Em Godric’s Hollow, os escombr



10> Em Godric’s Hollow, os escombros que escondem a verdade

Os quatro amigos estavam assentados na mesa da sala desde a hora do café. Ficaram horas “estrategiando” um plano bom o bastante para derrubar Voldemort e seus seguidores antes de invadirem a escola, caso esse fosse o interesse deles. Hermione percebera, no entanto, que era muito difícil arquitetar um plano, quando se desconhecia os passos do inimigo. Harry tinha visões vagas, pensamentos pensados por Voldemort, mas nada tão comprometedor.
Enfim, tinham um espelho que, segundo Harry, poderia levá-los a um dragão. Uma voz que parecia querer ajudá-los e, dizia, insistentemente, que a escola estava em perigo, entre outros fatores que Hermione julgava pouco convincentes.
_ Acho que estamos andando em círculos. – falou Hermione, indecisa – precisamos de uma pista forte.
_ Já sei o que vamos fazer. – falou Harry, conjurando um pergaminho e uma pena – vamos anotar tudo o que temos a nosso favor. Vejamos... Número um... O espelho de Sirius.
_ De Régulos. – corrigiu Rony.
_ Que seja. – falou Hermione – Motivo... Bem, o testemunho de Monstro, a notícia antiga do Profeta e a evidência do espelho quebrado no quarto do Régulo.
_ Número dois. – continuou Gina – A voz que diz ter ajudado Harry no jogo, nos dizendo que Hogwarts corria perigo de invasão.
_ Três... – falou Harry, completando o pergaminho – a carta de um anonimato, dizendo que iria me ajudar em Hogwarts.
_ Coloque um ponto de interrogação. – avisou Rony – não sabemos se é confiável.
Tentaram pensar em mais alguma coisa. Olhando aquele pergaminho vazio, perceberam como a situação parecia estar piorando. Não tinham nenhuma arma em favor, a não ser uma voz desconhecida, uma carta anônima e um pedaço frágil de espelho.
Estariam ainda mais angustiados se o Patrono do Sr. weasley não tivesse atravessado a janela, fazendo com que ele saltassem de suas cadeiras. Assim que o Patrono pousou sobre a mesa, a voz do Sr. weasley ecoou na sala escura.
_ Yvee Valentine esteve procurando por você, Harry. Ela Está em Hogwarts. É professora de Adivinhação. Profa. Sibila foi assassinada a dois dias.
O Patrono do Sr. Weasley desapareceu, deixando os quatro jovens aterrorizados com a notícia. Por que teriam assassinado Profa. Sibila? Que perigo ela representava... Foi, nesse momento, que Harry compreendeu. Sibila nunca entendera seu dom verdadeiramente. Harry vira a professora de Adivinhação recitar profecias durante muito tempo, sem, contudo, entender como ela o fazia. Ela mesma não saberia responder. Provavelmente Sibila havia revelado algo de muito importante, algo que, talvez, Harry jamais saberia.
Hermione estava visivelmente transtornada. Há alguns anos atrás, tratara com muita rispidez a professora e abandonara seus ensinamentos, sem nunca mais dirigir a palavra a ela. Rony, percebendo a situação, falou:
_ Não fique assim, Hermione. Não pode se culpar por não acreditar em Adivinhação. Ela morreu, e só.
Hermione, sentindo-se melhor e recuperada do choque, pegou o pergaminho, analisou-o e, depois de pensar um pouco, pegou a pena e anotou:
_ Número quatro... Morte da Profa. Sibila. Comprova a proximidade que os Comensais estão da escola... Pessoal, precisamos agir.
_ Voldemort estava muito fraco para lutar. – falou Hermione, pensativa – perder sete fragmentos da alma... Isso não é como perder uma perna, é muito pior!
_ Acredito que ele tenha produzido uma oitava Horcrux. – arriscou Rony – Se não, como ele poderia estar vivo?
Harry ficou se fazendo a mesma pergunta desde o momento em que tivera certeza de que o Lord das Trevas estava de volta. Inesperadamente, seu rosto empalideceu. Sua expressão mudou, afastando qualquer fiapo de esperança que tinha a alguns segundos. Voldemort sabia, muito antes que ele... Voldemort sabia que Harry descobrira o retorno... Lembrou-se do sonho que tivera.
