Pedido



O homem atravessava os corredores com agilidade. Recebera um bilhete de alguém que pedira a ele para ir até a entrada do Ministério com urgência.


Agora estava ele ali passando pelas pessoas mal as cumprimentando por causa da pressa. Não sabia a razão, mas alguma coisa o dizia para ser rápido.


Chegou a entrada do Ministério do lado de fora, em uma área trouxa e encostou-se à parede incomodado. Não havia ninguém ali.


Sabia que não havia sido uma brincadeira de mal gosto, pois estavam no Ministério, todos tinham muito a fazer. Talvez a pessoa tivesse se atrasado.


Mal teve esse pensamento e viu uma sombra se aproximar. Levantou os olhos, encontrando os de um homem alguns centímetros mais baixo que ele. Afastou-se da parede percebendo que o homem vinha em sua direção. A mão se firmou em sua varinha dentro das vestes.


_E então Weasley, como tem passado? – a pergunta fora aleatória.


Blásio a fizera apenas como uma forma de aproximação. Estava altamente claro que o homem a sua frente não o reconhecia.


_Nos conhecemos? – Rony Weasley perguntou baixo e desconfiado.


O outro riu para diminuir a tensão.


_Sou eu, Weasley. Blásio Zabini.


_Zabini. – o homem disse baixo.


A única lembrança que tinha de Blásio era da noite em que ele o vira conversando com Hermione, no terceiro andar da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts anos atrás. Depois daquele dia, nunca mais reparara no garoto sonserino.


_Você quem mandou o bilhete? – Rony perguntou mostrando um pequeno pedaço de pergaminho que segurava entre os dedos.


_Sim.


O homem respondeu, ficando em silêncio depois.


_Será que pode ser rápido? Estou em meu horário de trabalho.


_Sendo direto… eu só queria conversar com você sobre o que eu e Hermione temos feito nos últimos dois meses.


Rony mecheu-se incomodado, afastando-se da parede. O que ele queria dizer? Nos últimos dois meses? Hermione não dissera nada a ele sobre a chegada do homem.


_O quê?


_Sabe, Weasley? Você é, no mínimo, idiota.


Rony suspirou com calma. De qualquer forma, ele sabia que o antigo sonserino continuaria a lançar injúrias em sua direção. A única coisa que lhe restava era aguentar com calma as provocações e isso era algo que o treinamento de auror havia lhe ensinado bastante. Calmo, sempre calmo.


_Seja breve, Zabini.


_Breve? – o homem possuia diversão na voz. Agora, alguma coisa dizia a Ron para entrar no Ministério e não sair de lá.


_Então você Hermione têm se encontrado? – ele teve a necessidade de perguntar.


Talvez tivesse sido melhor ter ficado em silêncio. Quando não se faz perguntas, não se obtém respostas.


_Vários tipos de encontro. Quer especificar a qual deles você se refere?


_Especifique você, Zabini. – ele respondeu ágil. O homem estava brincando e ele não estava com tempo nem paciência para lidar com ele.


Mas mesmo assim, tratando-se de Blásio, Ron já ficava preocupado. Incluindo Hermione na história, as coisas ficavam apenas mais tensas. A forma como Blásio referia-se a situação, demonstrando graça, era estranhamente aterrorizante.


_Nós temos um caso, Weasley. – o homem disse sarcástico. Ron olhou estranhamente o homem, que ria ao ver sua expressão.


_Como? – Ron não conseguia fixar nenhum pensamento.


Tentava compreender as palavras do homem, mas de alguma forma, elas pareciam não fazer sentido.


Blásio se divertia. Ia responder usando frases um pouco mais provocativas, quando sentiu uma conhecida queimação no braço esquerdo. Por um segundo, perdeu o foco do que tinha ido fazer.


Ela o estava chamando. Assim, do nada.


Mesmo após dizer que não queria mais vê-lo. Merlin, o que se passa na cabeça das mulheres?


_O que você disse, Zabini? – Ron perguntou novamente, alinhando os pensamentos.


Sua preciosa Hermione não o trairia.


_Ah, eu… - ele começou ainda tonto. Estava distraído.


A única coisa que se passava em sua mente era o que a mulher poderia querer com ele naquele momento.


_Anda. – Ron disse alto, puxando-o com agilidade pelas vestes e encostando-o a parede.


_Ei. – o homem resmungou empurrando-o com força.


Ron endireitou-se com raiva.


_Foi isso que você ouviu, Weasley. – Blásio respondeu com raiva, sentindo o pequeno H em seu braço queimar cada vez mais. – Eu e Hermione sempre estivemos juntos. Em Hogwarts, no início e no fim. Aqui fora, desde que eu voltei dos EUA…


_Desde…


_É. Quase três meses atrás. – o homem completou, ciente que Rony ouvira falar de suas consagrações quando voltou ao Ministério de Londres.


