Relembrando o Passado



III – Relembrando o Passado



Seus pés já não estavam tão gelados como no trem e isso fazia com que se tornasse mais fácil cada passo dado. O casaco começava a pesar sobre os ombros cansados. Queria que Hogwarts fosse mais perto, ou que aparatar lá dentro fosse possível.

Estava em Hogsmeade agora. Seria bom passear um pouco antes de ir para os jardins do antigo colégio atrás da pequena caixinha. E, mesmo que pensasse em sentar, sua mente resistia e fazia com que se mantivesse em pé até alcançar a sorveteria.



– Você seria um pouco mais ridículo se deixasse de ser tão ciumento, Rony Weasley! – exclamou a jovem deixando todo o seu nervosismo extraviar-se por seus lábios trêmulos.

– Responda, Hermione, o que afinal você tem com aquele búlgaro nojento? – perguntou levantando-se, seguindo os passos da outra.

– Nada! – gritou pela milésima vez – Krum deixou de ser meu amigo muito antes de começarmos a namorar.

– Se vocês não têm mais nada, eu quero saber o porquê dele ter te mandado aquele "presentinho".

– Pelo simples fato, Rony Weasley, dele ter se LEMBRADO do meu aniversário, ao contrário de uma certa pessoa! – disse Hermione enxugando uma insistente lágrima em seu rosto.

– Foi seu aniversário? – ele perguntou, as orelhas se tornando rubras rapidamente.

– Ah, Ronald Weasley, eu odeio você!

Rony abaixou a cabeça, enquanto Hermione foi andando raivosa, deixando marcas na neve. Rony sentiu-se mal por todo aquele dia.




Hermione enxugou as lágrimas que escorriam por sua face, por que aquilo ainda doía tanto?

Talvez doesse porque ela ainda sentisse amor... Será que Rony se lembraria da promessa?

Tantos anos sem se falar... Mesmo após a guerra, nas poucas vezes que se encontravam, Hermione tinha gana de abraçá-lo, ao mesmo tempo em que tinha medo, pois não sabia se ele a amava ou se fora simplesmente um namoro de adolescente.

E pensar que por aquela discussão tola, tudo tinha sido jogado fora... Todos os momentos felizes que passaram e todas as discussões que terminaram em doces beijos e carinhos... Tudo isso...



Os dois estavam sentados em poltronas individuais, um de frente para o outro. Rony massageava as mãos nervosamente, enquanto Hermione continuava olhando para o chão.

– Mione... Me desculpa, eu fiquei com ciúmes...

– Você está sempre com ciúmes, Rony. – ela ergueu a cabeça para encará-lo – Se não é ciúmes, é porque estudo demais, ou por falar do F.A.L.E. Você chegou a dizer que eu me metia demais nos seus estudos.

– Mas, Hermione, eu não consigo me concentrar como você, como você acha que eu me sinto? Me sinto pressionado, poxa!

Hermione desviou novamente o olhar, talvez para deixar que aquela lágrima solitária caísse por seu rosto sem que Rony percebesse. Ela tornou a falar:

– Rony, eu acho que não dá mais... Eu pensava que podíamos contornar as nossas brigas, mas eu não agüento... Eu preciso de um tempo...

– Você... Você quer romper comigo? – o tom de Rony era meio desesperador – Mione, por favor, me dá uma chance...

– Eu gosto de você, Ron... – Mione tentou segurar o soluço, mas não conseguiu – Eu... Eu não quero perder a sua amizade...

Rony permaneceu estático. Não, ele não queria parar de falar com Hermione, não queria se afastar dela, mas tinha que respeitar a decisão do término do namoro. Recostou na poltrona, desolado.

– Eu... Tudo bem, Mione... Se você quer assim, seremos apenas amigos, como sempre fomos... – ele disse com a voz embargada.

Não restando mais nada a dizer naquele momento, Hermione levantou-se e correu para o dormitório das meninas, deixando Rony ali sozinho, onde permaneceu até a manhã seguinte.




Rony estava sentado de costas em uma mesa do Três Vassouras, usando um gorro, o que impossibilitou que Hermione o reconhecesse, quando entrou no local. Ela enxugou uma lágrima que teimava em cair por causa de suas lembranças e se encaminhou para o balcão.

