Vozes e pesadelos



4> Vozes e pesadelos

Todos estavam horrorizados. Harry estava ajoelhado na grama, observando seus dedos mutilados jorrarem sangue, borrando o gramado de um vermelho intenso. Rony correu em direção ao amigo com toda a velocidade. Saltou de sua vassoura, e se ajoelhou ao lado de Harry. Ele estava trêmulo, paralisado com o estado em que sua mão se encontrava.
_ Harry! Harry! – gritou Hermione, que se aproximava do amigo – o que houve, Harry?!
AO olhar a mão de Harry, Hermione também ficou imóvel. Seus olhos, em lágrimas, seu corpo frio. Saltou sobre o ombro do amigo, desesperada.
_ Harry! O que houve, Harry! Por favor, o que houve! Um enfermeiro, por favor!
_ Não... – sibilou Harry.
_ Como... – Hermione parou de chorar e observou a face de Harry, que não expressava dor alguma – o que disse? Não quer ajuda?
_ Não precisa... minha mão... não está doendo...
_ Como assim? – exclamou Rony, perplexo – a explosão deve ter afetado o cérebro! Só pode!
_ Uma lástima! Terrível! – gritava Percy Weasley, que viera averiguar o acontecido – Potter! O que houve! Está tudo bem?
_ Claro que não está nada bem! – retrucou Rony – Olha a mão dele! Que tipo de segurança tem esse jogo? Qual é o problema do Ministério?
_ Sabia que se você se tornasse Ministro, tudo ia ficar mais difícil, Percy! – gritou Hermione, indignada.
_ Que diabos... estão pondo a culpa em mim? Acham que eu permitiria essa calamidade? Me respeitem, sou o Ministro!
_ Um ministro de merda! – urrou Rony, levantando o amigo pelos cotovelos – vamos, cara! Temos que ver essa sua mão.
_ Acho que dá para restaurar. – falou Hermione – se não for nenhuma magia negra, é claro...
Sua voz sumiu. Seu olhar fitou o de Harry, que olhou para Rony. Não poderia ser. Realmente, era uma cilada. Alguém realmente tentara matar Harry. Ele ficou se perguntando se Voldemort estava vivo. Não, era impossível. Harry destruíra os sete horcruxes, como Dumbledore mandara antes de morrer. Era praticamente impossível. Harry viu Voldemort suplicar pela vida. O jovem bruxo, por outro lado, não estava tão preocupado com quem o atacara, e sim o que sentira ao ser atacado. Uma onda irradiou de seu corpo e, de alguma forma, tomou o controle de sua mão. Harry apertara o pomo com uma força incrível e, no momento da explosão, de alguma forma, ele tinha amenizado. Ele conseguira parar a explosão com uma única mão. Antes que pudesse pensar, alguém da arquibancada gritou em alto e bom som, usando o feitiço “sonorus”:
_ Os balaços! Vão atacar Harry Potter!
Harry só teve tempo de ver os balaços em sua direção e, instantaneamente, tirou a varinha do bolso e bradou contra as duas esferas maciças hostis:
_ Verus dominus!
Imediatamente, as duas bolas diminuíram a velocidade e, com um aceno da varinha de Harry, elas se lançaram para o lado oposto, onde ninguém se machucaria. Muitos “oh!” ecoaram no estádio. Até mesmo o próprio bruxo se assustou com seu rápido reflexo.
Rony tornou a conduzir o amigo até a tenta onde medibruxos e enfermeiros atendiam os jogadores feridos. Harry se deitou em uma maca e um dos enfermeiros, após uma boa observada não mão de Harry, concluiu:
_ Podemos restaurar, mas pode levar algumas horas.
Aliviado, Harry guardou sua varinha no chão e, ao sentir que o perigo passara, sentiu-se no direito de desmaiar.

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Quando Harry acordou, ele não estava mais onde deveria estar, não no estádio. Quando sua cabeça parou de rodopiar, Harry conseguiu distinguir os borrões que corriam a sua volta. Estava n’A Toca, a casa dos Weasley, mais precisamente no quarto de Rony. Ao seu lado estavam Rony, Hermione e Yvee, os outros Weasley estavam um pouco mais distantes, observando o garoto se erguer aos poucos.
_ O que... o que aconteceu, pessoal?
_ Está tudo bem agora, Harry. – falou hermione – sua mão já está bem melhor.
Harry olhou sua mão que fora mutilada. Estava em perfeito estado, ao que parecia. Ficou se perguntando o que, exatamente, acontecera com ele, desde o dia em que chegou no Caldeirão Furado. Conheceu Yvee... esperou Percy... Draco.... partida de Quadribol... uma explosão. Finalmente, depois de recolocar suas lembranças mentalmente, Harry perguntou para quem quisesse responder:
_ O pomo... a quanto tempo estou desacordado?
