A Idade das Trevas



“Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem"
(Mais uma vez - Renato Russo)





Tonks acordou e viu que Danna escovava os longos cabelos castanhos em frente à um espelho de bronze, que ficava pendurado numa das paredes do quarto. A Auror sentou-se na cama e passou a mão nos cabelos despenteados.

-Bom dia dorminhoca, dormiu bem? - Danna disse bem-humorada, ainda de costas para ela.

-Bom dia - soltou um longo bocejo - Dormi muito?

-Não, não, eu estava brincando - Voltou-se para Tonks e pôs as mãos na boca soltando uma exclamação de surpresa.

Tonks arregalou os olhos, também assustada e buscou sua varinha - O que foi?

-O seu cabelo... está azul...

-Ah, é isso? - Tonks relaxou a expressão e deu um grande sorriso maroto - Às vezes acontece quando acordo. Isso é normal comigo. Eu sou uma metamorfoga, sabe. Eu posso mudar a aparência conforme a minha vontade.

Tonks se aproximou do espelho de bronze e fechou os olhos, se concentrando. No lugar dos cabelos curtos, azuis-elétricos, surgiram longos cachos loiro-platinados e os olhos foram clareando até as íris atingirem uma tonalidade azul.

-Uau... - foi a única coisa que Danna conseguiu dizer.

Tonks deu de ombros como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Danna cravou os olhos castanho-esverdeados nela e perguntou:

-Não é estranho você ter um rosto por dia, digo, você sempre está mudando, como têm certeza de como é a sua verdadeira imagem?

Tonks não esperava por isso. As pessoas normalmente se divertiam quando ela se transformava, mas Danna lhe perguntou isso de maneira muito mais profunda, se referindo não só à aparência dela. "Como eu sou de verdade?”.

Tonks recuou alguns passos e sentou-se na cama. Respirou fundo e as madeixas loiras foram aos poucos escurecendo até ficarem castanho-escuro, longos e levemente ondulados nas pontas. Os olhos azuis, também foram escurecidos, chegando a um negro profundo, brilhantes como o céu estrelado.

-E então? - Tonks indagou.

Danna sentou-se ao lado de Tonks na cama e acariciou o rosto da outra.

-Você é tão bonita... Por que fica se escondendo?

-Bonita? Eu? Fala sério, Danna... - Tonks disse, corando. Olhou em volta tentando desviar o assunto, procurou suas roupas e viu que elas haviam sumido - Danna, onde estão minhas roupas?

-Bem, elas foram levadas para lavar. Estavam num estado lastimável... Desculpe, mas realmente estavam.

-Mas... Como é que eu vou sair daqui? - Tonks disse lentamente, temendo a resposta que Danna lhe daria.

A jovem sacerdotisa indicou um baú que ficava aos pés da cama - Pode escolher um vestido. Fique à vontade.

Quem olhasse Tonks diria que ela estava passando mal. Deu um sorriso amarelo à outra e se aproximou do baú.

“Ah, não. Vestido?! Merlin, onde é que eu fui me meter...”




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Lupin acordara cedo naquela manhã. Na verdade, não tinha conseguido dormir muito bem, estava preocupado. Os outros membros da Ordem deveriam estar apreensivos com a demora deles, poderiam achar, na melhor das hipóteses, que haviam sido seqüestrados. Pensou em Molly Weasley e na relutância dela em deixar os garotos o acompanharem. Estava se sentindo imprudente, poderia ter colocado a vida de todos em risco.

Mas o que estava feito não poderia ser alterado e ele sabia que não tinha realmente culpa.

Lavou o rosto, usando uma jarra e uma bacia num dos cantos do quarto que dividiu com Harry, Rony e Dagda. Procurou por suas vestes, mas viu que estas haviam sido substituídas por outras, cor de açafrão, diferentes das que ele costumava usar, sempre velhas e cerzidas.

Harry e Rony estavam ferrados no sono, mas Dagda já havia saído do quarto. Lupin resolveu sair e procurar por ele.

Passou em frente ao quarto de Danna, onde Tonks estava dormindo e seguiu em frente, indo para a cozinha da casa.

