Deveria dizer "obrigado"?



Capítulo 13 – Deveria dizer “obrigado”?


Pov’s Autora:


 


         Ninguém soube realmente quando começou. Era noite, e lá deveria ser o lugar mais escuro de toda a Europa.


         Azkaban era um lugar que ninguém desejaria estar, e Tiago Potter se perguntava até agora por que, entre todos os aurores no Quartel, tinha que ser justo ele a fazer ronda hoje. Claro que existiam, sim, pessoas para isso, mas, desde que a guerra explodira – por assim dizer – mandavam, pelo menos, um auror para lá.


         Os dementadores passavam entre as celas, sugando a felicidade – que Tiago duvidava que esses Comensais nojentos tivessem – dos prisioneiros.


- Rugson – cumprimentou Tiago, um tanto indiferente, admitia.


         Albert Rugson era o que cuidava de Azkaban, deixando as pessoas entrarem e saírem. Tinha uma aparência de alguém constantemente aborrecido, e todo mundo dizia nunca o ter visto sorrir. Ele o cumprimentou com somente um aceno de cabeça.


         Tiago decidiu que não conseguiria mais ficar propriamente dentro daquele buraco que era Azkaban, então, passou pelas enormes portas negras da prisão. A ilha em que ficava situada Azkaban era pedregosa, e para sair da prisão através dos barcos, era necessário descer com cuidado entre as pedras, se não, você ganhava uma passagem para o St. Mungus.


         O moreno Potter já pensava que ia cavar um buraco no chão, de tanto andar para lá e para cá, quando uma espécie de portal vermelho se abriu, de repente.


         Girava numa espiral que parecia não ter fim, misturando as cores vermelho sangue, preto e verde escuro. Era esquisito e atordoante. Enquanto esperava ver o que ia sair dali, foi pegando a varinha presa ao cinto. Algo não lhe cheirava bem ali.


         Então, voltamos ao ponto em que se instaurou o caos. Dementadores flutuavam pelo céu, indo embora, parecendo pouco se importar com os bruxos que fugiam. Os Comensais, aqueles que minutos antes estavam presos, corriam para fora da prisão, atirando-se ao mar para sair de Azkaban, ou – os mais espertos, idiotas – aparatavam, se ainda tivessem forças.


         Tiago há esse ponto, não poderia chamar ninguém do Quartel de Aurores, seria loucura, como levar todos para a morte eminente. Estava com um feitiço da desilusão, que tinha logo tratado de por em si mesmo quando a confusão apareceu, e chegou à conclusão que não ter chamado ninguém foi uma boa idéia – quando viu o que saía daquele portal esquisito.


         Era como uma besta irracional. Tinha pelo menos seis metros de altura – e Tiago não conseguia imaginar como descrever aquilo quando o perguntassem. Tinha quatro patas e era peludo, pêlos cor de vinho e alguns riscos esquisitos pretos. Corria meio curvado, o que não diminuía sua altura imensa. Seus olhos eram imensos, e sua íris parecia assumir um estranho tom florescente de verde. Ele bufava e rosnava, ou algo do tipo.


         As pessoas boas que cuidavam de Azkaban – que eram somente em torno de dez entre vinte e duas –, logo se apavoraram ou souberam que era uma batalha perdida, e aparatava.


         Tiago, ainda desiludido, e, só para garantir, escondido entre rochas, viu que essa confusão era só mais uma entre a nova série de confusões que viria. E ele sabia bem o motivo: os filhos de Comensais e os Comensais iniciantes tinham falado ao seu lorde que Harry Potter havia voltado.


= X =


FUGA EM MASSA EM AZKABAN!


         Foi a primeira coisa que os olhos de Hermione Granger bateram quando pegou o Profeta Diário, que sempre recebia, na segunda de manhã. E ela sabia que, enquanto olhava seus amigos conversando animados na mesa, que nenhum deles tinha visto o jornal ainda.


         É que Hermione sempre recebia o jornal e falava o que acontecia, então, não faria sentido seus amigos também receberem. Mas ela hesitou em contar. Com certeza a notícia já se espalharia antes mesmo do primeiro sinal tocar, mas... Não parecia uma boa idéia contar com Alicia presente.


