O Diário de Morgana



"Amor dará e receberá
Do ar, pulmão; da lágrima, sal
Amor dará e receberá
Da luz, visão do tempo espiral
Adeus dor..."
(Mantra - Nando Reis)





As únicas lembranças de Gina a respeito dos momentos em que passou na encosta do Poço Sagrado, foi a chegada dela lá e Eriu a orientando para que provasse um pouco daquela água mágica. Após isso, uma grande névoa povoava a sua memória, impedindo que a jovem ruiva se recordasse do ocorrido.

Quando abriu os olhos, viu envolto em sombras, o rosto de Eriu, que borrifava um pouco de água fresca em seu rosto. Piscou repetidas vezes enquanto tentava raciocinar claramente.

-E então, Eriu? Eu vi alguma coisa? - Gina perguntou, ansiosa.

Eriu sorriu ao ver que a garota estava bem e estendeu a mão, ajudando-a a se levantar.

-Venha, vamos descer. - Eriu disse simplesmente.

Gina estava mais confusa do que quando tinha subido o caminho oculto com Eriu. Além de não se lembrar de muita coisa, a Sacerdotisa a olhava de soslaio, com a expressão mais enigmática do que de costume.

Desceram tão silenciosamente, que a ruiva era capaz de escutar o sussurro suave do vento, o gotejar do orvalho e o ruído compassado de sua própria respiração. Gina achava que Eriu estava decepcionada com ela, pois acreditava que não tinha visto nada nas águas mágicas da fonte.

Enquanto desciam, Gina tinha a impressão de que o caminho era mais curto. Ou seria ela, no seu estado de ansiedade, que achara o caminho longo demais na subida?

Quando avistou a pequena casa de taipa, cercada pelas macieiras, Gina se sentiu aliviada. Era como estar voltando para casa após uma longa viagem. Estranho como aquele lugar lhe trazia paz.

A Sacerdotisa e a ruiva entraram na casa. Eriu se aproximou da lareira, tentando inutilmente ativar as chamas que já haviam se apagado. Gina observava de um dos cantos do aposento, até que não agüentou e tirando a varinha, que estava presa no cinto de seu vestido, apontou para os tocos de lenha.

-Incendium - disse, com voz firme.

Eriu sorriu agradecida e colocou um pequeno caldeirão sobre as chamas crepitantes da lareira.

-Eriu, eu não agüento mais esse silêncio. Afinal de contas, eu vi ou não vi alguma coisa? - Gina disse, tendo uma nota de desespero na voz.

A Sacerdotisa respirou fundo e vendo que Gina esfregava os braços, na tentativa de se aquecer, ofereceu a ela um pouco do caldo quente que ela aquecera no fogo.

-Tome isso, lhe fará bem - Eriu disse com voz firme - Por vezes, a Visão nos tira o calor do corpo, principalmente naqueles que ainda não sabem usa-la.

-Então isso quer dizer...?

-Sim, você viu alguma coisa, Gina - Eriu respondeu calmamente, utilizando-se do rígido treinamento de Sacerdotisa, para não demonstrar as suas emoções. - E não se assuste se você não se lembrar do que viu, é comum no começo.

A ruiva apenas brincou com a comida que estava à sua frente. Eriu estava tão misteriosa, que Gina já estava começando a se impacientar. Por fim, Eriu começou a falar:

-Vou repetir exatamente o que você disse, quem sabe isso não lhe soa familiar. - A Sacerdotisa ponderou por uns momentos, recordando cada palavra proferida pela boca da jovem que estava à sua frente - A Mãe exigiu um sacrifício e ele foi feito... Amor... Amor e Sacrifício... O Sacrifício foi feito, mas o mal ainda não foi erradicado... Cerridwen... Cerridwen escolheu o seu campeão... Sacrifício... O escolhido para erradicar o mal...

Gina arregalou os olhos, tamanha era a sua surpresa.

-E Então, Gina, essas palavras querem dizer algo para você?

“O campeão... O escolhido... Sacrifício...”

Todas essas palavras faziam com que surgisse uma única imagem na cabeça de Gina: Um jovem de cabelos negros e rebeldes, profundos olhos verdes emoldurados por óculos de aro redondo. Harry Potter, o menino-que-sobreviveu! Gina sabia que Harry havia ganhado esse título, porque a mãe dele havia morrido para protege-lo, ela se sacrificara pelo filho que tanto amava.

