Eu ainda te odeio, Malfoy



Capitulo 5: Eu ainda te odeio, Malfoy

28 de setembro, sábado.


Eu sei, eu sei! Estou sem escrever desde o dia 13. Ora, eu não tenho culpa... não, a culpa é minha sim... CULPA MINHA POR IR NA DA DONINHA QUICANTE. NOSSA, COMO EU ODEIO ELE!


Durante os últimos dias na biblioteca Malfoy realmente tentou me convencer de que o Harry é um idiota e que eu também sou por gostar dele – nada que já não tenha dito –, e, quando nos encontramos com McGonagall na terça-feira para avisar que a biblioteca está em perfeito estado, ele se despediu com um “se cuida, Granger”. Eu sinceramente estava quase comemorando por não ter mais que me encontrar com ele todo santo dia na biblioteca, mas no mesmo dia recebi uma carta da professora me lembrando das aulas que vou ter que passar para pirralhos – incluindo os pirralhos que tiveram a brilhante idéia de bicho-papão. E talvez eu admita que não foi tão ruim dar aula na Sala Precisa com Malfoy para aqueles pirralhos. Merlin! Olha a frase.


Eu. Malfoy. Num sábado. Na Sala Precisa. Dando aula para pirralhos.


Não consigo nem ficar calma.


Mas não foi tão ruim assim, alguns tinham uma certa dificuldade para entender e por isso os diretores das casas mandaram para lá, algumas meninas que se sentavam na frente já sabiam boa parte das coisas que eu e Malfoy passamos – Mini Granger's como Malfoy as apelidou, e aquilo causou uma série de suspiros de todas as meninas na sala –, algumas versões de Fred e Jorge fizeram brincadeiras na sala, a coisa mais estúpida que Malfoy fez foi ter se juntado aos meninos para provocar as meninas e EU. E, nossa!, ele conseguiu mesmo! A diferença é que eu pude dar detenção para os meninos. Antes que Malfoy calculasse que poderia retirar as detenções, eu já tinha passado uma pra ele.


Ainda ando com os sonserinos e me sento com Luna na mesa da Corvinal, mas esses abtos passaram a ser não por evitar o casal maravilha Harry e Gina, mas porque... Ah, não sei bem. Quer dizer, eu sentei com Rony uns dias depois do ultimo sábado e não era a mesma coisa. A diferença era que Harry estava com Gina. Abraçados. Conversado perto demais. Os lábios perto demais. Sai de lá antes de vomitar meu almoço neles.


Lilá finalmente conseguiu sair com Samuel. Bem, quem será que foi o cupido desse casal, hein? É, eu. Euzinha. Eu mesma. Não me pergunte por que fiz isso, acho que não queria ficar mal com ela por fazer Rony largar dela, então conversei com Samuel sobre tal idéia de juntar os dois. E, olha, até que deu certo. É inacreditável! Eu consigo fazer com que Rony e Luna fiquem juntos, consigo não vomitar por Harry e Gina estarem juntos, consigo fazer Samuel sair com a Lilá, mas não consigo resolver meus problemas. Ora, vamos ser sensatos, eu ainda gosto do Harry e Malfoy ainda joga na minha cara que isso é desperdício de tempo.


– Draco! Draco! Draco! – já havíamos chegado na Sala Precisa e lá estava os pirralhos animados por ver o “titio Draco”. – Olha o que a gente conseguiu!!!


– Fantástico! – ele disse pegando o pacote que o menino da Grifinória segurava acima da cabeça, os outros meninos da mesma idade estavam animados atrás dele.

– O que é isso? – perguntei quando vi Malfoy fazendo um feitiço de redução na caixa.


– Não é da sua conta.


– Ah, é, esqueci – revirei os olhos – Vamos entrar?


– Hermione, eu li três livros essa semana e é a quinta fez que leio Hogwarts: uma história – disse uma menininha loira da Lufa-Lufa.


– Uau, e o que você fez de legal depois? – perguntou Malfoy. Dei uma cutuvelada nele – Ok, cada um para seus lugares. E, loirinha, precisamos ter uma séria conversa sobre idéia de diversão.


– Deixa a menina em paz – resmunguei.


– Tire as detenções dos meninos – ele parou de frente comigo e cruzou os braços.


– Não! Vocês aprontaram com as meninas – coloquei a mão na cintura.


– Aquilo foi um acidente!


– Coinsidência demais os livros de todas explodirem do nada, né.


– Na verdade, era para ter explodido seu livro.


