A Carta e o Diário



VI – A Carta e o Diário



Hermione abriu o pergaminho e começou a ler:



“Francamente, não sei da onde tirei coragem para colocar este pedaço de papel entre todos os outros objetos que eu consegui encontrar dentro do meu malão... Minha mão está tremendo, e eu ainda não tenho certeza se é por razão do frio ou do nervosismo. Estou me sentindo um garoto de onze anos novamente agora que penso tão detalhadamente em toda a nossa história juntos.

Mione, eu gostaria tanto de te dizer isto agora pessoalmente, sem ter de escrever estas palavras que poderão soar tão tolas depois de seis anos presas entre os seis lados da pequena caixa de madeira que Hagrid construiu para nós, mas eu não consigo. Não consigo fazer minha garganta gritar com você e implorar para que não vá para longe de mim, para que continue em Londres em nome da paixão tão grande que aconchega meu coração, ao mesmo tempo em que o torna tão confuso e perdido.

Tenho certeza de que continuarei a sentir a mesma coisa por você, mesmo que se passem nove anos, mesmo que eu nunca mais a veja ou fale com a você durante este tempo todo. Talvez minha paixão torne-se controlada e, de certo modo, transforme-se em algo como amor.

Hermione, minha querida sabe-tudo, eu te amo com todas as partículas microscópicas do meu ser e precisava de tempo para dizer isso com clareza suficiente para que você acreditasse em cada palavra.

Pode ter passado tempo demais e seu coração estar dizendo que o único meio de ainda nos vermos é como amigo... Eu entenderei perfeitamente. E embora deseje o contrário, ficarei aliviado em saber que esses sentimentos não estão mais cravados no meu peito como um segredo.


Rony Weasley”.




Hermione dobrou a carta com cuidado, como se fosse possível estragar tudo se fosse rápida demais. Seus olhos estavam úmidos e sua respiração, já falha por razão do tempo, parecia não lhe ser mais suficiente.

Rony, por sua vez, pegou o diário cuidadosamente, examinou a figura de um gato angorá na capa e o abriu. Havia apenas uma página escrita e, no fundo, havia uma imagem de um coração, que ainda batia. Hermione tremia ao ler a carta de Rony e corou ao ver a página aberta. Ele leu:



"Pode parecer tolice agora que estamos mais velhos, mas quando eu dei a idéia para essa caixa, eu pensava muito nos dias em que passamos juntos. Talvez por isso tenhamos concordado em deixar esse segredo só nosso, excluindo até mesmo do nosso melhor amigo, Harry..

Passamos por muitas coisas juntos, Rony. Primeiro, em trio, com o Harry. A guerra contra Voldemort... E em meio a toda essa confusão, passamos por momentos só de nós dois. Memoráveis lembranças que sempre terei em meu coração.

E falando em coração... Saiba que o que vou escrever agora é muito difícil pra mim, espero que quando você ler – se ainda lembrar de mim e de nossa promessa – não ria, caso contrário estará ferindo meus sentimentos...

Desde que nos beijamos pela primeira vez, de forma desastrada e inusitada, eu descobri que sempre gostei de você, mas que era muito difícil chegar perto de você. Por quê? Porque somos amigos, sempre fomos amigos, e eu tinha medo de te perder, perder a sua amizade para sempre e, sinceramente, eu não sei o que faria se perdesse a sua amizade.

Porém, eu não posso e não consigo fugir do que estou sentindo, Rony... Eu não queria, mas foi por medo de perder a sua amizade que eu terminei nosso, tive medo que nossas brigas ficassem piores.

Fui covarde, mas eu fiz isso por eu te amo... Eu te amo e não queria te aborrecer, achava que era um enfado pra você...

Talvez, quando você ler estas linhas, você não sinta mais nada por mim. É difícil dizer, acho que nosso sentimento pode amadurecer e se transformar em amizade, apenas. Só quero que saiba que, enquanto esse coração que está desenhado nesta página estiver batendo, eu ainda vou te amar. Se não estiver batendo, então significa que meu amor virou amizade...

Espero que seja feliz.

Sua,

Hermione.”




Rony observava a figura do coração pulsando e sentia o próprio coração pulsar mais rápido. Sorriu, comovido, voltando-se para Mione, que acabara de terminar de ler a carta e que, num movimento em falso, desequilibrou-se e caiu no chão escorregadio.

Rony aproximou-se e segurou-a no colo, abraçando-a para esquentar seu corpo tão gelado. Com ternura, deu-lhe um beijo na testa. Devagar ela abriu os olhos, que encararam os dele. Hermione colocou os braços em volta do pescoço dele e os dois ficaram por um longo tempo assim, abraçados, nenhum dos dois querendo se afastar. Até que Hermione, ainda com os braços envoltos do pescoço dele, se afastou um pouco, encarou-o por instantes e voltou a se aproximar, dessa vez quase encostando os seus lábios nos dele.

