Sensações



O homem encarava as costas da mulher. Estava escuro, o que significava que ainda era madrugada.


Ele estava naquela posição havia algum tempo. Uma de suas mãos estava em sua cintura.


Tudo tinha sido maravilhoso, mas uma coisa o incomodava.


_Hermione? – ele chamou baixo. Foi mais um sussurro, que a mulher escutaria apenas se estivesse acordada.


Hermione olhava a parede a sua frente. Estava nervosa. Triste. Mas não se sentia mal, como sempre acontecia.


Apenas achava errado que o primeiro homem de sua vida tivesse sido Blásio, e exatamente na época em que estava noiva de outro.


Suspirou quando ouviu o rapaz chamar seu nome. Girou na cama para encará-lo.


Aproximou o rosto do dele e lhe deu um beijo demorado. Voltou a posição anterior, puxando mais o lençol.


_O que foi? – ela pediu depois de algum tempo.


_É só que… quando eu… você já tinha feito isso com o Weasley? – o homem soltou envergonhado.


Estava se achando um bobo por fazer a pergunta, mas sua curiosidade era grande demais.


Tivera muita dificuldade para penetrar a mulher. Dificuldade demais para uma mulher que já devia ser experiente.


Ela respondeu com um sorriso inocente.


_O que parece? – ela perguntou se sentando na cama, ainda coberta com o lençol. As costas à mostra.


Ele não respondeu e continuou deitado, olhando-a.


_Quando você vai embora?


_Segunda vez que você me pergunta isso. – ele disse agora se sentando. – Por quê?


A mulher demorou um pouco para responder.


_Blásio, você tem que entender… eu estou prestes a me casar com o Rony.


_Já marcaram a data do casamento? – ele pediu curioso, se lembrando que não perguntara isso à mulher desde que se encontraram na porta do Saint Mungus.


_Não. – ela respondeu, o rosto esquentando.


_Então pronto.


_Então pronto o quê? – ela perguntou sem entender.


O homem repetiu a pergunta na cabeça. O que ele estava querendo dizer?


_Por que não desiste dele, hein? Quero dizer…


_Não continue. – ela o interrompeu nervosa se levantando.


_Por que ainda não estão casados? – ele perguntou mais alto, se levantando também. – Nem marcaram a data ainda. – disse como se aquilo fosse óbvio.


_E o que tem isso? – ela pediu dando um passo na direção do homem.


_Ah, qual é! – ele resmungou gesticulando as mãos. – Está claro que você ta enrolando o cara. Ou ele ta te enrolando. – ele comentou. – Embora ache que você quem não está querendo se casar.


_É claro que eu quero me casar. – ela disse alto, dando mais um passo em sua direção, apontando o dedo para ele. – Não ouse dizer que eu estou enrolando o Ron.


_Não está, então? – ele pediu demonstrando calma – não que estivesse.


Ela desviou os olhos resmungando um não.


_Você está mentindo. – ele comentou.


_E se estiver? Qual o problema nisso?


_O problema? Se você não gosta do cara, por que ta insistindo nessa história?


Ela apenas encarou o homem.


Estava confusa.


Sentia muito carinho por Rony. Gostava de estar com ele. Mas alguma coisa a perturbava na relação dos dois.


_Eu gosto dele. – ela disse baixo apertando o lençol ao corpo e se sentando na ponta da cama.


Blásio se ajoelhou em sua frente, segurando uma de suas mãos.


Ela baixou os olhos para o rosto do homem.


_Não o suficiente. – ele disse baixo acariciando seu rosto.


_É, talvez. – ela respondeu envergonhada.


Estava sentindo a sinceridade fluir. Era bom e angustiante ao mesmo tempo.


_Por que não desiste disso?


Ela mexeu os ombros em resposta.


_Me sinto… na obrigação. Blásio… não é como se você fosse entender. – ela resmungou soltando a mão do rapaz.


Aquele era um sentimento que nem ela mesma entendia.


Ele não respondeu. Achou que talvez fosse melhor deixá-la quieta. Ele a conhecia e sabia que aquela discussão não levaria a nada.


Observou ela se levantar e caminhar até a porta do quarto. Parou alguns segundos de costas para ele.


Ele levantou e antes que pudesse se aproximar, ela se virou para ele. O homem parou.


_Acho que no fundo… eu sempre te esperei, na verdade. – ela sorriu ao dizer.


Deixou o lençol deslizar pelo próprio corpo até o chão. Piscou para o homem e caminhou na direção do banheiro.


Espera. Os dois estavam discutindo alguns segundos antes e agora a mulher o chamava para mais uma sessão de amor?