Abri a boca, mas não saiu som nenhum. ELE IA EXPLODIR MEU LIVRO?!


– Você... Você... Não! – foi num certo impulso que peguei o livro de Poções de uma das meninas e bati nele – Seu idiota! Ridículo! Cretino!


– Mostre outro afeto por mim – PQP! Ele estava sorrindo.


– Filho da mãe!


– Ui, esse é novo.


– Não venha com ironias, não, Malfoy.


– Você é uma chata, Granger, que não tem noção de diversão – ele também pegou o livro de uma das meninas e bateu no meu ombro.


– E você deveria ter uma noção de responsabilidade! – outro tapa.


– Desculpa ai, Srta. Certinha.


Bom, dei outro tapa nele.


– Ah, como eu te odeio! Você não muda, não?


Ele se aproximou de mim. Perto demais. Muito perto. Por Merlin, ele está perto demais. Como se respira mesmo?


– Talvez não – ele entregou o livro para a menina e saiu da sala batendo a porta com força.


Isso? Toda essa aproximação para isso? Qual é meu problema? Por que eu não calei a boca quando tive a oportunidade?


– Sabe… seria legal da sua parte ir atrás dele - ouvi alguém dizer, não me virei, pois eu só sabia encarar a porta que aquele loiro ordinário saira emburrado.


– Abram na página 467 de Defesa Contra as Artes das Trevas – passei aquilo para o quadro negro que tinha na sala antes de me virar para as crianças – Vou atrás do titio Draco.


É… e lá vou eu mais uma vez atrás da doninha para pedir um simples desculpas indiretamente. Aaah, odeio ter que me desculpar com ele. É humilhante.


Foi como levar um tapa na cara depois de falar umas verdades na cara da pessoa. Foi como se derrubassem um balde de água fria em mim. Foi como chegar toda animada no Salão Principal e ter acabado o pudim. Foi como ficar bêbada, falar o que não deveria e pagar o maior vechame no dia seguinte. Foi como tirar nota ruim naquele trabalho que tinha certeza que iria me dar bem.


Você não se sente nervosa ou prestes a matar o primeiro que te falasse “bom dia”, você se sente decepcionada com o que vê bem ali na sua frente, porque, mesmo assim, era algo que você teria certeza que iria acontecer, mas temia aquilo. E o que eu via? Aquela figura loira de vestes da Sonserina beijando uma garota morena com o que deveria ter sido um uniforme um dia da Lufa-Lufa.


Não sei se casal me viu, pareciam bastante animados prensados na parede aos beijos. Eu estava quase gritando para parar com aquela putaria no corredor. Mas não! Dei meia volta e fui para a Sala Precisa, não sabendo como estava minha situação facial. Algo como…


– Merlin, você está mais pálida do que minha tia quando passa pó de arroz.


Não deveria ser a melhor.


– O que aconteceu, Hermione? – eu não fazia ideia de quem havia perguntado aquilo.


Gaguejei um “nada” e comecei ler o texto que tinha passado. Admito que nem eu mesma prestava atenção no que estava explicando, espero não ter falado besteira. Sentia um embrulho no estômago, um nó na garganta e minhas pernas estavam bambas, preferiria não descrever minha expressão que deve ter ido do corado para o pálido, e do pálido para o vermelho de raiva quando vi aquele loiro canalha passar pela porta da sala.


Os lábios mais vermelhos que o uniforme da Grifinória exibia indiferença, mas era algo como um meio sorriso, no pescoço havia um tipo de roxo avermelhado que ele supostamente tentou disfarçar ao entrar na sala. O cabelo… bem, o cabelo dele não estava ruim… mas, nota-se que aquele estilo bagunçado não era proposital e sim um resultado após uns amassos no corredor. Eu queria matar ele. Nunca desejei tanto um Avada nessa doninha loira de sorriso maldito. E olha que ele já me azarou no quarto ano.


– Er… desculpe por isso – ele meio que sussurrou perdido entre a opção pedir licença e sair da sala ou ficar ali para se explicar. Eu até poderia relevar, mas o cara de pau sorria de lado. – Está lendo sobre o quê?


– Saberia se não estivesse saído daqui – respondi fria.


– Eu… – o que ele disse? Ninguém daquela sala saberia dizer, porque fechei o livro que estava na minha mão com força e resolvi fazer aquilo que tanto desejava no momento além de gritar “PUDIM, EU QUERO PUDIM, POR FAVOR?!”