_Isso é mentira. – Ron riu ao se afastar.


Era melhor voltar ao trabalho, aquela conversa, ou melhor, aquela discussão com o homem, não o levaria a nada.


_Você sabe que não. Ou vai me dizer que nunca sentiu falta em certas noites, quando Hermione simplesmente não entrava em contato com você. Sem cartas, sem conversas na lareira… sem contatos. Ela estava comigo. – ele terminou com uma risada na voz, o que fez o outro se virar para encará-lo.


_Isso é uma grande besteira, Zabini. Eu não sei qual é sua intenção ao fazer isso, mas não vai conseguir me irritar.


_Quer que eu prove? – Blásio riu ainda parado no mesmo lugar, próximo à parede.


_Já que você insiste… - Ron disse entediado, cruzando os braços sobre o peito. Veria até onde o homem iria.


_Quer que eu fale sobre o apartamento dela? Aquele em uma bairro trouxa? – ele disse ainda em tom de brincadeira, sem abalar Ron. Ele sabia que qualquer pessoa no Ministérios podia ter acesso a essa informação. – Ou melhor, sobre o quarto dela? Conheco-o bem. É de uma cor clara, não entendo muito dessas coisas. Ela não tem nenhuma foto no quarto, desde o dia que eu cheguei. Você entendeu a razão dela te tirar de lá? – ele riu vendo que com aquelas palavras, Ron não estava mais achando tanta graça.


_Pode fazer as contas. Exatamente dois meses e alguns dias. Ela tirou sua foto, a dos amigos e a dos pais, porque ela achou que seria uma falta de respeito com todos vocês. Como se adiantasse alguma coisa, não é? Quero dizer, ela estava fazendo algo contra os próprios princípios de qualquer forma, então não fazia diferença a foto de vocês estarem no quarto ou na sala.


Ele parou de falar avaliando Rony.


O homem encarava o chão ansioso, como se pudesse achar uma negativa para tudo que havia escutado. Mas sabia que não encontraria. Levantou os olhos para o homem.


_Ela tem uma mania bastante interessante. Não sei se apenas comigo, mas sempre depois que transamos, quando estamos abraçados naqueles lençóis sempre brancos de sua cama, ela sussurra um “meu, só meu…” tão… tão gostoso. – a voz do homem era altamente provocativa.


Rony estava imóvel. Diversas coisas passavam em sua cabeça, mas a mais notável era a culpa. De alguma forma, o que Blásio o dizia parecia confirmar uma dúvida antiga, dos tempos de Hogwarts. Naquele dia, quase cinco anos atrás, ele considerou que os dois fossem bastante próximos, e não era normal uma amizade entre Blásio Zabini e nenhuma garota de Hogwarts. Mas ao mesmo tempo, ele se sentia mal por achar que Hermione seria capaz de algo tão baixo.


_Ah, claro. E não podemos nos esquecer daquela pinta que ela tem na parte interna da perna direita. Já reparou nela? – Blásio agora realmente se divertia.


Rony levantou os olhos agora assustado. Como ele poderia saber da marca de nascença da mulher? Não era como se fosse normal as pessoas saírem contando a todos o que tinha ou o que não tinha no corpo.


_E por quê está me contando tudo isso? – a voz de Ron agora era dasafiadora.


Havia um vazio em sua mente e ele desejava preenchê-lo com algo. Conhecia Hermione, tempo suficiente e se ela fosse mesmo capaz de traí-lo, como sua mente insistia, tinha que haver um motivo para o homem estar ali contando tudo aquilo.


_Achei que talvez devesse saber. – o homem respondeu incomodado com a queimação em seu braço que havia voltado.


Não conseguia imaginar a razão dela querer vê-lo depois de tudo o que havia acontecido.


_Ah é? – agora Rony ria, fazendo o homem achar que ele era maluco. – Você é um maldito sacana sonserino, Zabini. Não faz nada que não possa sair beneficiado. Se essa coisa toda fosse mesmo verdade, - os olhos do homem brilhavam de diversão enquanto ele caminhava na direção do Ministério. – você deveria estar muito puto com a Hermione pra estar aqui me contando. O que aconteceu? Ela te dispensou? Vou ignorar tudo o que ouvi aqui. – ele riu uma vez mais antes de voltar para o Ministério.


Blásio ficou olhando estupefato, o local no qual o homem acabara de sumir. Ronald Weasley era louco afinal, ou o quê? O homem acabara de contar do caso que tinha com a noiva do outro e, tudo o que ele fazia era rir? Com toda a certeza, seu juízo não estava perfeito.