         Se tinha uma coisa que Hermione era, era ser observadora. E, depois de vários anos observando sua amiga Alicia, chegou a conclusão que ela ainda tinha sede de vingança por Voldemort ter matado Harry, mesmo que ele tenha voltado.


         E, contar que todos os Comensais que estavam presos, fugiram, não parecia uma boa idéia. “Com certeza eles irão matar mais pessoas!” Hermione já podia imaginar sua amiga xingando.


         Suspirando, viu que não tinha mais escapatória quando Rony perguntou:


- E aí? Alguma morte? – o mínimo de tato, nota-se.


         Hermione revirou os olhos: - Que gentileza, Ronald.


- Qx oi? – reclamou Rony, com a boca cheia de ovos mexidos e bacon.


         Mas a morena ignorou isso e falou:


- Houve uma fuga em Azkaban.


         O clima na mesa tornou-se tenso. Alicia sentia seu ser queimar, raiva, seu corpo todo borbulhava num caldeirão de raiva. Respirou fundo, tentando-se acalmar, o suficiente, pelo menos, para perguntar:


- Quem fugiu?


         Hermione engoliu seco, sabia que Alicia entendia que não era culpa dela, mas viu os olhos azuis céu da amiga ficarem um pouco mais escuros, o que era preocupante.


- Bom... Todos os prisioneiros – murmurou quietamente Hermione.


         As jarras de suco de abóbora que todas as mesas possuíam, explodiram juntas, jorrando suco para tudo quanto é lado. Algumas pessoas que seguravam se assustaram. Outras próximas das jarras saíram encharcadas de suco. O grupo de Grifinórios ficou estranhamente seco, mas ninguém percebeu no meio da confusão. Ou pelo menos, quase ninguém.


- Al – tentou chamar Harry, mas a ruiva já saía do Salão Principal pisando duro.


         O moreno suspirou. Seria um longo dia.


 


Pov’s Alicia:


 


         No segundo que virei o corredor que não dava mais vista para o Salão, fiz o vôo da fênix, irritada demais para perceber que não tinha me transformado numa fênix antes de fazer isso.


         Sei no instante seguinte estava esparramada em um sofá vermelho no Salão Comunal da Grifinória. Olhei para a lareira, e ela de repente irrompeu em chamas, como aconteceu um dia com Harry.


         Harry.


         Comensais tinham fugido de Azkaban... Fugido. Poderiam matar mais pessoas, poderiam fazer muitas pessoas sentirem o que eu senti. Com a morte de um amigo, de um irmão, pai, mãe, ou o que fosse.


         E tudo era culpa daquele monstro, de Voldemort. Por que esse cara de cobra não aceitou, simplesmente, que tinha morrido? Por que tem que ser tão egoísta a ponto de matar para criar aquelas... Horcruxes idiotas.


         Minha pele queimava só na menção desse nome, eu sabia que parecia tolice para outros, que morrem de medo, mas eu sentia uma enorme vontade de estar frente a frente com aquele cara de cobra. Uma vontade irracional sabia que morreria se isso acontecesse, mas... Não conseguia reprimi-la.


         Senti alguém acariciando meus cabelos e sentei assustada. Meus olhos bateram nos olhos esmeralda de Harry, que me olhava sorrindo.


         Por alguns segundos, sua aparência mudou. Mas a imagem se repetiu na minha mente. Os cabelos revoltos ficaram mais negros do que de costume, os olhos ficaram como ouro derretido, a pele ficou um pouco mais branca – num branco bonito, só pra constar.


- Oi Harry – consegui falar depois de alguns instantes. E fiquei contente que minha voz tenha saído normal, sem aquela raiva que estava acumulada.


         Harry suspirou sua aparência já de volta ao normal, o que significava que eu encarava aqueles olhos verdes que me perseguiram em sonhos freqüentes depois que ele tinha morrido – pelo menos, eu o tinha de volta.


- Al, sei que não ficou contente – calma, Alicia, calma... Contente? – mas, por favor, não fique assim.


- Como não ficar assim, Pontas? Com raiva? Se sentindo impotente? – perguntei frustrada – Não consigo, simplesmente, não consigo.