– Sabe qual é seu maior defeito, Malfoy? – ele me olhou com aquele alerta de “se prepara, eu vou sorrir”, porém não deixei ele falar, mas o filho da mãe sorriu. – ALÉM DE BABACA, CÍNICO, DESPREZÍVEL, DESAFORADO, ESTÚPIDO, FALSO, GALINHA, HIPÓCRITA, INSIGNIFICANTE, INSOLENTE, MISERÁVEL, NOJENTO, OTÁRIO, ORGULHOSO, PANACA, PALHAÇO, RIDÍCULO SUPERFICIAL, TRASTE E VAGABUNDO, ACABO DE DESCOBRIR QUE VOCÊ TAMBÉM É UM PERFEITO IDIOTA EGOCÊNTRICO INFAME.


– Você me xingou em ordem alfabética? – Draco passou todo o momento de surto olhando pra mim com aquele sorriso canalha de lado dele, quase segurando a risada. Minha mão coçou. Aah, como eu queria deixar minha marca naquele rostinho branco também canalha.


Se um dia um loiro de olhos cinzentos com ar angelical passar por você com um sorriso de lado não sustentando nenhuma malícia, não se deixe enganar. É o Malfoy. E, embora o sorriso não carregue o jeito tarado e mané dele, pode ter certeza, que ele está gritando “gostosa!” interiormente. Aliás, ele tem preferências de garotas… algo como “nada de trouxas ou nascidas trouxas e femeas da família Weasley”. Eu disse que ele é idiota. Na biografia acima tem esse elogio.


Reuni toda a sensatez que tinha para não socá-lo, me virei para ele contando até 10 e respirando fundo. 1… 2…


– Me xingou em ordem alfabética – repetiu ele. 3… 4… – Por que está tão nervosa? – 5… 6… – Sério, Granger, você está bem? O que deu nela? – ele se virou para as crianças que já estavam se divertindo com a cena. Na verdade, todos estavam vendo graça naquilo, apenas eu estava tentando chegar no 10 para não pegar minha varinha e sacrificar Malfoy – Granger… você está vermelha


– Assim como a sua boca e as marcas no pescoço – Ok, isso não foi nada sensato, mas foi o melhor que pude fazer depois de chegar no 6 e não pegar minha varinha. Ao que me lembra: 7… 8… 9…


Aquele rosto de criança dele ganhou uma expressão de vergonha, e eu notei ele engolir em seco.


– Do que você está falando? – 8… 9… 9,5.


– Não se faça de idiota! – Mais??? hahahaha Impossível.


Ele pareceu pensar um pouco, se virou pra mim e sussurrou algo como “você viu?”. Apenas tentei dar um sorriso carregado de ironia e sarcasmo e continuei lendo aquele texto que havia passado para os pirralhos.


Malfoy não voltou a tocar no assunto, nem se juntou aos meninos no fundo para azarar as meninas. Nada de provocações, nada de feitiços “by: Fred e Jorge”, nada de azarações, nada! Ele apenas ficou enconstado na mesa ao meu lado explicando comigo a matéria. E aquilo estava me dando nos nervos. Só quando deu o horário das crianças saírem, que eu fiquei para arrumar uns papeis, porém o ordinário ficou também.


– O que você viu? – ele perguntou.


– Nada que me afeta sentimentalmente.


– Mas psicologicamente sim.


– Olha, Malfoy...


Fui interrompida por alguém pigarreando para chamar atenção, e quando nos viramos para o responsável de tal ato, via-se a Profª McGonagall entrando na sala. Encostei na mesa já esperando algum tipo de sermão, porque ultimamente é somente para isso que ela se dirige pra mim, ainda mais na presença desse loiro aguado.


– Olá – ela disse se aproximando de nós – Sábados difíceis? – um sorrisinho brincava no fino lábio dela, como uma piada particular. Malfoy e eu não respondemos, então ela continuou – Como vocês sabem, os monitores-chefes tem direitos há um quarto separado de suas casas. E com vocês dois não será diferente, embora eu e o Profº Snape ficamos despontados com as atitudes de alunos tão exemplares, tenhamos discutindo muito para chegar a conclusão de que é justo vocês terem o privilégio de um quarto somente de vocês. A questão é, não será uma sala comunal para cada um, vocês terão que dividir o local que vão passar o resto do ano. Metade Sonserina – ela inclinou a cabeça para Malfoy, que assentiu –, metade Grifinória – e fazendo o mesmo ato pra mim, a professora mudou de posição, nos deixando de frente para a porta, sendo assim, abrindo caminho. – Vocês preferem continuar na presença de seus amigos em suas devidas casas, ou aceitar o mínimo que as regras permitem?


