A Floresta das Vozes



Capítulo 11 – A Floresta das Vozes


Pov’s Alicia:


 


         Os corredores estavam iluminados pelos archotes de fogo e pela luz da lua passando pela janela. Os meus passos e os de Harry ecoavam no corredor.


         Estávamos indo em direção a sala de tia Lílian, para nossa detenção. Que bom que eram só dois dias, ao contrário dos Sonserinos, que ficariam com o Filch por longas noites – rá, rá, bem feito.


         Admito que fiquei um tanto assustada pela frieza de Harry, mas, bom, foi tão “heróico” – palavras de Gina quando soube disso no jantar.


         Agora, caminhávamos nós dois, lado a lado, e eu não conseguia parar de pensar que ficaríamos em muitas detenções se ele não tivesse sumido – não que eu o culpe, claro.


- O que costumam pedir para fazer em detenções? – perguntou Harry, um tanto curioso, mas podia-se ver que ele não queria fazer nada.


         Puxa, eu também...


- Ah, limpar troféus, catalogar livros, limpar banheiros – seu rosto contorceu-se em uma careta. É, colega, bem vindo a Hogwarts.


         Paramos em frente a sala de tia Lily e ele bateu a porta. Ela foi aberta imediatamente, por tio Pontas – eu sabia que eles dormiam no mesmo quarto, mas o que fazia ali? Acordado?, achei que saía cedo...


- Oi, tio Pontas! – abracei ele, sorrindo. Eu mal tinha tempo de falar com ele ultimamente.


- Alicia – riu-se tio Pontas.


         Puxei Harry pela mão, ele parecia analisar o quarto da soleira da porta.


- Venha, Pontas, vai ficar aí como um Sonserino atolado? – falei, rindo.


         Ele fez uma careta, mas depois aliviou a expressão, sorrindo maroto e passando a mão pelos cabelos, falou:


- Merlin me livre, se tiver que andar para não parecer um Sonserino, eu corro até a maratona – gargalhamos, enquanto chegávamos a um cômodo, a sala.


         É que era assim, o quarto dos professores era dividido, como uma mini-casa. Entravamos no escritório, e seguindo você ia para a sala, quarto e banheiro.


         Chegando na sala, vi não só tia Lily, mas tio Remy, meu pai e minha mãe.


- Uau, detenção animada – riu Harry, e eu sorri ao seu lado.


         A madrinha sorriu, parecia emocionada (santo Merlin!): - Era só uma desculpa que Minerva deu para você, Harry, poder vir conversar com a gente.


- Me senti excluída agora – lamentei, apoiando-me dramaticamente em Harry, como se chorasse ou fosse desmaiar.


         Uma corrente elétrica passou por mim quando o toquei, como todas às vezes quando segurava sua mão ou algo do tipo.


- Ah, só sentem – fingiu ralhar papai.


         Tio Pontas sentou-se em um sofá, ao lado da madrinha. Remo estava aconchegado numa poltrona, e meus pais em outro sofá. Rapidamente, eu e Harry nos acomodamos – senti minhas bochechas esquentando um pouco, de vergonha, e fiquei contente em minha pele ser branca porcelana e minhas bochechas naturalmente rosadas.


         Ufa.


- Então, Pontas, já vou te avisando – falei antes de começarem – vai começar um interrogatório do caramba, que vai fazer você querer explodir. Pelo menos – acrescentei – vai ser num tom amável, em geral esse interrogatório é por eu receber detenção...


         Harry sorriu. Um sorriso lindo – tentei não perder o foco vendo o quanto ele era lindo. Os cabelos pretos, desalinhados, revoltados, pareciam brilhar. Os olhos verdes esmeraldas, que sempre me encantaram. Aquele rosto perfeito, e, bom, aquele corpo de deus grego.


         Tia Lily já fazia perguntas a Harry, e eu mal estava ouvindo, de tão concentrada em Pontas – felizmente, ninguém reparou que eu o olhava, eu acho.


         Mas, eu tinha certeza de uma coisa: nem o tempo fizera com que eu parasse de amá-lo. E parecia idiotice pensar que ele ia retribuir, eu era só alguém que dizia ser sua amiga, no seu passado esquecido. Sua melhor amiga, só isso.


