Ele disse!



 


"Ele disse Eu te amo?" repetiu Donna incrédula. Fora das carruagens sem cavalo, as garotas – e a maioria dos outros alunos de Hogwarts – começavam a curta caminhada às portas do castelo. Luke fora encontrar os amigos da Corvinal, com quem jantaria, e Lily acabara de relatar a notícia embaraçosa. "Bem assim? Após dois meses de um relacionamento deverão? Ele não sabe que essas coisas nunca duram?"


"Eu estava namorando Miles há mais de um ano quando ele disse ‘eu te amo,‘" comentou Marlene amargamente; "E tenho certeza que só disse isso para me distrair do fato de estar escrevendo cartas para Sandy Pitterton."


"Em primeiro lugar," disse Donna, "Marlene, seu namorado é um idiota, nós sabemos, você sabe, ninguém se importa. Em segundo lugar, o que diabos você disse a Luke? Ele não parecia chateado... Você não disse que sentia o mesmo, disse?"


"Claro que ela não disse," exclamou Marlene. "Lily não mentiria sobre algo desse tipo... não é?"


"Não, é claro que não," suspirou a ruiva. "Eu só disse a ele que não podia dizer o mesmo, só isso. Eu disse que só podia dizer algo assim quando tivesse absoluta certeza."


"E ele não terminou com você na hora?" surpreendeu-se Marlene. A ruiva sacudiu a cabeça. "Algumas garotas têm muita sorte."


"Tipo quem?" indagou uma nova voz, juntando-se ao grupo. Uma morena baixinha, com enormes brincos de argola e bastante maquiagem nos olhos, chegara ao lado de Marlene. A loira passou o braço pelo ombro da recém-chegada.


"Olá, Mary," disse Lily, "elas estavam falando sobre…"


"Sobre como Luke Harper é um idiota e disse ‘eu te amo‘ para ela."


"Depois de apenas dois meses de uma coisa de verão?" a garota chamada Mary perguntou incrédula. "Que engraçado!" E então, bastante séria: "Você não mentiu e disse o mesmo, disse?"


"Ela disse a ele que não estava pronta," disse Donna.


"E ele não terminou com você na hora?"


"Não," respondeu Marlene. "Na verdade, ele estava completamente satisfeito com ela."


"Algumas garotas têm mesmo muita sorte," concordou Mary.


"Onde você estava, aliás?" perguntou Lily. "No trajeto de carruagem, quero dizer..."


"Você quer dizer depois de vocês todas me abandonaram?" indagou Mary com ironia. "Não, não peçam desculpa... Eu estava em uma cabine cheia de garotos, o que é melhor que vocês três, de qualquer forma. Adam McKinnon sentado ao meu lado, meu Deus, ele cresceu esse verão! Deve estar com uns dois metros..."


"Mary, você está proibida de ir para a cama com Adam McKinnon," ordenou Marlene com firmeza. "Ele é um dos meus melhores amigos, e todos os seus relacionamentos terminam em... bem, normalmente eles terminam mal."


"Engraçado," disse Mary sarcasticamente. "Sim, tenho certeza que sua amizade com Adam é a razão de não querer que eu vá para a cama com ele..."


"O que isso quer…?"


"Alguém viu James?"


A exausta e ofegante forma de Peter Pettigrew as interrompeu quando ele alcançou o topo da encosta e se aproximou das garotas. "Ele está por aqui em algum lugar, James, mas ninguém consegue encontrá-lo."


"Eu não vi," disse Donna e Marlene concordou.


"Sabe, eu pensei tê-lo visto subindo numa das primeiras carruagens," ponderou Mary, incerta. "Não posso ter certeza... mas acho que talvez tenha visto."


Peter agradeceu e saiu correndo.


"Por que ele está tão nervoso?" perguntou Lily.


Mas quase ninguém deu atenção ao último comentário, pois naquele momento elas entraram no castelo. Pelas altas portas de madeira, a procissão de alunos entrou no Hall de Entrada – grande e mal iluminado, com uma magnífica escadaria de mármore à esquerda e altas portas à frente, que levavam ao Salão Principal. Essas portas, porém, estavam atipicamente fechadas, e a razão disso se revelou momentos depois. A Professora McGonagall, a severa e imponente professora de Transfiguração, materializou-se aparentemente do nada, e pediu silêncio enquanto os alunos se reuniam no Saguão.


"Parece," disse a Professora, apertando os lábios em desaprovação, "que Peeves, o Poltergeinst, fez algum tipo de bagunça no Salão Principal em retaliação ao Sr. Filch. A maior parte do estrago foi reparada, mas peço a vocês todos que esperem alguns minutos enquanto o Sr. Filch e o Professor Dawton terminam."


