Vermelho x verde



“Sou seu sonho, mente perdida
Sou os seus olhos quando você está longe
Sou sua dor quando você paga na mesma moeda
Você sabe que é triste, mas é verdade”
(Sad but true - Metallica)





Gina estava na clareira de um bosque com árvores que pareciam ser tão antigas quanto o próprio tempo. Os galhos retorcidos estavam carregados de um número grande de folhas e formavam um teto acima de sua cabeça. Ela já estivera naquele lugar, mas, talvez, por ser noite, este parecia mais assustador e sombrio.

Olhou para todos os lados, procurando por Harry e Rony, ou algum de seus amigos, mas viu que estava sozinha ali. Então, ela começou a escutar um, dois, vários estalos na trilha daquele bosque. Figuras mascaradas, usando vestes negras e pesadas apareceram, como se tivessem surgido das profundezas da terra. Ela ouviu mais um estalo e viu uma última figura encapuzada aparecer, mas ao contrário dos demais, este não usava máscara. Por debaixo do capuz de sua capa, Gina era capaz de ver um par de olhos vermelho-sangue brilhar com a mais pura maldade.

Um coro de vozes murmurou um mesmo encantamento e várias varinhas se acenderam, iluminando o caminho. Em meio aquela corja de figuras sombrias, Gina foi capaz de ver uma jovem de aparência cansada, os cabelos escuros totalmente desgrenhados e o rosto marcado por lágrimas.

-Vamos, Morrigan, agora é com você! - Uma voz fria como a própria morte ordenou, apontando a sua varinha para a jovem.

Gina parecia incrédula. Viu Morrigan caminhar vagarosamente à frente do grupo, indicando a trilha que eles deveriam tomar.

Foi por aquele mesmo caminho que Morrigan os guiara para chegar até Avalon...


-Gina?! - Uma voz feminina sussurrou algumas vezes, tocando levemente o braço da jovem.

A ruiva resmungou um pouco e logo abriu os olhos, parecendo atordoada. Viu Hermione sentada na beirada de sua cama, olhando-a com perspicácia.

-O que foi, Mione? - Gina se ergueu rapidamente, o olhar preocupado. - Aconteceu alguma coisa?

-Calma, Gina. - A outra garota parecia espantada com o estado de Gina. - Eu só vim te chamar porque daqui a pouco nós vamos embora.

-Ah, desculpe...- murmurou, dando uma olhada rápida ao redor do quarto. - Nossa, mas ainda nem amanheceu, Mione!

-É, eu sei, mas o Harry insistiu pra gente sair cedo, assim teremos mais tempo de achar a trilha certa para a Sede da Ordem.

A ruiva fez um muxoxo de indignação por ter sido acordada tão cedo, arrancando um sorriso de Hermione.

-Você está parecendo o Rony de manhã cedo. - A morena comentou, os olhos brilhando de um jeito diferente, enquanto se levantava para sair dali.

-Volta aqui, Hermione! - Gina puxou a garota pela manga da roupa, fazendo com que ela se sentasse bruscamente na cama. - Você precisa me contar o que aconteceu ontem. Ou está pensando que eu vou conseguir esperar até chegarmos na Sede da Ordem, hein?

-Gina...

-Por favor, vai... - O tom de voz era quase suplicante. - Vocês estão namorando ou foi só... um momento?

-Gina! - Hermione exclamou, fingindo falsa indignação. - Bem, não sei se estamos namorando. Não tivemos muito tempo pra discutir isso, se é que você me entende.

Gina abriu um sorriso enorme no rosto e batia palminhas de alegria, enquanto cantarolava ‘eu sabia’ repetidas vezes. Hermione estava dividida entre alegre e encabulada. Era estranho pensar nas coisas que tinham acontecido na noite anterior. Tinha sido tudo tão...perfeito!

-Bom, nem preciso perguntar se você está feliz, né? - a ruiva se empertigou na cama. - Só de olhar para o seu rosto já dá pra notar isso.

