados que eles trocavam na sala comunal da grifinória.

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