Reencontro



O Saint Mungus estava cheio. Uma virose atingira os bruxos na última semana e o movimento ali não tinha parado um minuto.


A mulher de cabelos castanhos andava de um lado para o outro do hospital conferindo todos os funcionários e as ocorrências. Era um dia daqueles.


No balcão de informações, um homem a observava de longe. Estava parado olhando-a havia algum tempo. Depois de perguntar a uma das enfermeiras o cargo que a mulher de cabelos castanhos ocupava, não pôde acreditar que ela fosse enfermeira-chefe.


Não é como se o homem a tivesse imaginado trabalhando com pessoas enfermas. Enxergava-a em algo maior no Ministério da Magia, não ali.


Voltou-se novamente para a enfermeira, que não era mais a de cabelos negros a qual ele fizera a primeira pergunta. Agora era uma mulher que estava na faixa dos trinta, os cabelos louros um pouco abaixo do ombro.


Ela olhou o homem negro e musculoso com interesse. Apenas de olhar, a mulher sabia que ele não devia passar dos vinte e cinco, mas não dispensou um sorriso a ele. Não era tão anormal assim, uma mulher mais velha, paquerar um homem mais novo. Não no século em que estavam.


_Posso ajudá-lo? – a mulher disse se inclinando na direção do homem, que sorriu, percebendo suas intenções.


_É que eu queria saber o horário de saída da enfermeira-chefe. – ele respondeu simples, vendo que a mulher não gostara de sua resposta.


O que ele podia fazer? Em qualquer dia normal, ele paqueraria a mulher a sua frente e marcaria alguma coisa com ela para quando terminasse o turno. Ele adorava mulheres mais velhas. A levaria em um restaurante qualquer e depois iriam para um hotel – não gostava de pessoas estranhas em sua casa.


Mas não era um dia normal.


Após quatro anos sem encontrá-la, indo ao Saint Mungus para visitar seu colega de trabalho, ele simplesmente a via ali. Séria e concentrada, da mesma forma de que se lembrava.


_Granger? – a mulher perguntou perdendo o interesse.


_É.


_Você é o quê dela?


_Um velho amigo.


_Não posso dar informações sobre os funcionários. – ela o olhou estranhamente.


_Já não nos vemos há um bom tempo. Queria fazer uma surpresa. – ele deu uma pausa, mas resolveu continuar vendo que a mulher não cederia. – Minha cara, - ele disse baixo, fazendo a mulher voltar a encará-lo. – diria a você para perguntar a ela se já não nos conhecemos, mas como disse, desejo fazer uma surpresa. – ele terminou com um sorriso encantador.


Blásio Zabini sabia o que fazer para conseguir as coisas. Ele sabia que precisava apenas utilizar as palavras certas e depois terminar com um sorriso. Não havia uma mulher sequer que resistisse aquilo. Era como se as enfeitiçasse sem magia.


_Ah, bem… Granger já está para terminar o turno, na verdade. Mas ela sempre se demora mais por aqui. – ele balançou a cabeça em concordância.


O homem sorriu mais um pouco e a mulher parou de mexer nos pergaminhos.


_Ela sai pelos fundos? – ele pediu apenas para confirmar.


_Não, não. Sempre pela frente. Ela gosta caminhar.


_Obrigada, minha cara. – Blásio se preparou para sair, mas voltou. – Foi adorável nossa conversa. Qual seu nome? – ele pediu ciente de que não se lembraria da resposta depois mesmo dela dizê-lo.


_Ah, Smith. Teresa Smith. – a mulher respondeu ansiosa.


Pensou que talvez não tivesse perdido o rapazote para a mocinha Granger.


Blásio se afastou com um sorriso.


Hermione Granger observava de longe sua colega. Teresa era tão oferecida, que ela ficava perturbada de passar o dia vendo-a olhar descaradamente para os homens, como a mulher fazia.


Achava estranhamente desagradável aquilo. Tudo bem que ela fazia questão de deixar claro que não desejava se casar, mas isso não era motivo para dar em cima de todo e qualquer homem que aparecesse em sua frente.


Olhou um pouco o homem que saía pela porta. Pareceu-lhe estranhamente familiar por um segundo, mas ele não parecia o tipo de homem que ela esqueceria. Tudo bem que estivesse vendo apenas suas costas, mas já era o bastante para se lembrar.


Caminhou até o balcão onde Teresa se encontrava e sorriu.


_E então? – Hermione pediu demonstrando animação. – Tem um encontro hoje, é?