- Imaginei que você fosse dizer isso – ele sorriu – Posso estar aqui há pouco tempo, mas observei você tempo suficiente para entender como você se sente.


         Ele me observou? Isso... Isso é bom, não? Quer dizer, ele repara em mim...


- E, como eu me sinto? – perguntei, sentando-me melhor do sofá, dando espaço para ele sentar-se ao meu lado, o que ele fez prontamente.


         Fiquei surpresa quando ele colocou minha cabeça no seu colo, e, enquanto explicava, voltava a acariciar meus cabelos ruivos.


- Os sentimentos são uma coisa engraçada, sabe – ele começou, e eu vi um tom de quem ia dar uma longa explicação – Às vezes, são coisas irracionais, e que quando nos perguntam “por que”, não temos resposta.


         Ele ainda sorria. Tentei concentrar meus olhos nos verdes dele. Ele voltou a ter aquela aparência – cabelos pretos mais escuros, olhos dourados, pele mais branca. Só que dessa vez continuou com ela.


- Eu me pergunto, às vezes, se a raiva não é como o medo. Quando sentimos medo de altura, não sabemos por que, é uma coisa que não entendemos. Só sentimos. E é por isso que me pergunto se a raiva não é parecida. Só sentimos. Ou você poderia me explicar por que sente tanta raiva de Lord Voldemort?


         Me senti frustrada. Ele estava certo – que mania que ele tinha de sempre estar certo.


- Bem... Porque ele te matou... Mata pessoas... Ah... Não sei – resmunguei de qualquer jeito.


         Harry sorriu vitorioso, olhando pela janela, enquanto quebrava o contato com nossos olhos. Sua aparência voltou ao normal.


- Posso te fazer uma pergunta? – indaguei para ele, curiosa sobre um fato.


- Isso já foi uma – um sorriso bonito ainda brincava em seus lábios – mas pode.


- Quando foi que você ficou tão... Pensador? Quero dizer, quando éramos criança você era mais “fazer primeiro, pensar depois”, entende?


         Ele riu – uma risada leve e deliciosa, que me fez sorrir.


- Eu acho que só pode ter sido quando perdi a memória, certo? Afinal, não consigo lembrar-se da minha infância. Mas, você gosta? – ele sorriu galanteador.


         E eu me senti derretendo. Isso era uma cantada, uma indireta, alguma coisa? Pontas fez isso por que quis ou foi inconscientemente? Ah, bom, não importa, eu me derreto todinha – ain, que deus grego! Pensando bem, eu estou com a cabeça no colo desse deus grego, ele está ACARICIANDO meus cabelos, enquanto me canta. Poderia ser melhor? Eu acho que não.


         Agora, sem histeria.


         Antes que eu pudesse responder – que COM CERTEZA seria sim – o retrato da Mulher Gorda se abriu, mostrando Susana (puta merda, ninguém menos malicioso para entrar aqui, não?), Neville, Mione e Rony.


- Sabia que vocês perderam a primeira aula? Que sorte que temos um intervalo agora, se não perderiam mais aulas – Hermione falou isso como se fosse o apocalipse acontecendo. Sempre tããão dramática.


         Lancei um olhar para Susana que dizia claramente: “guarde seus comentários para você” e não sei se foi por pena do mico que eu ia passar, mas ela obedeceu emburrada.


- Perdemos uma aula de História da Magia, grande coisa – revirou os olhos Harry.


         Rony olhou para o amigo, e disse rindo: - Parece, meu caro amigo, que Alicia está te levando para o mau caminho.


         Harry corou, e acho que eu também, mas logo tratei de responder.


- Correção, foi ele que me levou para o mau caminho quando éramos crianças, para você ter noção, nossa primeira conversa foi sobre os Marotos, o Mapa do Maroto e outras cositas mais – falei indignada.


         Todos rimos.


 


Pov’s Harry:


 


         Revirei-me na cama, fazendo meus olhos baterem no relógio de cabeceira que eu possuía na mesinha de cabeceira. Meia noite e treze.