Primeiro o homem parecera inicialmente fragilizado, mas depois, como se estivesse se reerguendo das cinzas, o desafiou.


Pensou mais um pouco no assunto, sem compreender exatamente o que havia se passado.


Esperava do homem até um pequeno duelo, mas tudo o que Ron fez foi rir.


Cedendo a queimação, finalmente aparatou no apartamento de Hermione.


_Ah. – ele ouviu um gemido logo depois de chegar ao local. A sala continuava da mesma forma de quando a havia deixado três dias antes.


Hermione apareceu afobada, saindo do quarto.


_Pensei que…


_O que você quer? – ele a cortou sentando-se na poltrona.


A mulher o olhava insegura. Pensara em tantas coisas nos últimos dias. Mas apesar de tudo, sentia-se confusa.


Ela permaneceu em pé enquanto falava.


_Andei pensando no que você me disse… quero dizer, eu realmente sinto sua falta. – ela disse observando a expressão entediada do homem.


_Eu sei disso. – ele resmungou apontando o braço.


A mulher sentiu o rosto queimar, mas ignorou. Aproximou-se do homem, ajoelhando-se em sua frente.


_Blásio, eu quero ficar com você. – o homem sentiu uma fisgada ao ouvir essas palavras. Foi como se estivesse dando um salto a liberdade inconsequente, e no fim, a queda. – Mas também quero o Ron. – as palavras que se seguiram arrancaram de si qualquer sentimento complacente pela mulher.


_Alguma coisa que eu ainda não saiba? – ele pediu sem encará-la.


A mulher não respondeu. Esperava que o homem entendesse seu desejo sem que precisasse falar muito. Era vergonhosa suas intenções.


Se Rony imaginasse que tudo o que havia acontecido entre os dois era verdade e mais, os pensamentos futuros da mulher, ele não aguentaria. Um traição, talvez. Mas dividí-la com outro, nunca.


Hermione sabia disso. Ron não podia sonhar que os dois tinham algo, imagine após o casamento. Ela queria tanto o homem… mas as coisas com Blásio, quando pensava um pouco, pareciam ter tanto sentido e futuro. Mais do que com Ron.


_Blásio, não haveria uma forma de você e eu… - o homem a encarou desconfiado. Onde exatamente ela pretendia levar o “você e eu”? – Sabe, juntos sem… sem que eu precise acabar com Rony?


Um silêncio descomunal tomou a sala de estar. A mulher manteve o rosto erguido em sinal de orgulho, para ter certeza de que quando o homem a olhasse, ele soubesse que seu pedido não era vão.


O homem a olhava de várias maneiras. Ora surpreso, ora irritado, ora descrente.


Ele devia estar ouvindo errado. Ele conhecia a mulher. Não era possível que Hermione, ao menos a que ele conhecia, estivesse fazendo aquele pedido.


A feição determinada da mulher despencou quando a risada do homem preencheu o ambiente.


_Você não disse o que eu acho que disse, certo? – ele perguntou entre risos encarando-a.


A expressão de seriedade voltou a seu rosto quando ele percebeu que não era brincadeira.


_O que exatamente você está querendo? Que eu pare minha vida, por você, sendo que a terei em segredo e ainda dividindo-a com outro? – o homem deu uma risada seca, fazendo a mulher se arrepiar. – Há certas coisas Hermione, que nem mesmo eu faria. E dividir você pra sempre não é o que eu quero.


_Você poderia achar outra pessoa com o tempo, eu não diria nada.


_Eu quero você. – seus olhos foram tão intensos quanto suas palavras. A mulher desviou de seus olhos enquanto ele segurava sua mão. – Não é difícil entender isso, é?


_Me desculpe, estou sendo egoísta. – sua voz era baixa e arrependida.


Sentou-se completamente no chão apoiando a cabeça nos joelhos do homem. Sabia que Blásio estava prestes a ir embora, mas não queria que ele fosse.


Amava muito Rony, mas seu sentimento por Blásio não era diferente.


O problema é que não tinha coragem para se desfazer de nenhum dos dois. Anos atrás, tivera facilidade em fazê-lo, mas era uma coisa juvenil. Naquela época, a única coisa que não queria, era perder Rony.


São sentimentos comuns de garotas com o primeiro namorado. Os têm, achando que aquele sonho mágico é para a vida toda. Não há compreensão de que tudo tem um fim, cedo ou tarde. Mesmo que não percebesse, seu sonho de princesa estava acabando.


Agora, ela não era criança, mesmo que estivesse agindo como uma. Tinha que tomar decisões e naquele momento, uma que poderia levar ao fim de seu futuro casamento com Rony. Não era mais como se ela pudesse apenas julgar o que achava que Blásio era. Eles haviam passado dois meses juntos e isso a havia mostrado que ele podia ser tão bom quanto Rony. Como odiava isso! Por quê Blásio não podia  ser um grosseirão que ela dessejasse apenas casualmente?