_Que nada. – ela sorriu ao responder. – Você não o conhece? – a mulher pediu temerosa.


Conhecia Hermione, o bastante para saber que ela odiava que dessem informações sobre si para outras pessoas. Ela não dera uma grande informação, mas dizer o horário de saída de sua colega de trabalho já era grande coisa.


_Não. – a outra respondeu confusa pela pergunta da colega. – Acho que não. Só o vi de costas, por quê?


_Ah, nada.


_Vou sair mais cedo hoje. – Hermione comentou colocando seu material em cima do balcão, o qual Teresa pegou.


Massageou um pouco a cabeça.


_Está se sentindo bem? – Teresa perguntou observando os pergaminhos de Hermione.


_Não muito. Minha cabeça dói… bem, vou indo. – a mulher se afastou do balcão.


Trocaria de roupa antes de sair e procuraria Ed, que era seu amigo e lhe daria uma poção qualquer. Não gostava de se auto-medicar.


 


O homem esperou apenas vinte minutos, até o motivo dele estar parado na frente do Saint Mungus aparecer.


_Olha só quem está aqui. – ele disse brincalhão.


A mulher reconheceu a voz. Estancou no lugar em que estava. Pensou dois segundos e virou.


Blásio estava em sua frente, um sorriso dançando nos lábios enquanto ele se aproximava para lhe dar um abraço.


_Estou surpresa. – ela disse estendendo a mão antes de mais nada.


Se achou uma idiota fazendo isso e só piorou quando o homem a olhou como se aquilo fosse um absurdo. Não que ela pudesse controlar aquele ato. Quando se é uma enfermeira-chefe, se aprende a não ficar abraçando qualquer pessoa.


Não que Blásio fosse um qualquer, mas também não chegava a ser alguma coisa dela.


_Desculpe. – a mulher pediu com um sorriso.


O homem levantou as mãos como que em defesa.


_Tudo bem.


Eles silenciaram algum tempo.


Hermione olhava-o admirada. Blásio não estava muito diferente, mas estava um deus a seus olhos. Reprimiu o pensamento lembrando-se de Rony. Por favor, não tinha mais dezoito anos. As coisas que haviam acontecido com Blásio tinham que ser esquecidas. Elas haviam sido enterradas quatro anos e meio atrás e as coisas estavam muito bem como estavam.


Percebeu pelas vestes que ele era o homem que estava dentro do hospital alguns minutos antes conversando com Teresa.


_E então, por que não vamos tomar um… - o homem olhou ao redor e viu uma cafeteria do outro lado da rua. – Café?! – ele disse meio inseguro voltando a olhar a mulher.


_Tenho minhas dúvidas quanto a você já ter tomado alguma coisa de um bairro trouxa. – ela comentou.


_É melhor do que ficarmos parados em frente a um prédio abandonado. – ele disse apontando para o Saint Mungus, que para os trouxas que passavam, não era mais que um galpão caindo aos pedaços.


Ela riu balançando a cabeça.


_Você sabe se estou disponível para tomar um café?


_Querida, passamos quatro anos sem nos ver. Vai me dispensar dessa forma?


Blásio sabia que a mulher seria um pouco arisca. Não é como se ele tivesse superado o que havia acontecido com ela. E tinha certeza de que ela também não havia esquecido, bastava ver como o olhava.


Sempre pensava no que tinham vivido. Às vezes se arrependia por não ter tentado nada a mais – na verdade, se lamentava por isso todos os dias -, nunca encontrara em sua vida de encontros casuais, nenhuma mulher que o tentasse como Hermione conseguira fazer em sua adolescência.


E na época, a única coisa que faziam era se beijar. Basicamente, ela conseguia tentá-lo sem fazer nada.


_Tudo bem. Acho que não tem nada demais. – a mulher respondeu sorrindo e se virando para atravessar a rua.


O homem a seguiu imediatamente.


Hermione estava insegura. Tentou mentalizar que era apenas um café. Cafés não tinham nada demais.


Eles se sentaram na mesa do lado de fora da cafeteria. Um garçom chegou logo depois e os dois fizeram o pedido.


_Enfermeira-chefe, hein? Quando decidiu isso? – o homem perguntou sério.


Apoiou os cotovelos na mesa e encarou a mulher.


Hermione corou com a intensidade do olhar. Mexeu no cabelo para tentar diminuir a tensão.


_Ah, bem, eu já tinha isso em mente.


_Nunca comentou nada comigo.


Ela balançou os ombros como se não fosse algo importante.