Chegando lá, encontrou o sacerdote. Ele estava em pé, colocando a chaleira no fogo. Em cima da mesa, o café da manhã já estava quase pronto, havia pão caseiro, mel e manteiga em abundância.

Aspirou o ar profundamente, sentindo o aroma daquela casa, daquela vida relativamente simples. Soltou o ar lentamente, e a sua sensação era de que estava se libertando de um grande peso.

-Bom dia! - Dagda se voltou para ele, com o seu sorriso característico, sempre tão receptivo. - O que faz acordado tão cedo?

-Bom dia! - respondeu Lupin - Não consegui dormir muito bem essa noite, é difícil acostumar com um lugar novo, sabe.

-Oh sim, compreendo.

O sacerdote fez sinal para que o outro se aproximasse mais e ambos se sentaram à mesa. Dagda serviu uma xícara de chá para Lupin, que o agradeceu sorridente.

-Sabe, Dagda, eu ainda custo a acreditar que estou em Avalon. Pensei que quando acordasse nessa manhã iria perceber que tudo havia sido somente um sonho e que eu estaria de volta à minha rotina.

-Eu sei bem como é essa sensação. Quando cheguei aqui também me senti da mesma forma.

-Eu pensei que você tivesse nascido aqui. - Lupin parecia intrigado - De onde você é, então?

-Eu também sou inglês, nasci em Londres. -Vendo a expressão ansiosa do outro homem, Dagda completou - Você deve estar se perguntando o que um londrino está fazendo aqui em Avalon, não é mesmo?

-Bem, não nego que fiquei curioso - Lupin disse.

-Acho que tudo começou na época em que comecei a estudar na França. Os meus pais acharam que era melhor eu estudar fora do país, diziam que eu tinha mais chance de ser bem-sucedido e que os bruxos franceses eram mais requintados. Ainda nos tempos de escola, conheci Katerine, mãe de Danna. Namoramos por longos anos e quando terminamos os estudos ela voltou para Londres comigo. Não éramos ricos, mas eu, como historiador, consegui um bom emprego.

“Nos casamos e eu achei que era o homem mais feliz do mundo. Quando soube que seria pai, então, foi simplesmente a glória para mim. Mas nem tudo são flores, meu amigo. Katerine tinha problemas cardíacos e morreu no parto”.

-Se você quiser não precisa me contar, Dagda. Deve ter sido doloroso para você...

-Ah sim, meu amigo, foi muito doloroso. Mas depois de um tempo a dor cessa e só as boas lembranças restam. E foi isso o que me fez prosseguir.

“Quando Katerine faleceu, eu praticamente enlouqueci. Deixei Danna aos cuidados da avó materna na França e saí pelo mundo. Não sei o que se passava em minha cabeça, mas eu buscava a qualquer custo um sentido, tinha ânsia em saber se existia alguma razão para tudo o que fazemos. Sentia-me vazio sem ter a mulher que amava ao meu lado, então, procurei algo que me completasse. Tentei de tudo: estudos, trabalho e até mesmo a religião.”

Dagda fez uma pequena pausa e sorveu um pouco de seu chá.

“Freqüentei todos os tipos de igrejas, pratiquei todos os tipos de ritos. Certa vez me disseram que algo místico estava presente na capela de Glastonbury. Eu estava tão ávido por respostas que não pensei duas vezes antes de ir para lá, mas acabei me perdendo na Ilha e cheguei à Avalon pelos caminhos ocultos. Fui recebido pelas sacerdotisas daqui e como se fosse envolvido por uma paz infinita, senti que havia encontrado o meu lugar.

“Voltei à França para buscar minha filha e Eriu, que na época ainda não ocupava o cargo de grã-sacerdotisa, me deu total apoio, ensinando-me como entrar e sair da Ilha. E desde então tenho vivido aqui. Dediquei minha única filha Àquela que me acolheu de braços abertos, que trouxe alívio às minhas mágoas e não me arrependo disso”.

-Sua filha sabe dessa história, digo, ela nunca teve vontade de conhecer a vida lá fora?