_ Voldemort sabe, pessoal... – gaguejou ele – ele sabe que... nós sabemos que ele está de volta.
_ O que? – Gina pareceu aflita – Não... Isso não, Harry! É o nosso trunfo!
_ Ele me sentiu... – continuou Harry, sem dar a menos atenção à namorada – sentiu a minha presença dentro da cabeça dele... No meu sonho, vários corpos caídos no chão. Bellatriz estava jogada no chão, não sei bem se estava morta... Ele, de repente, começou a me repelir... Ele gritava, me dizendo para sair... Sair da cabeça dele...
Todos ficaram perplexos.
_ Como você não nos conta isso, Harry? – falou Hermione, irritada e desesperada.
_ Eu não sabia! Foi depois de ter ouvido a voz. Achei que era um pesadelo, entendem! Achei que eu estava impressionado com aquela voz.
_ Harry! Essa voz está dominando você... – falou Rony – Ela fala através de você. Como espera...
Rony não terminara sua frase. Um frio intenso tomou conta do ambiente. Harry sentiu seu coração gelar, sua alma esfriar drasticamente. O suor escorria frio e, observando seus amigos, Harry percebeu que os amigos sentiam o mesmo. Não puderam pensar em mais nada. Tentaram alcançar suas varinhas, mas apenas Harry conseguiu erguer a sua. Hermione conseguiu dizer apenas uma palavra, que saiu rouca e aflita:
_ De-dementadores...
A porta da frente se abriu. Vários dementadores entraram. Como puderam ser tão idiotas? Uma vez o Feitiço Fidelis enfraquecera, Snape também se tornara portador do segredo. Sabiam que Snape contara aos outros Comensais a localização da casa de Sirius. Só haviam descoberto a existência de Voldemort uma vez dentro da casa. Em momento algum passara por suas cabeças sair daquele lugar, sabendo que Voldemort conhecia o segredo.
Os quatro deslizaram até o chão. Havia centenas de dementadores em todo território da casa. Jamais conseguiriam. Harry ouviu sua mãe gritar... Suplicava pela vida de seu filho... Uma voz ecoou em seu ouvido. Essa, porém, era diferente. Era masculina, de um jovem. Uma voz grave. “Harry... Ela morreu para salvar... Não deixe o esforço dela morrer aqui...”
Os olhos de Harry se abriram. Sua aparência era hostil, selvagem. Ergueu sua varinha violentamente, e, ao gesticular os lábios, não a sua voz, mas a estranha voz que ecoava em sua mente bradou, ordenando:
_ Especto Patronum!
Um lampejo de luz prateada foi conjurado de sua varinha. Seus amigos esperam um cervo para salvá-los, mas, no lugar do Patrono de Harry, uma águia-real voou em direção aos dementadores. Em questão de segundos, os comensais tinham sido varridos da casa. Eles sentiram a águia emanar um calor revigorante, uma sensação de tranqüilidade e segurança, sentiram suas almas se restaurarem. Eles se levantaram, vagarosamente, e contemplaram a águia pairando majestosamente no ar, iluminando a casa com sua luz prateada. Sem que Harry ordenasse, o Patrono voou até ele e retornou à extremidade de sua varinha, desaparecendo. O cômodo perdera seu intenso brilho restaurador.
Assim que Hermione se recompôs, olhou surpresa, para Harry e perguntou:
_ Desde quando você conjura um patrono em forma de águia?
_ Eu... – Harry era o que parecia mais confuso – eu não sei... Eu nunca conjurei um Patrono desses... O meu Patrono sempre foi o Pontas, digo, um servo.
_ Ah, até um nome ele deu para o Patrono. – brincou Rony, tentando dissipar o clima de terror. Ninguém riu.
_ Como isso é possível? – Gina observava, da varinha de Harry, aos seus lábios – Eu notei. Quando você conjurou aquele Patrono, não era a sua voz. Era a do garoto.
_ Garoto? Que... ah, o carinha da voz... – lembrou-se Rony – Quer dizer que, agora, ele está lançando feitiços através da varinha do Harry?
