Triângulo Amoroso



O homem estava sentado em uma poltrona grande.


Encarava intensamente uma pequena marca no braço, como se assim pudesse fazê-la arder, queimar, qualquer coisa que funcionasse como um sinal da mulher. O sinal de que ele já podia ir encontrá-la.


Mas não adiantava. Ela continuava quieta, inexistente.


_Eu não acredito que ainda está esperando aquela Sangue-Ruim. – ele ouviu a voz do amigo um pouco distante.


Levantou a cabeça apenas para encontrar Draco Malfoy, encostado em uma parede, em algum dos degraus da escada.


_Cara, é sério, você tem que tirá-la da cabeça. – ele deu ênfase ao “tirar”.


_Não tem mais nada pra fazer não? – ele pediu baixo fazendo-o rir.


_E você? Blásio, são duas da manhã. É claro que ela não quer te ver.


_Deve ter acontecido alguma coisa no hospital. – ele disse voltando a olhar o H em seu braço.


_Ou talvez ela tenha aproveitado a noite com o Weasley. Desencana cara, você mesmo me contou o que ela disse. Ela só ta querendo alguns encontros.


_O que você acha que eu quero? – o homem falou mais alto se levantando.


O amigo havia conseguido irritá-lo. Era algo normal ele fazer isso, mas aquele dia era diferente.


Ele queria ficar sozinho, ou com Hermione. Draco sabia disso e mesmo assim estava ali.


_Com certeza não são encontros de uma noite só. – ele respondeu fazendo o homem parar alguns degraus acima dele.


Blásio não respondeu. Subiu os últimos degraus e foi na direção do quarto que estava dormindo nos últimos dias.


Seu amigo podia ser chato, mas pelo menos o havia abrigado e, isso o mantinha sem respostas quando Draco o provocava. Que ele estava certo, isso lá era verdade. Mas era complicado para Blásio ouvir aquele tipo de loucura vinda da boca de alguém.


Ele nunca se apegava a ninguém. A mulher nenhuma. Agora ele ficava nas noites esperando a pequena marca em seu braço queimar para poder ir encontrá-la. Era incrível a mudança que ele sofria quando a via. Era como se tudo estivesse completo. Como se o que ele precisasse estivesse estritamente ligado a ela.


Era um sentimento bom. Deixava-o bobo, rindo a toa.


Apenas aquele momento não estava bom. Ele era angustiante.


 


A mulher estava no banheiro. Ouviu um estalo forte vindo de fora e aguentou a dor em silêncio algum tempo.


_Ron? – chamou, sua voz saindo um pouco sufocada.


Colocou a mão sobre a barriga com força, como se assim pudesse amenizar o que sentia.


_Blásio. – ela ouviu a resposta do outro lado.


Suspirou colocando a cabeça entre as pernas. O que o homem estava fazendo ali? Eles já haviam conversado sobre ele aparecer sem aviso prévio em seu apartamento. O que faltava a ele entender?


_O que foi? – ele pediu quando a ouviu gemer e xingar ao mesmo tempo do outro lado.


_Nada. – ela resmungou se levantando.


_Sério, você pode falar comigo. É tão difícil assim compreender isso? – ele reclamou quando a mulher passou por ele em direção a cozinha.


_Já disse que não é nada. – ela resmungou.


Blásio a observou beber três copos de água seguidos.


_Você está tremendo, Hermione.


_Por que não me deixa em paz? – a mulher se virou para ele irritada.


Ela apontou a porta, mas o homem não se deu ao trabalho de olhar na direção apontada. Se aproximou da mulher.


_Conversa comigo. Ontem você me pôs pra fora a ponta pés, agora…


_Eu só quero ficar sozinha, é tão difícil entender isso? - a mulher praticamente gritava agora.


Quanto mais ela se alterava, mais o convencia a ficar ali. Ele ficava preocupado que talvez ao sair, ela fizesse alguma besteira. Estando ao seu lado, podia impedi-la de qualquer coisa.