-Eu nunca escondi a verdade de Danna, mas ela prefere se manter aqui. E fico feliz com isso. O mundo lá fora tem sido demasiado cruel com as pessoas.

-Isso é verdade - Lupin concordou.

Nesse momento entravam na cozinha Rony e Harry, ainda muito sonolentos.

-Bom dia! - disseram os dois em uníssono.

Dagda pigarreou e Lupin notou que o sacerdote disfarçava uma lágrima furtiva.

-Bom dia, rapazes! - Lupin disse - Dormiram bem?

Rony resmungou qualquer coisa indecifrável e parecia um pouco rabugento. Lupin olhou para Harry, buscando alguma resposta. Harry deu uma piscada marota e, enquanto sentava-se ao lado de Lupin à mesa, apontou para as vestes que Rony usava. Apesar de serem muito bonitas, ficaram um pouco curtas no ruivo. Lupin retribuiu a piscada e ficou calado. Provocar um Weasley mal-humorado não era nada agradável.

-Harry, você sabe se a Tonks já acordou? - Lupin perguntou.

-Bem... - Harry coçou a nuca - Acho que sim. Escutei vozes vindas do outro quarto enquanto passávamos, não é Rony?

-Uhum...- Foi a única resposta de Rony, enquanto mordia um pedaço generoso de pão.

-É estranho... A Tonks não costuma demorar a se vestir. - Lupin deu de ombros e sorriu - Vai ver ela está conversando com Danna.

-Calma, Remus... Pode ter certeza que daqui ela não vai fugir - Dagda disse - Ela e Danna se deram muito bem, ambas são jovens, possuem quase a mesma idade. Devem ter algo em comum.

-Quer dizer que é só eu demorar um pouquinho para você começar a sentir minha falta, Remus? Nossa, agora eu fiquei emocionada!

Lupin achou estranho ao ver que, de repente, Rony parara de comer e tinha o queixo levemente caído. Quando escutou aquela voz que, para ele era inconfundível, voltou-se em direção ao som e compreendeu a cara abobada do ruivo. Se não soubesse que as únicas mulheres na casa eram Danna e Nymphadora, poderia passar ao lado de Tonks sem que a reconhecesse.

Emoldurando o rosto em forma de coração, Tonks usava longas mechas castanho-escuros, que caiam em cascatas onduladas até a metade das costas.

Era estranho vê-la daquele jeito. No lugar do jeans rasgado no joelho e da camiseta colorida das Esquisitonas (a melhor banda bruxa, na opinião de Tonks) ela usava um vestido cor de vinho, de tecido leve, que delineava o seu corpo atlético e que a deixava...

“Decididamente sedutora”, foi o que Lupin pensou ao vê-la daquele jeito.

Tonks deu um bom dia animado a todos, sentou-se ao lado de Lupin e beijou-o rapidamente.

Lupin se aproximou dela e cochichou em seu ouvido - Você poderia usar essa aparência mais vezes. Eu adorei...

Ela sorriu, daquele jeito brejeiro que Lupin tanto adorava - Jura? - e, sussurrando, de modo que só ele a escutasse, disse - Bem, isso não combina muito comigo, mas às vezes é bom mostrar o seu verdadeiro rosto.

-Você quer dizer que essa é a sua verdadeira aparência? - ele disse surpreso.
-Uhum... Agora, será que você poderia me passar o pão? Eu estou morrendo de fome...




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Hermione acordara disposta naquela manhã. Lembrava de poucas coisas da noite anterior: Rony a levando para o quarto na casa da Grã-Sacerdotisa de Avalon, Gina tentando obriga-la a descansar em silêncio (Hermione insistia em tagarelar sobre supostas teorias para a existência de Avalon) e Morrigan lhe dando uma beberagem para fazer a febre baixar.

Quando levantou, ainda tinha a cabeça um pouco zonza, mas nada que não fosse curado pelo ar fresco da manhã. Notou que vestia uma bonita camisola branca, com bordados nas mangas. Enrolou-se num xale e saiu em busca de Gina, que não estava no quarto quando ela acordara.