Ops! Amor?


Sem pestanejar, o homem a seguiu.


Antes de entender a mente de Hermione, ele pretendia compreender seu corpo.


_Eu não consigo te entender. – o homem suspirou ao chegar na porta do banheiro, vendo a sombra da mulher no chuveiro.


_Como assim?


_Você me chama aqui e não me deixa entrar? – ele resmungou tentando entrar novamente.


Hermione riu gostosamente.


Entrara no banheiro e lançara um feitiço para que o rapaz não pudesse segui-la.


_Eu te chamei? – ela disse cínica.


_É, chamou. – ele suspirou.


Ele ouviu por alguns minutos a água caindo.


_Por quê?


_Hãn? – a mulher resmungou do chuveiro sem compreender.


_Por que me esperou? – sua voz era baixa.


Não pensara nas palavras da mulher quando ela as havia dito, mas agora, sentia-se confuso.


Ela devia ter cinco anos ou mais de namoro com o Weasley e ele se lembrava que o primeiro a colocar a mão em suas pernas havia sido ele.


Ele era o único a quem ela contava tudo, confiava inteiramente e ao mesmo tempo duvidava. Ele era o único que conseguia deixá-la deslocada de um jeito ameno. A deixava confusa, com medo, ansiosa, atrevida, possessiva e descontrolada.


Eram sensações que ele ainda causava em Hermione e, lá no fundo, ele tinha ciência disso.


A mulher encarou os azulejos brancos. Parara de lavar o cabelo, as mãos ainda no ar.


Às vezes se sentia incomodada com a forma com a qual o homem a deixava desestabilizada. Na maioria das vezes, ela conseguia controlar suas palavras, mas com ele? Era basicamente impossível.


_Eu não sei. Nunca soube. E, de verdade? Acho que é algo que nunca vou saber. Você simplesmente me deixa assim: mais aberta para novos caminhos.


Ela respondeu, voltando ao banho.


O homem ouviu a tudo quieto. Tentou entrar novamente no banheiro, se surpreendendo ao conseguir.


Soltou o lençol que estava preso em sua cintura e entrou debaixo do chuveiro junto com a mulher. Abraçou-a pelas costas beijando seu pescoço.


Ela se virou para olhá-lo, apoiando os braços em seu ombro.


_É por isso que eu quero saber quando você vai embora. – ela disse séria. – Eu quero me relacionar normalmente com Rony, Blásio. E eu só consigo isso quando você está longe.


Pela primeira vez, em toda sua vida, o homem se magoou. Teve alguma felicidade ao ouví-la admitir que ele mexia com ela, mas não era agradável saber que ela o queria longe. Nem mesmo para ele.


Suas mãos, que antes estavam segurando a cintura da mulher, a soltaram lentamente. O choque de suas palavras estampados no rosto.


_Ah Blásio, qual é. – ela disse ironicamente quando ele a afastou.


Pegou uma toalha, colocando-a em volta do corpo e seguiu o homem até o quarto, observando-o vestir a roupa.


_Blásio? – ela chamou baixo, enquanto o via vestindo a blusa branca de manga ¾. Blusa essa que o deixava extremamente sexy, principalmente se levando em conta o olhar sedutor que o homem possuía. – Eu estou dizendo a verdade.


_Olha só, Hermione, isso é uma grande idiotice. Quero dizer, você fica falando o tempo todo que não resiste a mim, que me esperou pra ter sua primeira transa e logo depois diz que quer que eu vá embora pra você poder ficar em paz com o Weasley. Eu não sei exatamente o tipo de paz que você quer, levando em consideração que você está se auto-obrigando a casar com o cara.


O homem tremia enquanto falava. Raiva? Sim, era um dos sentimentos que tomavam conta dele.


_Eu já disse uma vez pra você desistir do Weasley. Já disse isso hoje. Mas você insiste nisso. – a mulher estava próxima a ele e tocou seu braço, mas o homem se afastou. – Será que é tão difícil assim pra você, entender que eu… que eu te amo? – ele se assustou ao ouvir as próprias palavras.


Blásio estava na porta do quarto. Hermione em frente à cama, olhando confusamente o homem.


Ela percebeu que após dizer isso, o homem fez uma cara de quem não estava compreendendo o que havia acabado de dizer. Ela também não compreendia.


_Esqueça. – ele disse levantando o dedo indicador como se aquilo fosse idiotice.


Hermione ficou pasma, ouvindo os passos se afastarem e depois voltarem apressados.


Blásio parou na porta do quarto novamente, vendo a mulher com um olhar abobado.


