Abrindo a Caixa
V – Abrindo a Caixa
Rony podia ver ao longe aqueles portões de ferro e não pôde deixar de exibir um sorriso, mesmo com o frio de rachar que fazia. Hermione sentiu um calafrio quando deu o último passo bem em frente ao portão, em menos de 3 segundos relembrou toda sua vida em Hogwarts como um filme em alta velocidade, tantos momentos alegres e tristes, tantas lembranças, tantas desilusões.
Ele empurrou o portão, que rangeu, e pegou a mão de Hermione tão rapidamente que nem ele sentiu o que fez. Talvez a vontade que ardia em seu peito fosse forte demais, talvez aquele perfume tão perto o tivesse deixado extasiado.
Hermione apertou a mão de Rony desesperadamente, como um pedido de ajuda, um motivo para não chorar, para não desabafar, para não agir, fazer algo que estivera esperando há muitos anos.
Rony puxou-a para mais próximo de si e os dois foram andando juntos, sem dizer nada, sem querer estragar o momento, apesar das milhares de perguntas que lhes passavam pela cabeça.
Os dois pareciam lembrar-se exatamente de onde a caixa estava enterrada, pois seguiram em frente, viraram a esquerda e depois à direita sem nem parar no meio do caminho pra pensar.
O vento parecia ficar mais forte na medida em que cavavam. Mesmo usando a varinha, o processo era demorado, pois tinham receio de danificar a caixa.
Até que finalmente o som da pá batendo em algo duro fez com que os ambos ficassem estáticos. Devagar, Rony retirou a caixa do solo, limpou a terra que ainda a cobria e a colocou no chão, visível para que Hermione também pudesse ver.
– É a nossa caixa – disse ela, depois de alguns minutos de silêncio.
– Vamos para um lugar coberto, não acha melhor? – perguntou Rony.
Hermione olhou em volta. Estavam um pouco longe da casa de Hagrid. Embora ele tivesse morrido há alguns anos, a casa ainda tinha um ar hospitaleiro.
– Ou você prefere ir para o castelo? – perguntou a Rony, depois de expor sua idéia sobre a cabana.
Rony preferiu a casa do guarda-caça, pois mesmo que os alunos estivessem em férias de Natal, sabia que alguns permaneciam no castelo, como ele próprio já o fizera com Harry e Hermione. Aquela era uma situação muito íntima, e por isso preferia uma maior privacidade.
Entrando na cabana, depositaram a caixa na mesa e sentaram-se um de frente para o outro.
– Então... Quem começa? – foi a pergunta de Rony, que apesar de ter amadurecido em vários aspectos, não perdera a impaciência.
Hermione baixou os olhos como se implorasse para que ele não pedisse que ela se prontificasse. Mirou todos os objetos já descascados por causa do tempo. Seu coração saltitava e falhava ao mesmo tempo.
– O que é este colar? – perguntou, segurando a corrente entre os dedos. Um pequeno pingente redondo pendia para baixo.
– Era seu presente – respondeu, sorrindo abobado – Eu ia te dar como comemoração de um ano de namoro – ele parou um instante, respirou fundo – Mas antes que eu pudesse entregar a você, nós discutimos e eu achei melhor guardá-lo para mim, como lembrança.
Hermione sorriu enquanto abria o medalhão e encontrou uma foto dela e do ruivo ainda jovens, acenando de forma divertida, ao mesmo tempo em que mandavam beijos um para o outro.
Ela sorriu para Rony, que retribuiu. Eles estarem ali, juntos, era tão estranho e maravilhoso. Era estranho o fato de eles ainda terem o mesmo desembaraço quando juntos como antes, e maravilhoso porque, para ela em muitos anos, aquele estava sendo o momento mais agradável. Poder olhar para aqueles olhos tão doces novamente era quase que a realização de um sonho.
Hermione esticou a mão e pegou na caixa um fio de cabelo, envolto por uma corda.
– O que é isso, Mione? – Rony perguntou, pegando da mão dela uma mecha de cabelos rubros.
Hermione riu.
– Na noite depois do nosso primeiro beijo – começou, enrubescida – eu fui até seu quarto e cortei um fio de cabelo seu. Pra lembrar. Eu era idiota, não é necessário um fio de cabelo para me fazer lembrar daquele dia, daquele momento. Ele passa por minha cabeça a todo o momento. – disse tudo de uma vez, sem nem parar pra respirar.
Era um desabafo. Depois de dez anos, ela precisava dizer que aqueles cabelos vermelhos e aquelas sardas tão charmosas ainda habitavam seus sonhos, sua mente, a deixavam sem fôlego.
Rony olhou pra ela surpreso, a única atitude que teve foi rir.
– Não acredito... Meu cabelo? – ele perguntou, ainda segurando a mecha.
– É... – Hermione corara intensamente. – Coisa de criança – ela tentou se justificar.
Continuaram verificando a caixa. Reviram muitas fotos dos dois juntos e até mesmo com Harry, até que Rony encontrou um diário.
– Você foi capaz de se desfazer de um diário? – perguntou, examinando a capa, sem se atrever a abri-lo.
– Na verdade – Hermione pegou o diário das mãos dele – Eu comprei esse diário justamente para escrever o que se passou naquele dia e... Mais algumas idéias... – ela parecia se esforçar para falar – Eu escrevi especialmente para você ler...
Rony pegou o diário e a olhou com carinho. Estava abrindo quando Hermione viu dentro da caixa um envelope endereçado a ela.
– O que é isso? – perguntou.
– Eu decidi escrever uma carta – foi a vez de Rony corar, as orelhas já ardendo de tão vermelhas – pra você.
– Então... Eu leio a carta enquanto você lê o diário? – Mione perguntou timidamente, olhando nos olhos de Rony.
– Certo – concordou ele.
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