_ Há mais ou menos quarenta e cinco horas. – respondeu Arthur Weasley – Harry... você sabe o que, realmente aconteceu?
Todos se entreolharam. Molly Weasley cobriu a parte inferior de sua boca, na tentativa de esconder sua preocupação e desespero. Rony e Hermione olhavam par Harry, como se ele tivesse uma doença terminal.
_ Não. O que, “realmente”, aconteceu?
_ Harry... aquela explosão foi causada por magia das trevas.
O garoto olhou, aterrorizado, para todos que estavam no quarto, se perguntando se ouvira bem. Magia negra?
_ Magia negra das poderosas, Harry. Um feitiço das trevas que seria capaz de assolar todo o Térreo de Londres. Haveriam muitos feridos naquele momento. Mas, de alguma forma, o feitiço não saiu como esperado.
_ Como assim? Que tipo de feitiço? – perguntou Gina, abraçando Harry, assustada.
_ Vis Corpus. Um feitiço que encanta um objeto e, este ao ser tocado, entra em combustão, liberando magia das trevas intensa. Muito difícil de ser feita e, acredito que, pela forma como repercutiu, tenha sido realizada sem nenhum sucesso, ou ela teria funcionado, destruindo tudo.
Harry correu os olhos novamente em torno do quarto. Todos o olhavam com apreensão, como se ele fosse explodir como o pomo. Seus olhos se fixaram em Yvee, que aparentava ser a mais preocupada, apesar de Gina mostrar muito mais desespero.
_ Alguém, Harry, está tentando te matar. – concluiu Remo Lupin que, até a pouco, não se manifestara – provavelmente algum Comensal da Morte irritadíssimo.
_ Belatriz, talvez. – comentou Sra. Weasley – ela não foi encontrada ainda e sabemos o quanto ela amava seu lorde.
_ Eu também tenho essa suspeita, Molly. – comentou Tonks, cujo ódio pela tia nunca foi segredo, depois da morte de Sirius Black.
_ É bastante provável – comentou Lupin – mas isso, apesar de lastimável, é um bom sinal. Significa que as trevas ainda estão perdendo sua eficiência e poder. Podemos dominá-la se a encontrarmos.
_ Como o faremos, Remo? – perguntou Tonks – Ela é uma bruxa das trevas poderosíssima. Se não quiser ser encontrada, será muito mais difícil.
_ E o jogo? – perguntou Harry – quem ganhou?
Rony se virou para o amigo, com um largo sorriso.
_ Oras, Harry! Quem poderia ser? Nós! Claro que a Alemanha tentou aliviar pro lado deles, dizendo que havíamos enfeitiçado o pomo.
_ Um comentário muito infeliz. – falou Hermione – Claramente não poderíamos ter feito isso, certo? Quem faria algo dessa forma com um amigo?
_ Nossa vitória foi cento e dez por cento limpa! – exclamou Fred – Arrasou, magrelo!
Todos a sua volta pareciam mais descontraídos com a notícia da vitória inglesa. Harry ficou se perguntando quando tudo iria acabar bem. Talvez aquele atentado contra sua vida fosse apenas a frustração de um Comensal que, de cedo ou tarde, seria condenado. Seus amigos estavam muito mais aliviados depois que Arthur lhes dissera que o feitiço era muito fraco e que, com certeza, o feitor do feitiço não poderia realizar algo mirabolante.
_ É preciso ter vontade de matar, entendem, para realizar o Vis Corpus. Quem o fez certamente tinha esse desejo. E, se não deu certo, então eu concluo que o comensal que realizou esse feitiço não está habilitado para enfrentar um auror.
_ Isso me deixa mais tranqüila, Arthur, mas... – a Sra. Weasley parou por um instante, lançou um olhar preocupado à Harry e continuou – e se esses ataques continuarem? E se tentarem outro atentado?
_ Cara! – exclamou Jorge – isso é melhor que conflito na faixa de Gaza!
_ Francamente, Jorge! – ralhou Hermione – isso não é nenhuma situação que se deva fazer piadas!
_ Eu não sou o Jorge, sou o Fred!
_ Ah, ta bom, então, Fred, mas entenda...
_ To curtindo com a sua cara. Eu sou o Jorge mesmo.
Hermione se irritou. Fez menção de discutir mas, sabendo como eram os gêmeos Weasley, logo desistiu de desperdiçar energia com aqueles dois.