A pequena casa de taipa estava silenciosa, exceto pelo canto suave dos pássaros lá fora. Cautelosamente, procurou Gina em todos os cômodos da casa. Mas nem ela e nem ninguém estavam ali. Voltou em direção ao quarto e viu que existia uma porta nos fundos da casa que dava para o bosque de macieiras.

“Talvez Gina esteja lá fora, com Morrigan”

Conforme se aproximava do pequeno bosque, alguns sons indistintos tornavam-se audíveis. Movida pela curiosidade, Hermione foi em direção ao som, cuidadosamente, para não ser notada.

Esgueirando-se por entre as árvores em flor, ela conseguiu encontrar o causador dos sons. Um jovem esbelto, um pouco mais alto do que ela própria empunhava um arco e direcionava suas setas à um alvo, preso numa das árvores.

O rapaz era muito belo, cabelos negros e brilhantes, o rosto sério tendo sua atenção totalmente voltada para o alvo à sua frente. Era impressionante a destreza do rapaz. Tinha uma pontaria que faria qualquer artilheiro de quadribol morrer de inveja.

Num momento de descuido, Hermione acabou pisando num galho seco que produziu um estalo alto o suficiente para despertar a atenção do rapaz. Ele voltou-se rapidamente na direção de Hermione, apontando o seu arco para ela.

-D-desculpe-me, não tinha a intenção de atrapalhar, eu...

O rapaz sorriu ao ver Hermione tão desconcertada. Assim, sorrindo ele parecia ainda mais belo, os olhos cinzentos brilhando tanto quanto os raios de sol daquela manhã clara.

-Não precisa se desculpar, senhorita. - ele foi se aproximando dela. Tinha o andar semelhante ao de um felino, astuto e ainda assim gracioso - Quem deve pedir desculpas sou eu. Te assustei, não foi?

-N-não, imagina... E, por favor, não chame de senhorita. Meu nome é Hermione. - estendeu a mão para ele, para cumprimenta-lo. Ele segurou a mão dela delicadamente e aproximou-a dos seus próprios lábios depositando um beijo suave. Hermione corou e puxou a mão rapidamente.

-Muito prazer, Hermione. Meu nome é Dylan. - sentou-se num tronco de árvore próximo do lugar onde estavam e fez sinal para que Hermione o acompanhasse. -Você é uma das pessoas que Morrigan trouxe para a ilha, não é?

-Bem, basicamente é isso. Foi tudo tão rápido que nem tive tempo de pensar em tudo o que aconteceu - Hermione disse pensativa.

-Eu sempre tive vontade de conhecer o mundo, Hermione, mas minha mãe sempre me manteve aqui, com o coração em Avalon. Dizia que era essencial eu conhecer os nossos ensinamentos e que, depois disso eu poderia pensar em sair da ilha.

-Bem, não sei te dizer se a vida lá é melhor do que é aqui. O mundo tem estado muito estranho, Dylan. Existe tanta maldade lá, que as coisas bonitas passam quase despercebidas.

-Você acredita nisso? Nessa coisa de bem e mal? - Dylan perguntou.

-Claro que acredito. -Hermione respondeu sem pestanejar - Já vi e vivi certas situações que me fazem ter certeza que o mal realmente existe. Não compreendo - ela olhou intrigada para Dylan - o motivo da sua pergunta.

-Veja bem, Hermione, bem e mal não existem. Eles são apenas um ponto de vista...

-Como assim, não existem? - ela o interrompeu bruscamente - Dylan, você quer dizer que o mal não existe?

-Basicamente, sim. Eu acredito apenas que existem pessoas ambiciosas o suficiente para passarem por cima dessas regras de conduta. Tudo depende da sua opinião...

-Você é esquisito! - Hermione sentenciou. - Um dia desses, eu conto para você um pouco das coisas que eu vi lá fora e, então, quem sabe, você não muda a sua opinião...
Dylan sorriu e, de repente, olhou para o alto. Um corvo negro voava em círculos acima do lugar onde eles estavam.

-Morrigan está por perto - Dylan disse e apontou para o céu.