         Só isso. Uma lágrima escorreu por meu rosto, e sequei rapidamente – somente minha mãe reparou.


 


Pov’s Harry:


 


         Eu não sei exatamente como eu me sentia com todas essas perguntas. Não muito a vontade, as perguntas eram basicamente: como era sua vida em Harmony? O lugar? As pessoas? Essas coisas todas.


         Mas, eu sabia que alguma hora ia chegar ao ponto de minha memória. E eu temia por esse momento.


         Não por não saber o que falar, mas por não querer decepcionar essas pessoas – minha família, algo que, além de minha memória, eu desejava ter lá em Harmony.


         Eu tinha medo, porque essas pessoas – desde os meus pais, padrinhos, Remo aos meus amigos – eram tão legais e gentis comigo, que não conseguia falar nada, decepcioná-los dizendo algo como “não lembro de vocês”.


         Eu tinha consciência de que Alicia estava bem próxima de mim – e quase fiquei louco quando senti uma imensa vontade de virar e beijá-la ali mesmo, na frente de todos como se não fosse nada. Mas, minha expressão facial nada revelou e ninguém reparou, estavam absorvidos demais em minhas respostas.


         Qual era meu problema? Eu nunca tinha tido esse desejo com ninguém – qual era meu problema?! Alicia era, afinal, só minha amiga, certo? Queria que fosse mais... Argh!


         Foram muitas perguntas, muitas.


- Você gosta de Quadribol? – perguntara meu padrinho.


         Eu sorri sem graça.


- Ah, bom, não sei o que é Quadribol – respondi encabulado.


         Meu pai, meu padrinho e Alicia ofegaram.


- Tem que conhecer, nesse fim de semana – decretou Alicia, eu sorri.


         Remo tinha feito uma pergunta interessante: - Quando você descobriu que falava com os animais?


- Ah, bom, descobri que podia falar com Akemi no mesmo dia que “acordei”, mas pensei que fosse só por ser minha fênix, sabe – expliquei – Lá em Harmony há um dia em que os alunos estão dispensados da escola, eu ainda estava no meu primeiro ano na Cidade das Fênix, estava curioso sobre o local, sobre as lendas.


“Diziam que a Floresta das Vozes era cheia de animais mágicos e não-mágicos, ferozes, mansos, de todos os tipos. E, como qualquer garoto de doze anos curioso, fui até lá. Até hoje não sei se foi muito sensato”.


         Minha mãe, obviamente, não gostara, pois torcera a cara em desagrado.


- Eu entrei na Floresta, e tão logo entrei, não sabia se estava ali a minutos ou horas – as imagens daquele dia percorreram minha mente – Ela era densa demais, com árvores altas, ruídos por todos os lados, cercando sua mente.


“Me desesperei, não achava que ia me perder. Chamei por Akemi, mas ele não veio. Já estava no chão, pensando de que lado tinha vindo, quando, de repente, um brilho branco me circulou, que ainda nem entendo, foi um dia confuso”.


“Pouco tempo depois, surgiu um pégaso. Era branco, e tinha asas enormes e majestosas, não pareciam bater nas árvores, e ele tinha uma aura tão branca quando a luz que me circulava – contei para minha família – Ele falou comigo, e eu respondi, perguntei onde estava. O pégaso meu respondeu que estava no coração da Floresta das Vozes, uma proeza, só os puros de coração e magia entravam ali, e só os que continuassem puros, saíam”.


         Alicia sorriu, parecia gostar da história. Dei um sorriso um tanto irônico.


- Lembro do meu desespero, se não tinha achado a saída, era porque não era puro. Mas o pégaso pareceu dar um discurso que ficou gravado na minha memória – terminei.


         Os adultos e Alicia pareceram desapontados.


- Ora, diga o que ele falou, né! – exasperou-se meu padrinho Sirius.


         Eu sorri e disse:


- Imaginei que fossem querer saber, mas, tenho um feitiçozinho que é como uma penseira, nos mostra lembranças, mas como uma tela de televisão – expliquei – querem ver como foi aquele dia?


         Eles acenaram fervorosamente, animados, ansiosos. Colocando um dedo em minha têmpora, puxei um fio prateado e joguei no ar. Uma névoa pareceu nos envolver, enquanto a imagem de minha memória passava como um filme.