         Foi um dia calmo, depois de todo aquele “auê” do café da manhã. Mas eu acho que estava com insônia. E não sabia o que me tirava o sono. Alguma coisa importante vai acontecer amanhã, eu só não conseguia lembrar o que é. Dezesseis de Novembro, dezesseis de Novembro... Só me vinha um branco gigantesco na cabeça. O que acontecia naquele dia de tão importante?


         Levantei da cama, disposto a ir para o Salão Comunal, pensar um pouco, ficar em frente à lareira, qualquer coisa que me tirasse dessa insônia. Mas, quando estava terminando de descer as escadas do dormitório, ouvi a voz de Susana falando, e logo tratei de subir mais alguns degraus e me esconder nas sombras, a escuta.


- Então, o que vai fazer amanhã? Já decidiu o que dar a ele? – a voz era maliciosa, e eu não me surpreendi vindo de Susana.


         Para minha surpresa, quem respondeu foi Alicia, e parecia tão frustrada quanto esteve de manhã. Será que ainda pensava em Voldemort e na fuga em Azkaban? Não, não poderia ser, já que Su perguntou algo completamente diferente.


- Por que daria algo? – sua voz era chorosa – Ele nem se lembra que dia é amanhã.


         Obviamente falavam de mim, se tinha haver com “lembrar”. Entretanto, não pude deixar de pensar em que tinha de tão importante em amanhã, já que, bom, deixa pra lá. Vou só ouvir.


- Não se lembra, por isso que você vai falar para ele, Alicia Melanie! – a voz de Susana já não era maliciosa e sim repreendedora.


- Ah, claro, vou chegar entregando um presente e falando: - ela fez um tom de voz jocoso – “Olha, Pontas, hoje é nosso Dia da Amizade, ta? Então, é, comprei um presente para você, sim, é seu, parabéns para nós! Uhu!”. É, seria mesmo muito bom.


         Eu imaginei a imagem de Susana revirando os olhos castanhos mel.


- Olha, Ly, eu detesto ser a que vai te acordar dos sonhos, mas... – Susana hesitou, ouvi ela respirar fundo e dizer – E se Harry não recuperar a memória? Não sabemos o que pode acontecer, e se a memória dele não voltar, você terá que contar tudo que pensa, desde o Dia da Amizade até que...


         Mas Alicia interrompeu ela, a voz ainda chorosa – e eu não descobri até aonde esse “até” se estendia.


- Olha, eu... Eu só quero dormir agora, está bem, Su? – ouvi os soluços fraquinhos de Alicia, me cortando o coração, porque sabia que estava chorando.


- Oh, Ly, não chore, não queria magoar você – desculpou-se rapidamente Susana.


         Na parede que eu conseguia enxergar das escadas, vi a sombra das meninas, provavelmente pela luz da lareira. Alicia limpou as lágrimas, abraçou Susana e disse:


- Tudo bem, tudo bem... – falou fraquinho – Obrigada por me... Acordar desse sonho tem razão, tem razão. Boa noite, Su.


- Boa noite, Ly – disse Su, e vi a sombra dela sentar no sofá, encarando algum lugar que eu não conseguia ver.


         Depois disso, cheguei à conclusão que minha insônia não acabaria nem se eu tomasse o maior calmante do mundo, então voltei para cama. De olhos fechados, duas vozes me vieram à cabeça. A primeira, fiquei surpreso ao constatar, era minha. E a segunda tinha já tinha ouvido, e era de Alicia.


- Pois é. Meu pai, Sirius e o Tio Aluado criaram o Mapa do Maroto.


- O que é isso? – perguntou, sua voz soou curiosa na minha cabeça.


- É um mapa que mostra toda Hogwarts e quem está em tal lugar. Por exemplo, se eu olhar no mapa a sala do diretor, provavelmente eu vou achar o professor Dumbledore caminhando na sua sala.


- Que legal! Me fala mais desse mapa! – pediu ela em tom de suplica.


- Mas é claro. Tem um encantamento que protege o mapa, assim não é qualquer um que pode ler. Você tem que dizer: “Juro solenemente não fazer nada de bom”. Assim, aparece o mapa. E para fazer sumir é só dizer: “Malfeito, feito.”


- Isso é incrível! Quando formos para Hogwarts, iremos ser tão geniais quanto eles! – exclamou Alicia animada.