-É, Gina, eu estou feliz mesmo. - Hermione tinha as bochechas rosadas, corando fracamente.

-Achei que o meu irmão nunca fosse tomar uma atitude, sabe. O Rony é meio lerdo pra essas coisas.

As duas se encararam por alguns segundos e logo caíram na gargalhada. E naquele clima descontraído, Gina acabou se esquecendo do seu pesadelo. Trocou as bonitas vestes que haviam sido emprestadas para ela pelo jeans surrado e a camiseta simples que ela usava quando chegou em Avalon, e acompanhou Hermione até a cozinha, onde Harry e Rony já estavam esperando por ela.

Dagda e Danna não estavam na casa naquele momento. Um porque estava providenciando as coisas para a saída do grupo de bruxos e a outra porque passara a noite na Casa das Moças, cuidando de suas tarefas no templo.

Todos estavam estranhamente calados, talvez por ser muito cedo ou talvez, por estarem em clima de despedida. Os poucos dias que passaram ali foram vividos de maneira intensa, como se fosse uma outra vida. Sentimentos revelados, conhecimentos adquiridos, poderes novos descobertos. Talvez, o que Eriu havia dito no primeiro encontro deles fosse verdade: se o caminho deles se encontraram deveria existir uma razão maior para tudo aquilo. Talvez fosse destino ou o capricho de uma força superior que tivesse poder sobre a vida dos mortais.

Na pequena cozinha da casa, Harry, Gina, Rony e Hermione estavam tomando o desjejum quando ouviram uma pancada do lado de fora e logo depois um gemido de dor. Os quatro adolescentes concluíram rapidamente: Tonks!

A auror vinha acompanhada de Lupin, os dois em um clima aparentemente tenso.

-Bom dia, gente! - Ela cumprimentou simplesmente, reprimindo um grande bocejo. Voltara a usar os típicos cabelos coloridos e as roupas descontraídas de antes.

Hermione notou que vez ou outra a Auror lançava olhares emburrados para Lupin, que tentava não dar muita atenção para isso, mas visivelmente incomodado.

-Tonks, está tudo legal com você? - A garota perguntou amavelmente, fazendo com que todos á mesa prestassem atenção nela. - Não é que eu queira estar sendo intrometida e nem nada do tipo, mas você não me parece muito bem.

Tonks olhou para Lupin como se dissesse ‘a culpa é sua’.

-Sabe, Hermione, é o seguinte: acho que vocês sabem que aquele probleminha do Remus não se manifesta aqui em Avalon, não sabem?

Harry que parecia estar em um estado de letargia, voltou os seus olhos verde-esmeralda para o casal mais velho que estava sentado à sua frente. Ele achou que acabara de ouvir alguma besteira, pois não estava compreendendo a situação.

-Desculpe, mas eu não entendi... - Ele comentou timidamente, lançando um olhar intrigado à Gina, que estava ao seu lado.

-Ah, o Harry não estava aqui quando a gente ficou sabendo. - Rony explicou. - Ele estava com os Sacerdotes se preparando para o teste.

-Sabendo do que? - Harry estava ficando cada vez mais curioso.

-Bem, Harry, é que aqui eu não me transformei, você sabe, em lobisomem. - O próprio Lupin respondeu. - De algum jeito, a minha licantropia foi neutralizada aqui.

-Uau... Nossa, isso foi... inusitado!

-É, foi bem inusitado - Tonks respondeu e voltou a encarar Lupin. - E eu estou tentando convencer o Remus a ficar por aqui. Acho que o pessoal daqui não se importaria com isso.

-Nymphadora, eu já dis...

-Remus, para de me chamar por esse nome horroroso. - A metamorfomaga parecia irritada. - E eu sei o que você vai dizer, que não pode ficar aqui, porque tem a guerra e blá, blá, blá.

