Epílogo



Epílogo



A brisa morna do verão começava a tocar os corpos gélidos de todos os moradores da pequena cidade bruxa, levando consigo todo o frio que ainda teimava em aprisionar a todos. As ruas estavam vazias e quase todos ainda dormiam quando, mais uma vez, a paz na casa dos Granger Weasley foi quebrada de modo tão comum e pouco passional.

A mulher de trinta e tantos anos descia as escadas com tanta rapidez que, por um momento, sentiu-se como uma bela mariposa. Seus cabelos continuavam cheios e na altura dos ombros, enquanto seu rosto tinha se tornado mais maduro e adulto do que anos atrás. Entretanto, mesmo que não fosse mais uma adolescente lotada de hormônios confusos, seu temperamento explosivo e inquieto continuava a apimentar seus sentidos. O que, de certo, não era nada bom – levando em consideração que seu marido agia de forma igualmente estúpida para um homem crescido.

O último seguia o mesmo caminho que a moça havia feito. Todavia, seus passos eram mais atrapalhados e confusos do que os tão premeditados dela. As sardas de seu rosto divertido estavam ressaltadas de modo a fazer qualquer um perceber que estava nervoso. Os cabelos ruivos caiam de modo bagunçado sobre seus olhos, dando a certeza de que estava dormindo há pouco tempo.

– Hermione Jane Granger Weasley! – exclamou de modo afoito. Ainda apoiava a idéia de que o nome da esposa era comprido demais para ser falado diversas vezes e era por isso que só o fazia em momentos restritos - Pare de agir como criança e...

O resto da frase completamente culta que ousaria falar foi interrompida pelas palavras sempre tão duras e pensadas de Hermione – mesmo que, daquela vez, todo o seu controle sobre o que escapava por seus lábios tivesse, aparentemente, desaparecido.

Eu estou agindo como criança? – repetiu incrédula – Eu? Você tem plena consciência do que acabou de falar, Ronald? – ela sabia que o esposo odiava quando lhe chamavam pelo primeiro nome e era exatamente por isso que ela o tinha feito naquele momento – Olhe para si mesmo antes de afirmar qualquer coisa a respeito de mim, seu grande estúpido!

A única saída que encontrou foi tentar ser engraçado de alguma forma. Mirou a si mesmo e à mulher mais uma vez, ambos vestindo as roupas de dormir, com as caras amassadas e os cabelos desarrumados. Os pés estavam descalços e o cansaço ainda se dissipava das mentes nervosas.

– A única coisa que posso enxergar aqui são dois adultos de mais de trinta anos que estão tentando ousar o passado novamente brigando, logo pela manhã, no meio do jardim.

Mesmo que a vontade de rir fosse enorme, Hermione controlou o impulso e não se rendeu ao marido. Cruzou os braços e respirou fundo.

– Eu estou cansada de tudo isso, Ronald! Você nem ao menos consegue levar algo a sério! – ergueu os braços desnudou para o ar e os sacudiu de modo quase louco.

O vento soprava insistente e ambos se encaravam de longe.

– Vamos, Hermione, não precisava ficar tão brava... – ele deu um passo para se aproximar e ela recuou um, estendendo o braço e indicando para ele parar.

– Nem pense em choramingar agora, Ronald – ela suspirou mais uma vez, parecendo desapontada – Eu tento conversar e você com excusas e "não-me-toques!”.

– Você é que está agindo assim, Mione! – ele tentava conciliar a briga, falando com mais suavidade - E desse jeito você vai acordar o bebê, ele ainda está dormindo...

Sentiram o vento soprar com mais força. Nuvens escuras e pesadas enfeitavam o céu. O tempo abafado da noite seria amenizado por uma chuva de verão. No entanto, nenhum dos dois parecia se dar conta ou se importar com o tempo e continuaram estáticos.

– Rony... Você... Por que você faz isso? – Hermione perguntou, em tom choroso, mais parecendo manha.

Ele tomou a iniciativa de se aproximar devagar, para que ela não fugisse mais ainda.

– Mione... – ele a enlaçou pela cintura, enquanto ela protegia o corpo contra o frio, abraçando a si mesma – Por favor, não se preocupe...

– Tratar da educação do nosso filho é algo com que tenho que me preocupar, Rony... Que nós dois temos, aliás! – ela protestou, mas ele a apertou com mais força, impedindo-a de se soltar.

– Ele ainda vai demorar a iniciar os estudos... Até lá, teremos tempo suficiente para garantir seu futuro e uma vaga em Hogwarts.

Ela se virou de modo que ficasse de frente para o marido e o enlaçou no pescoço.

– Quando é que você vai aprender a não brincar com assuntos sérios, Rony?...

– Talvez quando nós dois aprendermos a não discutir por causa de assuntos a ser tratados em longo prazo.

Pingos grossos começavam a cair cada vez mais rápido. Rony se inclinou para beijar sua esposa.

– Rony... Está chovendo – Hermione falou, quando ele levantava seu queixo.

– Deixa chover, então – ele sorriu e ambos colaram seus lábios um no outro.

A chuva continuou caindo sobre os corpos, como se quisesse transformar o casal em um só corpo.

Súbito, os dois se separaram ao ouvir um choro de criança. Mione sorriu:

– Sua vez.

– Minha? Mas eu fui de madrugada! – Rony protestou.

– Rony, eu fui depois de você... – ela começava a teimar, até que ele viu sinal de perigo.

– Você percebeu que estamos aqui no meio da chuva discutindo quem vai olhar o nosso filho? – perguntou rindo.

Hermione não resistiu dessa vez e acompanhou o marido nas risadas. Ele a conduziu de volta para casa e foram, juntos, olhar a criança.

Em meio às nuvens, um raio de sol apareceu, indicando o fim daquela chuva de verão, tão rápida quanto as discussões que o casal costuma ter nesses anos de casados e tão parecidas como as que tinham quando jovens estudantes.

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