McGonagall ficou esperando nossa reação, Malfoy assentiu e foi pra fora da sala, e eu apenas segui ele, sem dar resposta alguma.


– Por aqui, crianças


Não sabia ao certo em que andar paramos, muito menos o local. Na verdade eu estava mais preocupada pensando nas várias formas de matar essa doninha loira do que querer saber onde era meu mais novo quarto. Detalhe: eu não pensei que teria que dividir a sala comunal com o Malfoy. E eu ainda achava que estava me livrando dele depois que entregasse a biblioteca. Ah… como eu sou ingênua.


– Aah, aqui está – disse a professora entrando na sala.


Então eu notei que ela já tinha encontrado a tal sala e já anunciado a senha. Mas, vencida pela distração, fiquei me perguntando se nos tempos de Hogwarts dela, ela fora monitora-chefe, pois parecia admirada com a sala.


Bom, não nego, era tudo elegante. Tudo! Isso ia do tapete ao lustre – que não eram nada simples.


– Lá em cima – voltei a atenção para McGonagall que apontava para as escadas – estão os quartos. Sonserina – ela apontou para a porta da esquerda, depois para o da direita e se virou pra mim – e Grifinória.


Malfoy pediu permissão para ir até seu quarto e foi para as escadas animado. McGonagall continuava a me encarar e, antes que eu perguntasse, ela se acomodou em um sofá para poder me dizer qualquer coisa que seja.


– Os pertences do Sr. Malfoy já estão ai – ela disse encarado o chão. – Essa sala funciona como a Sala Precisa, Miss Granger, basta apenas tomar a decisão que terá o que quer. E não creio que seus pertences estejam em seus aposentos, senhorita.


Então entendi o conteúdo da conversa.


Eu ainda preferia continuar com meu quarto de monitora na Grinifória a ter que dividir a sala com esse comensal jr. Xeque, pois era realmente tentador me manter nessa sala. Olha só, evitaria Harry e Gina numa boa, porque, afinal, encontrar com aquele casal no salão comunal da Grifinória logo de manhã não era lá as melhores das experiências, muito menos no Salão Principal. Ora, eu ainda teria acesso ao (1) café-da-manhã, (2) almoço e (3) janta ali mesmo, sem contar a mini biblioteca que tinha – um conjunto de estantes perto dos sofás.


Mas com as condições pacificas que estava com Malfoy, foi como se o fato de ter uma cozinha particular e uma mini biblioteca passassem reto.


– Vou ficar com o quarto da monitoria na Grifinória – disse eu depois de avaliar silenciosamente aquela sala.


– Como quiser, senhorita. Mas você ainda tem direito a um quarto aqui. Você sabe, é só querer seus pertences que eles serão entregues.


– Obrigada, professora.


Ela deu um sorriso fraco pra mim e saiu da sala, me deixando sozinha encarando os móveis.


– Pense bem, Granger.


Olhei para cima, esquecendo totalmente que ainda havia aquele loiro aguado na sala. Ele estava encostado na escada, a blusa do uniforme estava dobrada e o cabelo estava bagunçado. Totalmente acomodado.


– Qualquer coisa seria melhor que estar no mesmo local que você – me virei para ir embora.


– Uhun – ah, aí vem uma provocação… – Vou fingir que você não gostou daquele dia na festa da Corvinal.


– Foi aterrorizante dançar com você, acredite – eu sou muito estúpida, do tipo que não se deixa abalar. 


– Sei – pior é que ele já vinha descendo as escadas… totalmente lindo.


– Tá bom, foi você quem me levou pra pista, Malfoy.


– E você gostou.


– Eu queria ir embora.


– E por que não foi? – ele já estava próximo…


– Porque você me puxou de volta.


– Então admite que não resiste a mim – ele parou de frente pra mim, com as mãos na cintura e um sorriso canalha brincava nos lábios.


– Admite você que sempre me quer por perto.


– Por que acha isso?


– E todo aquele papo de “Granger, eu te vi fazer isso e aquilo para evitar o Potter”? – tentei minha melhor imitação que pude.


– Certo… – ele balançou a cabeça – Você tem a memória boa, hein?


Foi meio rápido que ele me puxou para mais perto dele e me girou, sendo assim, me prendendo de costas para si. Rápido o suficiente para repensar nas formas de matar ele, para não prestar atenção na música que tocava.