         Essa foi a maior memória que recuperei desde que cheguei aqui, e me senti satisfeito que tivesse sido de tanta utilidade. Afinal, se amanhã era o dia que eu e Al nos tornamos amigos, e sempre nos dávamos um presente, eu já sabia o que fazer.


         Só esperava agradar ela.


 


Pov’s Autora:


 


         Harry acordou mais cedo que todos naquela manhã de terça. Espreguiçou-se lentamente, bocejou cansado e pensou logo como era estranho acordar tão cedo novamente. Afinal, era nesse horário, cinco da matina, que ele acordava em Harmony, e, agora que só acordava lá pelas sete, era estranho.


         Tomou um banho rápido e logo vestiu o uniforme, caso seu plano atrasasse, ele já estaria pronto para correr para a sala de aula. Passou os olhos verdes pelo dormitório, todos dormiam. Desceu silenciosamente pela escada dos dormitórios masculinos e viu que o Salão Comunal estava vazio, felizmente.


         Saiu pelo retrato da Mulher Gorda e andou meio escondido pelos corredores, afinal, não seria nada divertido ser encontrado pelos corredores a essa hora da manhã, sendo que o café da manhã nem havia sido servido. No meio do caminho, pensou em como estava sendo idiota, estalou os dedos e estava sob o Feitiço da Desilusão, afinal, seu corpo todo se misturava as paredes.


         Foi andando mais tranquilamente para a sala de seus pais, onde provavelmente estaria o “Mapa do Maroto”. Quando chegou ao corredor, viu seu pai, Tiago, saindo.


- Tchau, ruivinha, vejo vocês mais tarde – disse ele, sorrindo.


- Cuidado, Ti – respondeu, distante, a voz de Lílian Potter.


         Não que não gostasse dos pais, mas não estava psicologicamente preparado para ver uma cena melosa entre eles, então, ficou feliz ao ver que Tiago já estava saindo. Passou apressado ao seu lado pelo corredor. Harry perguntou-se se iria encontrar com seu padrinho agora.


         Mas não era para isso que tinha ido até ali. A porta ainda estava aberta, então, entrou no escritório de sua mãe e viu que ela estava sentada na mesa organizando alguns papéis para, provavelmente, as aulas. Ele agradeceu a Merlin por ela só ter pegado a varinha e maneado ela, fechando a porta num baque surdo, somente depois que ele passou.


         Ele ficou um tempo observando sua mãe, pensando se tinha alguma semelhança com ela que não fossem somente os olhos verdes esmeraldas. Ela parecia uma pessoa responsável – é, ele também era um pouco, dependendo do assunto, é claro. Bom, era melhor continuar o que veio fazer aqui, senão, nunca sairia dali antes da primeira aula.


         Seguiu pela sala, notando como ela estava impecavelmente limpa e arrumada, e perguntou-se se quem fez tudo isso foram os elfos domésticos ou sua mãe. E chegou ao quarto. As paredes eram brancas e as janelas, com uma linda vista para o lago e a árvore próxima a ele, eram de uma moldura dourada com cortinas beges. Tinha uma cama de casal no meio do quarto, com dossel dourado e cortinas brancas, assim como os lençóis e travesseiros. Uma mesinha de cabeceira de cada lado. Um armário de seis portas de madeira polida, com uma estante lotada de livros do lado. Além de uma bancada, com um abajur e cheia de papeis sobre coisas de auror, pelo que Harry tinha visto.


         Harry achou que já tinha procurado em todo quarto, quando viu algo que lhe chamou a atenção: uma foto em cima da mesinha de cabeceira de seu pai, pelo menos, imaginava ser dele, já que tinha uns papéis de relatório sobre missões no QG do Aurores. A foto estava numa moldura delicada de pomo de ouro, que tinha as asinhas prateadas para fora, como se estivessem voando. A foto em questão era ele junto a seus pais. Só que ele devia ter uns três ou quatro anos, pois sua cara era infantil, e também reparou que ainda usava óculos.