_Por que você e o Ron têm que se parecer tanto no quesito idiotice? – ela resmungou para provocá-lo.


Compará-lo ao seu maior rival seria uma boa ideia se não estivesse naquela situação. Ela não estando bem, o homem também não ficava bem.


Ela suspirou desistindo.


_Está doente? – ele perguntou com os braços cruzados, quando a mulher bebeu mais dois copos cheios de água.


_O que te parece? – ela pediu olhando-o com raiva.


Estava sentada no sofá com a mão apertando um pouco abaixo da barriga. Não doía nada, mas ela o fazia por hábito do dia.


_O que você tem? – ele perguntou baixo, se sentando ao seu lado no sofá.


Ela se esquivou quando o homem se aproximou pra abraçá-la.


_Ok, ok. Só quero que você fale comigo. Só isso.


Os dois estavam distantes. Um em cada canto do sofá.


Ela o encarou insegura alguns segundos.


_Eu estou com infecção urinária. – ela disse baixo.


_Você fez esse drama todo por causa disso? Eu te respeitaria. Não tararia você estando doente. – ele brincou, mas não obteve nenhum sorriso da mulher.


_Eu me consultei ontem e a doutora disse que isso às vezes acontece quando uma mulher, que não tem o costume, tem relações todos os dias. Algo assim.


_Algo assim. – ele repetiu como se a mulher estivesse com mais problemas. Ela não era o tipo que falava de algo sem ter certeza. – Nós não temos relações todos os dias. Nos vemos três, quatro vezes na semana no máximo.


A mulher o encarou rapidamente com olhos culpados.


_Ooh! Então você e… e o Weasley tem…


_É.


_Uau! – ele disse ao mesmo tempo que chocado, magoado.


Esperava ser o único tão íntimo da mulher, mas pelo que ela estava dizendo, não era bem assim.


_Desde quando? – ele perguntou inclinado na direção oposta à mulher.


Ela se mexeu no sofá incomodada, voltando a olhá-lo.


_Logo depois que eu e você…


_Então quer dizer que nas noites que eu não estou com você, é porque ele está?


_Por aí. – ela disse se levantando e correndo para o banheiro.


Blásio ficou sentado quieto no sofá ouvindo a mulher murmurar xingamentos no banheiro.


Abaixou a cabeça. Aquela semana estava ruim. Muito ruim.


Draco estava certo. Aquela relação com a mulher estava acabando com ele.


No Ministério, já haviam chamado-o para retornar, ele já estava prestes a completar a cota da licença – que era de dois meses e meio – mas não tinha vontade alguma de voltar para a América.


Alguma coisa tinha que ser verdadeira. Não era possível que a mulher achasse que estava naquela relação sem sentir nada a mais por ele. Era arriscado, intenso demais.


Hermione fazia questão de sempre deixar claro a ele que não queria que seu noivado acabasse por causa de si mesma. Se sentiria totalmente culpada e conhecia Rony: se ele a perdoasse, não seria totalmente verdadeiro.


Além de existir sempre aquela dúvida pairando. Será que ela fez de novo? A mulher tentava imitar a voz do noivo nas conversas dos dois.


O homem pouco se importava com Rony, mas a mulher ficava realmente triste ao pensar em perdê-lo. E Blásio percebia isso.


Ele não aguentava mais aquilo. Não queria mais dividi-la com ninguém. Principalmente agora que a mulher lhe revelara que a intimidade com o noivo já havia chegado ao último estágio. Blásio a queria apenas para si.


Ele tinha de fazê-la compreender que as coisas podiam dar certo. Tinham que dar certo.


Amaldiçoou-se por ser Blásio Zabini. Para ter a mulher, não reclamaria nada em ter nascido como o pobretão do Weasley. Queria tanto tê-la só para si!


A mulher levantou aproximando-se da porta.


_Blásio? – chamou baixo. – Eu sei que é meio complicado, mas será que pode arranjar uma melancia para mim?


_Melancia? – ele pediu confuso da sala. – Para quê, exatamente, você quer uma melancia no meio da noite?