– Se lembra disso, Granger? – perguntou ele no meu ouvido. Aah, aquilo foi suficiente para me deixar arrepiada. Não! Isso não pode!


– Lembro – consegui responder, porém a voz saiu rouca. Pior de tudo: eu sorri... Involuntariamente!


Consegui me virar de frente para ele, que exibia um sorriso de orelha a orelha. O que foi? Ganhou pontos infinitos para a Sonserina?


– Que foi? – perguntei de testa franzida.


– O que você tem? Está negando tudo isso – ele balançou a cabeça enquanto me girava de volta, mas não para me colocar de costas para si. Malfoy fez eu voltar de frente para ele, o que pra mim era pior, teria que encarar o sorriso que ainda estava ali.


Fiquei pensando em responder aquela provocação, mas cheguei a incrível conclusão rápida que aquilo não era uma provocação. Malfoy estava sendo amigável. Amigável demais.


– Nada – balancei a cabeça. – É todo seu.


E, por Merlin, não poderia estar tocando música menos... valsante? Na verdade, nem deveria estar tocando essa música. Da onde veio isso?



So, so you think you can tell
(Então, então você acha que consegue distinguir)
Heaven from Hell
(O Paraíso do Inferno)
Blue skies from pain
(Céus azuis da dor)
Can you tell a green field
(Você consegue distinguir um campo verde)
From a cold steel rail?
(de um frio trilho de aço?)
A smile from a veil?
(Um sorriso de um véu?)
Do you think you can tell?
(Você acha que consegue distinguir?)



– Do you think you can tell?


Eu estava hipnotizada vendo ele cantar, não conseguia não olhar. Como um ser tão canalha e mesquinha consegue ser tão perfeito de vez em quando?


– Isso faz algum sentido para você? – perguntei me referindo a música.


– Pra você não? – cínico! Ordinário! Canalha! Ridículo!


– Onde quer chegar, Malfoy?


– Eu ainda tento te entender, Granger. Mas pelo jeito é mais fácil desvendar o mistério do quadro da Monalisa – ele me girou outra vez.


– Divirta-se com ela então.


– Você não fica bem com ciúmes.


– NÃO ESTOU COM CIÚMES! – gritei. Notei a burrada que tinha feito, respirei fundo e tentei não fazer outra burrada.


– Você viu, Granger, admite.


– Não vi coisa nenhuma!


– Você foi atrás de mim – ele me girou novamente.


– Não fui!


– Foi sim.


– Não fui.


Ficamos um tempo nos encarando no silêncio, até que Malfoy resolveu falar.


– Então por que desse mau humor?


– Não é da sua conta – falei baixo, mas foi o suficiente para ele ouvir. E ignorem o fato de que nossas respirações estavam quase unidas numa só. Por Merlin, tenho que dividir oxigênio com esse loiro?



Did they get you to trade
(Fizeram você trocar)
Your heroes for ghosts?
(seus heróis por fantasmas?)
Hot ashes for trees?
(Cinzas quentes por árvores?)
Hot air for a cool breeze?
(Ar quente por uma brisa frita?)
Cold comfort for change?
(Conforto frio por mudança?)
Did you exchange
(Você trocou)
A walk on part in the war
(Uma pequena participação na guerra)
For a lead role in a cage?
(por um papel principal numa cela?)



Então Malfoy fez a pior coisa que deveria ter feito num momento desses. Sério, por que ele tem que fazer essas coisas? É uma aposta? Céus, como ele consegue ser tão idiota? Não poderia calcular que depois de me beijar eu socaria ele igual no terceiro ano? Aah, mas eu queria mesmo reunir minha sensatez e largar esse sonserino canalha. O filho da mãe me beijou. Eu nunca senti tanto ódio dele como naquele momento que ele tentou aprofundar o beijo, mas o pior foi eu ter me rendido. Bom, quase.


– Seu... Seu... Seu... Seu idiota! – aaah, aqui está minha sensatez! Meu orgulho! Meu ego feminino! Meu espírito de grifinória que chegou gaguejando em voz rouca... Ah, e que me abandona nos momentos que mais preciso.


(1) Eu tentei me soltar para socar ele, (2) eu não consegui me soltar dele, (3) pelo contrário, ele foi cretino o suficiente para me agarrar de novo, (4) eu nem protestei.