_Não, não esqueça. Quer saber? Eu gosto mesmo de você, gosto muito. Cara, eu fico excitado apenas te ouvindo. Sabe o que é isso? Nesses quatro anos, eu não te esqueci em momento algum. Você pode até dizer que eu peguei todas nesse meio tempo e eu não vou discordar, peguei mesmo. Mas nenhuma se compara a você. Nenhuma tinha esse seu cheiro, essa pele. Sua risada. – ele sorriu ao dizer isso. - Eu sempre penso como seria se eu tivesse deixado o orgulho de lado em Hogwarts, pedido você, sei lá, em namoro. Queria saber o que aconteceria. Talvez desse em alguma coisa legal se tivesse começado pelo fato de você não ter me rejeitado na primeira oportunidade. Aquela sua conversa com o Weasley definitivamente nunca saiu de minha cabeça. – ele mordeu o lábio inferior olhando a mulher. - Talvez se você tirasse essa ideia de casamento com o Weasley da cabeça, as coisas poderiam ser legais com a gente. Não deu certo uma vez, mas em outra tentativa, quem sabe… sei lá, se você estiver disposta a arriscar, sempre há um jeito de me encontrar. Devia pensar nisso com calma, sabe? – ele disse apontando a própria cabeça. – Eu não sou tão ruim assim Hermione, e você sabe bem disso, afinal, me suportou aquele feriado em sua casa. Seja lá qual for o motivo de você estar querendo se casar…


_Eu amo o Ron, tá legal? – a mulher o interrompeu.


De longe, Blásio viu as lágrimas em seus olhos e depois que elas desceram, foi impossível ignorar. Pela segunda vez aquela noite, a mulher o havia machucado.


_Ama? Como você ama se…


_Amo sim. Eu só não… sinto vontade de ter nenhum contato físico com ele, entendeu? Quero dizer, eu não me imagino fazendo com Rony o que eu fiz essa noite com você.


_Aí é o ponto. – seu comentário foi baixo.


A mulher pensou em parar, mas não queria. Sempre haviam sido sinceros um com o outro. Ele já desabafara, agora era sua vez.


_Não! – ela exclamou. – Nem tudo se resume a um corpo bonito, Blásio. – ela apontou o rapaz. – Quero dizer, que pessoa, em sã consciência te dispensaria? Você é divertido, inteligente, meigo quando quer e lindo. Mas…


_Isso não é suficiente pra você? – sua voz saiu tão rasgada, que ele não se surpreendeu quando começou a enxergar a mulher embaçadamente.


Ela levou as mãos à cabeça começando a ficar nervosa. Andou em círculos no lugar em que estava alguns segundos.


_Você está dizendo que me ama, mas você tem que entender que não é bem assim.


_Rá. – ele disse quando a mulher deu uma pausa. – Então quer dizer que sabe dos meus sentimentos agora?


_Olha só, não é como se Rony fosse um cara prestes a sair na revista Beauty, como um dos mais desejados.


_Se você gostasse dele de verdade, isso não importaria.


_Mas que merda! Isso nunca me importou, até você aparecer. Quando eu conversava com alguma garota e o assunto ia parar em garotos, elas corriam dizendo “Ah, você já viu o Zabini? Não sei o que ele fez nas férias, mas que o deixou um pedaço de mau caminho, isso lá é verdade”. Velho, eu te via todos os dias e você sempre chegava me olhando como se eu fosse o lanche da noite. Nenhuma garota lida bem com isso, é claro que eu fiquei confusa. Mexida.


_Isso é desculpa? – ele pediu ignorante.


Ela suspirou.


_É. Não. É o que eu uso. – ela respondeu chateada. – Eu amo o Ron, as coisas mudaram entre a gente depois que eu te conheci. Talvez Rony estivesse certo. Você é um sonserino, era, que seja. Sabia mexer com as pessoas. Sabe ainda. Se eu tivesse pensado nisso antes de me aproximar demais, teria te evitado.


_Então é isso? – ele pediu chateado.


Queria ir embora. Precisava ajeitar logo as coisas no Ministério e voltar para a América do Norte, o mais rápido possível. As coisas ali estavam indo de mal a pior. Ficar em Londres não o ajudaria a esquecer Hermione.


_Acho que sim. – ela respondeu para as paredes, ouvindo o estampido vindo da sala.


O homem havia ido embora.


Ela não se arrependera. Vivia bem sem Blásio, na verdade, ficava melhor sem ele.


Explicando a realidade para o homem, talvez fosse mais fácil.


Ele não se aproximaria mais dela e as coisas com Rony poderiam se encaminhar normalmente.

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