 


Pov’s Autora:


 


         As pessoas presentes viram uma névoa prateada os circularem, imagens começaram a fazer sentido.


         Lílian ficou eufórica quando viu Harry. Era um garoto baixinho demais para a idade, magricela, os cabelos pretos eram revoltados e os olhos eram verdes vivos. Usava uma calça jeans, o que os surpreendeu, pois pensaram ser uma cidade, bom, diferente. Uma camiseta branca, com um casaco azul marinho, e tênis Nike. Tudo bem comum.


         Do lado dele, caminhava outro garoto. Ele era bem mais alto, e tinha um tanto de músculos. Seus cabelos eram cor de palha e seus olhos castanhos.


         Nevava levemente, deixando uma fina camada de neve branquinha do chão. Eles caminhavam em direção a uma floresta com enormes árvores, impossibilitando ver além – a Floresta das Vozes.


- Harry – choramingou o garoto ao lado dele, um tanto amedrontado.


         Harry riu levemente.


- Fique calmo, Chadhi, você se preocupa demais – disse o moreno, abanando as mãos num gesto de indiferença.


- Se preocupa DEMAIS?! – quase berrou Chadhi, obviamente exasperado. Ele movimentava muito as mãos enquanto falava com incredulidade – Ninguém que entrou na Floresta das Vozes saiu, e você está prestes a entrar lá, cara!


         Marlene e Lílian olharam reprovadoras para Harry, mas ele sorria vendo a lembrança – Chadhi ainda estava vivo ai.


- Sempre tem uma primeira vez – disse Harry confiante.


- E você espera que seja com você, um garoto de doze anos que acabou de entrar na escola? – indagou incrédulo da ingenuidade do amigo.


         Harry sorriu: - Você bota muita pouca confiança em mim, acredite, Chadhi, vou voltar, inteiro e vivo. Quer saber, até te trago uma lembrancinha!


         Rindo, Harry acenou um tchau e entrou na Floresta. Logo, ruídos começaram, corujas, patas batendo contra o carvalho, animais pulando de galho em galho, folhas balançando, troncos sendo arranhados, respirações descompassadas, bufos – eram sons demais, cobriam seus ouvidos, tudo parecia rodar.


         O Harry de doze anos também parecia se sentir assim, pois logo começou a cambalear, parecia bêbado, e já não sabia mais para que direção seguir, não havia uma luz no fim do túnel que pudesse lhe mostrar o caminho.


         Harry continuou caminhando, e logo as pessoas que viam a memória entenderam porque ele não sabia se tinha passado minutos ou horas – era claustrofóbico ficar num lugar como aquele.


         Ele continuou andando.


         Já mostrava sinais de cansaço, fraqueza e parecia um tanto pálido. Tropeçou numa grande raiz de árvore, caindo no chão. Sua calça rasgou nos joelhos, ralados, com um pouco de sangue pela queda feia. Suas mãos ardiam, uma parte da carne viva exposta. Sua roupa cheia de folhas, seus cabelos pretos também.


- Akemi – murmurou o moreno, levantando-se, fracamente.


         Somente os ruídos e a escuridão da Floresta das Vozes.


- Akemi – chamou novamente o garoto. Nada.


         Tiago parecia querer ajudar o garoto, mas era só uma imagem, uma memória, e, tal como uma penseira, não podiam ser vistos e nem tocar em ninguém.


         O Harry de doze anos apoiou-se numa árvore, tentando manter-se de pé. Deu mais alguns passos cambaleantes, mas novamente caiu.


- Akemi! – gritou, com todas as forças que conseguia reunir, Harry. Ele parecia a beira do desespero, seus olhos lacrimejaram, mas logo tornaram-se confusos.


         Uma luz branca o circulava, vento parecia manter seus cabelos vivos, balançando-os. A luz branca tornou-se mais grossa, seus olhos tornaram-se um dourado límpido.


- Harry Tiago – disse uma voz. Era carregada de magia e poder.


         Harry ergueu os olhos, surpreso. A sua frente, ele via um pégaso. Branco, com majestosas asas brancas, tinha uma crina prateada e seus olhos eram, também, de uma forte cor ouro, emanava pureza.


- Como sabe meu nome? – sussurrou Harry, impressionado com a imagem a sua frente, mas, não sabia que “Tiago” era aquele, será que era seu outro nome?