Ah, como poderia? Minhas pernas estavam bambas, quem sustentava meu peso era ele, eu estava tremula e provavelmente corada, minha cabeça girava, eu sentia um negocio no estômago. E, pior, não era o tio de embrulho que sentia quando vi Harry e Gina, era do tipo que foi substituído por borboletas, sabe? Quando você não consegue nem fazer nada, se sente incapaz de tal ato, nem consegue pensar direito. Oh, já estou sentindo borboletas no estômago... Isso realmente não é bom, alguém me dá um tiro?


Entãããão, ele conseguiu o que queria. Um beijo de verdade. Qual o propósito disso? Num instante eu estava me debatendo, no outro eu já estava ali por conta própria. Não sou mais responsável nem pelos meus lábios.



How I wish
(Como eu queria)
How I wish you were here
(Como eu queria que você estivesse aqui)
We're just two lost souls
(Somos duas almas perdidas)
Swimming in a fish bowl
(Nadando num aquário)
Year after year
(Ano após ano)
Running over the same old ground
(Correndo sobre o mesmo velho chão)
What have we found?
(O que encontramos)
The same old fears
(Os mesmos velhos medos)

 


A música me fez lembrar de onde estava, com quem estava, em que situação estava e quem eu era, porque, nossa!, eu não lembrava mais nem meu nome. Como era respirar? Não sei! A minha respiração ainda estava ofegante. Eu fiquei com medo de sair correndo e acabar caindo por conta de como meu cérebro estava trabalhando. Mas eu consegui me afastar um pouco. E quase me arrependi porque já estava perdida naqueles olhos cinzas. Esqueci meu nome de novo.


Meu rosto estava ardendo, minhas mãos também, mas minhas pernas ainda estavam bambas e tremulas, ou seja: a doninha saltitante ainda me segurava e eu tentava manter uma distância razoável entre nossos lábios. Acho que foi quando me dei conta novamente do que estava acontecendo, quando recuperei os sentidos e sai correndo. A boa noticia: eu não cheguei tropeçar em meus próprios pés e cair.


– Hermione! – ele me puxou de volta, mas eu acabei dando um tapa nele e tentei abrir aquela porcaria de porta.


Ok, eu admito, eu queria me virar para ele e escutar suas explicações e não ter feito aquilo, porque esse loiro deve ter algum argumento por aí. Mas não! Eu ainda tentava abrir aquela porta insignificantemente. Por que raios essa coisa estava trancada?


– Argh! – gritei e chutei a porta.


Malfoy murmurou um feitiço e a porta abriu, sai correndo sem olhar para trás.



Wish you were here
(Queria que você estivesse aqui)

 
Minha melhor opção foi ter ido para a Sala Precisa, principalmente porque eu nem sabia em que parte do castelo estava. Esperei a boa vontade da sala e entrei como um furacão. Estava do mesmo jeito que havíamos deixado, as mesas em fileiras, o quarto negro rabiscado, uma mesa grande na frente com papeleiras em cimas. Como havia deixado.


Eu ainda duvidava do meu equilíbrio, da minha capacidade de respirar e de manter aqueles livros sem deurraba-los. A questão é: ... Não tem questão! Eu não tenho explicação pra isso! Não tenho porquês! Isso é efeito colateral? Eu gostei? Não, não posso ter gostado. Mas é efeito colateral? Oh, meu Merlin, não sinto minhas pernas.


**


– ME BEIJAR, VIOLET! COMO ELE OUSA?! ACHA QUE SOU O QUÊ? O TIPINHO QUE SE CALA COM UM BEIJO? TENHO CARA DE VADIA? – Hermione se virou para a amiga com tamanha velocidade que fez Violet assustar – ME DIGA, HÁ UMA PLACA AQUI DE “ME BEIJE”? CALOU-ME COMO SE EU FOSSE UMA ÉGUA QUE PRECISASSE SER DOMADA! AQUELE… AQUELE… A-AQUELE!


Violet procurou Hermione em todos os cantos possíveis de Hogwarts, e se xingou mentalmente por lembrar que a amiga estaria com Draco na Sala Precisa cumprindo sua detenção. Ao chegar lá, não viu Draco nem as crianças, apenas Hermione sentada no fundo da sala escrevendo no seu diário e chorando. Violet perguntou o que aconteceu, mesmo sabendo que Draco havia aprontado alguma com Hermione. Queria matar Draco quando soube. Procura-lo e tortura-lo. Era convicto que Hermione o odiava e que ainda sentia algo por Harry, e, por que não foi inteligente o suficiente para saber que um beijo pioraria as coisas para Hermione?