Sentia-se tão perdida naquele momento.


O homem acariciou seu cabelo solidário. Nunca entendera a fixação que tinha pela mulher, mas ao longo dos anos, parecia apenas ter aumentado. Pensou em como teria sido se tivesse tido alguma coisa com Pansy. Draco nem devia se lembrar mais dela após os anos, mas na época, com certeza teria tido vontade de matá-lo. Mandou a ideia embora.


Nunca teria dado certo. Alguma coisa em sua mente o dizia que apenas Hermione era a certa, nenhuma outra.


_Hermione, você me deixa confuso e perdido. Suas ações repentinas e… doentias às vezes me assustam. – a mulher tentou rir de suas palavras, não se saindo muito bem. O homem demorou um pouco mais para continuar. – Eu estou indo embora hoje à noite. Eu já disse que eu faria qualquer coisa por você, basta você aceitar ficar comigo totalmente. Sem Weasley, sem ninguém. Apenas nós dois. – ele levou em conta o silêncio da mulher. – Tem certeza disso?


A mulher negou levemente com a cabeça. O homem suspirou desistindo. Tiveram tempo demais juntos para ela ainda continuar naquela indecisão. Não participaria mais daquilo, apenas quem saía machucado era ele mesmo.


Rony nem sonhava com o que acontecia e deixara claro que iria ignorar tudo o que Blásio lhe havia contado. A mulher estava bem, não sabia o que queria se tratando dos dois e isso mostrava que, sem dúvidas, o sentimento era imensamente grande tanto por um, como pelo outro.


Apenas quem podia acabar com tudo aquilo era ele.


_Fevereiro, certo? – ele pediu sentindo a voz falhar um pouco. Precisava sair dali antes que desabasse. Alguma coisa o dizia que seus olhos não estavam queimando a toa.


Demorou para ouvir a resposta da mulher.


_É. Ron quer no dia três.


_A gente termina aqui então. – sua voz era calma. Ele dizia tudo calmamente, tanto como uma forma de passar mais tempo com a mulher, como para evitar qualquer alteração de seu estado emocional.


Seus olhos se fecharam ao ouvir um soluço baixo vindo dela. Por favor, não estaja chorando, pediu.


_Você é tão bom pra mim, Blásio. – ele sentiu a respiração da mulher em seu rosto. – Mais do que eu poderia merecer.


Seus olhos se abriram vagamente, apenas para se encontrar com os da mulher.


_Obrigada por, de certa forma, facilitar as coisa pra mim. – ele não respondeu nem alterou sua expressão. Despencaria a qualquer momento, precisava sair de perto da mulher. – Eu te amo. – as palavras saíram com dificuldade, engasgando-se em sua garganta.


Novamente o homem fechou os olhos, mas não pode impedir um lágrima de descer.


Gravou o rosto avermelhado da mulher e as palavras que pareciam soltas.


_Eu também te amo. – ele respondeu sentindo uma dor no peito.


A mulher adimirou-o uma vez mais. As palavras soavam como sinos em seu ouvido. O homem a amava. O sentimento era mútuo. Por quê ela não podia amar apenas um? Por quê não podia ser apenas Blásio?


Admirou seu rosto uma última vez. Inclinou-se na direção do homem e, com uma das mãos, puxou o rosto dele em sua direção, que obedeceu sem pestanejar. Deram um último beijo, simples e calmo, para marcar um fim sem mais transtornos.


_Desculpe-me. – a voz do homem foi baixa ao apoiar o próprio rosto ao da mulher.


_Pelo quê?


_Eu contei ao Weasley sobre a gente. – a mulher não se alterou. – Mas ele não acreditou muito.


_Imaginei. Sabia que você faria isso desde o dia que a gente… - o fim da frase perdeu-se no ifinito. – Darei um jeito nisso.


_Tenho que ir. – sua voz foi breve.


Os dois se levantaram sem afastar os olhos um do outro.


_Adeus. – ele disse aparatando logo depois.


_Adeus. – novamente ela disse para as paredes.


Olhou para a poltrona onde o homem estivera há poucos instantes. Não tinha certeza que sua atitude tinha sido a mais correta, mas foi o que lhe pareceu naquele momento.


E é isso o que sempre importa: o momento.


N/A
: Ah caroline, fico feliz que tenha gostado xD nessa, Blásio se tornou tudo de bom pra mim UHAUSHAUS
Bem, desculpem pela demora, a culpada foi a chuva que tirou a "minha" internet. Enfim, os três últimos capítulos estão saindo, espero que aproveitem. Beeijos e comentem ;*

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