-Harry... - Gina murmurou estranhamente.

“Começo a achar, que a Deusa pôs esses jovens em meu caminho por alguma razão maior do que eu sou capaz de compreender” - Eriu olhou atentamente para Gina, tentando captar qualquer resquício de pensamento que ela pudesse obter da jovem.

-Gina, você crê, que essas palavras tenham a ver com o Harry?

-Bem... Talvez... A mãe do Harry morreu para protege-lo. É uma história bem longa, na verdade.

-Nós temos a noite inteira, se você estiver disposta a contar - Eriu disse, de um jeito tão convincente, que uma ameaça não seria capaz de produzir o mesmo efeito sobre a ruiva.

-Há alguns anos, houve uma profecia, dizendo que nasceria um menino que teria o poder de destruir um bruxo das Trevas que estava em ascensão na época. Quando o bruxo ficou sabendo da profecia, tratou de acabar com o menino, o Harry no caso.

-E esse bruxo não tem nome? - Eriu perguntou.

-Bem...-Gina parecia um pouco receosa - O nome dele é V-Vo-Voldemort. Desculpe, mas ainda é difícil dizer o nome dele. Ele é tão perverso, que as pessoas têm medo de pronunciar o seu nome.

-Pela Deusa, então esse homem deve ser horrível! - Eriu parecia escandalizada - Ele tentou assassinar o Harry, quando ele era um bebê?

-Exatamente, Eriu! Ele tentou lançar uma maldição da morte em um bebê! V-Voldemort não pretendia matar a mãe do Harry, ele só queria o bebê, mas ela não iria deixar que matassem o filho dela, então, quando “Ele” tentou matar o Harry, após ter assassinado a mãe, acabou perdendo os seus poderes.

-A mãe do Harry invocou uma magia muito poderosa, Gina. - Agora não era Eriu quem falava, mas a Grã-Sacerdotisa de Avalon, com sua voz cheia e segura - Ela deu a vida dela pela vida do filho. Todas as Sacerdotisas sabem, que o poder do Sacrifício é algo muito forte. Nós todas fazemos esse voto quando aceitamos o chamado da Deusa.

-Vocês fazem voto de Sacrifício? - Gina perguntou, assombrada.

-Sim, se isso for necessário e se a Grande Mãe exigir de nós... - A Sacerdotisa disse isso, com um olhar vago, enquanto recordava os tempos em que era apenas uma noviça que vivia na casa das moças e fizera este voto.

-Bem, voltando à história - Gina retomou o relato. - Após isso, de Harry meio que “destruir” o Lorde das Trevas, todos começaram a chamá-lo de “Escolhido” e outras coisas mais... Isso por que ninguém sabia da profecia, que dizia que somente o Harry poderia destruir o Lorde. - Gina suspirou, lembrando de todas as dificuldades que Harry passara naqueles anos, por causa da profecia e da perseguição de Voldemort.

-Eu só não compreendi uma coisa, minha cara, por que vocês temem tanto esse tal de Voldemort? Pelo o que pude perceber, ele foi destruído quando tentou matar o Harry, não foi?

Gina teve um arrepio involuntário ao escutar o nome daquele que ainda assombrava os seus pesadelos e olhou para as sombras que dançavam nas paredes do aposento, formando figuras fantasmagóricas.

-Para falar a verdade, não! Durante muitos anos o Lorde das Trevas esteve despojado de seus poderes, mas eu acho que ele não era humano o suficiente para morrer. Ele mutilou a alma dele e escondeu em objetos e, assim, ele não poderia morrer.

Eriu olhou confusa para Gina, tentando processar a quantidade de informações que recebera. - Esse bruxo, dividiu a alma dele em pedaços?

-Sim, e esse fragmentos são chamados de Horcruxes. - a ruiva afastou uma mecha de cabelo da testa - O Harry disse que vai caçar essas coisas para destruí-las... Disse que é uma missão dele.

“Bem que eu notei que ele não era um rapaz comum”, Eriu pensou. Agora as peças daquele quebra-cabeça começavam a se juntar e ela compreendeu o que Gina havia dito em seu transe: O sacrifício era relacionado à mãe de Harry, que morrera para proteger o filho; O Escolhido era Harry, que tinha o poder de destruir esse homem, se é que Voldemort poderia ser chamado de homem.