É claro que queria os detalhes do acontecimento e algo que possa usar para arrebentar a cara branca de Draco – se é que Hermione não tenha feito isso. Hermione, pelo contrário, parou de chorar, mas acabou por ter um surto na Sala Precisa.


Mas não deu nem tempo de Violet falar algo, Hermione caiu no chão apoiada nos joelhos, com as mãos no rosto, ela chorava novamente. Violet foi até ela, cautelosa.


– Pelo jeito, o beijo fez efeito sobre você.


Estava preparada até para Crucio, mas ele não veio. Hermione não fez nada, apenas abraçou Violet e chorou no ombro da amiga.


– Foi meu primeiro, Violet, meu primeiro – ela gaguejava e soluçava que quase Violet não entendeu, mas compreendeu o nervoso da grifinória. – Ele não deveria ter feito isso comigo!


– A questão é, que, Hermione...


Já achando que viria lição de moral, Hermione se sentou também, apoiada nas pernas.


–... Precisamos matar Draco Malfoy – concluiu Violet – Acabar com as chances dele... hã, procriar. Se você não se importar de não ter filhos no futuro.


Hermione sorriu. Era bom conversar com Violet. Não tinha pensado em como acabar com Draco ainda.


– Não vamos ser tão cruéis – ela disse sorrindo.


– Hermione Granger tendo piedade de Draco Malfoy? – Violet se levantou, passou a mão na sua roupa para certificar se que não havia sujado muito – Venha, você precisa de uma cerveja.


**


– Você a beijou então? – Paul perguntou.


– Beijei – Draco respondeu.


– Que isso, Malfoy? Perdeu o amor à vida? – questionou Blás se servindo se outro copo de cerveja amanteigada.


Blás e Paul tinham ido atrás de Draco para poderem ir ao Três Vassouras, coisa que não faziam desde que as aulas começaram. Draco não queria ir, sabia que lá veria o bendito Potter, temia também Hermione, mas tinha quase certeza que ela não estaria lá.


O loiro não se arrependeu nem um pouco de ter beijado Hermione, mas só de imaginar que ela saiu correndo da sala só por ainda nutrir sentimentos pelo testa-rachada, dava raiva.


Estava mais desanimado que nunca, geralmente é o primeiro a combinar de ir ao pub, ou seja, o “não” de Draco surpreendeu os amigos. Draco pensou que logo fariam perguntas, então chegou à conclusão de que indo ao bar para beber algumas não seria tão ruim assim. E, aliás, a Granger não estaria lá.


Não precisou de muitos copos para Draco dizer por que estava daquele jeito, e ele quase nunca deixava passar algo para os amigos. Pensou que logo Violet saberia por Hermione e que a situação seria bem pior. Mesmo assim, se as duas resolvessem matar ele ainda hoje, os amigos defenderiam sabendo o porquê.


– Mas, Draco, não passou pela sua cabeça loira que ela te odiaria mais depois disso? – Augustus, que havia chegado a ponto de Draco contar o que havia acontecido se serviu de mais um copo de cerveja.


Draco demorou um pouco para responder. Os amigos não sabiam se era por conta da cerveja, ou se estava tentando se convencer. Realmente. Não havia passado mesmo pela sua cabeça que Hermione odiaria mais ele.


– Eu sou um idiota – Draco disse olhando para o lado.


Os meninos gritaram concordando, nada que havia chamado atenção do bom povo que bebia no Três Vassouras.


– E, meu amigo do coração partido, você chegou nessa conclusão agora ou quando beijou a sabidinha? – perguntara Brian fazendo um drinque com Blás.


Draco revirou os olhos e serviu seu terceiro copo de cerveja. Fez drinque com Paul e se virou para os amigos.


– Vocês deveriam estar me ajudando, não?


– Draco, nós não somos acostumados a entrar num jogo pra perder – dissera Brian – O que é uma ironia da vida, porque já fomos massacrados pela Grifinória um milhão de vezes.


– Ei, ei, vai com calma ai – Blás reclamou.


– Draco... – Paul se sentou ao lado do amigo –, a Granger não vai admitir paixão por você. A vida segue, meu amigo.


– Ela pode não admitir, mas pode se apaixonar, Paul – diz Draco esperançoso.


Já havia enchido os ouvidos dos amigos que a Granger um dia se apaixonaria por ele. Foi uma questão de orgulho ter entrado numa aposta com os amigos. Ter duvidado de um Malfoy não foi muito inteligente vindo desses sonserinos bêbados, muito menos duvidar de que Draco conquistaria Hermione. E ele iria conquistar a Granger. Iria ter um beijo correspondido, e este seria a própria quem pediria.