_É que ouvi dizer que melhora a infecção tomar o suco, sei lá.


_Que loucura. – foi a única coisa que ele disse, antes do ouvido da mulher ser preenchido pelo estalo alto.


_Droga. – murmurou baixo.


Seus olhos queimaram e no instante seguinte, lágrimas molhavam seu rosto. Ela desceu até o chão com as costas encostadas à parede.


Estava difícil. Tudo estava dizendo a ela para se afastar do homem, mas ela simplesmente não conseguia.


Lembrou-se da promessa que fizera a si mesma semanas antes. Jurara que quando Rony resolvesse marcar a data do casamento, ela cortaria qualquer relação com Blásio.


Rony havia conversado uma semana antes que já era hora de marcar o casamento.


Uma semana.


E ela não fizera nada para marcar o fim dos dois.


A mulher sabia que não podia levar aquilo para sempre. Era bom estar com o homem? Sim, era maravilhoso. Mas ela tomara a decisão de estar com Rony. Casar com Rony. Construir uma família com ele. Tudo se resumia a ela e ele.


Então qual a razão exatamente para ela estar chorando sob o piso frio? Por que estava tão difícil chegar para Blásio e dizer “Ta tudo acabado”?


Era difícil dizer exatamente o que passava na mente da mulher, ou o que não passava.


Às vezes as pessoas entram em situações que marcarão toda a sua vida, sem saber. Coisas que podem magoar a si mesmos e a pessoas próximas que as amem. Tudo vai depender do que ela vai estar se metendo.


No fundo, desde o começo daquilo, Hermione sabia que as coisas não seriam fáceis. Ela não soubera recusá-lo na primeira vez, imagine depois de tanto tempo. Dois meses podem ser poucos para aqueles que não sabem aproveitá-los, para outros, podem ser mais que suficientes.


Para a mulher, foi o bastante. Mais do que o necessário. Mais que o esperado, na verdade. A licença do homem parecia não ter fim!


Ela não soube exatamente quanto tempo passou ali raciocinando. Apenas o barulho que significava a volta do homem a despertou.


_Tá feio o negócio aí, hein?! – ele disse alto.


Ela se levantou devagar. Lavou o rosto, observando o próprio reflexo.


O que ela tinha virado nesse meio tempo de confusão?


O rosto não tinha mais as mesmas feições fortes e obstinadas de antes. Estava cheia de olheiras, a única coisa que fizera nos últimos dias era chorar. Chorava a todo o momento.


Rony começara a ficar preocupado, passando a maior parte do tempo com ela.


Só não estava ali naquele momento, porque ela pedira que ele fosse embora.


Pensou que havia feito o certo. Imagine Blásio chegar ali do nada com Rony em casa?


Saiu do banheiro se aproximando da bancada da cozinha.


_Aqui está. – o homem apontou a jarra em cima do balcão. Acrescentou um copo e sorriu para a mulher.


Ela não mudou a expressão dura.


_Você quem fez? – ela pediu baixo, enchendo o copo.


_Não, o elfo doméstico de Draco que conseguiu para mim.


A mulher parou com o copo a alguns centímetros da boca.


_Qual é, você está doente. Não vai inventar história não, né?


Ela suspirou. Não estava a fim de discutir direito dos elfos naquele momento. Estava cansada demais para falar qualquer coisa.


_Você comeu certinho? – o homem pediu quando ela depositou o copo no balcão.


Ela o encarou.


Teve vontade de mandá-lo calar a boca, mas não podia fazer isso.


A culpa não era dele, mas não deixava de ser.


Como ela podia ter forças para acabar o relacionamento dos dois se ela gostava da forma delicada e preocupada que o homem a tratava?


Esse era o problema: ela não tinha forças.


N/A: Eu não sei se posto de novo essa semana, porque to cheia de coisa do colégio, mas daí espero que se divirtam com esse capítulo.
Ah sim, e qualquer informação errada nesse capítulo, é culpa da genicologista da minha amiga.
Beeijo

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