-Eriu - Gina interrompeu os pensamentos da Sacerdotisa - O que é Cerridwen?

A Sacerdotisa sorriu e lembrou de quando seu filho, Dylan, era bem pequeno e havia feito essa mesma pergunta. - Cerridwen é uma das faces da Deusa, minha querida. A chamamos de Grande Mãe e é a Deusa da Magia, dos Encantamentos e do Conhecimento.

-Uau! - Foi a única coisa que Gina conseguiu dizer.

“Ela aceita com demasiada calma as coisas que acontecem ao redor dela. Será que ela tem consciência dos mistérios que as palavras dela encerram?”. Eriu se aproximou mais de Gina e tocou na testa dela, no mesmo lugar onde as Sacerdotisas carregavam o sinal crescente em azul.

- Um bruxo poderoso, Gina, não é aquele que conhece uma infinidade de feitiços, encantamentos e maldições. Não é aquele que utiliza o seu poder para subjugar os de mente mais fraca à sua vontade e deleite. - Eriu olhou fundo nos olhos de Gina, tendo em seu rosto ainda jovem, uma expressão séria. - Ser um bruxo poderoso, é saber o momento exato de usar o seu conhecimento à favor de algo muito maior. É saber o momento de agir e de esperar...

A caçula Weasley correspondeu o olhar sério de Eriu e, desta vez, sustentou o olhar. Por um momento, ela se sentiu crescer, ficar mais alta e imponente e, diante disso, Eriu notou que Gina, verdadeiramente, tinha algo de Sacerdotisa dentro de si.

-Você tem a Visão e isso é algo que ninguém pode tirar de você - Eriu suavizou a expressão, acariciando de leve o cabelo ruivo de Gina - Se você quiser, posso ajuda-la a usar isso. Saber invocar a Visão quando você quiser que ela venha e fazer parar quando isso for conveniente. Te interessa?

“Se tenho isso comigo e se isso puder ajudar o Harry de alguma forma, creio que mal não fará”.

-Sim, Eriu, isso me interessa... - A ruiva respondeu, com um olhar firme e uma voz decidida.



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Após Gina, ter praticamente dispensado ela, Hermione caminhou desanimada em direção à casa de Danna.

Não podia negar que tinha ficado extremamente curiosa com a conversa entre a sua amiga e a Grã-Sacerdotisa de Avalon. Mas pelo visto a conversa era algo confidencial, já que Gina não quis que ela estivesse presente. Deu de ombros, conformada. “Depois a Gina vai acabar me contando mesmo”

Hermione estava tão compenetrada, pensando nas mil teorias acerca da conversa de Eriu e Gina, que não notou que um par de olhos brilhantes a perscrutava, com vivo interesse.

-Boa noite, Hermione!

Hermione se assustou, colocando as mãos sobre o peito. Olhou para todos os lados, procurando o dono daquela voz masculina, até que finalmente o encontrou.

-Ah, olá Dylan - Mione suspirou aliviada, ao se deparar com Dylan encostado no tronco de uma árvore. - Você me deu um baita susto.

Ele sorriu, um pouco sem jeito, e Hermione notou que pela primeira vez ele não carregava a costumeira expressão orgulhosa. - Me desculpe, não tive a intenção. Onde você está indo?

-Eu e Gina íamos visitar Danna - Vendo que Dylan olhava curioso para ela, Hermione logo emendou - Mas sua mãe quis falar com a Gina e eu acabei, aqui, sozinha. Não que eu me importe, mas... Ah, deixa pra lá... - Ela fez um gesto indiferente com os ombros.

-Então eu irei acompanha-la até lá. - Ofereceu o braço cordialmente para Mione, que aceitou, um pouco desconcertada.

Caminharam calados, até que Hermione, sem conter a sua ânsia por conhecimento começou a falar.

-Dylan, eu tenho uma dúvida - E antes que o rapaz dissesse algo, ela já começava a falar desembestada - Por que ninguém nunca disse que Avalon ainda existia? Eriu disse que algumas pessoas saíram de Avalon para viver lá fora. Por que, então, ninguém nunca disse que Avalon não havia se perdido?