         Suspirou, era realmente uma bela foto, mas não lhe ajudaria a achar o mapa. Bom, talvez pudesse pedir ajuda a Rony, ele com certeza entenderia, e talvez até conhecesse esse tal “Dia da Amizade” de Harry e Alicia. Poderia pedir ajuda a Susana... Mas seria o mesmo que dizer que ouviu a conversa dela com Al ontem.


         Quem poderia lhe ajudar? Alguém sábio, deveria saber onde poderia se esconder alguma coisa, alguém que pudesse ir a lugares rapidamente, porque não podia entregar esse Mapa amanhã, tinha de ser hoje. Mas, quem?


         Quando a resposta chegou à sua cabeça só faltava uma lâmpada acender-se em cima dela, de tão brilhante que era. Foi no banheiro e fechou a porta, mas sem trancar, senão, sua mãe poderia questionar sobre isso, e fez o vôo da fênix o mais silencioso que pode – sem nem se importar que não tivesse se transformado em fênix para isso.


         Os gêmeos Weasleys estavam na Sala Comunal, sentados no sofá, debruçados sobre um pergaminho velho. Eles murmuravam coisas que Harry não conseguia entender de onde estava. Ouviu algumas palavras: “Sonserinos”, “cabelos rosa”, “amanhã” e logo soube que era uma marotice. Ok.


- Vai ficar aí parado, Harry? – perguntou Fred, virando-se para o moreno.


         Será que eles tinham me ouvido fazer o vôo da fênix?, pensou o moreno, mas foi completamente silencioso.


- Como sabia que eu estava aqui? – indagou curioso, se aproximando dos gêmeos, que pegaram o tal pergaminho velho.


         Fred e Jorge se entreolharam, concordaram com sabe-se lá o que estava pensando e viraram para Harry.


- Decidimos que vamos contar o segredo do nosso sucesso – começou Jorge.


- E ele se chama: - continuou Fred, sorrindo.


- Mapa do Maroto – terminaram em uníssono e pegaram o pergaminho velho.


         Os olhos de Harry brilharam.


- Mapa do Maroto? – perguntou, sentindo que em outra encarnação ele deveria ter ajudado Merlin em alguma coisa para ter tanta sorte.


         Entretanto, quando olhou o pergaminho ficou surpreso, estava em branco. Nada mostrava, bom, exceto, talvez, que era velhíssimo. Era isso o Mapa do Maroto? Tudo bem...


- O que ele faz? – se Harry queria dar para Alicia, tinha que saber tudo, tudo mesmo, sobre esse mapa, pergaminho velho... O que fosse!


- O que ele faz? – repetiu Jorge, descrente.


- Só mostra todas as passagens secretas de Hogwarts – falou Fred, fingindo-se sensibilizado pela falta de sentimentos vinda de Harry.


- E todas as pessoas que estão por Hoggy Hogwarts – continuou o outro gêmeos.


- Juro solenemente não fazer nada de bom – disseram juntos.


         Parecia que alguém invisível estava desenhando no pergaminho. Linhas começaram a se formar, quando tudo tornou-se visível ele leu:


Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas tem o prazer de apresentar: o Mapa do Maroto.


         Fred abriu ele e apontou para um lugar:


- Vê? Mostra as pessoas – falou.


         Harry percorreu os olhos onde o ruivo apontava e viu que mostrava a sala da sua madrinha, ela estava aparentemente sentada em algum lugar, pois estava parada. Talvez ainda estivesse dormindo, mas as probabilidades disso eram poucas.


- Isso é incrível! – exclamou, ainda olhando o Mapa. Viu o pontinho Madame Nor-ra mover-se rapidamente por um corredor do terceiro andar. O pontinho Argo Filch movia-se um pouquinho mais atrás.


         Foram alguns minutos rápidos para os gêmeos Weasleys explicarem para Harry as passagens secretas para ir a Hogsmeade e as passagens dentro de Hogwarts. Por fim, disseram, com uma cara cinicamente séria:


- Use isso com responsabilidade – mas depois riram, enquanto saiam pelo buraco do retrato, indo tomar café, afinal, já eram seis horas, o café já devia estar na mesa.


         Harry decidiu que seria melhor dar logo o presente de Alicia, se não, teria que dar na frente de seus amigos, o que poderia render muitos comentários... Desnecessários.