-Nympha... - Lupin respirou fundo. - Você sabe que eu não posso ficar aqui, sabendo que lá fora tem uma guerra explodindo e que eu me comprometi a lutar nela.

-Mas é a sua vida que está em jogo, caramba! - Tonks explodiu, o rosto vermelho de nervosismo. - Pára de querer ser sempre nobre e pensa um pouco em você!

-Lupin, eu acho que a Tonks tem um pouco de razão. - Harry falou, recebendo um olhar de agradecimento da auror. - Olha, já que você não se transforma aqui, porque não aproveita isso, hein?

-Harry, se talvez as coisas estivessem tranqüilas lá fora, eu ficasse mesmo por aqui. - Lupin parecia cansado. - Mas não seria justo. Eu estaria sendo covarde. Muito covarde. Sem contar que tem você, Nympha.

-Como assim? - Ela retrucou, aborrecida.

-Bem, você disse que ficaria aqui comigo, caso eu resolvesse ficar, mas... - Ele tocou a mão da jovem carinhosamente por debaixo da mesa. - Eu não posso deixar que você fique presa em um único lugar. Presa a mim. No começo poderia ser divertido, interessante, mas depois você iria se cansar. Iria sentir falta do mundo lá fora, da agitação da sua vida. Não quero que você anule sua vida por mim.

-Você é um idiota mesmo. - E apesar da frase grosseira, Tonks tinha um sorriso nos lábios. - Mas um idiota que eu amo muito.

Rony revirou os olhos de desespero, quando viu o casal trocar olhares melosos e Gina e Hermione soltando suspiros. Harry apenas riu, mas no fundo, compreendia os motivos de Lupin. No lugar do ex-professor, ele teria tomado a mesma atitude.

Naquele momento, Dagda voltava para a casa, um sorriso bondoso estampado em seu rosto.

-Bem, a Senhora Eriu já está esperando por vocês na margem do lago. - Ele anunciou. - Ela irá conduzir a barca que os levará para fora de Avalon.

Eles assentiram e seguiram Dagda para fora da construção simples.

Gina olhava atentamente para tudo, na tentativa de reter todos os detalhes possíveis. Queria ter certeza de que não havia sido um sonho, nem uma ilusão. Não só pelo fato de ser a mítica Ilha de Avalon, mas por todas as coisas que ela vivera ali e pelas pessoas maravilhosas que conhecera. Mesmo que se passassem mil anos, ela nunca iria encontrar uma pessoa tão especial quanto Eriu.

-Vou sentir falta desse lugar. - a ruiva murmurou, entrelaçando a sua mão na de Harry.

O rapaz se voltou para ela.

-Acho que todos nós vamos sentir, Gina.


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Snape abriu os olhos lentamente, sentindo sua cabeça latejar por causa do feitiço que o deixou desacordado. Na penumbra onde a casa se encontrava, ele não conseguia ver muita coisa, mas foi capaz de ouvir o som de passos baixos se aproximando de onde ele estava caído. Por debaixo das pálpebras semicerradas, viu um vulto de vestes negras se aproximando dele. Aquele brilho prateado na mão era inconfundível. Rabicho.

-Accio varinha! - Snape sibilou rapidamente, assustando Rabicho que não tinha reparado que ele havia acordado, a varinha dele indo parar nas mãos de Snape. - Locomoto Mortis! - e o bruxo com a mão prateada estacou no mesmo local, pois fora atingido com o feitiço da perna-presa.

Snape se levantou, sentindo o seu corpo dolorido. As lembranças do que havia acontecido desabaram sobre ele rapidamente. Morrigan havia sido levada pelos Comensais da Morte até a presença do Lorde Negro e com certeza mandaram Rabicho voltar para completar o serviço.

Pettigrew agitava os braços freneticamente, parecendo apavorado, mas as suas pernas não se moviam, enquanto ele lançava olhares assustados para Snape que parecia furioso e muito, mas muito ameaçador.