Dylan sorriu marotamente. Não podia negar que o jeito ansioso e esperto de Hermione o atraia, além de que, ela era uma garota muito bonita. “Uma garota não. Uma mulher muito bonita!”, ele se corrigiu mentalmente.

-Se alguém lhe dissesse que Avalon existia, qual seria a sua reação, Hermione?

-Bem, eu... - Hermione refletiu por alguns segundos, e respondeu - Bem, eu provavelmente acharia que a pessoa sofria de algum tipo de distúrbio mental. Sou o tipo de pessoa que “só acredita vendo”.

Ao dizer essas últimas palavras, um brilho diferente se acendeu nos olhos do jovem druida e Hermione teve a mais absoluta certeza, que ali tinha coisa.

-Hermione - ele se aproximou perigosamente do ouvido dela - Já que você é do tipo que “só acredita vendo”, gostaria de te mostrar algo.

Hermione corou um pouco, sem saber exatamente o que Dylan queria dizer com aquilo. Disfarçadamente, ela secou as mãos que começavam a suar, nas laterais do vestido verde claro que ela usava.

E praticamente num sussurro, Dylan disse - Mas você terá que me prometer que não contará isso a ninguém. Você é capaz de guardar segredo?

Bingo! Dylan tocou num dos pontos fracos de Hermione: a curiosidade.

-Bem... Não é algo perigoso, é? - Ela perguntou relutante.

Dylan observou um certo nervosismo na voz de Hermione, enquanto ela mordia o lábio inferior.

-Não, não é nada perigoso. Pode ficar sossegada! - Ele segurou a mão dela - Você confia em mim, não confia?

“Na verdade eu não sei se confio em você”, mas Hermione não podia dizer isso em voz alta para Dylan, então apenas ficou calada.

-Venha! - Ele disse, enquanto a puxava pela mão.

Eles desviaram do caminho que levava em direção à casa de Danna e seguiram um caminho ladeado por colunas que levava à uma construção ampla. Ornamentado por flores silvestres o lugar não se parecia com as construções simples e rústicas que ela conhecera em Avalon. Na verdade, Hermione achou que o lugar lembrava muito os templos gregos, principalmente os de Atenas.

Encontraram algumas pessoas pelo caminho. Mulheres usando as vestimentas sacerdotais e com o crescente em azul brilhando assustadoramente quando tocadas pela luz bruxuleante dos archotes presos nas paredes, olhavam para Dylan com simpatia. Algumas eram tão jovens quanto Hermione e ela notou que lembravam um pouco as alunas de Hogwarts. E por um momento sentiu profunda saudade do lugar que ela considerava quase como um lar.

Enquanto caminhavam nos corredores do lugar, Dylan assumiu uma postura séria, enquanto franzia a sobrancelha, como se estivesse tentando se recordar de algo. Até que ele dobrou um corredor e indicou uma escadaria estreita que descia para um nível abaixo da terra. Retirou um dos archotes, que estava preso à parede, enquanto Hermione retirava a sua varinha.

-Lumus - Ela murmurou enquanto seguia Dylan.

Após descer todos os vinte e três degraus (que Hermione havia contado, na tentativa de controlar a ansiedade), chegaram a uma sala que cheirava fortemente à mofo e poeira. Quando Dylan acendeu algumas lamparinas que estavam espalhadas ao longo do aposento, Hermione sentiu o seu queixo cair levemente.

Iluminados pela luz quente das lamparinas, havia algumas dezenas de prateleiras com vários tipos de pergaminhos e livros encadernados por antigas capas de couro.

Hermione teve de se apoiar na coluna mais próxima, pois sentia que a qualquer momento iria desmaiar.

Aquilo não era somente uma biblioteca. Era um verdadeiro santuário, com relíquias da época onde os mais famosos bruxos viveram. Sentiu que poderia chorar diante de tais coisas e não sabia se ficava ali contemplando aquela maravilha ou se corria para as estantes, para “devorar” aquelas preciosidades.

-E então, gostou? - Dylan perguntou, tirando Hermione do seu estado de torpor. - Tem algo em especial que eu gostaria que você visse.