Mas para os amigos, principalmente para Paul, Draco estava fissurado em conquistar a Granger que se esquecera das consequências. Algo como se apaixonar também. Nada de mais, somente uma relação que causaria ao mundo bruxo mais uma guerra. Realmente não era com que deveria se preocupar o amigo Malfoy.


– Companheiro – Brian deu tapinhas no ombro de Draco –, amigo, parceiro, colega de quarto, irmão… Esquece essa aposta. Paul e Blás nem está na jogada.


– Coloca nessa cabeça loira que a Granger não vai assumir paixão por você e se, SE nutrir sentimento por você, ela vai sofrer muito, Draco – dissera Gus ao lado de Brian. Augustus foi um dos únicos que não participou oficialmente da aposta, não colocou galeões na mesa.


– O problema, Malfoy, é você se apaixonar de volta. Sabemos o que isso pode causar – Brian continuou.


– Não vou me apaixonar pela Granger – Draco fez careta. Ora, nunca que iria se apaixonar por uma sangue-ruim. Além disso era grifinória e amiguinha de Weasley’s e do Potter.


– Isso é o que você diz – Blás sorriu irônico.


– Vocês, como meus amigos deveriam me apoiar! – aliás, tal hipótese fez Draco pensar em como o pai reagiria além de deserda-lo.


– Nossa missão na vida é não deixar você fazer burradas e canalhices que arriscam sua vida, a nossa e a da Violet – Brian encheu os copos vazios que estavam na mesa ignorando o olhar mortal de Draco.


– Ah, me lembrem de elogiar vocês para o Sr. Malfoy na próxima carta! E, detalhe importante, vocês mesmo fazem burradas e canalhices.


– Somos da Sonserina, o que espera? Não estamos na casa de Salazar á toa, amigo Malfoy.


– Agiram de forma errada, senhores – Draco se levantou – Porque não vou desistir da Granger.


Draco tirou alguns galeões do bolso e jogou na mesa. Estava pensando na tentadora ideia de voltar para o castelo, mas a visão de duas figuras entrando no pub o fez gelar. Os meninos acompanharam o olhar de Draco e sorriram ao ver Violet e Hermione procurando uma mesa vaga.


– Ei, meninas – Paul assoviou – Aqui!


– Filho da mãe – Draco sussurrou.


– Vai, vai, Romeu, passa pelos fundos – Blás lhe disse contendo a risada.


– A gente despistas elas – Gus disse, mas quando Draco deu as costas para os amigos, ele gritou: – Violet! Aqui!


– Traidores – Draco murmurou antes de sair da mesa.


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Querido presente de Gina Weasley,


Aqui estou eu novamente, Hermione Jane Granger, relatando fatos do meu dia. Você já sabe o que aconteceu hoje na sala da monitoria-chefe e se não foi aqui que eu escrevi isso, não me faça lembrar, porque já é aterrorizaste pra mim.


Agora eu estou em algum lugar da Torre de Astronomia, falta vinte minutos pras dez horas, e eu só tenho esse meio tempo para descrever o que aconteceu no Três Vassouras. Primeiramente o porquê de eu ter escolhido esse lugar para escrever eu não sei, mas aqui tem uma ótima iluminação.


Enfim, fui com Violet no Três Vassouras e lá encontramos os meninos. Todos estavam lá bebendo, exeto por Niall e Samuel que resolverem sair com algumas grifinórias, e por Malfoy que saiu quando chegamos. Cretino. Como se eu não tivesse visto ele!
 


– Claro que me viu lá – dissera alguém atrás de Hermione.


– O que está fazendo aqui? – ela perguntou nevosa.


– A iluminação daqui é boa.


Hermione revirou os olhos.


– Você não me deixa em paz nem na Torre de Astronomia, Malfoy?


– É só fingir que não estou aqui, pode escrever nesse seu caderno sem se preocupar comigo, Granger. 

– Pode se retirar, por favor?

– Minha presença te afeta tanto assim?

– Me irrita tanto assim. 

– Relaxa, Granger, agora você vai mesmo saber o quando é ser irritada por um Malfoy – dissera o loiro de levantando – Se prepara. 

Dizendo isso, Draco deu as costas à Hermione e voltou para as masmorras, deixando a frase no ar. Só de pensar que agora ele realmente não iria deixá-la em paz, fez a grifinória estremasser. Ah, como odiava aquele bendito loiro. 


 



Continua...


  

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