Peeves, o Poltergeinst – apenas um dos muitos fantasmas de Hogwarts – era uma espécie de incômodo na opinião de Lily, mas ele certamente possuía algo em comum com os alunos de Hogwarts: uma veemente aversão a Filch, o zelador da escola. Alguns adolescentes riram com as palhaçadas de Peeves, enquanto um ou dois monitores resmungaram alguma coisa sobre "a intolerável falta de respeito pelas autoridades" do fantasma. Lily não se importava em esperar alguns minutos para começarem os procedimentos (a Cerimônia de Seleção e o banquete de boas-vindas), se fosse à custa de Filch.


A ruiva escutava com leve interesse Marlene e Mary colocarem as últimas fofocas em dia, quando um toque em seu ombro chamou sua atenção. Remus Lupin – o melhor amigo de Sirius Black, Peter Pettigrew e James Potter, bem como seu companheiro na monitoria da Grifinória – estava ao seu lado, com uma expressão irritada em seu rosto fino e pálido.


"Lily, você viu…?"


"Potter?" terminou Lily por ele. Ele assentiu esperançoso, mas ela sacudiu a cabeça. "Não vi, desculpa, mas se estiver interessado em encontrar Sirius Black ou Peter Pettigrew, posso dar uma mãozinha."


"Não, eu já os encontrei," resmungou Remus. "É James que estamos procurando agora. Bem, obrigado mesmo assim..."


"Não há de quê," disse Lily; ela gostava de Remus. "Te vejo mais tarde." Ele começou a se retirar, e a ruiva voltou a atenção para as amigas, até ser novamente distraída por um toque em seu ombro. "Eu ainda não o vi, Re..." Não era Remus Lupin dessa vez. "Sev," observou Lily, surpresa. Severus Snape estava bem atrás dela. A ruiva tentou se lembrar da última vez que ele parecera tão tenso em conversar com ela e estimou ter sido da primeira vez que se conheceram, mais de sete anos atrás.


"Oi, Lily", começou o rapaz no seu tom de voz menos confortável. "Estava esperando que pudéssemos conversar por um minuto."


Lily olhou em volta do saguão à procura dos amigos sonserinos de Severus. Finalmente os localizou a uma grande distância, a cerca de cem alunos de onde ela estava, evidentemente sem saber que o rapaz não estava mais entre eles. "Entendo," disse a ruiva amargamente ao sonserino, "é bastante seguro falar comigo agora. Não está correndo risco de Mulciber e Avery te pegarem conversando com uma nascida trouxa." Ela começou a dar as costas.


"Não é bem assim!" protestou Severus, e ela parou. Mary, Marlene e Donna tinham parado a conversa para observar.


"Então, como é?" questionou ela. Quando ele não respondeu, a ruiva continuou: "Severus, eu pensei ter ficado bastante claro no final do trimestre passado que não íamos mais fazer isso. É desgastante para nós dois."


"Lily…" o sonserino lançou um olhar cauteloso aos três amigos. "Não podemos conversar sobre isso em outro lugar?"


"Por quê? Minhas amigas não veem problema em eu falar com você."


Donna começou a argumentar, mas Marlene a chutou.


"Lily," suspirou Severus, cansado. "Quando vai me perdoar?"


"Eu  te perdoei, Sev," retrucou a grifinória. "Apenas acho que não podemos mais ser amigos".


"Mas eu não quis dizer…"


"Sim, você não quis dizer aquilo, e não adianta discutir isso. Nós sempre acabamos andando em círculos até ficarmos irritados demais para conversar racionalmente."


"Nós fomos amigos por sete anos," disse Severus em voz baixa (ele sempre falava tão baixinho). "Isso não pode simplesmente acabar do dia para a noite por conta de um pequeno erro."


"Mas foi um erro muito significativo," respondeu Lily suavemente. "Sev, por favor, apenas vá embora."


"Não". Teimou. "Não até você me dizer que podemos ser amigos de novo. Você não respondeu nenhuma das minhas cartas esse verão, e praticamente saiu correndo depois da reunião dos monitores hoje de manhã."


Lily não pôde deixar de ficar um pouco impressionada. Severus nunca era de falar sobre coisas pessoais na frente dos outros... Muito menos das suas amigas. Na verdade, em sete anos de amizade, a ruiva não conseguia se lembrar de uma única oportunidade na qual ele se referiu aos dois como amigos em público. Talvez seu arrependimento fosse sincero...


A garota reprimiu as emoções imediatamente. Não importava se ele estava arrependido ou não... Era muito difícil ser amiga dele. Era muito difícil se dedicar quando tudo que ele parecia fazer era aumentar o abismo entre eles.


"Por favor, vá embora, Sev," repetiu Lily. Ele parecia que ia desabar, quando fatores atenuantes chegaram na forma de Nicolai Mulciber e Samuel Avery.

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