-De novo ele mandou você me vigiar, não é, Rabicho?! - Ele falou suavemente, parando em frente ao outro comensal. Depois a voz dele se tornou mais fria e enraivecida. - Porque o Lorde queria a Morrigan? Você sabe?

-E-ela sabe de uma coisa que o Lorde deseja, Snape... - Rabicho gaguejava, olhando para o chão.

-Disso eu já sei, seu idiota! - Snape ergueu sua própria varinha e apontou para o peito de Rabicho. - Mas o que ela sabe, hein? Por que essa informação é tão importante para o Lorde das Trevas?

-Harry Potter está em Avalon e a moça sabe como chegar lá. - Rabicho tentava desesperadamente se mover, sem sucesso. - É por isso que o Lorde queria a moça.

“Até nisso o maldito Potter atrapalha a minha vida”.

Snape estreitou os olhos negros, um ódio descomunal tomando conta dele. Não sabia quem odiava mais: o Lorde Negro por ter levado sua mulher (nesse momento Snape se surpreendeu com esse pensamento) ou Harry Potter, pelo simples fato de ter nascido.

-Avalon?! - Ele murmurou para si mesmo, parecendo surpreso. - Você tem certeza que é Avalon?

-Tenho sim! - Rabicho resmungou. - Milorde convocou alguns Comensais para acompanhá-lo até Avalon. Quer pegar o moleque desprevenido no meio do caminho. Mas é Avalon mesmo, Snape. O Mestre deu Veritaserum para a tal moça e ela disse que o Potter estava lá com os amiguinhos dele.

-Com certeza a Granger e o Weasley. - Snape mal ouviu os resmungos de Rabicho que parecia ofendido por ter sido deixado de lado por Voldemort. Sua mente trabalhava com uma velocidade impressionante. Com um gesto da varinha conjurou cordas que se enroscaram no corpo de Pettigrew, imobilizando novamente o bruxo que já estava se livrando do feitiço do corpo preso.

-Estupefaça! - E o corpo de Rabicho tombou para trás, desacordado.

Snape guardou a varinha de Rabicho dentro do bolso de suas vestes e empunhou a sua varinha novamente, sussurrou - Afflare!

A mesma luz carmesim que envolvera o colar de Morrigan algumas horas antes, voltava a irromper da varinha de Snape. Ela se intensificou por alguns segundos e Snape fechou os olhos, vendo em sua mente o local para onde deveria aparatar.

Com um farfalhar de sua capa, aparatou para o bosque que vira em sua mente, deixando Rabicho amarrado e desacordado para trás.

“Ele que se vire depois”

Ele estava se sentindo no mínimo estúpido, afinal, para qualquer um que visse aquela situação, diria que Snape estava sendo heróico. Talvez fosse isso, mas as intenções não eram nem um pouco nobres. Na verdade era um pouco de egoísmo. Não queria abrir mão do pouco que ele conquistara naquelas poucas semanas. Ele sentia-se lesado por terem levado Morrigan. Ela era somente dele. Sua propriedade.

Ergueu sua varinha um pouco acima da cabeça e deixou que aquela luz carmesim o guiasse. Aquele feitiço era semelhante ao feitiço dos quatro pontos, mas funcionava de maneira diferente. Era mais como um feitiço de rastreamento.

A varinha girou vagarosamente entre a mão do bruxo e apontou para o leste. Respirou fundo e se embrenhou na mata do bosque.


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O grupo prosseguiu no caminho que descia em direção ao lago. Conforme andavam, viram as figuras solenes e sisudas das Sacerdotisas paradas, esperando por eles. Eriu estava prestes a subir na barca, quando todos se sobressaltaram ao ouvir os passos rápidos e fortes de alguém correndo.

Era uma garotinha de cabelos castanhos e rosto sério. Ela tinha o rosto corado de tanto correr e pulou para os braços de Rony, o envolvendo em um abraço apertado.