Hermione não compreendeu. Morrigan era um corvo, uma animaga? Mas logo as suas dúvidas foram respondidas. O corvo desceu rapidamente e voou em direção à casa de Taipa da Senhora de Avalon.

O pássaro negro pousou delicadamente no ombro de Morrigan e beliscou amigavelmente sua orelha. Gina vinha logo atrás, usando um vestido azul claro e tendo os cabelos ruivos presos numa tira de couro.

Foi então que Hermione se deu conta de sua situação: estava de camisola conversando com um rapaz que acabara de conhecer sobre questões de moral. “Você só pode estar ficando louca, Hermione”

Passos decididos levaram Gina em direção à Hermione.

-O que você pensa que está fazendo aqui fora? - Gina indagou, colocando as mãos na cintura. - Você deveria estar na cama, descansando para nós podermos ir embora.

-Quando acordei estava sozinha na casa e acabei saindo para procurar você. Chegando aqui, acabei encontrando o Dylan e ficamos conversando. Falando nisso, onde você estava, Gina?

-Morrigan me levou para colher maçãs. Os bosques daqui são lindos!

-Bem, você ainda tem de tomar o seu remédio da manhã. Pode estar se sentindo bem agora, mas a febre pode voltar e você ainda tem algumas manchas claras pelo pescoço - Morrigan disse, olhando para Hermione. Depois voltou o seu olhar para o rapaz - Dylan, sua mãe quer vê-lo. Ela disse que você tem ido muito pouco à casa dela.

-Sim, titia! - Dylan respondeu, de maneira zombeteira.

-Ora, pare com isso! Você sabe que eu não gosto que me chame de “tia”.

-Está bem, Morrigan. Depois irei ter com minha mãe.

Dylan recolheu suas coisas e se despediu das moças.




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Após o almoço daquele dia, Harry e Rony sentaram-se à beira do lago, embaixo de uma aveleira, para conversarem. O lugar era tão calmo e pacífico que Rony caiu num sono despreocupado.

Harry ficou imerso em seus próprios pensamentos, tentando compreender o mistério daquele lugar. Enquanto todo o mundo estava apavorado, temendo a ira de Lorde Voldemort, Avalon vivia na mais absoluta paz, tendo apenas como preocupação a sua própria sobrevivência.

A brisa vinda do lago acariciava os seus cabelos revoltos e lhe dava uma sensação de conforto, como se estivesse sendo embalado.

Escutou sons de passos, vindos da outra extremidade do lago. Achou que estivesse sonhando, diante da visão que teve.

Gina estava mais linda do que nunca. Usava um longo vestido azul claro, com mangas justas até o cotovelo e que depois alargava, cobrindo os pulsos e boa parte das mãos. A ruiva tinha um caminhar tão suave, que parecia deslizar sobre a relva verde das encostas do lago.

“Como posso me afastar dela, se a cada dia que passa ela se torna mais indispensável para mim?”

Gina, com um sorriso sereno se aproximou do local onde Harry estava e sentou-se ao lado dele. Ficaram um bom tempo calados, apenas observando a superfície do lago, que vez ou outra tinha a sua calmaria perturbada pelo salto de um peixe.

-Não é estranha a maneira como as coisas acontecem, Harry? - Foi Gina quem quebrou o silêncio. - Um dia estamos saindo de casa para se preparar para a guerra e, de repente, BUM, viemos parar numa ilha que todos julgavam estar perdida. Isso não parece ser esquisito?

-Gina, acho que já nos aconteceram tantas coisas estranhas que isso é o que menos me preocupa. - a voz do moreno parecia distante, enquanto ele mexia distraidamente na grama.

-E o que te preocupa? - Gina voltou-se para ele, sentindo-se mergulhar, nos profundos olhos verdes de Harry.

-Me preocupa o fato de não ser capaz de corresponder às expectativas dos outros. De não conseguir fazer o que tem de ser feito. - Parou por um momento e segurou uma das mãos de Gina. - Me preocupa o fato de não conseguir ser capaz de deixar a sua vida em segurança. Você sabe que Voldemort vai perseguir todos aqueles a quem amo. Primeiro foram os meus pais, depois Sírius e, por último, Dumbledore. Tudo isso por causa de uma profecia estúpida!