Rony apertou-a, fazendo com que os corpos dos dois ficassem grudados, mas antes de qualquer coisa, Hermione sussurrou:

– Você ainda sente tudo o que essa carta diz?

– Depende – a voz rouca escapou-lhe dos lábios de forma doce – Você ainda sente o que escreveu no diário? – retrucou de forma amável demais, até mesmo para o momento.

Os olhos buscavam-se insanamente, como se deles dependessem o ar, a emoção, a vida. Hermione mordeu o lábio inferior ao sentir o hálito tão quente e conhecido do garoto alcançar seu rosto pálido e ainda vermelho por causa de toda a sua emoção.

– Não acredito que demoramos tanto tempo para percebemos o quão tolos tínhamos sido – murmurou enquanto sorria brevemente. Era aconchegante sentir os braços fortes dele abraçando seu corpo.

– Nem eu... – sua voz queria continuar a falar, mas as batidas do seu coração simplesmente não permitiam. Os lábios roçaram uns nos outros por minutos até que pudessem, finalmente, sentir segurança para darem um verdadeiro beijo. Para que finalmente pudessem juntar suas almas gêmeas em uma única, novamente.

Saindo da cabana, Rony puxou a jovem para mais perto ainda, como se o vento pudesse arrastá-la para longe. Esta deixou que as mãos trêmulas guiassem-se até os cabelos ruivos para que fosse possível bagunçá-los ainda mais. Frente ao monte de neve estavam marcas que mostravam por onde tinham caminhado.

As pegadas na neve permaneciam intactas, apesar do vento que soprava com força total. E, largado no chão da cabana, encontrava-se o diário da menina. Preenchido por dezenas de palavras...

Quando os lábios dos dois se afastaram, Hermione pôde dar um sorrisinho para Rony. Ele a abraçou e perguntou se ela estava melhor e com um delicado movimento com a cabeça, ela respondeu que sim.

– Ainda tem coisas na caixa. – ao voltar, Hermione reparou e pegou uma pequena caixinha branca – O que é isso, Rony?

Rony ficou escarlate, pegou a caixinha da mão dela e abriu. Havia ali dentro um anel, ouro branco com um diamante, e dentro do diamante havia uma lágrima de Fênix.

– No Natal, depois que começamos a namorar, mamãe ficou radiante, você lembra? Ela me deu esse anel e disse que sabia que um dia ele pertenceria a você, era o anel de noivado dela. Me deu com a condição de só dar a você, que se eu quisesse casar com outra pessoa era pra devolver o anel a ela.

Hermione sorriu.

– Naquele dia em que brigamos, porque fiquei com ciúmes do Krum e você disse que ele havia se lembrado do seu aniversário e eu não... – Rony riu sarcasticamente – Eu nunca esqueceria do seu aniversário, só estava preparando uma surpresa, eu queria te dar o anel...

Hermione sentiu aquelas lágrimas quentes percorrerem sua face, soluçando deu um abraço apertado em Rony. E como se tivesse desesperada, deu-lhe um beijo com ternura, o beijo que queria ter dado naquele dia do rompimento, aquele dia em que gostaria de ter dito que o amava mais do que ninguém, porém as brigas estavam sendo mais fortes. Aquele dia em que tudo parecia ter perdido a vida, a cor, a graça.

Rony se desvencilhou do abraço e pegou delicadamente a mão de Hermione. Teve dúvidas se era isso mesmo que ela queria, mas o olhar de felicidade que recebeu dissipou tudo que ele pensava de negativo.

– Mione... Vamos tentar de novo?

Ela não respondeu. Rony aguardou alguns instantes, mas exclamou:

– Por favor, Mione! Eu sei que já tentamos antes, mas eu quero acreditar que dessa vez vai ser diferente... Eu quero acreditar que vai dar certo e que...

– Vai dar certo, Rony – ela o fez calar com um dedo selando sua boca – Vamos fazer dar certo e, como das outras vezes, valerá a pena... Nunca me arrependi de ter te tocado, dos nossos beijos, do nosso amor...

Beijaram-se. Um calor intenso emanava dos dois e qualquer um acreditaria que ambos, ali, naquele instante, eram capazes de fazer derreter toda a neve que os rodeava.

Quando se afastaram, foi Hermione quem perguntou:

– E a caixa? O que faremos com ela agora que a abrimos?

Rony riu daquela forma marota que ela tanto gostava.

– Vamos levar, colocar coisas novas e tornar a guardar. Quem sabe daqui a mais 10 anos nós não voltamos aqui, juntos, com algumas crianças...

Hermione sorriu com ternura e os dois colocaram os objetos de volta na caixa. De mãos dadas, começaram a seguir o caminho de volta para Hogsmeade.

Das lembranças do casal que permaneceram por seis anos confinadas naquele local, restaram apenas as pegadas na neve.



Fim


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