         Todos que viam a memória assistiam ao pégaso, maravilhados.


- Sei seu nome desde que nasceu Harry – falou o pégaso – Estava destinado a encontrá-lo, Mago Branco.


         O cenho de Harry franziu: - Mago Branco?


- É seu título, quem você é de verdade – explicou, rapidamente, o pégaso.


- E seu nome? – perguntou Harry, ainda atordoado.


         A luz branca que cercava Harry aumentou, mais densidade, mais magia. O vento girava loucamente a sua volta.


- Sou Farllen, o pégaso – respondeu o cavalo alado.


         Harry ainda mostrava-se confuso. Farllen, obviamente, percebera, pois explicou:


- Você, Harry – sua voz era aveludada e gentil, agora – é um garoto diferente, muito curioso, na realidade.


         Farllen, como se fossem velhos amigos, caminhou em direção a Harry e sentou-se a seu lado – bom, o mais próximo de sentar, já que era um cavalo. O moreno sentia-se, repentinamente, melhor e a luz e o vento que o circulavam começaram a diminuir.


         Mas seus olhos ainda tinham uma forte cor dourada, repararam os que viam a memória.


- Curioso? – perguntou confuso.


         Farllen assentiu.


- Sim. É curioso, e espantoso lhe garanto, que um garoto de sua idade seja o Mago Branco – comentou o pégaso – mas é a pura realidade, e posso ver a verdade na cor de seus olhos.


- M-meus olhos? – gaguejou o moreno.


         Novamente, o pégaso assentiu. E parecia achar um pouco de graça.


- Somente o Mago Branco e a Feiticeira Branca possuem olhos dourados. São os olhos do poder, mas também são os olhos da pureza. E a sua pureza é tanta, que o trouxe até o coração da Floresta das Vozes – resumiu Farllen.


         Harry, simplesmente, disse: - Ainda não entendo. Feiticeira Branca, Mago Branco, essas coisas tem haver com meu passado?


- Ah, sim. A primeira profecia dizia isso... – murmurou, esquecendo-se momentaneamente do garoto, Farllen.


- Profecia? – indagou Harry. Ele estava cheio de perguntas e, em vez de respostas, só tinha mais perguntas quando Farllen falava.


         Farllen pareceu despertar com essa palavra, e, com mais próximo de um sorriso, balançou a cabeça negativamente – como se falasse com uma criança travessa que não deveria fazer isso:


- Um dia você saberá, Harry, enquanto isso, esqueça – disse Farllen.


         O Harry de doze anos e o Harry de quinze, franziram o cenho e disseram, murmurado, ao mesmo tempo:


- Não hoje. Não agora. Você vai saber um dia, por hora tire isso da sua cabeça, Harry. Quando você for mais velho... Sei que detesta ouvir isso... Mas quando estiver pronto, vai saber – eles falaram em sincronia, e pareciam repetir as palavras de alguém que eles já ouviram antes.


         Harry de quinze anos virou para sua família e falou: - Tenho certeza que alguém já me disse isso... Só não consigo lembrar quem...


         Mas ele balançou a cabeça espantando pensamentos, e as pessoas voltaram seus olhos para a memória.


         Harry de doze anos e Farllen ficaram em silencio por algum tempo, só olhando em volta, ouvindo os sons que a Floresta fazia.


- Farllen... – começou o pequeno Harry, hesitante – você disse sobre uma profecia...


- Não vou contar-lhe ela, Harry, um dia... – ia repetir a mesma coisa o pégaso, mas Harry gentilmente o interrompeu.


- Eu sei, um dia, vou descobrir... Não é isso, é que eu queria saber, se essa profecia fala... Se algum dia vou lembrar do meu passado... Ou ver minha família... Se eu tiver uma – e agora ele parecia desapontado.


         Os olhos do Harry brilharam por alguns instantes, esperançosos na direção de Farllen, mas este nada comentou por alguns segundos, sobre a pergunta do garoto.


- Olha, Harry, isso depende de você. Profecias acontecem, porque as pessoas querem que aconteçam – explicou Farllen – e não está escrito no destino se você vai ou não encontrar sua família, como também não está escrito se você vai ou não recuperar sua memória.