-Você-sabe-quem persegue todos aqueles que não estão dispostos a segui-lo. Independente da relação que nós temos, eu estaria correndo riscos. E se for para correr riscos, eu prefiro isso estando ao seu lado!

Harry abraçou a ruiva, enterrando o seu rosto na curva do pescoço dela, aspirando o perfume doce de sua pele.

-Eu senti tanto a tua falta, Gina. - A voz dele saiu abafada.

-Eu também senti tua falta, Harry.

Ele se afastou do abraço e descansou a cabeça no colo dela. Gina começou a acariciar delicadamente os cabelos negros de Harry, deslizando os dedos levemente sobre a cicatriz em forma de raio.

-Eu queria tanto ser um cara normal. Preocupar-me com coisas banais, como quadribol, por exemplo, ou então, ficar com a minha garota, fazendo planos para o futuro. Você não merece ficar com um cara tão complicado como eu, Gina

-Ei, de onde você tirou essa idéia estúpida, Harry. - Gina parou de acariciar Harry e forçou-o a olhar para ela. - Talvez, se você fosse um cara normal, eu não iria gostar tanto de você. Você poderia ter sido tão obtuso quanto o Dean Thomas, por exemplo.

-Hmm, sei... - ele olhou desconfiado para ela e ergueu uma das sobrancelhas - O Dean até poderia ser obtuso, mas bem que você namorou ele, né?!

-Ai, Harry, seu bobo! - ela gargalhou - Se eu fiquei com o Dean foi para te esquecer. Mas, por favor, não vamos ficar conversando sobre essas coisas agora, não é? Eu vim aqui para trazer um recado.

-Recado? Recado de quem? - Harry perguntou.

-A Senhora Eriu nos convidou para jantar na casa dela. E eu vim aqui para avisar vocês. Onde estão os outros?

-O Rony apagou depois do almoço - Harry apontou para o amigo que estava deitado, não muito distante dali. -Lupin e Tonks estão na casa de Dagda.

Gina fez menção de levantar-se, mas Harry a reteve em seus braços. - Onde a senhorita pensa que vai?

-Ora, eu vou dar o aviso para o Lupin e para a Tonks. - Mas vendo o sorriso cheio de segundas intenções de Harry, ela deu de ombros - Bem, eu não preciso ir exatamente agora, não é Harry?

Harry não disse nada. Apenas se aproximou, roçando os seus lábios nos dela, provocando pequenas ondas de satisfação sobre o seu corpo. Aos poucos os lábios foram se encontrando, buscando da melhor forma possível diminuir um pouco da saudade que sentiam. Finalmente, o animalzinho no peito de Harry se sentiu satisfeito e, interiormente, Harry explodia de alegria.



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Quando o manto negro da noite caiu sobre a Sagrada Ilha de Avalon, Harry, Rony, Lupin, Tonks, Gina e Hermione se reuniram ao redor da mesa da casa da Grã-Sacerdotisa.

Eriu não usava as habituais vestes de sacerdotisa, mas um vestido claro com um belo bordado no decote canoa, dando a impressão de que a mulher era mais jovem do que realmente era. Recebeu todos carinhosamente, como uma matriarca que recebe seus filhos para uma ceia em família.

Morrigan, também estava presente. Ela usava um vestido negro, muito parecido com as vestes de sacerdotisa, mas trazia um colar com uma única pedra, Adulária, mais conhecida como pedra-da-lua.

Para a ceia havia peixe assado - pescado no lago - e temperado com ervas aromáticas, vários tipos de frutas e vinho à vontade. Antes que o jantar fosse servido, Eriu ergueu uma bela taça de ouro e a encheu de vinho até a borda. Murmurou uma benção e passou a taça às mãos de Morrigan, que estava de pé ao lado da Senhora.

Morrigan tomou um pequeno gole da bebida e, como não estava habituada a ingerir bebidas alcoólicas (as sacerdotisas de Avalon bebem apenas a água do poço sagrado), sentiu a bebida caindo no estômago vazio, provocando uma certa sensação de euforia.