– Uma cerveja amanteigada, por favor – pediu o mais alto que conseguiu. Por que tinha voltado, afinal? Seus pensamentos agora gritavam em sua mente que Rony talvez pouco se importasse com a promessa, que, muito provavelmente, já a tinha esquecido. Engoliu em seco e virou metade do copo da bebida doce de uma única vez. Os minutos agora iam rápido demais...

Virou-se para todo o resto do bar, encostando-se no balcão de madeira. Ao seu lado, um homem robusto, com barba por fazer, virava seu segundo copo de whisky de fogo. Lembrou-se de como o ex-namorado tinha fixação por aquela bebida, nem imaginando que aquele não fosse um estranho.



– Como você pode fazer isso comigo, Hermione? – a voz embargada pela bebida para maiores saía torta entre as palavras de afeto e ódio – Você não pode me abandonar. Eu sei que você me ama...

– Rony – sussurrou a morena, lutando contra as lágrimas que já enchiam seus olhos – Me solte! – a mão do garoto apertava com força seu braço, começando a marcá-lo – Você está me machucando...

– E você fez o que?! – gritou alto o suficiente para que alguns pudessem ouvir – Você acha que não me machucou depois de terminar comigo? – seu rosto chegou perigosamente perto do seu e todo o seu corpo a prendeu contra a parede. O hálito de whisky embriagava seu nariz.

– Por favor, Rony – soluçou colocando o braço livre contra o peito forte de goleiro.

– Por favor - repetiu baixinho, roçando os lábios doces nos dela - Por favor, me de mais uma chance...

– Não tem como, Rony. – respondeu aflita – Será que você não vê que nos magoamos demais nesse relacionamento?

– E se eu tentasse me controlar, controlar os meus ataques de ciúmes? – ele perguntou, aproximando-se mais.

– O problema, Rony, é que você sempre promete e nunca cumpre. – uma lágrima solitária rolou por sua face – Eu também tenho amigos rapazes, sabe, e você tenta controlar tudo o que eu faço. Eu comecei a reparar que quando não estou com você, fico mais tranqüila e que ao seu lado é sempre oposto! É sempre ciúme, Rony, ou então outra implicância qualquer que se torna uma discussão como essa!

– Não tem como mesmo?

– Eu te garanto que estou sofrendo mais que você. – Mione enxugou as lágrimas com as costas das mãos.

– Eu preciso de você! – Rony a abraçou, Hermione não o afastou; queria que aquele momento durasse eternamente.

Ao ouvir a frase, Hermione assentiu com a cabeça.

– É melhor você ir tomar um banho, eu preparo uma poção pra você não ficar com dor de cabeça amanhã. – disse Mione, solícita. Rony lhe deu um beijo no rosto.

– Eu te amo. – Hermione sentiu seu estômago afundar e chorou mais.

– Por favor, Rony, pára! – disse desesperada.




Rony chacoalhou a cabeça tentando afastar seus pensamentos e se dirigiu ao balcão para pagar a conta. Precisava repousar e ainda tinha 6 horas para o encontro.

Mal olhou para o balcão, mas ao passar pelo corredor em direção à porta, sentiu um cheiro familiar quando roçou nos cabelos de uma garota que estava sentada.

A neve havia parado de cair torrencialmente, o que facilitava em muito andar pelas ruas minúsculas e lotadas por pessoas empacotadas de casacos feitos da lã mais quente de toda a região. Todos os narizes estavam vermelhos, mas o dele não. A herança que carregava em seu sangue fazia com que não o nariz, mas sua orelha toda virasse um verdadeiro pimentão. Cobriu-as com o gorro e seguiu abraçado ao próprio corpo.

Inverno e lembranças combinavam perfeitamente a seu ver. Já tinha 26 anos, era, definitivamente, um homem formado. Seu emprego era ótimo, mesmo que outros ainda melhores pudessem existir, e sua auto-estima havia aumentado desde o colégio. Porém nunca, nem durante minutos de loucura, ele tinha conseguido esquecê-la. Esquecer como a amava e como era impossível deixar de sentir qualquer coisa por ela.

Seguiu para a Casa dos Gritos em passos lentos e cansados.


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