Harry percebera, então que perdera quase dois dias de sua vida. Levantou-se da cama, pedindo licença aos amigos e, com a desculpa de tomar um ar, saiu d’A Toca para observar o céu estrelado, coisa que ele não fazia a muito tempo. Este, por outro lado, ainda não se enfeitara de nenhuma estrela, mas estava tingido de um azul muito escuro, um manto negro que cobria o céu, deixando transparecer a luz prateada do luar. Logo atrás dele, Gina veio ao seu encontro. A ruiva se aproximou e, juntos, se sentaram no jardim d’A Toca, ora trocando olhares, ora rindo dos gnomos que tentavam, inutilmente, correr de Bichento, que tinha o maior prazer em arrancar suas cabecinha miúdas.
Ao final de um silêncio constrangedor de mais de dez minutos, Gina finalmente tomou coragem e, segurando a mão de Harry, falou:
_ Sabe, Harry... quando aquele pomo explodiu, eu... eu senti tanto medo. Eu senti uma dor tão forte...
Uma lágrima quase passou despercebida, mas a garota não pode se conter. Estava bem claro que, para ela, perder Harry significaria perder a própria vida. Houve um dado momento em que Harry tomara a decisão de terminar com Gina. Mas ele bem que tentou no sexto ano, em Hogwarts. Seus corações, por outro lado, sempre estiveram juntos. Não seria justo Harry terminar o namoro, deixando Gina sofrer sozinha. Se fosse para ser um amor excruciante, que fosse ao lado dele.
_ Hei, minha pequena ruiva. – falou Harry, abraçando a namorada – eu te amo. Nada nem ninguém, nem mesmo um exército de Comensais, vão nos separar. Sozinhos, eu e você não poderemos combater a magia das trevas. Mas, juntos, assim como agora, nenhuma magia das trevas será páreo.
O casal se abraçou e ali ficaram até a tão chegada das estrelas, enfeitando o firmamento negro de luzes douradas. Harry não poderia esperar mais nada. Estava tudo bem, afinal de contas. Algo, entretanto, não saía de sua cabeça. Que força era aquela que obrigou-o fechar o punho sobre o pomo? Harry se sentira morrer durante a explosão. Sentira uma sensação terrível, como se sua alma estivesse sendo destroçada. No segundo seguinte, estava apenas com uma das mãos feridas, o que não foi nenhum trabalho recuperar. Sentira que aquele pomo tinha uma magia negra muito intensa. De alguma forma, ele impedira a explosão com o próprio punho.
Harry, por outro lado, achou mais prudente não dizer nada aos amigos, nem mesmo à Gina. Isso, talvez, não soasse tão curioso aos amigos. Estava cansado de tantos problemas, e não estava nenhum pouco disposto a inaugurar um circo de horrores. Se conseguira repelir uma magia negra, isso seria bom, não seria? Mas ele não repeliu o feitiço, apenas sobreviveu a ele... como da primeira vez. Uma imagem veio em sua mente. Um jorro de luz verde e uma mulher gritando. Lembrara do dia em que Lílian Potter dera a vida em favor do filho.
Gina abraçou ainda mais forte o namorado, como se temesse que aquele momento acabasse a qualquer instante. Ela acariciou os cabelos rebeldes de Harry, fazendo-o se deitar no colo dela. Tudo estava muito perfeito. O céu, o clima fresco, a companhia. Edwiges ainda não voltara, mas Harry não estava preocupado. Sua coruja sempre teve essa mania de sumir alguns dias, principalmente quando ela e seu dono não estavam se dando muito bem. Os pertences de Harry já estavam n’A Toca e, finalmente, ele não precisaria se preocupar em mais nada, exceto a expectativa de, dentro de algumas semanas, ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas em Hogwarts.
Ainda no colo da namorada, Harry adormeceu e, minutos depois, Gina adormecera sobre o gramado fresco.

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Harry estava caminhando sobre um caminho rodeado por um muro ornamentado com ouro e molduras de quadro douradas. Em cada um dos quadros, pessoas se movimentavam, sorriam e acenavam. Rony Weasley, Hermione Granger, Gina Weasley, Sirius Black, Alvo Dumbledore, entre tantos outros entes queridos, o cumprimentava de forma calorosa. Harry retribuía a gentileza. Sobre ele, uma porta de ferro enferrujado se abriu, fazendo um ruído metálico. Era um campo devastado, completamente queimado e erodido. Corpos jogados ao relento, gemidos de súplica. Harry observou tudo, atônito. Reconhecera um corpo como sendo o de Belatriz. Harry alisava sua face fria com dedos finos e pálidos. Sua boca gesticulou involuntariamente.