         Harry obviamente ficara decepcionado com a resposta, mas não reclamou, ficando quieto e pensativo. Olhou para cima com o intuito de ver se já estava tarde, mas as árvores não deixavam nenhuma brecha de luz entrar.


- Farllen... – começou o garoto, naquele seu tom de pergunta – se eu sou o Mago Branco... Quem é a Feiticeira Branca? Eu conheço ela?


         A cabeça de Harry virou para o lado, com um olhar questionador. O pégaso novamente deu aquele seu sorriso “de cavalo” e disse:


- Não posso responder muitas perguntas suas – disse Farllen – Entretanto, posso dizer que um dia serão respondidas.


         O pégaso respirou profundamente e disse:


- Você pode se sentir decepcionado por nada ter sido respondido, hoje, mas, aguarde, seja paciente, um dia, a resposta virá e você ficará contente por ter esperado.


- Mas... E se eu tivesse mesmo uma família? Devem pensar que eu sumi porque não gosto deles, que eu deixei eles... Ou morri – a última parte foi somente sussurrada, mas foi ouvida como se ele tivesse gritado.


         A Floresta das Vozes parecia estranhamente quieta.


- Aqueles que nos amam nunca nos deixam de verdade – disse, com um tom sábio, Farllen.


         O Harry de doze anos aparentemente não entendeu, pois franziu as sobrancelhas e a expressão estava confusa.


- Eu... Eu não entendo – admitiu o moreno de doze anos, corando ligeiramente.


         Sirius, vendo isso, esboçou um sorriso.


- Já ouviu aquele ditado que diz “Longe dos olhos, perto do coração”? – perguntou Farllen, mas não esperou por uma resposta – O que eu quero dizer é que onde quer que você esteja, não importando a quantos oceanos de distancia, ou até mesmo a morte, sua família ainda vai te amar.


- Aonde quer que eu esteja... – murmurou o garoto.


         Aquela luz branca começou a circulá-lo novamente, vento brincou furiosamente com os cabelos dele, e, para espanto do moreno e dos que assistiam a memória, fogo brotou na palma de sua mão.


         Harry pulou, levantando rapidamente. Balançava a mão com desespero – Harry de quinze anos viu que Alicia pegara a varinha como se quisesse lançar um feitiço para apagar o fogo – mas o fogo não sumia.


         Farllen, porém, ficou sentado, observando tudo divertido. Harry aos poucos foi parando, tomando consciência que o fogo não estava lhe queimando a pele.


         Quando finalmente ficou calmo, de sua outra mão saiu um imenso jato de água, que extinguiu o fogo. O vento parou de brincar com seus cabelos, mas a luz branca ainda o circulava e seus olhos ainda eram dourados.


- O que – Harry pegou fôlego – foi... – respirou profundamente, reparando em como estivera nervoso – isso?


         Farllen deu o mais parecido de uma risada que um cavalo alado podia fazer e explicou: - Você é o Mago Branco, garoto! – exclamou Farllen – O que esperava?


         E explodiu em risadas. Harry deu um meio sorriso, ainda constrangido e com as bochechas ligeiramente vermelhas. “Que cavalo doido”, pensou Alicia, assistindo a memória.


- Bom, até logo, Mago, ainda nos encontraremos novamente, você verá – falou Farllen – e, nesse dia, você entenderá o que falo.


         Harry, confuso, perguntou: - Como vou sair daqui sem me perder? É impossível!


         Mas Farllen deu seu estranho sorriso e disse:


- Tenho certeza que encontrará um jeito, mas, se quiser uma dica, as aves de fogo são realmente incríveis não são? A maneira como se deslocam... – e, com esse último comentário, pareceu se fundir ao ar, sumindo de repente.


         O Harry de doze anos concentrou-se, obviamente pensava na dica que o pégaso dera. Murmurava sozinho o que aquele cavalo louco queria dizer.


- Aves de fogo?... Ele fala de fênix, é claro... Mas, Akemi não pode chegar até aqui... – murmurava, consigo mesmo, o garoto. Ergueu a cabeça, olhou em volta, as árvores, o silêncio – Aqui é muito denso, seria impossível fazer um vôo da fênix para Akemi vir e me levar junto, deve ser por isso que não veio...