-Agatha! - O ruivo parecia surpreso, mas de um jeito bom. Ergueu a garotinha nos braços e intensificou o abraço.

As orelhas dele começaram a ficar vermelhas, enquanto Harry e Gina ficavam fazendo piadinhas, dizendo que se Hermione não tomasse cuidado, acabaria encontrando uma forte concorrente ali. Hermione apenas sorria, achando graça no modo como Rony ficava desconcertado com brincadeiras tão bobas.

-Olha só o que eu fiz pra você! - Agatha tirou um pequeno embrulho de dentro do bolso do vestido e entregou a Rony. Os olhos castanhos brilhavam de expectativa, enquanto via o rapaz abrir o embrulho. - Você me disse que não gostava de jogar xadrez e perder a sua rainha. Então eu pedi para o Dagda me ajudar a entalhar na madeira uma rainha pra você.

Rony parecia emocionado. Abraçou a garotinha outra vez e lhe deu um beijo estalado no rosto, gesto que foi imitado por Hermione.

-Bem, agora nós temos que ir, certo? - Hermione se abaixou um pouco, ficando na mesma altura que Agatha.

-É, amiguinha. Agora você já sabe o que fazer quando não estiver com vontade de brincar com aqueles nanicos, viu. - Rony abriu um sorriso, ao ver o expressão exasperada de Hermione. - Não se esqueça do que eu te ensinei e... -E falando bem baixinho, acrescentou. - dê uma bela surra no xadrez no Dylan por mim, ok?

Quando finalmente eles conseguiram se despedir de todas as pessoas que estavam na beira do lago, subiram nas barcas que já estavam preparadas para eles.

Na primeira barca, Eriu se postou na proa, de pé. A Grã-Sacerdotisa parecia cansada e sisuda. Usava as vestes escuras da Grande-Mãe no seu disfarce de maga, parecendo completamente diferente da noite anterior, onde ela irradiava poder e juventude de uma maneira exuberante. Juntamente com Eriu, Harry e Gina também se posicionaram naquela barca e a outra ficou para os demais.

Aos poucos, as semelhantes barcas foram se voltando para o interior do lago. Deslizavam rapidamente pela sua superfície tranqüila, enquanto os primeiros raios de sol daquela manhã começavam a despontar ao longe.

Enquanto Eriu invocava as brumas, o ar parecia mais frio e pesado. A Grã-Sacerdotisa elevou os braços acima da cabeça, fazendo com que as pesadas mangas de suas vestes deslizassem até o cotovelo. Concentrando-se na palavra de Poder, sentiu o seu corpo se inundar com uma magia tão palpável, que era quase visível aos olhos dos demais. E apesar do pequeno grupo de bruxos já ter presenciado aquele momento, ainda era impressionante o modo como as Sacerdotisas de Avalon mudavam de atitude, parecendo altas e amedrontadoras. Era magia, mas uma magia muito mais antiga e venerável.

A Grã-Sacerdotisa voltou a abaixar os braços trazendo com eles as brumas que pairavam sobre as barcas. Manteve a postura rígida e os olhos fechados, sentindo que a cerração aumentava, as brumas os envolvendo. Continuaram deslizando rapidamente, até que finalmente foram capazes de ver outra vez um corajoso raio de sol penetrar em meio a cerração e iluminar a outra margem do estranho lago, onde já era visível um bosque antigo e os espinheiros que ficavam na sua margem. Estavam fora de Avalon.

Os homens pequenos e morenos que conduziam as barcas ajudaram Eriu a desembarcar, quando eles finalmente chegaram na margem do lago. Com um longo suspiro, parecia que Eriu tinha voltado a si, pois se voltou para os outros e esboçou um sorriso.

-Vou acompanhar vocês até o local onde Morrigan os encontrou. - Ela falou, enquanto caminhava em frente ao grupo. - Não quero que vocês se percam novamente.