Após isso, passou a taça na mão de todos os que estavam presentes na ceia. Quando chegou a vez de Lupin, Morrigan passou a taça para as mãos dele e o encarou longamente, prolongando o toque de suas mãos mais do que o necessário.

Lupin sentiu-se corar, mas não sabia se era por causa da bebida ou se era por causa daquele olhar intimidante. Tonks pareceu não perceber, pois conversava animadamente com Gina e Hermione. E Lupin sentiu-se aliviado por isso.

-Senhora? - Hermione elevou um pouco a voz, chamando a atenção de todos que estavam à mesa.

-Minha querida, já disse que não precisa me chamar de Senhora. Apenas Eriu!

Hermione se desculpou e olhou atentamente para Eriu -Bem, Eriu, eu sei que os outros vão implicar comigo por causa da minha curiosidade, mas eu realmente gostaria de saber como Avalon conseguiu sobreviver durante tanto tempo. Antes eu seria capaz de apostar toda a minha coleção de livros que Avalon era apenas uma lenda!

Rony olhou desesperado para Harry e como resposta recebeu apenas um sorriso maroto. “Não... Agora já é tarde! Ela vai dar corda à curiosidade de Hermione Granger!”

Eriu pareceu surpresa com a pergunta de Hermione. Refletiu por alguns momentos e sentiu que todos a olhavam com interesse, inclusive Morrigan, que estava sentada ao lado esquerdo de Eriu à mesa. A grã-sacerdotisa respirou fundo e começou o seu relato:

-Essa é uma questão realmente complicada. Pode ser que algum detalhe tenha se perdido durante os anos, mas vou contar tudo o que sei a respeito disso, sim?

“No começo da Idade Média - época das Trevas, Avalon era considerada um local de busca pelo conhecimento. Muitos homens, inclusive padres cristãos, aprenderam a sabedoria dos druidas e conviviam em harmonia com os habitantes de Avalon. Mas conforme o cristianismo foi crescendo, a doutrina religiosa dos padres foi se tornando cada vez mais rigorosa, considerando a Deusa e as suas sacerdotisas como o próprio demônio.”

“Nós nunca nos importamos com o que os cristãos pensassem de nós, na verdade, nós sempre respeitamos a sua crença, coisa que eles não sabiam fazer. Os padres conseguiram obter um poder sobre a consciência dos homens tão grande, que aqueles que um dia acreditaram no poder e na magia vinda da Grande Mãe, começaram a negar sua existência.”

“Algumas pessoas que viviam aqui foram embora de Avalon e foram poucos os que restaram aqui, tentando fazer com que os ensinamentos não fossem perdidos. A época da Idade Média foi terrível. Os que tinham o dom da magia tiveram de se ocultar de modo que os outros (popularmente chamados de “trouxas”) não os perseguisse.

-Mas, os trouxas não têm como nos ferir realmente, tem? Os bruxos da época poderiam usar algum tipo de feitiço para inibir qualquer tipo de ameaça que os trouxas fizessem. - Rony disse.

Hermione olhou admirada para ele e sorriu.

-Sim, mas como eu estava dizendo anteriormente, os padres conseguiram influenciar não só os “trouxas”, mas também os bruxos, fazendo com que alguns destes acreditassem que o seu poder era vindo do demônio.

-Eu acho isso uma grande bobagem - Morrigan disse com violência - Onde já se viu, Bruxos renegando o seu poder por causa de meia dúzia de carolas!

-Morrigan, você tem de compreender que os tempos eram outros. A forma de pensar das pessoas era diferente! - Eriu disse, fazendo com que Morrigan se calasse. - Bem, Avalon passou tempos realmente difíceis. Os poucos que viviam aqui estavam praticamente desistindo de tentar trazer Avalon ao mundo real. Alguns poucos saíram para espalhar os nossos ensinamentos, mas tudo de modo muito sutil.

-Deve ter sido nessa época que Hogwarts foi fundada. - Vendo que as duas sacerdotisas olhavam de maneira curiosa para ele, Lupin explicou - Hogwarts é uma escola para ensinar jovens bruxos.