Blásio se afastou da mesa quando o garçom trouxe os pedidos. A mulher agradeceu mentalmente.


_E você? O que tem feito?


_Relações exteriores. – a mulher fez um som de agrado.


_Com quem está trabalhando? – ela perguntou inclinando o corpo na direção do homem.


_Com aquele que ninguém quer lidar.


_Estados Unidos? – ela pediu e o homem concordou. – É, Rony comentou a dificuldade em trabalhar com eles.


O homem desviou a atenção para uma das mãos da mulher buscando alguma coisa.


_Uh, não está casada então.


_Não. – Hermione respondeu baixo mostrando a outra mão. – Estou noiva.


Blásio sentiu algo ruim dentro de si. A resposta não o agradara.


_E como está com o Weasley?


_Normal. – ela respondeu bebericando um gole do próprio cappuccino.


_Como normal? Ele continua mandando em você?


Ela o olhou ansiosa.


_Tem que ser sempre tão desagradável assim?


_Desculpe. Não consigo resistir.


Ele riu um pouco. Terminaram em silêncio. Blásio pagou a conta e os dois saíram andando pelo bairro trouxa.


_Estou curiosa. Não deveria estar na América do Norte?


_Deveria, se eu não tivesse conseguido um acordo com eles. – o homem respondeu orgulhoso.


_Que acordo?


_Você sabe que a Leis dos EUA são um pouco liberais ao extremo. Eu só tinha que conseguir acrescentar algumas regras a população de lá.


_E conseguiu. – ela comentou.


_Claro que sim. O que eu não consigo? – o homem disse divertido.


_Zabini…


_Blásio. Chega de toda aquela formalidade.


Ela sorriu satisfeita.


_Certo, Blásio. É que amanhã teremos uma festa de despedida para a ex-enfermeira-chefe.


_Pegou o cargo tem pouco tempo?


_Faz uma semana hoje, na verdade. – a mulher sorriu ao dizer isso.


Quando decidiu ser enfermeira, achou que um dia talvez conseguisse mesmo aquele cargo, mas não esperava isso apenas com um ano de serviço.


_Então, - ela continuou. – eu tenho que ir agora. Mas sabe, Rony não virá amanhã, então pensei que talvez você… sabe, se não tiver nada para fazer, talvez possa vir como meu acompanhante.


_E seu dono? Será que irá gostar disso?


A mulher o encarou nervosa.


_Dá pra parar com isso? Já passou. Eu sei que exagerei um pouco ao fazer aquilo, mas não precisa ficar me lembrando. Adolescentes fazem besteiras, Blásio. Eu nunca fui tão diferente assim. – a mulher deu ênfase a última frase. – Não faz realmente diferença.


_Olha que faz. – ela resmungou algo inaudível.


_Vai vir ou não?


_Será que horas? – ele pediu parando junto com a mulher em uma esquina.


_Ela é nascida trouxa, como eu. Daí vai ser em uma casa de show trouxa. Às oito da noite. Na…


_Não poderia te pegar em casa não? – ele a interrompeu.


A mulher ficou tensa com aquilo.


Relaxa, ele só que ir te pegar em casa, ela pensava.


_Não sei se é uma boa ideia.


_Ah, Hermione. – ela tremeu ao ouvir seu nome. – Só vou te buscar.


Ela concordou indo na direção de um beco próximo.


Aparataram em frente à porta de um apartamento trouxa. O homem demorou um pouco para perceber isso.


_Você mora em um bairro trouxa? – ele pediu como se aquilo fosse loucura.


_Claro. – ela respondeu simples buscando a chave na bolsa. – Os imóveis bruxos custam um absurdo.


_Você mora sozinha? – ele perguntou com segundas intenções quando a mulher achou a chave.


Ela o olhou desconfiada.


_Sim. Por quê?


_Só pra saber. – ele riu.


_Certo. É melhor você ir. – ela comentou.


_Amanhã então eu venho aqui. – ele respondeu se aproximando da mulher.


Passou os braços por sua cintura e apertou seu corpo ao dela. Hermione prendeu um tremor quando sentiu o corpo de Blásio no seu.


Espera, ele não podia continuar deixando-a daquele jeito tonto depois de anos, podia?


Blásio agradeceu por ela não ter impedido-o de abraçá-la daquela vez. Foi tão… agradável.


_Até amanhã. – o homem disse antes de se afastar e aparatar.


A mulher entrou em casa ansiosa fechando a porta com força.


Por quê estava com a impressão de que aquela história não terminaria bem?

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