Tempo



O casal estava sentado na sala do apartamento da mulher. Discutiam havia alguns minutos os projetos para o casamento.


_Mione? – o homem alto e ruivo chamou enquanto a mulher se levantava para fazer um suco para os dois.


_Quê? – ela pediu sem se virar.


Procurava algum pacote de suco nas gavetas, mas não encontrava.


Maldito Blásio, pensou. O homem tinha mania de fazer suco o tempo inteiro quando chegava ali. Ela se perguntava onde ia parar tanto líquido!


_Acho que…


_Achei! – ela exclamou animadamente achando um pacote de suco de uva.


Olhou Rony que continuava sentado no sofá em silêncio.


_Desculpa. – ela riu voltando a atenção para o suco. – Continue.


_Certo. É que… bem, nós estamos planejando tudo, mas… bem, estamos esquecendo o principal. – ele soltou baixo.


_Estamos? – ela voltou a olhá-lo confusa.


_É. Não marcamos a data ainda.


_Ah. – ela riu ao colocar a mão sobre a cabeça. – Verdade.


_O que acha do início de Fevereiro? – ele perguntou quando a mulher não disse mais nada.


Hermione parou. Fevereiro era dali a pouco mais de quatro meses.


_ Fevereiro? Não acha… hãn, perto demais não?


_Perto? – o homem pediu rindo. – Mione, há quanto tempo estamos juntos? E nem eu nem você pretendemos fazer algo grande. Não há problema algum ser daqui alguns meses. Mamãe já disse que vai ser tudo organizado como no casamento de Gui.


_Só que dessa vez somos nós. – a mulher deixara o suco pela metade e caminhara até onde o homem estava sentado.


Ele sorriu enquanto ela se sentava em seu colo, passando os braços ao redor de seu pescoço.


_Sabe, você tem razão. Vamos terminar logo isso. Arrumaremos esse casamento até Janeiro e pronto.


O homem sorriu satisfeito. O que mais desejava, desde o início de seu romance com a mulher, era concretizar tudo aquilo.


Amava-a sinceramente e tudo o que mais queria era construir uma família com ela. Estava prestes a terminar o curso de Auror e o emprego já estava quase garantido. Os Aurores não cansavam de soltar elogios na direção dele e de Harry, coisa que deixava o homem bastante orgulhoso.


_Agora está tudo certo. – ele disse baixo no ouvido da mulher antes de beijá-la.


Iria se casar. O sonho de qualquer mulher. Mas por que seu coração estava apertado, em sinal de que a resposta não podia ter sido aquela?


_Melhor você ir. – ela disse após algum tempo.


_Por quê? – ele pediu chateado.


_Porque é tarde, Ron. Sua mãe vai ficar preocupada.


_Ela aguenta. – ele riu voltando a beijá-la.


Conversaram um pouco mais sobre o casamento, até o homem se despedir. Molly Weasley, mãe do homem, não dormia enquanto ele não estivesse em casa.


O último barulho a preencher o apartamento foi o do homem aparatando.


Hermione fixou o olhar no vazio alguns minutos e pensamentos sérios começaram a tomar sua mente. Tinha que colocar um ponto final na brincadeira com Blásio. Não podia chegar às vésperas do casamento traindo seu noivo.


Não podia ser tão difícil assim. Ela já se abstera do homem uma vez e não havia sido tão ruim. O que ela tinha que fazer era se afastar da tentação, mandá-la embora e aí tudo ocorreria bem.


Tudo ficara bem quatro anos atrás, por que seria diferente?


Exatamente, eu não sei - pensou.


Pegou a varinha que estava em cima da mesa de centro e murmurou um feitiço inaudível.


Passaram-se cinco minutos e nada do homem aparecer. Será que havia acontecido algo? Sempre que o chamava, ele aparecia rapidamente e agora, depois de pronunciar o feitiço três vezes em dez minutos, continuava sozinha na sala.


Xingou alguns minutos mais, até se acalmar.


Provavelmente estava com alguém, afinal, Blásio não devia estar se prendendo a ela. Ele era livre e desimpedido para isso.


A mulher sentiu um mal-estar ao imaginá-lo com outra.


Certo que ela estivesse com dois ao mesmo tempo, mas não gostou de onde sua mente a levou. Não gostava de dividir as coisas, mesmo que fosse um homem com o qual não tinha nenhum compromisso.


Ou apenas alguns.


Ela se recostou no braço do sofá. Ela sabia que quando pudesse, ele apareceria. Estava cansada e tinha que ir para o Saint Mungus na manhã seguinte cedo. Ficaria ali e quando ele chegasse, os dois conversariam.


A mulher adormeceu sem demora e despertou apenas com o estalo alto que indicava a chegada de Blásio.


_Ops, desculpe. – o homem soltou depressa quando percebeu que acordara a mulher.


_Tudo bem. – ela disse baixo espreguiçando-se.