-Interessante, muito interessante - Eriu disse, sorrindo - As coisas só foram realmente melhorar com a chegada do renascimento. As pessoas ainda mantinham a fé no Cristo muito forte, mas já não se deixavam influenciar pelos padres de maneira tão obsessiva. Os homens estavam muito mais preocupados em buscar a iluminação por si mesmos. Os homens estavam ávidos por conhecimento.

“Com isso, aos poucos, as pessoas começaram a se voltar para Avalon. Novos conhecimentos foram adicionados aos que já possuíamos e uma nova ordem de druidas foi crescendo. De fato, a Deusa não havia nos abandonado. Sei que Avalon não voltará a ser a mesma Ilha das grandes sacerdotisas de outrora como Anna ou Viviane, mas conseguimos manter os nossos conhecimentos da melhor forma possível.”

Hermione bebia cada palavra de Eriu como se fosse a maia rica bebida. Terminado o relato a única coisa que ela conseguiu dizer foi...

-Fascinante!

-Mesmo assim, Avalon está afastada do mundo de vocês. São poucos os que conseguem se aproximar da Ilha e penetrar as brumas que a envolvem.

-Dagda nos disse algo semelhante sobre isso. - Tonks disse - Disse que só os que tivessem o dom da Magia poderiam se aproximar da Ilha...

-O caso de Dagda foi particularmente curioso. Qualquer dia desses, ele lhes contará essa história.

De repente, alguém adentrou o recinto. Um rapaz usando as vestes azuis de druida, trazendo algo embrulhado em linho. O rapaz era Dylan.

-Boa noite a todos. Desculpe-me a demora, Senhora, mas estive trocando as cordas de minha harpa.

-Quer dizer que Dylan vai nos dar o prazer de sua companhia? - Morrigan perguntou, ostentando o seu sorriso felino.

-Não só de sua companhia, mas de sua música também, não é meu filho? - Eriu perguntou, tocando o braço de Dylan.

-Certamente, minha mãe. Como poderia negar um pedido seu? - Beijou a mão da mãe e olhou para os outros. Seu olhar se deteve em Hermione - Hermione, como vai? Sente-se melhor?

-Bem melhor, Dylan. Grata pela preocupação! - Hermione respondeu, sorrindo.

Gina, que conhecia o irmão tão bem quanto a palma de sua própria mão, notou que Rony estava mais rubro do que o normal. Olhava de Mione para Dylan e parecia extremamente irritado.

Dylan sentou-se um pouco afastado da mesa, num banco próximo à lareira. Removeu o linho que envolvia o seu embrulho, revelando uma bela harpa feita de carvalho. As mesmas mãos que tinham uma pontaria certeira para o arco e flecha, também eram delicadas o suficiente para produzir um som harmonioso.

Até mesmo Rony, que nunca foi ligado em música parecia apreciar o som da harpa.

Gina, que estava sentada ao lado de Harry e estava de mãos dadas com este, observava o modo preciso com que Dylan tocava o instrumento. Quando o jovem druida deslizou a mão pelas cordas da harpa, a manga de sua túnica escorregou revelando as tatuagens azuis, em forma de dragão.

Talvez por ela ter se impressionado francamente com a visão, Harry também reparou nos braços do outro jovem e também ficou surpreso. Harry e Gina trocaram um olhar de reconhecimento.

“Seria apenas mais alguma estranha coincidência?”

Eles não saberiam dizer, mas alguém naquele recinto notou o olhar de ambos e se perguntou a razão disso tudo.



N/A: Bem, não vou me alongar fazendo agradecimentos individuais. O capítulo novo não teve tanta ação, mas é de certa forma importante para dar algumas explicações.
Aproveito para agradecer os comentários (Amo todos eles e sempre que posto um capítulo novo fico ansiosa por recebê-los) e também ao meu mais novo colaborador André Arievilo que me presenteou com a capa nova. Obrigada pelo apoio, viu?
Bem, acho que é só.
Beijos no coração de todos e até o próximo! ;)

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