O jovem druida perscrutou o aposento até achar a prateleira que procurava. Com a ajuda de um pequeno banco, retirou do alto de uma prateleira, um grosso livro encadernado por uma bela capa de couro, tingida de vinho. Entregou o livro nas mãos de Hermione que não sabia se agradecia ou se chorava de emoção.

Segurou o livro entre as mãos com tal delicadeza como se o objeto pudesse se desmanchar em suas mãos a qualquer momento.

-Venha - Dylan a conduzia a uma pequena mesa redonda que ficava nos fundos do aposento.

Com um aceno gracioso da varinha, Hermione retirou a poeira que estava na mesa e pousou o livro com todo o cuidado.

Ela abriu o livro, franzindo ligeiramente a testa. - Está tudo escrito em latim!

-Ah! - O jovem respondeu. - Precisa de ajuda para ler? Eu posso traduzir para você.

-Não, não é necessário. Eu tenho uma certa noção em latim - Hermione respondeu, com um jeito orgulhoso na voz. - Quando soube que ia estudar em Hogwarts e que os feitiços eram pronunciados em latim, fiz um curso básico, sabe. Não é lá essas coisas, mas acho que posso me virar.

Dylan sorriu admirado.

Ela abriu o livro numa das primeiras páginas e leu em voz alta, tendo uma certa dificuldade:

”Quando meu irmão nasceu, a situação agravou-se. Ali estava aquela coisinha chorona, cor-de-rosa e branca, no seio de minha mãe; e o que era pior, ela esperava que eu dedicasse a ele um amor igual ao seu. ‘É seu irmãozinho’, dizia, ‘cuide bem dele, Morgana e ame-o’.”

Hermione arregalou os olhos e olhava do livro à sua frente para Dylan, que lhe sorria ansioso.

-Morgana... - Ela disse, enquanto tinha uma expressão cética em seu rosto. - Não é aquela Morgana, é?

-Se você está se referindo à Bruxa Morgana, irmã do Rei Arthur, sim, é aquela Morgana.

-Então, isto aqui é o diário dela? - Hermione disse, apontando para o livro que descansava na mesa - O diário de Morgana?

-Bem, não creio que seja realmente um diário, mas apenas algumas memórias que ela escreveu ao longo de sua vida. - Dylan disse, parecendo extremamente calmo.

Essa calma do jovem druida impressionou Hermione. “Será que ele sabe o quanto isso aqui é precioso? Uma relíquia de uma das mais famosas bruxas da história”

Hermione se debruçou novamente sobre o livro, virou algumas páginas e continuou lendo:

“Por fim, chegou o dia em que fui lançada fora de Avalon, vestindo apenas uma camisola e tendo como única arma a pequena adaga de sacerdotisa, para voltar - se pudesse. Sei que se não o conseguisse, seria lamentada como morta, mas as portas jamais se abririam para mim novamente, a menos que eu pudesse faze-las abrir-se por minha própria vontade e comando. E quando a cerração se fechou à minha volta, perambulei pelas margens do estranho lago, ouvindo apenas os sinos e o canto melancólico dos monges. E por fim rompi a névoa, e chamei-a com os pés na terra e a cabeça entre as estrelas, estendendo-me de horizonte a horizonte, gritando em voz alta a grande palavra de Poder...”

-Uau! - Hermione disse, largando novamente o livro sobre a mesa - Por Merlin, Dylan, não sei como te agradecer por isso.

Ele soltou uma sonora gargalhada.

Hermione pareceu ofender-se e fechou a cara.

-Do que você ri? - Ela perguntou, lançando um olhar assassino para ele.

-Desculpe, mas acho graça quando você diz “Por Merlin”.- Dylan respondeu, voltando a assumir a postura séria de antes. - Por que a maioria das pessoas tem uma impressão errada a respeito do Merlin.

-Como assim? - Hermione perguntou, parecendo muito confusa.

-Ao contrário do que as pessoas pensam, o Merlin não foi uma única pessoa. Na verdade, Merlin era como eram chamados os Arquidruidas, os Mensageiros dos Deuses. - Dylan apoiou as mãos na mesa, revelando parcialmente as tatuagens que carregava. - Creio que o Merlin à quem vocês se referem quando dizem “Por Merlin” deve ser Taliesin, o grande Druida da corte do Rei Arthur. Ele foi o penúltimo druida que recebeu esse título.