         E, para a surpresa do menino, ele transformou-se numa ave. Uma fênix. Suas penas eram brancas como a neve – Alicia reparou num detalhe que ainda não tinha visto no primeiro dia de aula, quando foram de vôo da fênix para a sala – na testa, ele possuía uma fina cicatriz de raio de cor vermelho fogo.


         Todos, na verdade, repararam que a fênix de Harry não era igual de quando ele tinha nove anos. Era branca, sim, e tinha uma cicatriz de raio na testa. Mas, mesmo sem luz, as penas de suas asas pareciam diamantes refletindo a luz do sol e formando as cores do arco-íris, era lindo de se ver.


         Harry deu um giro gracioso, enquanto seu corpo ficava em chamas, que sumiram, sem deixar rastros de que alguém estivera ali.


         Os sons da floresta voltaram, e a memória se dissolveu.


 


Pov’s Alicia:


 


         Senti minha boca se entreabrindo, um tanto chocada, diante dessa lembrança. Eram... Tantas coisas, tantos poderes novos, para processar, que ficava difícil entender.


         Não pude deixar de sentir um pouco de ciúmes da “Feiticeira Branca”, quem ela pensa que é?! Aposto que é uma metidinha que, quando descobrir que Harry é o Mago Branco e o encontrar, vai acabar ficando com ele e “felizes para sempre”.


         Meu ciúme foi dissolvido rapidamente só de pensar na ultima parte de meu pensamento. Felizes para sempre. Senti, repentinamente, uma imensa vontade de rir. Gargalhar alto, como nunca fizera.


         Felizes para sempre, repeti em minha mente. Felizes... Seria muito irônico mesmo se isso acontecesse. Porque, eu, Alicia Melanie, não conseguira meu “felizes para sempre” – seja como amiga ou namorada – ao lado de Harry Potter. Mas, a Feiticeira Branca conseguiria isso, ao lado do Mago Branco.


         Irônico. Só isso que eu poderia dizer.


- Al? – chamou Harry, e eu percebi que todos olhavam para mim, confusos, vendo meu rosto inexpressivo – Tudo bem?


         Por um milésimo de segundo, ouvi minha própria voz na minha cabeça dizer “Realmente, não é sua culpa”. Eu tinha dito isso para ele há tanto tempo que parecia outra vida, mas tinha lhe dito isso enquanto me desculpava por meus pais, tio Remo e meus padrinhos me paparicarem demais no dia que nos conhecemos.


         Isso tudo não demorou nem um segundo. Logo, me vi sorrindo e respondendo:


- Claro que eu estou bem, Pontas, é que... Adorei te ver menor! – sorri largo, não era uma completa mentira, eu realmente gostara, mas seria um absurdo dizer-lhe o que eu estava pensando.


         Despedimo-nos, dizendo que voltaríamos amanhã para mais perguntas. Caminhamos, por um tempo, em silencio. Pensando.


         Não era um silêncio desconfortável, era um tanto agradável e, analisando bem, parecia um silêncio pensativo – por mais estranho que isso possa parecer.


         Em determinado momento, eu tive que rompê-lo:


- Pontas... – comecei hesitante – lá em Harmony...


- Sim? – incentivou meu amigo. Ele me olhava com curiosidade óbvia, provavelmente se perguntando o que eu ia dizer.


- Lá em Harmony você acreditava que tinha uma família? Uma família te esperando? – por sorte, conseguira fazer minha voz sair firme e sem gaguejos.


         Ele ficou desconfortável e parecia um tanto encabulado, mas disse:


- Sim, imaginava se tinha uma família ou não, muitas vezes pensava se, algum dia, eu recuperasse minha memória, poderia vê-los... – ele deu uma pausa, como se pensasse, mas continuou – mas esse dia nunca chegava, e comecei a pensar se era só um sonho que tive quando criança.


         Senti meus olhos ficarem lacrimosos – e eu nem sabia direito o motivo, só me deu, de repente, uma imensa vontade de cair aos prantos e dizer que ele nunca poderia desistir de procurar sua família, nossa família, de mim.


         Me perguntei qual era me problema. E, com isso, continuamos nosso caminho ao Salão Comunal da Grifinória.


         E eu, sinceramente, esperava que meu rosto não mostrasse meu desespero, meu medo e minha tristeza.

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