_ Pequena Lestrange. Eu sinto tanto... mas, ou era você, ou era eu. Sei que me entende. Meu caminho está livre, agora. Posso destruir... o que?
Harry, não podendo controlar o movimento ou a voz, que soava arrastada e seca, começou a socar a própria cabeça e gritar:
_ Saia! Eu mandei sair! Como é possível? Maldito!
_ Harry! Harry! O que foi? – Gina balançava o namorado, aparentemente assustada – por quê está gritando? Eu estou aqui, Harry! É apenas um sonho... só isso.
O jovem bruxo abriu os olhos, seu rosto suava frio. Tudo não passou de um sonho, um sonho que lhe pareceu real demais. O que era aquilo? Harry tinha se visto em um campo onde muitos Comensais estavam mortos. Ele realmente matara todos aqueles? Será mesmo que conseguira matar Belatriz? Não. Era apenas um sonho. Um desejo profundo desesperado que o banhara no momento mais vulnerável. Um desejo vingativo que escorria em suas lágrimas e seu suor frio.
_ Acalme-se, Harry. Está ofegante. – falou Gina – você adormeceu por alguns minutos. Não aconteceu nada de mais. Está tudo bem.
_ Eu... eu vi... – Harry tentou entender o seu sonho, se fora realidade, algum presságio ou simplesmente um anseio – eu me vi matando comensais. Eu me vi com Belatriz jogada aos meus pés... estava morta.
Gina olhou-o, uma expressão cansada mesclada de perplexidade. Enfim, falou:
_ Não se preocupe, Harry. Foi um sonho. Nada mais. Você passou por muitas coisas. Foi só ouvir que Belatriz poderia estar atentando contra sua vida, e você tem esse sonho. Não vê, Harry?
_ É, talvez tenha razão – respondeu Harry, pouco crédulo – talvez eu esteja um pouco impressionado. Não tenho o que temer, não é mesmo?
_ Certamente. – falou ela, contente por ter convencido o namorado – Agora é melhor entrarmos. Temos que descansar. Amanhã teremos um longo dia. Lembre-se que, você precisa comprar os materiais necessários para dar sua primeira aula em Hogwarts.
_ Ah, sim, claro. Bem, vamos entra, então. Antes que eu tenha outro acesso.
De mãos dadas, o grupo entrou, um pouco mais tranqüilos. Ao entrarem pela cozinha, Yvee já estava de pé, ainda com uma certa aparência transtornada. Não era a mesma pessoa desde o dia em que Harry negara um pedido seu. Yvee pedira para ficar na casa dos Weasley até que Harry acordasse. Ao ver que o amigo estava bem, achou que já era hora de partir. Deu um beijo superficial no rosto de Harry e, com um último aceno, saiu d’A Toca e desapareceu de vista.
_ Muito simpática, a Yvee. – comentou Hermione – onde se conheceram, Harry?
_ No Beco Diagonal. Era a única pessoa da mesma idade que eu. Fazíamos companhia um pro outro enquanto estávamos sós.
_ Até nos encontrarmos. – terminou Gina.
_ Agora eu não preciso de mais ninguém. – respondeu Harry, beijando a face rosada da namorada – pessoal, se não se importam, eu vou dormir. Tenho que...
_ Harry...
_ Como?
Harry parou de falar por alguns instantes. Olhara pra cima, tendo a nítida impressão de que alguém o chamara. Não alguém conhecido, pois a voz era bastante distinta de qualquer coisa que já ouvir. Uma voz grave e arrastada, que parecia ecoar dentro de sua orelha.
_ Algum... algum de vocês me chamou? – perguntou ele aos demais.
Todos se entreolharam e negaram com a cabeça.
_ Harry, querido. – falou Sra. Weasley – vá dormir. Está cansado e assustado com tudo o que aconteceu. Descanse, verá que amanhã tudo estará melhor.
_ Harry...
A voz o chamara novamente. Harry, na tentativa de esconder sua expressão intrigada e assustada, se despediu rapidamente e subiu as escadas. Ao chegar ao patamar superior, a voz ecoara em seus ouvidos pela terceira vez:
_ Harry Potter.... ele está aqui... entre nós, ele está Harry Potter...
Harry percebeu, naquele exato momento, que a voz não vinha de lugar nenhum e, sim de sua cabeça. Apenas ele poderia ouvir a voz, como se seus pensamentos se tornassem vivos e, de repente, resolvessem falar com ele.
_ Quem está aí? – perguntou Harry, quase como um sussurro, para que ninguém o ouvisse conversando sozinho – quem está me chamando?
_ No jogo... eu o salvei... foi apenas uma demonstração... do meu grande poder!

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