_ Bem, acho que isso não é ruim, ou é? – perguntou Harry, ainda confuso – Quero dizer, quando eu não consegui usar um feitiço, ele nos salvou.
_ “Nunca confie em nada que pensa se você não pode ver onde fica o cérebro”. – falou Gina, repetindo as sábias palavras do pai – Harry, eu não sei direito. Ele pode ser amigo, e tudo o mais... mas não devemos dar brecha. É muito arriscado.
_ Isso não importa, agora! – falou Hermione em tom de urgência na voz – se nós sofremos um ataque aqui, significa que não é mais seguro.
_ E Hogwarts pode sofrer um ataque a qualquer momento! – exclamou Rony – Precisamos ir até lá. Imediatamente!
_ Vamos nos dividir. – falou Harry, pensativo.
_ Mas, você mesmo disse...
_ Esqueça o que eu disse. Nossa amizade continuará intacta, mesmo a distância. Nosso pacto vai continuar firme. Vamos sair daqui, agora!
_ E para onde vamos?
_ Godric’s Hollow. Nos reagruparemos e pensaremos em algo.
Sem nem discutir, eles reagrupara se us pertences e desaparataram.

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Aparataram em uma estrada deserta, mal iluminada e infestada de libélulas nada comuns. O céu estava tingido de vermelho-sangue muito vivo. Nem tinham percebido que já estava anoitecendo. O sol estava se pondo e as nuvens manchadas de um laranja dourado cobriam o céu. Não havia movimento no lado de fora do vilarejo. Todos estavam em suas casas, fazendo qualquer coisa que fosse menos importante que salvar o mundo. Harry se adiantou do grupo, caminhando firmemente até o local onde, um dia, seus pais chamaram de lar.
No ano passado, Harry visitara aquele lugar diversas vezes, claro, com a capa da invisibilidade. Harry pegou sua capa e, com um esforço quase desumano, conseguiu colocar todos escondidos na capa. Harry teve que se agachar e colocar a namorada sobre suas costas. Rony fizera o mesmo com Hermione. Ainda sim, tinham que andar muito próximos, o que dificultava a locomoção.
_ Isso é mesmo necessário? – perguntou Hermione.
_ Não reclama, você não tem que carregar ninguém... – retorquiu Harry – e sim, isso é necessário. Podem haver comensais aqui, preparados para o bote.
_ Com certeza eles já se remediam em relação à capa. – falou Gina – isso não vai ajudar muito.
_ Bem cá. Por que vocês não fecham a matraca e continuam andando? – uivou Rony, com dor nas costas – Desse jeito, eles não vão precisar de nos ver para nos pegar.
Agora em silêncio, continuaram a andar, pé ante pé, vagarosamente, temerosos que algum Comensal os atacasse. Harry avistou a casa que um dia lhe pertenceu. Apertaram o passo um pouco mais, o que era quase impossível, amontoados sob uma capa de invisibilidade, e chegaram até o portão da casa.
O lugar parecia o mesmo como no ano passado. Estava semi-destruída. Algumas paredes derrubadas e os cômodos do segundo andar pareciam ter sido bombardeados. Harry abriu o portão vagarosamente, de modo a parecer que o vento o abrira. Em passos apertados e sorrateiros, eles passaram pelo breve caminho até a porta da frente.
_ Homenium revelio! – sussurrou Harry, por garantia.
Nada aconteceu. Era seguro entrarem na quase-casa, agora. Ainda caminhando vagarosamente, entraram na casa e, assim que fecharam a porta, Harry tirou a capa e guardou-a dentro da jaqueta. Rony e Harry levaram algum tempo até atingirem a postura correta. Rony, bufando, ofegou:
_ Hermione, você é bem pesadinha, viu. Um regime lhe cairia bem.
Harry não deu atenção às pancadas que Hermione atingiam em Rony. Ficou contemplando a casa, como se fosse a primeira vez que a vira. Era difícil imaginar que, num presente paralelo ao seu tempo, aquele lugar poderia ser chamado de lar, abrigando seus pais, que nos últimos dezoitos anos cuidaram do filho único. Harry sentiu um aperto na barriga do estômago. Era como reviver a cena. Sua mãe gritava, sua vã tentativa de salvar o filho. O pai jogado no patamar inferior da escada, os olhos desfocados. Uma criança que sobreviveu a um ataque, deixando-lhe apenas uma cicatriz.