-E quem foi o último e por que ninguém mais recebeu esse título? - Hermione pareceu se empolgar demais e se remexia ansiosa na cadeira em que estava sentada.

Dylan a olhou seriamente, dando-se conta que contava algumas das histórias que ouvira quando era criança e, que na época, não lhe pareceu ser tão importante. Mas tudo o que ele conhecia e desprezava, parecia interessar Hermione.

-O último homem que recebeu o cargo de “Mensageiro dos Deuses” foi Kevin, o Harpista. Na minha opinião, ele foi um dos culpados pelo declínio de Avalon. Ele entregou uma das relíquias sagradas nas mãos dos Cristãos - Dylan suspirou, e respondeu à pergunta não proferida de Hermione - Ele entregou o Graal na mão dos Cristãos.

-Então, o Graal era uma relíquia de Avalon?

-Sim, e Kevin deixou que ele fosse retirado de Avalon. Acusado de traição, ele foi condenado severamente e sua punição veio de onde ele menos esperava.

Hermione não desgrudava os olhos do jovem druida. Parecia que estava vendo diante de seus olhos as cenas que Dylan lhe relatava. Se pudesse, anotaria tudo o que estava ouvindo, como se estivesse numa das aulas de História da Magia.

-Oh, e o que aconteceu com ele?

-Nimue, uma das Sacerdotisas de Avalon o seduziu, utilizando-se do encantamento mais eficaz que as mulheres possuem - Um sorriso malicioso brotou no rosto do jovem - Um encantamento muito antigo, feito na lua negra, fazendo com que Kevin ficasse totalmente desprotegido, à mercê da vontade de Nimue. Enquanto ele estava sob este encantamento, ela o trouxe à Avalon e ele foi enterrado vivo na fenda de um carvalho.

Hermione pôs as mãos na boca, parecendo horrorizada.

-É uma história um pouco trágica, já que para esse tipo de feitiço, encantador e encantado têm de estar igualmente envolvidos. Nimue também se apaixonou por Kevin e sentiu que era tão traidora quanto ele. Após a execução dele, ela se atirou no lago, morrendo afogada.

-Céus, coitada!

Ficaram um pouco silenciosos, enquanto Hermione armazenava todas as informações que havia obtido.

Hermione voltou a folhear as páginas do diário, até que se deu conta de que estava ficando tarde e que deveria pelo menos ir até a casa de Danna, avisar aos amigos que estava tudo bem, já que eles haviam combinado de se ver naquela noite. De certa forma, Hermione tinha ficado um pouco triste, pois gostaria de passar a noite ali, explorando os escritos dos sábios de Avalon, mas ela realmente tinha que ir.

Dylan insistiu em acompanha-la até a casa de Danna.

Retomaram o caminho até a casa, enquanto discutiam alguns fundamentos da filosofia dos druidas.



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Já estava um pouco tarde, quando Harry e Rony foram se sentar em um banco de pedra que ficava em frente à casa onde estavam hospedados. Observavam a grande lua cheia que brilhava misticamente sobre a Ilha.

-As mulheres são estranhas, Harry. - Rony disse, inesperadamente.

Harry ergueu as sobrancelhas, sem entender aonde o amigo queria chegar com aquela sentença.

-A Gina e a Mione disseram que viriam pra cá e deixaram a gente aqui, mofando!

Harry não conteve o riso. - E por causa disso você acha que elas são estranhas?

-Não... Por isso e por outras coisas, sabe... - Rony acabou rindo também - Esquece, cara! Elas são estranhas e nada pode explicar isso.

-É, mas acho estranho que elas não tenham vindo. - Harry disse, sorrindo vagamente ao se lembrar de uma jovem de olhos castanhos e cabelos flamejantes.

Rony percebeu e fez uma careta - Afff... Você é patético, Harry! Da próxima vez que a minha irmã chegar perto de você, eu vou dar um jeito de aparatar pro lugar mais distante do Universo!

-Ei, do que você tá falando? - Harry riu, dando um cutucão em Rony.

O ruivo gargalhou e fingindo uma voz feminina, disse - Oh, Harry, eu senti a sua falta! - E começou a distribuir beijos estalados no ar. - Definitivamente, patético!