Uma imagem surgiu novamente na mente da jovem Weasley. Ela viu as figuras encapuzadas caminhando no bosque, tendo à sua frente uma jovem de cabelos negros e desalinhados.

Gina sacudiu a cabeça levemente, tentando afastar aquela visão de si, mas parecia que era forte demais, real demais, pois, por mais que ela tentasse fazer com que parasse, um sentimento ruim e negativo se apoderava dela.

-Gina, você está ok? - Foi Hermione quem perguntou.

“Essa aí não deixa escapar nenhum detalhe mesmo”, a ruiva sorriu fracamente, tentando afastar aquela imagem de si. Talvez ela tivesse se impressionado demais com aquele sonho.

-Sim, Mione, está tudo ok. - Sorriu mais uma vez, mas este sorriso não era muito convincente.

A ruiva se afastou um pouco dos outros e caminhou a passos largos, andando ao lado de Eriu que liderava o grupo. Ela não se sentia muito bem. Estava agoniada, com uma angústia estranha e parecia que a presença de Eriu diminuía um pouco essa sensação ruim. Mas parece que a Grã-Sacerdotisa também partilhava daquele estado de espírito, pois assim que Gina ficou ao lado dela, as duas trocaram um olhar de entendimento.

-O que acontece, criança? - A mulher mais velha perguntou, deixando o grupo um pouco distante. Falavam baixo, evitando chamar a atenção dos demais. - Você não me parece muito bem hoje. Teve pesadelos outra vez?

-Tive sim, Eriu.

Eriu parecia abatida. O rosto estava pálido e olheiras fundas e escuras estavam presentes em seu rosto. E apesar de ser uma mulher mais velha e experiente, além de ser a Grã-Sacerdotisa de Avalon, resolveu partilhar um pouco daquele peso. Uma Sacerdotisa também tinha que saber o momento de compartilhar a sua dor.

-Eu também tive pesadelos, Gina. Sonhei a noite inteira que minha irmã estava ferida e infeliz, sofrendo na mão de pessoas horríveis.

Gina estacou no lugar onde estava.

-Eriu, isso não é possível! - Gina exclamou parecendo horrorizada.

-Como assim?

-E-eu também sonhei com a Morrigan. Sonhei que ela estava nas mãos de Voldemort e que ela estava conduzindo os Comensais da morte até Avalon.

Gina olhou para trás, vendo os outros caminhando de maneira tão despreocupada.

-Eu achei que tivesse sido apenas um pesadelo estranho, não achei que estivesse realmente acontecendo. - Gina balbuciou e depois procurou o olhar de Eriu. - Isso pode ter sido apenas um pesadelo, não é? Não é possível que Voldemort tenha encontrado a Morrigan lá fora. É coincidência demais...

Eriu respirou fundo e tentou manter uma postura rígida, tentando a todo custo esconder os seus sentimentos e preocupações. Qualquer palavra proferida de maneira errada poderia deixar Gina em pânico. Talvez aquilo fosse uma premonição. Gina não estava preparada o suficiente para ter visões premonitórias tão fortes assim. Ou será que estava?

Mas bem lá no fundo, Eriu sabia que aquilo poderia muito bem acontecer. Não havia sido à toa que ela tivera pressentimentos tão ruins a respeito da saída da irmã caçula de Avalon.

“Avalon”

Se a premonição de Gina estava correta, Avalon estava em perigo. Se Voldemort tentasse entrar na Ilha Sagrada por si só, ela nem se preocuparia, mas ele tinha uma Sacerdotisa consigo. Mesmo sabendo que Morrigan não seria capaz de abrir a passagem para a entrada do Lorde Negro, aquilo era muito preocupante. Morrigan era tão jovem ainda, tinha tanta vida pela frente.

Será que a Deusa exigiria a vida dela em sacrifício para a Segurança de seu Santuário?