Gina observava atenta, a janela da frente, com o cuidado para ser vista, enquanto Hermione, após deixar um bocado de marcas em seu namorado, começou a fazer feitiços de proteção. Rony observava seu rosto roxo por uma travessa que encontrara em baixo do sofá estraçalhado. Harry observava as marcas de destruição, sentindo uma fincada no peito a cada lembrança. Lágrimas lhe vieram inconscientemente. Seria patético pará-las. Tinha dezoito anos, era um homem entendido, agora, com o objetivo de salvar, mais uma vez, um mundo que não se dava ao trabalho de sacrificar a vida pelo filho. Se todos fossem como Lílian e Tiago... Se Harry fosse como eles...
Harry, então, ouviu um barulho clandestino vindo dos fundos da casa. Todos se entreolharam. Hermione lançara incontáveis feitiços de proteção. Era pouco provável que alguém pudesse atravessá-los. Talvez por instinto, Harry se dirigiu ao local de origem do som estranho. Ouvira de novo. Um estampido forte, convicto. Reconheceu o som como se fosse um feitiço ordenado por uma varinha. Ainda desarmado, correu até os fundos. Passara pela cozinha, seus amigos em seus calcanhares. Chegou, então, no quintal dos fundos. A princípio, a primeira coisa que viram era um gato de pelos alvíssimos, fitando seus olhos amarelos nos quatro forasteiros. Um segundo depois, o gato se envolveu de uma chama prateada. Eles saltaram para trás, assustados, observando o gato se transformar em um Patrono. Um patrono desconhecido aos seus olhos. Imediatamente, a voz do líder do Patrono sibilou, através do gato prateado.
_ Se a sua presença nessa casa me trouxe até aqui, significa que seu sangue é digno de minha confiança. Se for um Potter, um olá sincero e amável. Se for um Lupin, eu sugiro que não saia em noite de lua-cheia. Se for um Pettigrew, pare de rastejar em meus pés e vá logo tomar um banho! – a voz infantil deu uma gargalhada sem malícia ou rancor e prosseguiu – siga esse Patrono, ele o levará até o mapa que procuras.
O Patrono reluziu seu brilho prateado até uma árvore próxima às sebes que cresciam proporcionalmente à cerca de madeira. O gato sentou-se no balanço e, com um olhar displicente, apontou para o chão com a ponta da cauda.
_ Cavem aqui. – murmurou a voz – e nem pensem que será fácil. Deixe que um digno o faça.
Harry compreendeu que, naquele momento, ele se referira a digno um Potter, Pettigrew ou Lupin. Se ele soubesse o quanto um Pettigrew era indigno de confiança... Harry se aproximou do Patrono. Hermione deu um gritinho agudo e baixo, quase trêmulo, desaprovando a atitude do amigo.
_ eu preciso. – cochichou Harry.
Harry apontou sua varinha para o ponto exato onde o gato indicava. No mesmo instante, o gato ronronou e saltou da cadeira. Deitou-se em volta de sua varinha e, com um miado dócil e gentil, uma cratera se formou abaixo dele, apesar do animal parecer flutuar sobre o buraco. Harry viu um objeto cilíndrico levitar para cima vagarosamente. Harry pegou o objeto e, com a expressão triunfal, enfiou-a no bolso. Não tinha a mínima noção do que era.
Logo em seguida, a voz do Patrono falou:
_ Então, aqui eu me despeço. São os cumprimentos do Maroto Bichano, ou se preferirem, Ré...
Um estampido forte, seguido de uma luz verde, atingiu o Patrono. A luz prateada se extinguira instantaneamente e, enquanto ao gato, jazia morto ao lado da cratera. Uma outra rajada de luz veio na direção de Harry. Ele só teve tempo de pular e, agarrando o braço de Gina, gritou para os outros amigos, após de desvencilhar do ataque de um comensal:
_ Vamos embora! Não temos tempo de iniciar um duelo.
Então, os quatro rodopiaram e, numa fração de segundos, haviam desaparatado.

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