Olhou no relógio e viu que não eram nem uma da manhã. Não devia ter dormido nem meia hora direito.


_Tenho que admitir: você fica linda desse jeito toda bagunçada.


_Espero realmente que isso tenha sido um elogio. – ela resmungou olhando-o ameaçadoramente. – Pensei que não fosse mais chegar.


_Sentiu minha falta foi? – brincou sentando-se ao lado da mulher.


_Espera. – ela tentou ser delicada ao se inclinar na direção oposta a do homem quando ele tentou beijá-la.


_O que é? – ele pediu desconfiado, seus olhos se tornando fendas.


_Blásio, precisamos conversar seriamente.


O homem sentiu o que estava por vir. A expressão cuidadosa, ao mesmo tempo preocupada da mulher, deixava claro que toda a história deles teria um fim naquela noite.


_Ron e eu conversamos hoje. – ela dizia cautelosa vendo a expressão do homem se endurecer a cada palavra. – E nós… bem, nós resolvemos marcar a data do casamento para o início de Fevereiro, não temos uma data certa ai…


_Como é? – a voz do homem beirava o desespero.


Ele se levantou do sofá alarmado e Hermione fez o mesmo. Se aproximou do homem, mas a própria se retesou e deu um passo para trás.


_Blásio, foi como eu disse no início…


_Como assim vai se casar com ele em Fevereiro? Não faltam nem cinco meses! – o homem agora estava chocado.


Não entrava em sua cabeça que Hermione fosse mesmo acabar a relação dos dois por causa do Weasley. Era impossível que ela conseguisse fazê-lo daquela forma sem pestanejar, mais uma vez.


_Blásio, por favor! – ela disse mais alto. O homem a encarou nervoso. – Você já devia saber que isso iria acontecer a qualquer hora. Eu deixei isso claro naquele dia em que você apareceu aqui se desculpando. Você lembra o que eu falei?


_Que quando o Weasley marcasse o casamento, nós teríamos que parar de nos ver. – ele resmungou vendo que a mulher esperava sua resposta. – Eu não significo nada para você então?


_Por que está complicando as coisas? – ela passava ansiosamente a mão entre os cabelos, como se isso pudesse ajudá-la. – Vamos lá, você disse que estava tudo bem…


_Você sabia que não estava... que eu disse aquilo apenas para continuar te vendo. Você não é idiota, Hermione. Você sabia disso o tempo todo e mesmo assim não me mandou embora e sabe por quê? Porque você não quer que eu vá, então por que não para com isso? Hermione, quantas vezes vou precisar dizer para acabar com o Weasley? – Blásio se aproximara da mulher e a balançava delicadamente pelos ombros. – Que eu te amo o suficiente?


_Não é apenas você quem tem que me amar, Blásio. – agora a mulher tinha lágrima nos olhos. – Eu também tenho que sentir alguma coisa. E o que eu sinto por você não passa de desejo. Eu amo o Ron, já disse isso uma vez e repito. Eu não posso e não vou desistir dele por um capricho.


_Você me esperou. – sua voz não passou de um sussurro.


Estava chateado, magoado. Triste, principalmente. Ouvira a mulher dizer que amava o outro uma vez, mas não doera tanto como a segunda. É como se ela estivesse afirmando aquilo com mais força e certeza que antes.


E realmente estava. Ela queria que o homem entendesse que tinha acabado. Ela amava o ruivo, definitivamente. Só sentia-se insegurança quando Blásio estava próximo.


_Foi apenas como se eu precisasse de um empurrãozinho. Quero dizer, eu e Rony nos damos bem em tudo, inclusive na cama. Agora. – ela não pôde evitar que o rosto corasse com essas palavras. – Só que… nós dois somos tímidos o bastante. Eu simplesmente sentia medo do que ele poderia pensar de mim se eu me entregasse a ele antes do casamento, ao mesmo tempo eu não queria ser totalmente inexperiente com ele. Eu queria que fosse especial, mas não com nós dois não sabendo nada. É claro que não ia dar certo.


A mulher tinha noção de que estava falando demais. Alguns sentimentos e pensamentos deviam ficar guardados em seu interior para sempre. Eles poderiam ser como agulhas perfurando uma pessoa por todos os lados, dependendo da sua importância para ela. E Hermione tinha certeza de que significava alguma coisa para o homem. Se estava difícil para ele entender que não poderiam mais se encontrar, então ela o faria compreender da forma mais dolorosa, que tudo chegara ao fim.


_Você me usou? – a voz de Blásio saiu arrastada. Agora ele quem dera um passo para trás, olhando a mulher com nojo.


_Acho que não precisa usar exatamente esse termo. – ela abaixou os olhos ante seu olhar.


_Acha? Quer dizer que você me espera quatro anos e meio para dar uma trepada e age como se isso não fosse nada?