Mas os pensamentos de Gina e da Grã-Sacerdotisa foram interrompidos, ao ouvirem o ruído seco de um galho estalando no chão. Ruído produzido por passos, eles concluíram rapidamente.

Todos empunharam suas varinhas (exceto Eriu) e apontaram na direção de onde vinha o ruído. Harry e Lupin tomaram a dianteira, enquanto Tonks verificava a retaguarda.

Gina olhava adiante, apreensiva, mas não conseguia ver muito além, por causa da sombra da copa das árvores. Aquele sentimento ruim se intensificando, mas somado a um calor estranho, o mesmo calor que sentia quando duelava com alguém.

-Petrificus Totalus! - Harry falou, apontando para o meio das árvores.

O baque surdo de um corpo caído foi ouvido. Todos se precipitaram para o meio da clareira de onde o som tinha vindo.

-Gente, vamos tomar cuidado, pode ser perigoso! - Hermione olhava ansiosa para frente, tentando ver o que Harry tinha atingido.

-Será que é uma emboscada? - Rony franziu a testa. Com suas pernas longas chegou facilmente ao lado de Harry e o ultrapassou. - Mas o que diabos...?

-O que foi Rony?

Com o máximo de cautela possível, os outros se aproximaram rapidamente do local onde Rony estava. Viram uma pessoa usando vestes negras caída de qualquer jeito no chão. O corpo estava petrificado, mas os olhos moviam-se alucinadamente. Os olhos que eram sempre frios e irônicos, agora tinham um brilho febril e furioso.

Harry se aproximou do corpo e Gina ficou assustada ao ver como os olhos dele mudaram de um verde límpido para uma cor escura e sombria. Na verdade não era a cor que a assustara, mas o brilho de ódio que estava estampada neles.

-Snape! - Ele vociferou com ira, a varinha que estava em sua mão direita soltando faíscas vermelhas sem que Harry tenha pronunciado um único feitiço.

-O que esse cara tá fazendo aqui? - Tonks parou ao lado de Lupin, parecendo surpresa.

Todos formaram um círculo ao redor do bruxo caído, seis varinhas apontadas para ele.

-Veio aqui pra morrer, não é, Snape?! - Harry parecia ameaçador.

Eriu olhou para Harry e se assustou com o que viu. Aproximou-se dele e tocou o seu ombro gentilmente, fazendo com que ele se voltasse para ela.

-Você vai ter coragem de matá-lo assim? Sem ter como se defender? - Ela perguntou e o modo como o fez, deixou todos surpresos.

-Mas foi esse maldito quem matou Dumbledore!!! - Rony argumentou.

-Eu concordo com a Eriu! - Hermione falou, recebendo um olhar irritado tanto de Harry quanto de Rony. - Harry, por mais que ele tenha feito aquilo, você não tem o direito de fazer o mesmo. É isso o que te faz diferente dos Comensais da Morte e de Voldemort! Ah, e, por favor, Rony, pare de ser idiota e ter medo desse nome.

O ruivo resmungou alguma coisa que os outros não compreenderam.

-O que você acha, Lupin? - Harry perguntou para o seu ex-professor, que parecia taciturno, apenas observando a situação.

Lupin pigarreou algumas vezes, o rosto tenso e sombrio.

-Uma vez você me impediu de matar uma pessoa, simplesmente por vingança. - Ele falava lentamente, os olhos pregados em Snape. - E hoje eu vejo o quanto você estava certo. Não acho que Dumbledore ficaria feliz em ser vingado desse jeito.*

-Eu também acho. - Tonks se aproximou e tirou a varinha da mão do Snape petrificado. - Esse camarada aqui vai passar umas boas férias em Azkaban. Talvez ele nunca mais volte de lá.

-O que será que ele estava fazendo aqui? - Gina tentava compreender o que estava acontecendo. Era muita coisa ao mesmo tempo: primeiro aquela premonição, depois a aparição de Snape.