         Transformou-se numa fênix e executou o vôo da fênix silencioso, pousando nos pés da cama de Alicia. Virou novamente humano. Ajoelhou-se próximo ao rosto dela, pronto para tapar sua boca caso ela gritasse de susto. Cutucou seu braço, as pálpebras só tremelicaram ainda adormecidas. Sacudiu ela, que abriu de repente os olhos, arregalados ao ver o rosto de Harry próximo ao seu – dentro do dormitório feminino!


         Tapou sua boca, e não ficou surpreso de ter que ter feito isso.


 - Harry? – sussurrou ela, quando o moreno tirou sua mão dali.


- Desculpe te acordar, Al, mas preciso te dar uma coisa – ele sorriu – pode se arrumar e descer?


         Alicia ainda estava confusa quando o amigo virou uma fênix novamente e sumiu num flash de chamas. Entorpecida, levantou-se, tomou-se uma banho rápido para não fazer seu amigo esperar muito, vestiu-se e olhou-se no espelho. Não gostou da imagem que viu.


         Ficou surpresa ao repensar que fazia muitos anos que não ligava para sua aparência. Claro que penteava o cabelo, passava uma maquiagem básica, mas... Mas achava isso inútil. Harry não estava lá, para que ser feliz? E o pensamento parecia extremamente idiota agora que tinha seu amigo novamente. Se queria “paquerá-lo” tinha que ficar bonita, e bonita era exatamente o contrário do que estava se sentindo agora.


         Lavou o rosto e penteou o cabelo. Seus cabelos ruivos pareciam mais acobreados do que nunca e caiam até o meio de suas costas. Seus olhos finalmente estavam naquele tom azul céu que sempre gostara e não no “azul-opaco-luto”. Sua pele, felizmente e como qualquer pele “normal”, continuava branca porcelana e suas bochechas e seus lábios rosados. Sua altura ainda era mais baixa que de suas amigas, mas estava começando achar que eram elas e não ela, afinal, tinha um e sessenta e três de altura, isso não era baixo, era?


         Passou uma sombra rosa clarinho brilhante e um gloss. Pronto, já era “Alicia” novamente. Ah, só faltava uma coisa! Universo me dando aquele estilo.


Uni?, chamei. Fazia tempo que não falava com ele, quase me esquecera que estava lá. Bom, eu tinha um motivo, afinal, não ver Aura saindo de Harry também era estranho.


         Mas de Universo só veio silencio.


Uni? Uni? Universo, pára de brincadeira!, exclamei – se é que isso era possível – mentalmente, já sentindo meus olhos arderem pelo choro que viria.


         Abanei as mãos rapidamente em frente aos olhos, tentando engolir o choro. Respirei fundo, Harry me esperava, iria ver isso depois. Voltei ao quarto e peguei uma caixinha pequena que continha o presente de Pontas, afinal, Su estava certa. Eu tinha que contar a ele sobre nosso dia, porque, se ele não lembrasse...


Uni?, tentei uma ultima vez, enquanto descia as escadas do dormitório e chegava ao Salão Comunal.


         Harry estava lá no sofá, já de uniforme e lindo – não que ele nunca estivesse, e eu tenha que parar de ficar conversando mentalmente... É que em geral Universo responde... Só espero que ele esteja bem.


- O que foi, Harry? – balançando discretamente as mãos por trás do meu corpo, fiz a caixinha de presente sumir, enquanto ele flutuava ao meu lado.


         Ele sorriu, como sempre, enquanto eu sentava ao seu lado.


- Bom, um passarinho me contou – eu ri, divertida com isso – que hoje é um dia muito especial.


         Senti meu coração descompassando.


- Sério? – brinquei, meus olhos provavelmente estariam em lágrimas daqui a pouco se é o que eu acho que é – E que dia seria esse:


- Dia do Eu Conheci Alicia Hoje, ou... Dia da Amizade – ele disse sorrindo com seu sorriso mais perfeito. Com isso, me entregou um pergaminho velho.


         Senti minhas sobrancelhas franzindo, mas analisei o pergaminho melhor. Não... Não podia ser... Papai e tio Pontas disseram terem perdido para o Filch esse Mapa, mas ele estava ali.