_Blásio! – a mulher se assustou com as palavras do homem. Ele sempre fora educado e bem portado, agora falava aquele tipo de coisa?


_O que foi? Não gosta dos termos? Você é uma vagabunda, sabia? Bem pior do que as outras e sabe por quê? Porque você quer dar uma de santa e por trás faz essa merda toda. E quer saber que tipo de merda? – a mulher o encarava chocada e magoada. Conhecera enfim, o lado perverso de um bom sonserino. – O tipo ficar com dois caras ao mesmo tempo e, na real? Não gostar de nenhum. Sabe por que Granger? Porque se você gostasse ao menos um pouco de seu namorado, - ele mexia as mãos ao falar. – não importaria ele pensar que você era inexperiente, porque você sentiria algo maior por ele do que apenas o físico.


Ele riu ao dizer isso apontando ironicamente para si mesmo. Nesse ponto, a mulher se derramava em lágrimas, apenas ouvindo o que o homem tinha a dizer.


_E se você gostasse dele, certamente que você acharia bonito ter a tal da sua primeira vez com o Grande Amor de sua vida. Você o considera tanto quanto você me considera, Granger. E sabe quanto é? Pouco, muito pouco.


_Para. – sua voz saiu sufocada fazendo o homem rir.


_Parar? Mas por quê? Não está legal a nossa conversa? Estamos sendo sinceros um com o outro, não é? Por que só você pode fazer o papel de quem desabafa? – o cinismo era notável até no menear de sua cabeça. – É apenas um capricho seu ficar exatamente com ele até o fim, porque no fundo, eu e ele estamos em pé de igualdade nessa sua brincadeira. Então continue. Me diga qual mais de seus desejos eu realizei? Espero ter sido um bom brinquedo.


_Por favor. – a mulher jogou-se no sofá.


O homem não se abalou. Continuou em pé observando-a de cima.


Ela usara as palavras erradas. Não era porque o homem estava faltando se jogar da janela do último andar, que ele aceitaria ofensas daquela forma. Ele era apaixonado, não idiota - apenas um pouco, talvez. E além de tudo, era um sonserino formado.


Se ela queria fazê-lo entender que não podia existir mais nada entre os dois, havia diversas formas de fazer aquilo. Ela escolhera a maneira errada, não precisava humilhá-lo.


Ou tentar.


Hermione estava estática com a atitude do homem. Ela nunca pensara em si daquela forma tão promiscua. Sim, Blásio a machucara, mas de uma forma ou de outra, a fizera, no mínimo, sentir-se mal por perceber que tudo aquilo era verdade e não passava de um jogo. Um jogo em que ela era a juíza e em que ela selecionara os participantes. E mesmo antes que a partida começasse, ela já havia escolhido um vencedor.


E em sua mente, não era Blásio.


_Entenda, Granger. – ele se abaixara em frente à mulher. A voz tão delicada, que mesmo que tivesse voltado a chamá-la pelo sobrenome, fez seu choro cessar. – Eu gostar de você, não significa ser um brinquedo. No fundo, eu sempre soube que estava me envolvendo em merda ao me encontrar com você. Eu sabia que você não queria nada sério comigo, mas não tenho culpa se você é boa.  – ele riu ao dizer isso.


“Se você tá achando que me machucou, saiba que conseguiu o bastante para me fazer te deixar em paz para viver sua patética história com aquele ruivo. Mas não se preocupe, eu não estou sofrendo. – ele disse com o rosto em sofrimento fingido. – Você está. – as palavras atingiam a mulher, como se ela estivesse recebendo repetidos socos no estômago. – E você vai sofrer mais ainda, quando não me ver mais nesse mundo. Sabe por quê? – ele levantou a blusa de manga até o braço, mostrando o pequeno H em seu braço. – Isso aqui queima em tempo integral, Granger. Era só você pronunciar o feitiço que ele esquentava um pouco mais. Sabe o que isso significa? Que você me quer ao seu lado o tempo todo, mas só você não percebeu isso.


Blásio balançou a cabeça inconformado. Levantou o rosto da mulher, afastando depois qualquer parte de seu corpo que estivesse tocando nela.


_ Eu vou fazer você se arrepender por isso. – ela sentiu a certeza em sua voz. – Sabe o que você merece de mim, Granger? – ela sentiu um arrepio com as palavras do homem. – Isso.


E no instante seguinte, ela estava sozinha em seu apartamento que agora parecia pequeno demais. Sentiu-se sufocada.


As coisas saíram um pouco de controle, mas não havia nada que ela pudesse fazer. A besteira já estava feita.


Hermione Granger queria Rony Weasley? Ela o teria, mas talvez não da forma desejada.


N/A: caroline, do altas risadas com seus comentários xD espero que tanto esse, como os próximos capítulos de agradem.
por favor galerinha, comentem ç.ç beeijo

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Comentários (1)

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