-Deixem-o falar... - Eriu lançou um olhar penetrante à Snape, que tentou desviar o olhar sem sucesso. - Ele pode ter uma informação útil a vocês.

-Finite Incantatem! - E Snape conseguiu se mover novamente, lançando um olhar de ódio a todos os que estavam ao seu redor.

-Então, o grande Potter não sabe o que o aguarda, não é? - Snape falava com voz baixa e cheia de ironia. - Você que sempre se achou inteligente e sagaz, nem imagina o que esteja por vir...

A varinha de Harry tremeu em sua mão e faiscou novamente.

-O que foi? Vai lançar uma Maldição Imperdoável em mim? - Um sorriso de deboche se espalhou no rosto pálido e alucinado de Snape. - Você é um bruxo tão medíocre que nem é capaz disso.

-Fala logo o que você quer! - Harry falava pausadamente, tentando manter o seu autocontrole. A menção do nome de Dumbledore foi o suficiente para impedi-lo de lançar uma maldição em Snape, mas ele não sabia se seria capaz de suportar as investidas irônicas dele.

Snape fechou a cara, lembrando-se do motivo que o levara até ali. Pouco importava a vida do maldito Potter e seus amiguinhos estúpidos. Ele era egoísta, sim, ele era, pois a única coisa que importava era trazer Morrigan de volta, nem que o resto do mundo se explodisse.

-Voldemort está atrás de você. - Snape falou seriamente, o sorriso de deboche dando lugar a uma expressão de preocupação no rosto. - Ele descobriu que você estava em Avalon e tem meios de chegar até lá.

-Ele pegou a Morrigan e está nesse bosque também. - Como se fossem uma única pessoa, todos se voltaram para Gina, que havia dito aquelas palavras. - E também tem vários Comensais da Morte com ele.

-Exatamente, Weasley!

Harry olhou com espanto para a namorada.

-Como você sabe disso, Gina?

-Eu sonhei com isso nessa madrugada, mas não achei que fosse um sonho premonitório. -A ruiva respondeu.

-Então a Weasley tem tido sonhos premonitórios? - O sorriso irônico voltou a aparecer no rosto de Snape. - Desse jeito vai roubar o lugar da Trelawney.

-CALA A BOCA, SEU NOJENTO!!!! -Rony gritou, indo em defesa da irmã.

-Deixa, Rony, eu não me importo com isso. - Gina falou calmamente. - E, por favor, não grite. Nós não podemos chamar a atenção.

-Ah, sinto muito minha cara, mas isso vocês já conseguiram. - Uma voz fria falou, com uma nota de divertimento na voz.

-Morrigan! -Eriu gritou.

Todos desviaram a vista de Snape e viram que estavam cercados por, no mínimo, vinte figuras encapuzadas e de vestes negras. Harry ergueu o rosto e seus olhos verdes pousaram em uma figura alta e esguia, que apontava a sua varinha para uma jovem de cabelos negros e desgrenhados. Era Lorde Voldemort.

As íris verdes e vermelhas se encararam com fúria, uma luta silenciosa travada através do olhar...



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*Referente ao livro Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, cap. 19, pág, 302.


Sobre o capítulo: Merlin, merlin, merlin. Como foi difícil esse capítulo. Bleergh!!!! Reescrevi ele umas três vezes, sem contar que estava com bloqueio.
Bem, no meu roteiro a cena do duelo dos comensais com Harry e Cia seria nesse capítulo, mas como eu não sou mto boa pra cenas de ação, o capítulo demoraria mais, então resolvi deixar para o próximo. Não vou dizer que vou escrever ele rapidinho, pois não quero cair na mentira, mas afirmo que vou me esforçar para ser um capítulo bom. Não gosto de postar um capítulo ‘mais ou menos’. Enfim, me desculpem pela demora.
Até o próximo e muito, mas muito obrigado pelos comentários. Adoro vocês =)

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