-Eu achei que você tava dormindo. - Harry disse, corando fracamente.

-Eu bem que gostaria... - Rony disse pensativo. - Presenciar a sua própria irmã se agarrando com o seu melhor amigo é um pouco traumatizante, sabe.

-Idiota! - Harry deu um tapa nas costas de Rony. - Você fica falando assim por que tá sozinho.

-Não é nada disso, Harry. Eu só não gosto de ver a minha irmã se agarrando com qualquer um!

-Então quer dizer que eu sou qualquer um, Roniquinho? - Harry disse, fingindo-se de ofendido.

Rony resmungou um “cala a boca” e Harry resolveu provocá-lo um pouco mais.

-Sabe o que é engraçado, Rony? É que você não fica assim só por causa da sua irmã.

-Como assim? - Rony franziu as sobrancelhas.

-Toda vez que a Mione conversa com alguém diferente você também fica assim e ela nem é a sua irmã.

-Mas é minha amiga - E começou a ficar vermelho, como sempre acontecia quando estava nervoso. Desviou os olhos de Harry e ficou observando o caminho que conduzia à casa onde estavam. - E eu não quero ver ela com um idiota qualquer.

-Sei... - Harry disse, parecendo cético quanto à certeza na voz de Rony. Olhou para o mesmo lugar que o ruivo e viu duas pessoas se aproximando. - Ei, não é a Mione ali?

Rony apertou os olhos na tentativa de enxergar melhor.

-“Lumus”- E o rosto de Hermione foi iluminado pela fraca luz da varinha. Ela estava acompanhada por Dylan, que vendo os rapazes mais à frente, se despediu dela e retornou pelo mesmo lugar de onde vieram.

-Olá - ela disse, muito sorridente.

Harry e Rony trocaram um olhar confuso e responderam o olá de maneira apática.

-Onde você estava? E cadê a Gina? - Rony perguntou.

-Onde eu estava? - Hermione parecia desconcertada.

“Mas você terá que me prometer que não contará isso a ninguém. Você é capaz de guardar segredo?”

-Bem, eu estava dando uma volta - ela inventou - É isso aí, eu estava dando uma volta com o Dylan.

Harry notou um brilho selvagem nos olhos do ruivo, mas preferiu não dizer nada.

-Sei... - o ruivo parecia cético - Você foi dar uma volta com o Dylan... E por que a minha irmã não foi junto?

-A sua irmã ficou na casa de Eriu, que disse que precisava falar com ela. - Hermione desviou o assunto dela rapidamente. - Pelo jeito era algo pessoal, porque ela não quis que eu ficasse. Ah, Harry, ela pediu pra te dizer que tava tudo bem...

Harry começou a achar que desde que eles tinham ido para Avalon, Gina estava diferente. Parecia-se cada vez menos com a garotinha tímida que ele conhecera na Estação de King’ Cross, que corava simplesmente à menção do nome dele. Agora, Gina tinha um quê de mistério e encanto ao redor dela, que parecia ser ampliado pela magia que pairava em Avalon.

-Bem, se ela quis conversar com a Gina, não precisa ser necessariamente algo sério - Harry disse. - Não acredito que Eriu seria capaz de fazer mal algum à ela.

-Mas você não fica curioso em saber? - Hermione perguntou.

-Ficar eu até fico, mas não me importo de esperar... - Olhou para os amigos, sorrindo - Não deve ser nada importante!



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N/A: Até que o capítulo não demorou tanto, hein, pessoal! Só uma semana...
Well, mais uma vez gostaria de agradecer os comentários e os votos que a fic recebe. Vocês não tem noção de como fico feliz com eles...
Com relação ao capítulo, este aqui não teve tanta ação, mas tem algumas explicações que são importantes para o desenrolar da história.
As partes do “diário” da Morgana, foram retiradas do livro “As Brumas de Avalon” e, portanto, são verdadeiras...rs... e as coisas referentes ao Merlin e tudo o mais também foi relacionado com o que aconteceu no livro “As Brumas de Avalon”
Bem, Aproveito para desejar um feliz Ano Novo a todos vocês, cheio de paz, luz e magia... Que todos os seus planos se realizem e que possam encontrar o caminho para a sua própria felicidade.
Grande beijo a todos e até o ano que vem!


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