- O Mapa do Maroto? Pra nós?! – me senti exultante, era simplesmente incrível! Eu e Pontas, mesmo ele não lembrando, sempre sonhamos em usar esse mapa aqui em Hogwarts, e agora ele estava aqui, em minhas mãos, vindo de Harry! Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.


- Pra você, Al, o Mapa do Maroto é seu – ele sussurrou com um sorrisinho.


         Mas, a ficha só caiu agora, se ele sabia sobre esse mapa, ele deveria, conseqüentemente, se lembrar dele, então... Senti um bolo subindo por minha garganta, de repente eu parecia cheia.


- Você... Você se lembrou de tudo? – falei, incapaz de gritar de felicidade, eu ainda me sentia tonta.


         Seus olhos esmeraldas brilharam por alguns instantes brancos opacos.


- Não, não – ele disse tristemente – tive um... Flash de memória sobre esse dia, só isso, o suficiente para saber sobre o Mapa e sobre dia 16 de Novembro, mas... O resto... Nada. Só um branco infinito.


         Meus ombros caíram, tremendo. Eu já irrompia em soluços descontrolados e um choro exagerado antes de poder perceber. Não era justo, não era justo! Tantas pessoas para isso acontecer!... Por que logo eu e Harry? Não podíamos ser normais, não podíamos ser “felizes para sempre”? A nossa historia não começava no “era uma vez”?... Podia terminar feliz... Mas, senti-me quase rindo enquanto chorava, rindo da enorme ironia que era tudo isso.


- Ah, Al, não fica assim, por favor – falou Harry, ele secou minha lágrimas e colocou uma mecha ruiva atrás da minha orelha – Tudo vai melhorar, você vai ver.


         Ah, se eu tivesse sua esperança Harry... Mas, tudo bem, tudo bem, respira fundo, Alicia, respira fundo. Abanei as mãos e minha caixinha de presente apareceu, flutuando acima de nossas cabeças. Estalei os dedos e ela foi delicada até o colo de Pontas.


- É seu presente – expliquei sob seu olhar confuso e curioso.


         Ele sorriu, sabendo que não deveria falar “não precisava...” e abriu a caixa. Lá de dentro, tirou dois bonequinhos feitos de porcelana delicada. Estavam em cima de uma caixinha pequena que tinha o cenário de uma patinação no gelo. Eles patinavam felizes e acenando. Um bonequinho era um garoto, uma mini-cópia do próprio Harry quando tinha onze anos. E o outro era uma bonequinha idêntica a mim com onze também. Eles continuavam patinando, fazendo saltos incríveis e brincando.


- Somos nós... – constatei o óbvio – Planejava dar a você no natal daquele ano, mas, bom, só deu para dar agora, espero que tenha gostado.


         Ele somente sorriu, como se isso dissesse tudo. Me senti esquentando, e torci para que fosse por estar emocionada e não corando.


- Vamos tomar café, estou morta de fome – falei, e estava mesmo.


         Pontas riu do meu comentário, enquanto estalava os dedos e o Mapa do Maroto e o presente que eu lhe dera sumiam, indo, provavelmente, parar em nossas respectivas camas.


         Começamos a caminhar em direção ao Salão Principal, conversando, mas paramos quando vimos Draco Malfoy passar de ombros caídos, parecendo mais deprimido do que nunca.


         Essa imagem poderia ser normal, se não fosse o fato de seus cabelos estarem rosa.


- Fred e Jorge – dissemos nós dois juntos depois de nos entreolharmos, mas eu completei: - Ah, obrigado pelo Mapa, vai ser realmente útil.


- Eu deveria dizer obrigado a eles, sabe, aos gêmeos, o mapa estava com eles – disse Harry.


- Sério? – perguntei chocada e surpresa, como eu nunca reparara nisso – Isso explica muitas coisas.


         Harry deu uma olhada no corredor, Malfoy com seus cabelos rosa já virava para o próximo corredor, ele voltou-se para mim novamente e sorriu:


- Isso também explica os cabelos rosa? – perguntou maroto.


         Eu só pude rir junto com ele.

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